~~CAPÍTULO 4~~
BRIAN Eu me sinto um zumbi. Meu corpo está se movendo, mas meu cérebro está livre, vagando em todas as direções. Meu estômago está começando a doer de fome. Eu tomei café da manhã? Ou eu estava muito animada para ir às compras? A loja de jogos me ligou para dizer que o conjunto de gamão sob medida que eu pedi para Luca havia chegado. Ele ia ficar tão feliz. Ele me daria um de seus sorrisos tensos, a mais leve curva de seus lábios firmes, mas eu saberia que ele estava satisfeito. Sinto uma pontada aguda no meu coração. Eu respiro através disso. Essa deveria ter sido minha primeira bandeira vermelha. Que tipo de homem nunca mostra os dentes quando sorri? Dou a volta para encontrar Mariano atrás do carro. Ele coloca minha mala de rodinhas na calçada e coloca a mochila em cima. Sua mão repousa na alça estendida. Ele me encara, a testa franzida, parecendo cada centímetro um detetive grisalho de um programa de TV dos anos 70. Mariano e eu não somos amigos de forma alguma, mas desenvolvemos um relacionamento nos últimos meses. Estou alegre. Ele finge aborrecimento. Encho seu café do jeito que ele gosta, com açúcar e creme. Quando me esqueço de colocar o guarda-chuva de volta no suporte ou de pendurar minhas chaves no gancho com etiqueta, ele me ajuda, mantendo a paz. Luca gosta das coisas no seu devido lugar. Acho que não tenho mais que dar a mínima para isso. Pego minha mala e Luca relutantemente solta a alça, seu olhar preocupado ainda pousado no meu rosto. Ele parece estar lutando consigo mesmo. — Bem, tchau Mariano. Te vejo por aí. Eu levanto minha mão. Ele limpa a garganta e seus olhos se movem rapidamente como se ele estivesse verificando se estamos sozinhos. Há muitos turistas e empresários nas calçadas, alguns apressados, outros passeando. Ninguém familiarizado. — Escute. Ele diz, abaixando a cabeça, inclinando-se mais perto e abaixando a voz. — Você precisa sair da cidade. Meus olhos se arregalam. Dedos gelados acariciam minha espinha. Uma sombra passa por seu rosto. Ele abre a boca para dizer mais alguma coisa, mas deve pensar melhor. Ele volta para o carro sem olhar para trás. Em vez de se afastar, no entanto, ele se senta no banco do motorista e rola a tela em seu telefone. Eu respiro fundo. Há um friozinho no ar enquanto o sol se põe. Eu amei a sensação do sol em meus pés descalços antes, mas agora meus dedos estão congelados. Deus, espero que quem fez as malas não tenha se esquecido dos sapatos. Não estou indo longe em chinelos. Ou com duzentos dólares. Estou bem e verdadeiramente fodida. Tive uma meia ideia de conseguir um quarto de hotel esta noite, mas e se Ricci estiver atrás de mim? Todo segundo conta. Não tenho tempo a perder. Eu preciso me mover. Eu me sacudo e observo onde estou. Mariano me deixou em frente ao La Armada, o hotel mais chique da cidade. Luca e eu ficamos aqui depois que ele me levou à ópera há alguns meses. O canto eu podia pegar ou largar, mas o hotel era minha fraqueza. Banheira de hidromassagem aquecida. Colchões macios. Um spa, um chocolatier e uma joalheria no local. Se isso não bastasse, há uma passarela de pedestres que conecta o local ao luxuoso shopping center ao lado. E embaixo do hotel uma estação de metrô. Bingo. Eu sigo para as portas giratórias, de cabeça erguida enquanto passo pelos manobristas. Com uma camiseta e calças de ioga, não pareço pertencer ao grupo. Não com a minha bagagem da loja de descontos. Mas eu mantenho isso em movimento e ajo como se eu soubesse para onde estou indo. Lembro-me bem do layout do lugar. Há um corredor