Eu podia ouvir meu coração acelerado a cada batida, parecia mais alto, estava com uma vontade louca de virar o rosto e ver quem era, mas eu já tinha certeza de quem era. Por isso, mesmo que obedeci a minha razão e fiquei da forma que estava, pois, somente pelo perfume que encheu a sala já dava para saber quem era a pessoa que adentrou o escritório.
— Pode continuar, Aline. — Neste momento foi a vez da esposa do Don falar. Olhei para ela que estava me olhando como se me passassem toda coragem que eu precisava.— Bom, Don eu vim aqui pedir meu desligamento da família. – Falo bem firme.Não quero demonstrar o quanto estava nervosa.— Como assim, Aline? Você é casada com o futuro subchefe da família, não pode se desligar sendo casada com ele. — O Don falava em um tom que me fez tremer. O que pareceu que eu era a errada da história.— Sim, eu sou casada com um homem que fugiu com uma amante no dia do nosso casamento e, se o senhor bem recorda, amanhã já faz cinco anos daquele fatídico dia, onde amanhã mesmo, assim se Deus permitir, eu não serei mais casada. — Disse-lhe entregando uns papeis que eu trazia. Ele abriu e olhou um por um, virou o rosto para o lado do sofá e balançou a cabeça como se confirmasse para alguém que isso era algo que ele imagina.— Você é advogada, Aline. Portanto, poderá explicar melhor para todos aqui o que está escrito nesses papéis. — O Don falou isso, eu apenas acenei e comecei a falar:— Como é do conhecimento de todos nessa sala, exatamente a cinco anos eu fui obrigada a casar com o filho do antigo Don, que por coincidência é seu irmão, e todos aqui sabem que eu fui deixada no altar. Como já são cinco anos e não teve consumação do casamento, nada mais pode me impedir de seguir minha vida e passar uma borracha em todo esse tempo que praticamente não existiu.— Aline, você sabe que nosso pai não vai gostar nenhum pouco do que você está fazendo. — Disse meu irmão num tom de raiva. Me virei para olhar direto no seu rosto.— Você, meu amado irmão, se esqueceu que em todo esse tempo eu não sei o que é ter pai ou irmão? O que mais vocês poderiam fazer contra mim? Vão me bater até eu desmaiar de novo? Ou melhor, irão me obrigar a fazer outro teste de virgindade para ver se nesses 12 meses que sai debaixo do teto de vocês eu a entreguei para qualquer um?Todos ficaram em silêncio na sala. Senti o olhar de todos em mim como se não acreditassem no que eu falei. Eu já esperava por isso e muito mais. O que eles não esperam é que vim preparada para mostrar o meu lado da história.— É difícil, né? Acreditar que um pai tão amoroso como o meu fez isso comigo. — Não esperei eles responderem, logo abri minha bolsa, tirando de dentro dela o exame que meu pai me obrigara a fazer anualmente. — Esses dois aqui foram os únicos que eu conseguir salvar do lixo, e isso aqui — eu levantei e pedi permissão para a mulher do Don para levantar minha blusa até a altura dos seios.Levantei minha camisa e virei de costas, no exato momento em que nossos olhos se encontraram. Murilo me encarou e desceu o olhar para minha barriga. Mesmo com o coração acelerado, eu fingi não o ver e continuei a falar.— Essas marcas em minhas costas e em minha barriga foram só mais um presente que meu casamento me proporcionou. — Ele me encarou novamente e eu tentei não vacilar nesse momento. Virei de costas para ele e fiquei de frente para o Don, dizendo. — Essas torturas acontecem desde que eu fui deixada no altar, pois na mente doentia do meu pai, o vosso irmão me deixou por eu ser uma mulher vulgar que dava para todos da família, por isso que o digníssimo do meu marido me deixou pela mulher mais pura que já existiu aqui.— Isso é verdade, Rael? — Escutei a voz da única pessoa que não queria ver aqui dentro.— É sério Murilo que você vai acreditar nela? Meu pai nunca levantou a mão para machucá-la, ele sempre cuidou dela como se fosse uma princesa.Ele mal terminou de falar e eu comecei a gargalhar com a piada que estava ouvindo.— Posso saber o motivo da gargalhada? — Pergunta o Don.— Rael sempre foi sério, mas agora eu vejo que ele virou um piadista.— Aline, sem provas eu não posso lhe ajudar a se consertar com sua família.