O primeiro dia veio e passou, assim como o segundo, o terceiro e os outros sete. Enquanto Charlotte tentava ocupar sua cabeça com as possibilidades do que vestiria no baile ao qual seria obrigada a ir, já que seu irmão não a deixaria recusar e o duque a convidou pessoalmente, Lucian conhecia cada vez mais da fazenda. Ele passava os dias desbravando os vastos campos, ouvindo de Marcel como a economia do lugar funcionava e, vez ou outra, os dois homens seguiam para a cidade a fim de que o Duque visse um pouco mais sobre o lugar onde passaria alguns meses. Em meio a passeios e jantares, Brista tentava aproximar-se a todo custo, apesar de Lucian não demonstrar para ela nada além de cordialidade, o que a deixava extremamente frustrada. Judith também notou o pouco interesse do Duque em sua filha e aquilo a preocupou, afinal, sabia que a imagem de Charlotte , sua filha mais velha, poderia ter algo a ver com aquilo. No entanto, preferiu não se manifestar, ao menos não naquele momento. Pr
Lucian esperava uma explicação, mas duvidava que teria o que desejava. Charlotte parecia se envergonhar de algo e ele suspeitava que seu distanciamento de sua família tivesse algo a ver com isso. “O que ela esconde?”, ele se perguntava, enquanto encarava os belíssimos olhos verdes. “Será que tem um filho? Ou já envolveu-se com algum homem? O que faz com que sua mãe a mantenha tão longe?”, os pensamentos iam e vinham em sua mente e ele não sabia mais o que concluir sobre Charlotte. Mas tinha a certeza de que queria saber mais sobre ela, saber tudo e conhecê-la até em seus mais íntimos medos, protegê-la de seus maiores temores. — Eu não costumo visitar muito a casa principal, senhor — ela falou, depois de alguns minutos em silêncio. — Não devia estar aqui, tenho certeza que meu irmão está a sua procura. A última frase deixou Lucian um tanto quanto curioso e, munido de sua ousadia natural, deu um passo à frente, erguendo a destra para apoiar dois de seus dedos no queixo de Charlotte
Lucian estava de pé antes mesmo do dia amanhecer. Se sentia eufórico, o dia do baile finalmente havia chegado e ele torcia para encontrar Charlotte , torcia também para que ela decidisse aceitar seus presentes e para que lhe desse alguma abertura, mesmo que pequena. Quando deixou seu quarto, já devidamente vestido, a primeira pessoa que viu foi Judith. A senhora Capman usava um belo e elegante vestido, seus cabelos estavam perfeitamente alinhados e, como sempre, sua expressão não mostrava um dos melhores humores. Lucian sabia que em nada a agradava a constante insistência dele com relação a Charlotte , isso havia ficado claro com as cansativas tentativas de Judith para voltar sua atenção para Brista. — Senhora Capman, que surpresa — falou ele, mesmo não estando, de fato, surpreso. Judith encarou-o com certa irritação, apesar do tom sempre gentil de suas palavras: — Bom dia, Duque! Mal tenho o visto — comentou ela, oferecendo o braço a ele que, educadamente, segurou, enquanto segu
Ser tão claramente repreendida por um homem de tamanha influência e com o dobro do seu tamanho, fez um arrepio ruim percorrer sua espinha, forçando-a a inclinar a cabeça para baixo e, curvando o corpo levemente, falou:— Sim, senhor — sussurrou ela, erguendo-se e dando as costas para o Duque, seguindo para o sala onde tomava seu chá matinal. Enquanto Judith sumia nos corredores, Marcel seguia em direção à escada, vindo do escritório do pai. Havia ouvido toda a conversa e, considerando que aquele seria um bom momento para pôr todas as cartas na mesa, se aproximou do duque, inclinando o corpo levemente num cumprimento e suspirando. — Acredito que precisamos conversar, Duque — iniciou, indicando a porta com a cabeça e iniciando a caminhada até ela, sendo seguido por Lucian, que o olhava curiosamente. — Sinto muito pelo comportamento de minha mãe. — Não precisa se desculpar por ela — falou ele, passando pela porta sem pressa alguma. — Mas aceito seu pedido se ele vier junto a explicaç
