Quando seus olhos se fixaram nos dela, Lucian perdeu-se por breves segundos naquela imensidão esverdeada, era como um mar de mistérios a serem desvendados. Sabia bem que ela o observava e não poupou esforços em mostrar-se para ela, já que estava tão curiosa assim para vê-lo. No entanto, ouvir o suspiro o tirou toda a concentração em parecer alheio à invasão e, quando abriu os olhos e a encarou, sentiu uma onda de desejo lhe subir pelos pés e aquecer todo seu corpo. Os lábios dela, vermelhos e apetitosos, estavam entreabertos e, quando se viu pega no flagra, a expressão de surpresa e a vergonha fez suas bochechas corarem. Mesmo vendo somente parte do seu rosto pela pequena fresta, Lucian adorou como as bochechas avermelhadas coloriam sua pele e a imaginou ainda mais corada e ofegante, mas por outras razões que lhe pareciam bem melhores. Quando Charlotte se foi, ele conseguiu ouvir a corrida frenética que ela fez até seu próprio quarto e não conseguiu evitar o riso que escapou de se
Ao contrário da aversão que normalmente sentia diante de olhares masculinos, os olhos do duque causaram nela certa irritação mesclada a um formigamento e um calor que irradiou por seu corpo. Mas a ousadia que ele tinha a deixava irritada o suficiente para fazê-la unir as sobrancelhas. Como ele ousava ser tão sugestivo com uma dama em meio aos criados e a um outro homem que ela sequer conhecia? — Bem, espero que aproveitem o jantar, senhores — ela se pronunciou, contendo a irritação para não transparecer em sua voz. — Amanhã meu irmão virá buscá-los e, assim, poderão seguir até a casa central. Assim que se calou, um forte trovão tomou o ambiente e, pouco depois, as criadas serviram o jantar. A mesa estava belíssima, haviam frutas, legumes, um belo pernil, pães, massas e tudo o que podia haver. Annie havia se esforçado, apesar de saber que Charlotte não comeria metade dos pratos. Como previsto, a ruiva se sentou e se serviu de um pouco de sopa, uma fatia de pão e um pouco do delici
Quando acordou naquela manhã, Charlotte conseguiu ouvir, mesmo do seu quarto, a voz potente de seu irmão ecoando pela casa. Abriu os olhos preguiçosamente e esticou o corpo, bocejando e se sentando na cama, demorando alguns minutos para recobrar a consciência. O quarto ainda estava escuro por conta das grandes cortinas, então, a ruiva se ergueu da cama e, arrastando os pés preguiçosamente, puxou com certa força o grosso tecido que impedia que a luz do sol chegasse ao ambiente. Já com o quarto iluminado, ela foi até a bacia de água gelada e lavou o rosto, penteando os cabelos e os deixando soltos. Estava bastante à vontade. Vestiu um de seus vestidos coloridos, optando por um de saia pouco rodada, mais discreto e em um bonito tom de azul, estava alegre naquela manhã e a visita de seu irmão certamente alegraria ainda mais seu dia. Abriu a porta de seu quarto e passou a caminhar tranquilamente pelo corredor, ajeitando distraidamente as mangas de seu vestido e o discreto decote, porém
Dito isto, Marcel aguardou que Lucian seguisse até a porta e o acompanhou, sob o olhar atento de Charlotte , que encarava as costas largas do duque enquanto ele se distanciava. Discretamente, aproximou-se da janela e ficou os observando partir, sob as instruções de Annie e os agradecimentos das demais damas, que pareciam ainda encantadas com o nobre que havia passado a noite ali. Charlotte não as julgava, ela mesma estava encantada por ele, mesmo que não quisesse. A cavalgada foi silenciosa. Lucian não disse nada, estava ocupado demais pensando na imensidão esverdeada e revivendo os suspiros e o olhar tão atento da noite anterior. Já Juan, refletia sobre o perigo que aquela visita oferecia. Ele sabia da história da pobre moça mais velha dos Capman, devolvida por não gerar filhos ao primeiro marido. Sabia bem que não seria a melhor das decisões do duque envolver-se com ela, mesmo sendo, sem dúvida alguma, a moça mais bela de toda a região. Já Marcel, que também estava perdido em s
