O trotar do cavalo fazia o corpo forte e grande de Lucian balançar levemente. Enquanto suas mãos firmes seguravam as rédeas, seus olhos castanhos dividiam-se entre olhar a estrada e o céu, que anunciava a tempestade que, com toda certeza, o pegaria antes que ele chegasse à casa central da fazenda dos Capman. Mas a culpa de estar prestes a ficar ensopado era toda sua, afinal, Juan, que vinha cavalgando logo atrás de si, havia o avisado que deveriam ir de carruagem.Lucian ainda conseguia ouvir os resmungos mal humorados do amigo enquanto cavalgavam com toda pressa e adentravam o território do gentil fazendeiro que se dispôs a acolhê-los. Não culpava o amigo por estar tão irritado, estava habituado a acompanhar nobres de mais alta estirpe ou nascidos em berço real, era difícil para Juan entender que ele não se agradava de todas aquelas bobagens propostas pela coorte e gostava de sentir o vento no rosto, o cheiro da brisa e do campo enquanto viajava. Mas admitia que, talvez, trocar a c
Jamais havia visto criatura tão bela e, momentaneamente, aquilo o desconcertou. A jovem moça usava vestes simples e leves, talvez consideradas até um pouco inapropriada para se estar na presença de um homem, o tecido fino movia-se levemente por conta da ventania que insistia em perpassar o corpo do duque e agarrava-se ao corpo pequeno da ruiva a sua frente, revelando mais do que o apropriado, algo que ele não deixou de reparar. Trazia um candelabro e a luz amarelada da vela iluminava seu belo rosto, os olhos esverdeados exibiam um misto de medo e curiosidade, seus ombros estavam um tanto quanto encolhidos e ele percebeu a mulher a sua frente puxar para cima a echarpe que estava sob seus braços, escondendo a pele que estava a mostra e fechando o decote. — Desculpe-me, senhorita — Juan tomou a frente e Lucian percebeu que o loiro estava tão deslumbrado com a aparência dela quanto ele. — A tempestade nos pegou enquanto íamos para a casa central da fazenda, somos convidados do senhor Ma
As outras três mulheres encararam a cena com um rubor nas bochechas, enquanto Charlotte recolhia sua mão com certa pressa, sentindo o rosto pegar fogo ao passo que via o Duque exibir um sorriso de canto. — A tempestade nos pegou desprevenidos e, se não for muita ousadia de minha parte, gostaria de saber se poderia nos hospedar aqui — ele pediu, erguendo o corpo e encarando-a com certa curiosidade. ‘O que uma moça jovem e tão bela faz cercada por mulheres nessa casa? Por que a irmã do anfitrião não está na casa principal?’, eram as perguntas que rondavam a cabeça do Duque, que encarava a jovem ruiva a sua frente curiosamente. Mas, apesar de muito tentado, não perguntou sobre isso para ela, não ainda, ocupou-se em olhá-la com visível admiração. Annie se aproximou dos dois homens e, sem nenhuma cerimônia, pegou das mãos dos dois as duas malas pequenas que levavam, então, seguindo em direção às escadas, falou: — Acredito que não há problema, estamos prestes a jantar e os senhores se
— Vá, Charlotte , coloque um vestido bonito, temos visitas hoje! — pediu ela, atraindo os olhos verdes à ruiva para si. — Annie, eu sequer pensava em jantar à mesa — ela retrucou, mas se ergueu, um pouco a contragosto. — Avise-me quando o jantar estiver pronto, estarei aqui para receber nossos convidados e, sim, vestirei algo decente. A resposta pareceu agradar à mulher, que a empurrou pelos ombros até as escadas e voltou para a cozinha, feliz por terem convidados, afinal sempre cozinhava, limpava e fazia tudo somente para as moças da casa ou o senhor Marcel. Enquanto suas amigas trabalhavam animadamente, Charlotte subia lentamente as escadas, seguindo pelo corredor até seu quarto com certo receio. Ainda não se sentia de todo segura com os inquilinos inesperados, porém, sua curiosidade a muniu de uma coragem momentânea que a levou a passar da sua porta e caminhar, bem devagar e com passos leves, até o pequeno e amarelado feixe de luz que iluminava o tapete. A ruiva caminhava a