depois do bar que leva ao elevador. Há um banheiro e um caixa eletrônico. Eu sigo nessa direção, orando. Não faz tanto tempo. Luca realmente vai pegar o telefone com a administradora do cartão de crédito para cancelar meu acesso logo depois de me expulsar de casa? Pego o cartão de crédito preto da caixa do meu celular, colocandoo na máquina com dedos trêmulos. Vamos. Muito dinheiro. Recusado. Luca é rápido. E um idiota vingativo. Eu coloco o cartão no Lixo. Eu preciso sair daqui. O que mais? Vamos. Use esse cérebro. Eu preciso de dinheiro. Preciso descobrir para onde ir e como sobreviver quando chegar lá. Eu preciso cobrir meus rastros. Eu entro no banheiro feminino. Está vazio, graças a Deus. Eu me tranco em uma cabine e sento para pensar. Minha mente não está funcionando direito. Eu não consigo me concentrar. Finalmente, tudo me atinge em uma onda, meu estômago se revolta e eu giro, curvando-se, mal conseguindo chegar a tempo antes de minhas entranhas apertarem e eu vomitar ácido e café no banheiro. Isso queima minha garganta. Meus olhos lacrimejam. Eu não estou chorando, no entanto. Eu respiro fundo entre vibrações violentas e, quando não há mais nada no estômago, cuspo algumas vezes. Pego às cegas atrás de mim um maço de papel higiênico, limpo a boca e dou a descarga. Então pressiono minha testa úmida contra a partição fria de metal e forço meu cérebro a funcionar. Eu preciso de ajuda. Posso comprar uma passagem de ônibus. Talvez consiga alguns estados de distância, mas depois disso, estarei quebrada e ferrada. Vou precisar de uma maneira de ganhar dinheiro e, se tiver que ficar fora do sistema, minhas opções são truques ou mendigos. Talvez eventualmente consiga encontrar trabalho por baixo da mesa, mas preciso de um documento de identificação para arranjar um emprego de verdade. Eu não posso usar o meu. Não posso deixar migalhas de pão para Ricci. Quem pode me ajudar? Minha família imediata se foi. O lado da minha mãe nos cortou quando o irmão do meu pai entrou em conflito com Ricci. Eles me entregariam a ele em um piscar de olhos. O lado do papai está reduzido a um tio-avô em uma casa de repouso. Tenho amigos, garotas que se dignam a ignorar meu sobrenome desde que estou com Luca. Vamos dançar, fazer unha. Elas não são do tipo que você pode recorrer em caso de emergência. Exceto. Sigo em direção ao elevador, correndo o mais rápido que posso, sem chamar atenção para mim. Eu levo um segundo e disfarçadamente largo meu telefone na lata de lixo ao lado do caixa eletrônico, estremecendo. Nunca não tive um telefone, mas existe um aplicativo encontre meu Telefone, e Luca nunca hesitou em usá-lo quando está com preguiça de me procurar em casa. Não vou facilitar para eles. Não vou levar uma bala na nuca hoje. Não para Luca. Não vou fazer nada por Luca nunca mais.~~CAPÍTULO 5~~LUCAFico atrás da minha mesa, olhando para o laptop quebrado e a rachadura na parede de gesso, os punhos cerrados com tanta força que meus dedos doem, os nervos do meu pescoço esticado. Há um rugido surdo em meu cérebro, tão irritante quanto um aspirador no meio de uma reunião ou um cortador de grama do lado de fora de uma janela aberta. Eu calculei mal. Eu nunca faço cálculos errados. Brian sempre foi um risco, mas é o que eu faço. Eu gerencio riscos. Eu sou excelente nisso. Baixo risco é igual a baixa recompensa. Eu faço grandes apostas. Se Ricci soubesse quanto de seu dinheiro eu perco em um determinado dia, ele se cagaria. Mas eu faço para ele o dobro quando o mercado fecha, então todos ficam felizes. Se fosse Wall Street, eu seria o rei, mas esta é a organização Ricci. Eu sou o mago por trás da cortina. Eu não me importo. Eu não gosto de pessoas. Meu trabalho me convém. Eu deveria ter fodido Brian algumas vezes para tirá-la do meu sistema e depois largá