— Eu não tenho família. E se for para voltar ter a vida que eu tive nesses cinco anos, eu prefiro ser órfã. Mas não se preocupem, eu já sabia que vocês não iriam acreditar em minhas palavras, por isso eu trouxe isso aqui. Entreguei um pen drive a ele e peço para abrir na pasta com o nome "casamento", ele me pergunta porque eu a batizei com esse nome. Apenas falei que era para me lembrar que o casamento não foi feito para mim, e que após a anulação eu não iria nunca mais me casar. Ele colocou o pen drive na entrada USB. Rael pediu para eu pensar bem no que estava fazendo. Eu disse para ele ficar tranquilo, pois tinha uma surpresa para ele também. O Don começou abrir vídeo por vídeo. Só deu para escutar meus gritos e o som dos socos que me pai me deu. Murilo, que até momento estava em silêncio, levantou e dirigiu-se para frente do computador. Logo ficou vermelho com a imagem que passara na tela, e neste momento começamos a ouvir a voz do meu irmão.— Não se preocupe, irmãzinha. Essa é a vida que você vai ter para sempre, pois como você já sabe meu amigo nunca vai querer nada contigo.A voz do meu irmão começou a ser ouvida por todos no escritório, ele tenta se levantar para negar, porém apenas com um olhar o Don o fez se sentar novamente.No vídeo que estava rolando, deu para ver meu irmão agarrando em meu pescoço e apertando até eu desmaiar, mas antes que a escuridão me alcançasse, foi possível escutar ele exclamando “Isso que você sempre mereceu!”— Isso aí é falso, eu nunca fiz isso. — Meu irmão tentou negar, porém, as imagens são bem claras.— Cala boca Rael, ou eu não responderei por mim. — O Don avisou e então olhou para mim. — Eu ficarei com esse pen drive, e eu concordarei com o cancelamento, mas peço que você pense mais uma vez sobre sair da família.— Eu não preciso pensar mais, já decidi que quero distância de tudo e todos que envolvam nossa família. — Você já sabe para onde vai? Quer ajuda em algo? Minha família deve a você.— Não se preocupe Don, Lucca irá comigo e me ajudará em tudo que eu precisar. — Ele acenou.— Quem é Lucca? — Escutei a voz do meu digníssimo novamente, mas dei de ombros.— É um rapaz que sempre foi apaixonado por Aline. — Sônia retrucou.— Augusto, você não está pensando em concorda
Eu conheço Aline desde quando ela nasceu, sempre foi a coisinha mais fofa do mundo. Rael sempre foi meu melhor amigo, ele estava sempre presente em todos os lugares que eu. Acompanhamos cada passo um do outro, e quando Aline completou seus quinze anos eu já tinha meus dezenove entrando para os vinte. E foi na noite do seu aniversário de quinze anos que eu me vi apaixonado por uma criança, parece que tudo mudou do dia para noite, em que ela foi dormir menina e acordou uma mulher.Eu a admirei a noite toda, mesmo eu sabendo que é errado eu sentir algo por ela em tão pouca idade. Depois dos parabéns eu percebi que ela também me olhava de uma forma diferente e isso só me fez sentir ainda pior (será que ela não viu que eu sou da idade do seu irmão, que sou velho para ela?). Ao perceber que ela continuava a olhar para mim, vou até Bruna, minha namorada e a beijo, como se aquele beijo dela pudesse me salvar de algo que estava crescendo em mim, sem eu ter controle. Três anos depois meu pai me
Todas as minhas visitas à vila sempre que tinha oportunidade eu perguntava a Rael sobre sua irmã e a única coisa que recebia em troca era para eu esquecê-la, pois mulher igual Aline tinha que viver sozinha e que ela não valia nada. Fiquei horrorizado ao ouvi-lo dizer isso da própria irmã, mas imagino que ela deve ter aprontado algo, porque meu amigo não teria esse ódio gratuito sem que ela tenha feito nada.Em alguns dias, meu "casamento" e de Aline irá completar cinco anos, e eu nunca dei ao menos um beijo em sua mão nesses anos todos. Nesse tempo que retornei para nossa vila, só a vi uma vez, mas acho que ela não me percebeu, pois, estava junto a um grupo de pessoas rindo muito[...] e parecia muito feliz. Observando essa cena, não quis estragar a felicidade dela, daí resolvi voltar para trás sendo essa a última vez que eu a vi de perto... até hoje.Guto me avisou que Aline estava vindo para nossa casa e que ela pediu uma reunião. Eu o supliquei para estar presente nessa reunião e
— O senhor que fez o trato? Não foi Aline quem pediu? — Eu pergunto e torço para que o que eu imaginei seja verdade ou eu fui tão burro de achar que Aline armou tudo por amor, só que meu pai acena e confirma o que disse e só agora eu entendo que ela foi tão vítima como eu nessa história toda, na verdade, ela foi a única vítima, já que foi a única que sofreu.— Eu preciso de ar. — Falo com a voz embargada. — Augusto, vou dar uma volta depois você me conta como isso aqui terminará. Ele acena positivamente assim que percebe meu estado, vou em direção a porta para sair da sala que parecia estar abafada, mas antes de sair eu me viro e pergunto para Rael.— Pelos vinte anos de amizade que nós tínhamos, com toda sinceridade que ainda resta em ti, me fale: onde ela está?— Ela foi expulsa de casa e está morando em uma quitinete no final da rua, na segunda casa.Saio daquela sala, sem saber direito o que estou fazendo, e vou ao endereço dela. Chegando na frente da quitinete, não vejo a hora