O primeiro dia veio e passou, assim como o segundo, o terceiro e os outros sete. Enquanto Charlotte tentava ocupar sua cabeça com as possibilidades do que vestiria no baile ao qual seria obrigada a ir, já que seu irmão não a deixaria recusar e o duque a convidou pessoalmente, Lucian conhecia cada vez mais da fazenda. Ele passava os dias desbravando os vastos campos, ouvindo de Marcel como a economia do lugar funcionava e, vez ou outra, os dois homens seguiam para a cidade a fim de que o Duque visse um pouco mais sobre o lugar onde passaria alguns meses. Em meio a passeios e jantares, Brista tentava aproximar-se a todo custo, apesar de Lucian não demonstrar para ela nada além de cordialidade, o que a deixava extremamente frustrada. Judith também notou o pouco interesse do Duque em sua filha e aquilo a preocupou, afinal, sabia que a imagem de Charlotte , sua filha mais velha, poderia ter algo a ver com aquilo. No entanto, preferiu não se manifestar, ao menos não naquele momento. Pr
Lucian esperava uma explicação, mas duvidava que teria o que desejava. Charlotte parecia se envergonhar de algo e ele suspeitava que seu distanciamento de sua família tivesse algo a ver com isso. “O que ela esconde?”, ele se perguntava, enquanto encarava os belíssimos olhos verdes. “Será que tem um filho? Ou já envolveu-se com algum homem? O que faz com que sua mãe a mantenha tão longe?”, os pensamentos iam e vinham em sua mente e ele não sabia mais o que concluir sobre Charlotte. Mas tinha a certeza de que queria saber mais sobre ela, saber tudo e conhecê-la até em seus mais íntimos medos, protegê-la de seus maiores temores. — Eu não costumo visitar muito a casa principal, senhor — ela falou, depois de alguns minutos em silêncio. — Não devia estar aqui, tenho certeza que meu irmão está a sua procura. A última frase deixou Lucian um tanto quanto curioso e, munido de sua ousadia natural, deu um passo à frente, erguendo a destra para apoiar dois de seus dedos no queixo de Charlotte
Lucian estava de pé antes mesmo do dia amanhecer. Se sentia eufórico, o dia do baile finalmente havia chegado e ele torcia para encontrar Charlotte , torcia também para que ela decidisse aceitar seus presentes e para que lhe desse alguma abertura, mesmo que pequena. Quando deixou seu quarto, já devidamente vestido, a primeira pessoa que viu foi Judith. A senhora Capman usava um belo e elegante vestido, seus cabelos estavam perfeitamente alinhados e, como sempre, sua expressão não mostrava um dos melhores humores. Lucian sabia que em nada a agradava a constante insistência dele com relação a Charlotte , isso havia ficado claro com as cansativas tentativas de Judith para voltar sua atenção para Brista. — Senhora Capman, que surpresa — falou ele, mesmo não estando, de fato, surpreso. Judith encarou-o com certa irritação, apesar do tom sempre gentil de suas palavras: — Bom dia, Duque! Mal tenho o visto — comentou ela, oferecendo o braço a ele que, educadamente, segurou, enquanto segu
Ser tão claramente repreendida por um homem de tamanha influência e com o dobro do seu tamanho, fez um arrepio ruim percorrer sua espinha, forçando-a a inclinar a cabeça para baixo e, curvando o corpo levemente, falou:— Sim, senhor — sussurrou ela, erguendo-se e dando as costas para o Duque, seguindo para o sala onde tomava seu chá matinal. Enquanto Judith sumia nos corredores, Marcel seguia em direção à escada, vindo do escritório do pai. Havia ouvido toda a conversa e, considerando que aquele seria um bom momento para pôr todas as cartas na mesa, se aproximou do duque, inclinando o corpo levemente num cumprimento e suspirando. — Acredito que precisamos conversar, Duque — iniciou, indicando a porta com a cabeça e iniciando a caminhada até ela, sendo seguido por Lucian, que o olhava curiosamente. — Sinto muito pelo comportamento de minha mãe. — Não precisa se desculpar por ela — falou ele, passando pela porta sem pressa alguma. — Mas aceito seu pedido se ele vier junto a explicaç