Ao contrário da aversão que normalmente sentia diante de olhares masculinos, os olhos do duque causaram nela certa irritação mesclada a um formigamento e um calor que irradiou por seu corpo. Mas a ousadia que ele tinha a deixava irritada o suficiente para fazê-la unir as sobrancelhas. Como ele ousava ser tão sugestivo com uma dama em meio aos criados e a um outro homem que ela sequer conhecia? — Bem, espero que aproveitem o jantar, senhores — ela se pronunciou, contendo a irritação para não transparecer em sua voz. — Amanhã meu irmão virá buscá-los e, assim, poderão seguir até a casa central. Assim que se calou, um forte trovão tomou o ambiente e, pouco depois, as criadas serviram o jantar. A mesa estava belíssima, haviam frutas, legumes, um belo pernil, pães, massas e tudo o que podia haver. Annie havia se esforçado, apesar de saber que Charlotte não comeria metade dos pratos. Como previsto, a ruiva se sentou e se serviu de um pouco de sopa, uma fatia de pão e um pouco do delici
Quando acordou naquela manhã, Charlotte conseguiu ouvir, mesmo do seu quarto, a voz potente de seu irmão ecoando pela casa. Abriu os olhos preguiçosamente e esticou o corpo, bocejando e se sentando na cama, demorando alguns minutos para recobrar a consciência. O quarto ainda estava escuro por conta das grandes cortinas, então, a ruiva se ergueu da cama e, arrastando os pés preguiçosamente, puxou com certa força o grosso tecido que impedia que a luz do sol chegasse ao ambiente. Já com o quarto iluminado, ela foi até a bacia de água gelada e lavou o rosto, penteando os cabelos e os deixando soltos. Estava bastante à vontade. Vestiu um de seus vestidos coloridos, optando por um de saia pouco rodada, mais discreto e em um bonito tom de azul, estava alegre naquela manhã e a visita de seu irmão certamente alegraria ainda mais seu dia. Abriu a porta de seu quarto e passou a caminhar tranquilamente pelo corredor, ajeitando distraidamente as mangas de seu vestido e o discreto decote, porém
Dito isto, Marcel aguardou que Lucian seguisse até a porta e o acompanhou, sob o olhar atento de Charlotte , que encarava as costas largas do duque enquanto ele se distanciava. Discretamente, aproximou-se da janela e ficou os observando partir, sob as instruções de Annie e os agradecimentos das demais damas, que pareciam ainda encantadas com o nobre que havia passado a noite ali. Charlotte não as julgava, ela mesma estava encantada por ele, mesmo que não quisesse. A cavalgada foi silenciosa. Lucian não disse nada, estava ocupado demais pensando na imensidão esverdeada e revivendo os suspiros e o olhar tão atento da noite anterior. Já Juan, refletia sobre o perigo que aquela visita oferecia. Ele sabia da história da pobre moça mais velha dos Capman, devolvida por não gerar filhos ao primeiro marido. Sabia bem que não seria a melhor das decisões do duque envolver-se com ela, mesmo sendo, sem dúvida alguma, a moça mais bela de toda a região. Já Marcel, que também estava perdido em s
O primeiro dia veio e passou, assim como o segundo, o terceiro e os outros sete. Enquanto Charlotte tentava ocupar sua cabeça com as possibilidades do que vestiria no baile ao qual seria obrigada a ir, já que seu irmão não a deixaria recusar e o duque a convidou pessoalmente, Lucian conhecia cada vez mais da fazenda. Ele passava os dias desbravando os vastos campos, ouvindo de Marcel como a economia do lugar funcionava e, vez ou outra, os dois homens seguiam para a cidade a fim de que o Duque visse um pouco mais sobre o lugar onde passaria alguns meses. Em meio a passeios e jantares, Brista tentava aproximar-se a todo custo, apesar de Lucian não demonstrar para ela nada além de cordialidade, o que a deixava extremamente frustrada. Judith também notou o pouco interesse do Duque em sua filha e aquilo a preocupou, afinal, sabia que a imagem de Charlotte , sua filha mais velha, poderia ter algo a ver com aquilo. No entanto, preferiu não se manifestar, ao menos não naquele momento. Pr