~CAPÍTULO 6~~LUCA— Ela se foi, chefe. Eu desço correndo as escadas para encontrar Mariano no saguão. Quase quatro da manhã. Mac e uma dúzia de homens ainda estão vasculhando a cidade. Brian desapareceu sem deixar vestígios. Eu me aproximo de Mariano. Ele tem o celular e o cartão de crédito dela nas mãos. — Eles estavam em uma lata de lixo? Ele me disse ao telefone, mas pergunto assim mesmo. Estou tentando descobrir esse problema com os fatos disponíveis, embora seja impossível, como montar um quebra-cabeça com apenas três peças de uma caixa de mil. — Ao lado do caixa eletrônico do hotel.Mariano confirma novamente. — Nenhum sangue? Nenhum sinal de luta? — Os homens de Ricci não deixariam nenhum. Nós dois sabemos disso, mas eu tinha que perguntar. Estou inquieto. Mariano fareja e tira seu sobretudo. Ele está amarrotado. Exausto. — Café! Eu vociferei para um dos funcionários, e houve uma correria. Preciso do Mariano em alerta. Ele é meu padrinho. Ele conhece Brian. — P
~CAPÍTULO 7~~BRIAN5 MESES DEPOISOlhando para as telhas protuberantes do teto, virando e revirando, incapaz de passar o tempo mesmo caindo no sono. Tenho saudades da minha vida. Sinto falta de ver as pessoas, de ir a lugares e de fazer coisas. Sinto falta de ter coisas. Tive a ideia de me acalmar um pouco, economizar meu dinheiro, deixar o negócio Ricci morrer e depois ir para Las Vegas ou Cali. Eu não sabia que estaria vivendo com a mão na boca. O pior é que sinto falta de Luca. Não as flores e os gestos que acabaram sendo uma besteira. Ou o sexo ou os silêncios estranhos sempre que estávamos sozinhos sem nada para fazer, como no jantar ou durante longos passeios de carro. Mas eu sinto falta dos jogos, das horas apenas de nós dois, seus olhos castanhos brilhando, sobrancelha escura arqueada, lábios levantados, quase sorrindo. Ele adorava vencer. Ele adorou ainda mais quando eu o venci. Ninguém prestou mais atenção em mim do que Luca quando estávamos no meio de um jogo. Eu
~~CAPÍTULO 8~~BRIANSeu aperto afrouxa ligeiramente, permitindo-me finalmente expandir meus pulmões e tomar uma respiração superficial. — Por que você está voltando para casa sozinha?Quê? O cano de uma arma está cavando na carne macia acima do meu quadril, e ele quer saber por que estou voltando para casa sozinha? — Eu eu fechei esta noite. Eu gaguejo. — É perigoso. Uma risadinha histérica voa de meus lábios. Luca faz um som irritado e me empurra para frente com a arma. — Ande. No final do quarteirão, vire à esquerda.O que sobrou? Nenhuma coisa. Um lote vazio. A loja de descontos vazia. Ele vai atirar em mim. Deixar meu corpo em um campo coberto de pontas de cigarro e garrafas de cerveja. Meus joelhos ficam fracos. Eu não consigo me impulsionar para frente. Minhas pernas não vão fazer isso. Não vou caminhar calmamente para a minha morte. — O que você tem? Luca tenta me empurrar para frente com a mão nas minhas costas. — Eu n-não quero morrer.Eu gostaria de ser corajosa