Quando seus olhos se fixaram nos dela, Lucian perdeu-se por breves segundos naquela imensidão esverdeada, era como um mar de mistérios a serem desvendados. Sabia bem que ela o observava e não poupou esforços em mostrar-se para ela, já que estava tão curiosa assim para vê-lo. No entanto, ouvir o suspiro o tirou toda a concentração em parecer alheio à invasão e, quando abriu os olhos e a encarou, sentiu uma onda de desejo lhe subir pelos pés e aquecer todo seu corpo. Os lábios dela, vermelhos e apetitosos, estavam entreabertos e, quando se viu pega no flagra, a expressão de surpresa e a vergonha fez suas bochechas corarem. Mesmo vendo somente parte do seu rosto pela pequena fresta, Lucian adorou como as bochechas avermelhadas coloriam sua pele e a imaginou ainda mais corada e ofegante, mas por outras razões que lhe pareciam bem melhores. Quando Charlotte se foi, ele conseguiu ouvir a corrida frenética que ela fez até seu próprio quarto e não conseguiu evitar o riso que escapou de se
Ao contrário da aversão que normalmente sentia diante de olhares masculinos, os olhos do duque causaram nela certa irritação mesclada a um formigamento e um calor que irradiou por seu corpo. Mas a ousadia que ele tinha a deixava irritada o suficiente para fazê-la unir as sobrancelhas. Como ele ousava ser tão sugestivo com uma dama em meio aos criados e a um outro homem que ela sequer conhecia? — Bem, espero que aproveitem o jantar, senhores — ela se pronunciou, contendo a irritação para não transparecer em sua voz. — Amanhã meu irmão virá buscá-los e, assim, poderão seguir até a casa central. Assim que se calou, um forte trovão tomou o ambiente e, pouco depois, as criadas serviram o jantar. A mesa estava belíssima, haviam frutas, legumes, um belo pernil, pães, massas e tudo o que podia haver. Annie havia se esforçado, apesar de saber que Charlotte não comeria metade dos pratos. Como previsto, a ruiva se sentou e se serviu de um pouco de sopa, uma fatia de pão e um pouco do delici
Quando acordou naquela manhã, Charlotte conseguiu ouvir, mesmo do seu quarto, a voz potente de seu irmão ecoando pela casa. Abriu os olhos preguiçosamente e esticou o corpo, bocejando e se sentando na cama, demorando alguns minutos para recobrar a consciência. O quarto ainda estava escuro por conta das grandes cortinas, então, a ruiva se ergueu da cama e, arrastando os pés preguiçosamente, puxou com certa força o grosso tecido que impedia que a luz do sol chegasse ao ambiente. Já com o quarto iluminado, ela foi até a bacia de água gelada e lavou o rosto, penteando os cabelos e os deixando soltos. Estava bastante à vontade. Vestiu um de seus vestidos coloridos, optando por um de saia pouco rodada, mais discreto e em um bonito tom de azul, estava alegre naquela manhã e a visita de seu irmão certamente alegraria ainda mais seu dia. Abriu a porta de seu quarto e passou a caminhar tranquilamente pelo corredor, ajeitando distraidamente as mangas de seu vestido e o discreto decote, porém
Dito isto, Marcel aguardou que Lucian seguisse até a porta e o acompanhou, sob o olhar atento de Charlotte , que encarava as costas largas do duque enquanto ele se distanciava. Discretamente, aproximou-se da janela e ficou os observando partir, sob as instruções de Annie e os agradecimentos das demais damas, que pareciam ainda encantadas com o nobre que havia passado a noite ali. Charlotte não as julgava, ela mesma estava encantada por ele, mesmo que não quisesse. A cavalgada foi silenciosa. Lucian não disse nada, estava ocupado demais pensando na imensidão esverdeada e revivendo os suspiros e o olhar tão atento da noite anterior. Já Juan, refletia sobre o perigo que aquela visita oferecia. Ele sabia da história da pobre moça mais velha dos Capman, devolvida por não gerar filhos ao primeiro marido. Sabia bem que não seria a melhor das decisões do duque envolver-se com ela, mesmo sendo, sem dúvida alguma, a moça mais bela de toda a região. Já Marcel, que também estava perdido em s