O dia do baile finalmente havia chegado e todas as moças estavam eufóricas, cada uma por seu motivo particular. Brista olhava-se no espelho e passava as mãos na bela saia do vestido azul que usava, ele era extremamente elegante ela sabia que, provavelmente, havia custado uma fortuna. Tinha um belo corpete que contava com bordados dourados que desciam até sua cintura, sobre os bordados, pequeninas pérolas que traziam o brilho necessário e o luxo que ela gostaria de exibir, a saia, em sua maioria, era completamente azul e lisa, porém, em seu centro, ligada a fita dourada que marcava a cintura, havia um tecido de tom perolado, com bordas decoradas a fios de ouro e pérolas que desciam até o fim da saia, destacando-se entre o mar de azul. Usava também belas joias, um colar com grandes pedras igualmente azuis, brincos que se destacavam entre os fios loiros que estavam soltos e um enfeite que segurava algumas mechas de seus cabelos para manter os fios longe de seu rosto. A loira estava ma
— Senhor Duque! — George foi o primeiro a notá-lo, estendendo a mão para Lucian num cumprimento gentil. — Está feliz? O baile certamente contará com presenças importantes, soube que o príncipe estará presente!— Estou muito satisfeito, tenho certeza que será um ótimo evento — ele respondeu, com um sorriso gentil, voltando-se para as moças. — Senhoritas, estão belíssimas! — Obrigada, senhor! — Brista foi a primeira a agradecer, curvando levemente o corpo. — Se me permite dizer, estás muito bonito também, um colírio para os olhos de todas as damas, com certeza. A fala da loira fez Lucian rir, enquanto estendia a mão para ela, que aceitou prontamente o gesto, sentindo o coração palpitar com o sucesso, seria ela a primeira dança do Duque naquela noite? Aquilo lhe daria muita vantagem na corrida que se daria entre as moças para conseguir um pouco de sua atenção. — Me concede sua primeira dança? — perguntou ele, gentilmente. O Duque sabia das pretensões de Brista e, por mais que não ti
Judith estava tão irritada quanto a filha. Não sabia como Charlotte tinha coragem de aparecer numa festa social depois de tudo o que havia acontecido, mas estava disposta a falar sobre isso tão logo estivessem a sós, não admitia tamanha desobediência e falta de respeito. Alheia a tudo isso, Charlotte pegava uma taça que o Duque havia lhe oferecido, sentindo seu coração acelerado e a respiração levemente ofegante, não somente por conta do corpete apertado, estava nervosa. Sentia os olhares sobre si, eles a apavoravam, mas o toque delicado do irmão e os olhares de apoio do Duque, maior interessado na sua presença ali, a mantinha firme em sua decisão. Lucian aguardou pacientemente para que a ruiva se sentisse confortável, a observou beber um pouco de vinho, conversar e sorrir para o irmão, cumprimentar alguns cavalheiros e suas esposas. Então, quando Charlotte parecia mais tranquila e relaxada, voltou a se aproximar, interrompendo uma conversa que ela tinha com algumas damas e incli
Charlotte caminhava sem sequer ter noção de para onde ia, estava desnorteada. Seus olhos não se focavam em nada e seu coração ainda estava acelerado, bem como sua respiração, que fazia seu peito subir e descer numa velocidade preocupante para Lucian. O Duque seguiu a puxando com delicadeza até que chegaram ao jardim, ele caminhou até o pequeno labirinto vivo, com paredes feitas de arbustos, e adentrou o local, fazendo duas curvas para a esquerda e uma para a direita, tentando manter-se longe dos olhares curiosos. Então, segurando suas duas mãos, apertando-as delicadamente, falou. — Charlotte , olhe para mim — mas não obteve resposta. — Charlotte … Precisa se acalmar, por favor!Ele não sabia o que fazer, a mulher a sua frente estava a ponto de sofrer um colapso nervoso e ele não tinha a menor ideia de como ajudá-la. Então, fazendo a única coisa que acreditava que poderia ajudar, ele a abraçou. Puxou-a para si e a apertou em seus braços, segurando-a com carinho, beijando seus cabel