~CAPÍTULO 10~~BRIANEle não está falando doce comigo. A conversa doce de Luca é clichê e repetitiva. Ele dizia as mesmas frases toda vez que fizemos sexo, quando ficamos juntos pela primeira vez. Você é tão bonita. Eu amo estar com você. Você é perfeita. Ele parou quando me mudei. Achei que era uma evolução natural do relacionamento. Como fazer xixi com a porta aberta. Olhando para este homem frio com as mãos apoiadas nas coxas, olhando para mim, ferida, presa, é impossível acreditar que as palavras saíram de sua boca, mas eu me lembro vividamente. Estávamos nadando nus na piscina quando ele disse eu te amo pela primeira vez. Não. Ele disse: — Adoro estar com você. E estávamos prestes a fazer sexo. — O que você está pensando?Ele exige novamente. Perco tempo espremendo sabonete líquido com perfume de lavanda em uma bucha e amassando em minhas mãos. — Você nunca costumava se perguntar. — Porque eu sabia.Ele diz isso com absoluta confiança. — Você sabia o que eu estava pensa
~CAPÍTULO 11~~LUCAEu trabalho por algumas horas, mas nunca me sento. Meu pau está duro e tenho energia demais. Eu iria para a academia, mas não quero perder quando ela acordar. De quanto sono ela precisa? Ela tem que acordar na hora do almoço. Bato os dedos na mesa polida e limpo as manchas com o punho. Satisfação e nervos guerreiam em meu peito. Eu a tenho de volta. Ela correu, eu a peguei e ela ficou apavorada. Eu não consigo evitar que meus lábios se curvem. Ela desligou na minha cara e eu a enfiei no porta-malas. É um pouco como levar uma arma para uma luta de facas, mas quando eu ganho, eu gosto de jogar grande. Encontrá-la também não foi uma conclusão precipitada. Nós a examinamos através do sistema. Sua licença foi usada em um aplicativo de aluguel que foi recusado. Isso nos levou à cidade certa. O investigador a encontrou em menos de um dia. Brian é tão inteligente, mas ela constantemente se sabota. Ela confia nas pessoas, anseia por afeto e aceitação. Ela fica sozinh
~~CAPÍTULO 13~~LUCAO ar está vermelho e meus pulmões estão limpos. Consigo respirar com facilidade pela primeira vez em semanas. Eu reviro meus ombros e bato o punho contra meu peito. Eu me sinto incrível. A sala está cheia. Gritos. Estridentes. Mac não. Ele não está fazendo mais nenhum som, exceto um gorgolejo baixo. Eu me levanto e me viro, confuso. É Mac. Ela está de pé, a cadeira desabou no chão. Os braços de Mariano estão em volta dela, prendendo-a no lugar. Ela está lutando, mas ela é fraca. Ela cede contra ele. Eu não gosto disso. — Largue ela. Ele o faz, instantaneamente. Ela tropeça e se recupera, seus gritos sumindo enquanto seus olhos encontram os meus. Suas pupilas são enormes. O azul de suas íris quase desapareceu. — Você vai matá-lo?Ela engasga. — Ele não está morto? Eu olho para os meus pés. Seu peito ainda está se movendo. Muito levemente. Estou surpreso. — O que ele fez?Ela murmura. — Ele me traiu. Eu vou até ela, tiro o cabelo pegajoso de seu rost
~~CAPÍTULO 15~~BRIANMeu rubor desaparece quando um calafrio se infiltra em meu peito. — Por que você fez isso com Mac? — Essa é uma mudança rápida de conversa. Ele coloca o rei preto em seu quadrado. — O que ele fez? — Ele é um rato. — Você deixou um rato viver? Não é assim que funciona. Meu tio era um rato. Ele pagou com a vida e o resto de nós vivia com o fedor. Foi um milagre Ricci não ter matado meu pai, embora ele não tivesse ideia do que seu irmão estava fazendo. Eu estava no ensino fundamental quando Ricci o pegou deslizando. Um dia, eu era popular. Eu tinha um namorado. Eu era a abelha rainha. No próximo, eu estava sentada à mesa do almoço sozinha. — Você me pediu. — Você não faz nada que não queira. Eu zombo. Ele inclina a cabeça. — Você precisa conhecer o seu poder. — Eu não tenho poder. — Pelo contrário. Seus olhos escurecem. — Você dizima o meu controle. Se você correr de novo, se me deixar com raiva o suficiente, posso matá-lo. Posso nem mesmo querer.