Lucian esperava uma explicação, mas duvidava que teria o que desejava. Charlotte parecia se envergonhar de algo e ele suspeitava que seu distanciamento de sua família tivesse algo a ver com isso. “O que ela esconde?”, ele se perguntava, enquanto encarava os belíssimos olhos verdes. “Será que tem um filho? Ou já envolveu-se com algum homem? O que faz com que sua mãe a mantenha tão longe?”, os pensamentos iam e vinham em sua mente e ele não sabia mais o que concluir sobre Charlotte. Mas tinha a certeza de que queria saber mais sobre ela, saber tudo e conhecê-la até em seus mais íntimos medos, protegê-la de seus maiores temores. — Eu não costumo visitar muito a casa principal, senhor — ela falou, depois de alguns minutos em silêncio. — Não devia estar aqui, tenho certeza que meu irmão está a sua procura. A última frase deixou Lucian um tanto quanto curioso e, munido de sua ousadia natural, deu um passo à frente, erguendo a destra para apoiar dois de seus dedos no queixo de Charlotte
Lucian estava de pé antes mesmo do dia amanhecer. Se sentia eufórico, o dia do baile finalmente havia chegado e ele torcia para encontrar Charlotte , torcia também para que ela decidisse aceitar seus presentes e para que lhe desse alguma abertura, mesmo que pequena. Quando deixou seu quarto, já devidamente vestido, a primeira pessoa que viu foi Judith. A senhora Capman usava um belo e elegante vestido, seus cabelos estavam perfeitamente alinhados e, como sempre, sua expressão não mostrava um dos melhores humores. Lucian sabia que em nada a agradava a constante insistência dele com relação a Charlotte , isso havia ficado claro com as cansativas tentativas de Judith para voltar sua atenção para Brista. — Senhora Capman, que surpresa — falou ele, mesmo não estando, de fato, surpreso. Judith encarou-o com certa irritação, apesar do tom sempre gentil de suas palavras: — Bom dia, Duque! Mal tenho o visto — comentou ela, oferecendo o braço a ele que, educadamente, segurou, enquanto segu
Ser tão claramente repreendida por um homem de tamanha influência e com o dobro do seu tamanho, fez um arrepio ruim percorrer sua espinha, forçando-a a inclinar a cabeça para baixo e, curvando o corpo levemente, falou:— Sim, senhor — sussurrou ela, erguendo-se e dando as costas para o Duque, seguindo para o sala onde tomava seu chá matinal. Enquanto Judith sumia nos corredores, Marcel seguia em direção à escada, vindo do escritório do pai. Havia ouvido toda a conversa e, considerando que aquele seria um bom momento para pôr todas as cartas na mesa, se aproximou do duque, inclinando o corpo levemente num cumprimento e suspirando. — Acredito que precisamos conversar, Duque — iniciou, indicando a porta com a cabeça e iniciando a caminhada até ela, sendo seguido por Lucian, que o olhava curiosamente. — Sinto muito pelo comportamento de minha mãe. — Não precisa se desculpar por ela — falou ele, passando pela porta sem pressa alguma. — Mas aceito seu pedido se ele vier junto a explicaç
O dia do baile finalmente havia chegado e todas as moças estavam eufóricas, cada uma por seu motivo particular. Brista olhava-se no espelho e passava as mãos na bela saia do vestido azul que usava, ele era extremamente elegante ela sabia que, provavelmente, havia custado uma fortuna. Tinha um belo corpete que contava com bordados dourados que desciam até sua cintura, sobre os bordados, pequeninas pérolas que traziam o brilho necessário e o luxo que ela gostaria de exibir, a saia, em sua maioria, era completamente azul e lisa, porém, em seu centro, ligada a fita dourada que marcava a cintura, havia um tecido de tom perolado, com bordas decoradas a fios de ouro e pérolas que desciam até o fim da saia, destacando-se entre o mar de azul. Usava também belas joias, um colar com grandes pedras igualmente azuis, brincos que se destacavam entre os fios loiros que estavam soltos e um enfeite que segurava algumas mechas de seus cabelos para manter os fios longe de seu rosto. A loira estava ma