Capítulo 4. Murilo.

Eu conheço Aline desde quando ela nasceu, sempre foi a coisinha mais fofa do mundo. Rael sempre foi meu melhor amigo, ele estava sempre presente em todos os lugares que eu. Acompanhamos cada passo um do outro, e quando Aline completou seus quinze anos eu já tinha meus dezenove entrando para os vinte. E foi na noite do seu aniversário de quinze anos que eu me vi apaixonado por uma criança, parece que tudo mudou do dia para noite, em que ela foi dormir menina e acordou uma mulher.

Eu a admirei a noite toda, mesmo eu sabendo que é errado eu sentir algo por ela em tão pouca idade. Depois dos parabéns eu percebi que ela também me olhava de uma forma diferente e isso só me fez sentir ainda pior (será que ela não viu que eu sou da idade do seu irmão, que sou velho para ela?). Ao perceber que ela continuava a olhar para mim, vou até Bruna, minha namorada e a beijo, como se aquele beijo dela pudesse me salvar de algo que estava crescendo em mim, sem eu ter controle. Três anos depois meu pai me chama e ao meu irmão Augusto para uma conversa de escritório fechada, e eu já sabia que de lá não poderia sair nada de bom.

— Bom, filhos, o que eu gostaria de falar é para você, Murilo. — Ele diz entregando um papel para mim e quando eu pego e vejo que está escrito, minhas pernas falham e sou aparando pelo meu irmão. — Parabéns, filho, sua mãe já preparou a cerimônia para daqui a uma semana, acho bom você terminar o que quer que tenha com essa tal de Bruna.

— A idade só pode ter mexido com seus neurônios. Só pode ser isso. Que porra o senhor acha que fez com a minha vida, me casando com uma criança? Me contrataram para ser babá, né?

— Pare de drama Murilo e fique ciente que isso jamais pode ser desfeito. A única coisa que pode acabar com essa relação é a morte.

— Pois me mate logo, porque eu não vou me casar com essa menina, eu já tenho uma noiva e somente ela poderá ser minha esposa.

— Aí que você se engana, você já é um homem casado, e essa sua novinha é apenas uma das muitas amantes que você terá no decorrer da sua vida

— Isso é o que veremos meu pai.

Saio da sala pisando em brasas. Como ele pôde fazer isso? E como Aline pode se rebaixar a esse ponto? Eu sabia que esse sentimento de criança ia longe demais. Já no meu quarto eu escuto a porta sendo aberta e vejo meu irmão entrar.

— Murilo, é sério que não te entendo, você não gosta dessa menina? Então, porque não aproveita e faz dela tua mulher.

— Guto, você ouviu o que acabou de falar? Como você se referiu a ela? “Essa menina” por que é isso que ela é, Aline é apenas uma menina e que, se foda meus sentimentos, eu jamais tocaria nela, só quero distância dela, me sinto sujo apenas em pensar que algo poderia acontecer.

Meu irmão sai do quarto e me deixa sozinho com meus pensamentos. Minha mente está em uma guerra contra meu coração, ele pede para eu ceder e me entrega ao amor que sinto por Aline, e já minha mente pede para eu agir com a razão e não destruir a vida daquela criança, pois se eu deixar o seu caminho livre, ela terá uma vida maravilhosa sem mim. Sei que sua família irá cuidar bem dela e remover esse sentimento que ela julga sentir por mim.

Quando chegou o dia do casamento na igreja, eu estava preparado. Eu iria me casar com ela. Porém, Aline só seria minha esposa apenas no papel, afinal, eu jamais a tocaria e iria fazer dela uma mulher feliz em todos os sentidos, mas com a condição de que Aline não exigisse meu amor. Um dia antes de nos casarmos, marcaram um jantar para mim e Aline trocarmos umas palavras e foi nesse dia que cometi a pior burrice da minha vida. “Nem se você fosse a última mulher da face da terra eu não iria querer ter relação com você, a única coisa que consigo sentir por você é nojo e nada mais.” Em um momento de raiva por tudo que aconteceu no jantar eu soltei essa frase para Aline que não aguentou e saiu chorando me deixando sozinho no jardim.

Estava em meu quarto me arrumando para o bendito casamento quando a porta se abre e por ela atravessa Bruna em lágrimas, afirmando estar grávida de mim. Eu não tive outra opção senão fugir com ela, deixando para trás aquela garotinha que desde seus quinze dominava meus pensamentos. Os primeiros meses ao lado de Bruna foram fantásticos, até eu descobrir que ela mentiu sobre a gravidez, ela disse que só inventou isso para eu deixar Aline plantada no altar, para ela saber o gosto de ter algo sendo tirando dela. Ela disse que ainda espalhou um boato pela vila, em que Aline já tinha se deitado com todos os soldados da família e eu sei que isso é mentira, mas só de imaginar isso acontecendo foi como se tivessem rasgando meu coração.

Naquele mesmo dia eu terminei com Bruna, e mesmo me arrependendo eu não podia ir atrás da minha "esposa". Sei que Aline deve estar destruída. Queria eu ter uma máquina do tempo e voltar para o dia do nosso casamento, fazer as coisas certas, mesmo que eu me casasse com ela e não a tocasse. Aline só iria ser minha mulher no papel, pois jamais conseguiria tirar a pureza que brilha em seus olhos.

Eu fui perdoado pelo que fiz a família e depois de quase dois anos longe eu pude voltar para ver meus pais. Meu pai disse que não tinha raiva de mim, pois não foi ele que ficou no altar na frente de toda família e nem foi ele acusado de adultério, mesmo não consumando o casamento. Ouvir isso me cortou a alma no meio. Ainda sim, eu vinha todo mês querendo vê-la, mas não conseguia nem ao menos ver a sua sombra, parecia que simplesmente evaporou.

Tinha dias que me dava vontade de invadir a sua casa para ver como ela estava, mas sempre me controlei, pois achava estar fazendo o melhor para ela. Quanta idiotice eu fiz nesses cinco anos.

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