Ao acordar, virei meu rosto e percebi um homem deitado ao meu lado; ele estava de costas para mim e quando ele se virou deu vontade de gritar! Cheguei perto de surta. Como eu passo cinco anos, casada com esse homem, não o vi esse tempo todo e no dia que resolvo me separa dele eu simplesmente acordo ao seu lado no dia seguinte. Isso só pode ser castigo!O pior é que eu não lembro de quase nada que aconteceu ontem a noite, a única certeza que tive foi que nunca mais eu irei beber e muito menos deixar Murilo chegar perto de mim novamente.Levantei da cama sem fazer movimentos bruscos, peguei minhas roupas que estavam espalhadas pelo quarto, reparei no meu reflexo no espelho e notei que por todo o meu corpo havia marcas de uma noite que pretendia esquecer e fingir que não existiu. Virei meu rosto em direção ao homem deitado na cama e em silêncio comecei a me vestir, não queria correr o risco de fazer algum barulho e acorda-lo. Saí rapidamente do quarto, deixando para trás o homem que sem
Ainda não estava preparada para dizer onde estava morando, mas sabia que em alguns dias eu contaria. Eu tinha medo do meu pai desejar vingança por eu acabar seu sonho de ser sogro do subchefe da família. Se ele pelo menos desconfiar que eu estava grávida, iria querer me agredir até eu perder meu filho. Mas se ele chegasse a pelo menos um metro de mim, eu seria capaz de perder meu réu primário, acredito que faria uma besteira. Mesmo descobrindo só agora que estou grávida, eu já virei uma leoa para defender meu raiozinho. Esse foi o apelido que Bernadete colocou nele.Nesse tempo todo em que vim morar aqui, não existe nem um só dia que não lembrei de Murilo, após aquele dia, minha memória voltou aos poucos de como foi nossa noite, não vou negar que ele me tratou muito bem, Murilo respeitou minha vontade, em momento nenhum ele ultrapassou os limites. A sensação dos seus beijos e toques ainda estão vivas na minha memória. Não vou mentir que tenho vontade de repetir aquele momento mais vez
Estava fazendo o almoço por que Bernadete vem almoçar aqui em casa, antes de morarmos juntas ela almoçava em um restaurante perto da clínica, mas agora almoçamos juntas em casa. Ela dizia que como estou com um barrigão e não era bom ficar muito tempo, sozinha.O almoço vai ser o prato preferido de Bê, ela me ensinou quase tudo que sei hoje. Coloquei a lasanha no forno e fui até o banheiro para um banho bem demorado, pois eu estou suada de limpar a casa. Meu banho demorou o tempo suficiente para me deixar relaxada e vou para a sala me sentar no sofá. Peguei uma escova e penteei meus cabelos, que estava mais cumprido do que quando eu saí da minha cidade. Ainda de toalha eu me sentei no sofá puxando a mesa de centro para esticar minhas pernas e relaxar ainda mais. Meus pés ultimamente estão inchados, e foi por conta de eles estarem inchados que Victor, o primo da minha amiga e meu patrão, comprou uma poltrona e colocou na recepção da clínica para mim e ele dizia que não é para eu ficar m
Acordei de manhã me sentindo o homem mais afortunado do mundo inteiro. Dormi com a mulher da minha vida, a que eu sempre amei. Mas ao acordar, eu procurei por ela no quarto todo e não a vi, constatei imediatamente que ela acordou cedo e foi embora, pois quando ela percebeu quem estava do seu lado, deve ter se sentido mal. Ela passou por tanta coisa antes de decidir pedir a anulação do casamento, e eu reconheço que dei uma grande mancada de ter deixado minha ternura sozinha esses cinco anos, mas agora que sei de como é a sensação de estar com ela, não a deixarei mais. Se antes eu já era obcecado por Aline, depois da noite que tivemos, eu a quero diariamente ao meu lado.Ela é minha esposa e será até que a morte nos separe.Queria poder apagar os cinco anos que eu fui o pior homem da Terra, o marido mais miserável que uma mulher poderia ter em sua vida..., mas eu vou me redimir. Irei fazer Aline a mulher mais feliz desse mundo, planejei ir atrás dela no mesmo dia, mas ela precisava desc