Havia chegado a hora de me unir a Dom Andreas, medo, ansiedade e muitos outros sentimentos se misturavam dentro de mim. Mamãe me ajudava a colocar o vestido e arrumar os meus cabelos, eu pensava em como seria minha vida sem ela daqui para frente e eu tenho que desfazer quaisquer laços de dependência de agora em diante seremos apenas Deus e eu.Senti as rendas daquele tecido passando as minhas mãos por ele, sabia que minha mãe havia feito um lindo trabalho.– Ficou lindo mamãe, muito obrigada por tudo.Ela não me respondeu.– Mamãe? – Perguntou confusa com aquele silêncio.– Perdoe-me filha, me emocionei ao te ver assim tão linda e pronta para começar sua vida.– Não chore, por onde eu for sempre serei sua filha amada. A senhora e meu pai são e sempre serão a coisa que mais amo nesse mundo.– Até que tenha os seus filhos, aí sim entenderá qual é o maior amor desse mundo.– Não terei filhos com ele. – Guadalupe respondeu sem receio.– Ainda com essa cisma?– Não é cisma, apenas não quer
Dentro do carro Dom Andreas sentia sua boca secar, sua fronte pingar de suor e o medo invadir seu coração a cada metro que avançavam.– Vou virar à esquerda patrão, há uma estrada de terra que os mercadores usam para levar as encomendas. Gabriel é antigo morador e sabe bem que o senhor não saberia disso!Dom Andreas gritava, e mandava Sebastião pisar fundo apesar de tudo o empregado temia o desfecho daquele encalço. Poucos minutos acelerando muito eles viram a poeira do galope do cavalo.– É aquele filho da mãe! – Murmurou Dom Andreas verificando o cilindro e se a arma estava devidamente carregada.– Sim são eles, o que vai fazer senhor? – Sebastião olhou para o revólver assustado.Dom Andreas colocou o braço direito para fora da janela do carro, Sebastião suspirou e tremeu...– Senhor, Lupe está naquele cavalo também!– Eu sei. – Dom Andreas respondeu.Ele atirou no cavalo, que relinchou de dor caindo e derrubando os dois no chão duro daquela estrada de terra.– Deus! – Sebastião gri
Dom Andreas se aproximou e ia lhe dar um beijo na boca, mas a jovem abaixou o rosto e ele beijou sua testa. Como estava com os braços feridos, ele apenas pegou sua mão. Ester foi falar com a filha depois da chuva de arroz, enquanto Leonel bebia tudo o que via pela frente. A família de Gabriel decidiu não ir a cerimônia, pareciam estar prevendo que o filho pudesse aprontar alguma por lá.– Me fale agora mesmo, o que aconteceu? – Ester perguntou enfurecida e não aceitaria nenhuma resposta a não ser a verdade.– Gabriel queria me levar embora daqui, Dom Andreas atirou em Raio de sol e caímos na estrada de terra.– Meu Deus um tiro, não devia ter se casado com ele!– E o que eu deveria ter feito Ester? Aceitado ver minha noiva ir embora com outro? – Dom Andreas escutou e tratou de se defender.– Já chega de gritos, estou muito cansada...mamãe não se preocupe comigo.– Como não vou me preocupar se agora tenho certeza de que esse homem é um completo louco e Gabriel?Dom Andreas engoliu sec
Dom Andreas cochilou sentado e despertou, deu alguns passos olhando para a janela. Virou-se viu Guadalupe ainda deitada, encolhida como um animal acuado suspirando e chamando por socorro.– Gabriel? – Ela gritou.Dom Andreas se enfureceu.– Se atreve a chamar por ele na minha cama?Ele foi até ela e segurando em seus ombros a sentou na cama rispidamente.– Chamou por ele, chamou enquanto dormia – Ele gritou, chacoalhando o corpo dela.– Você me assustou Andreas, foi só um sonho, mas de verdade está machucando meus braços ainda mais!– Você o ama, por que não admite de uma vez que ama aquele maldito do Gabriel?– Sim eu amo, amo como um irmão e não como você pensa e agora solte-me. – Ela tentava se desvencilhar dele.Ofegante o Dom largou os braços dela, antes que cegasse pela segunda vez de ciúmes do mesmo homem. Contou mentalmente até dez, enquanto ela alisava os próprios braços ainda ofegante e sentada na cama.– Precisa de alguma coisa? – Perguntou ele, se afastando ainda mais.– N
Após dedilhar o piano, o casal seguiu para o quarto...– O seu quarto tem sempre um cheiro diferente. – Guadalupe revela.– Você não gostou? É que antes de nos casarmos havia pedido a Amélia que sempre colocasse algum incenso e o de hoje é...– Eucalipto! Gosto especialmente desse cheiro.– Exatamente, você tem o olfato apurado, a audição impecável e acho que uma alma muito mais evoluída que as nossas. – Dom Andreas cheirou os cabelos negros dela.Enquanto a abraçava por trás, sentindo o cheiro de seu pescoço.– Minha mãe costuma dizer que as fraquezas nos tornam fortes de alguma maneira.– Às vezes me pergunto por que você não pode ver? Eu daria tudo para que pudesse, acho te daria os meus olhos.– Eu vejo de maneira diferente das outras pessoas, apenas isso Andreas!Ele seguia conduzindo-a, enquanto trocavam carinhos quentes.– Me leva para dar um passeio amanhã? – pediu ela.– Farei melhor que isso, iremos até a casa de seus pais para fazer uma visita e matar a sua saudade.– Minha
Juntos, surgiram na sala de jantar,– Bom dia. – Amélia estava a preparar a mesa para o casal.– Bom dia Amélia.– Hoje iremos dar um bom passeio por essa região, Lupe e eu estamos muito pálidos. – Dom Andreas sorriu ao dizer.– Acho que devem mesmo sair um pouco do quarto e respirar um ar puro.Fiquei um pouco constrangida com o comentário, mas claro que ela vivendo conosco sabia bem o que tanto fazíamos dentro do quarto. Comemos e depois Dom Andreas e eu fomos pedir a Sebastião que selasse os cavalos.– Quer ir junto no cavalo comigo, ou prefere que selem um para você? – Dom Andreas perguntou, mas no fundo queria que fossem juntos.– Podemos ir juntos!Sebastião olhou para Dom Andreas e sorriu, foi testemunha de como aquele casal havia sofrido e estava feliz ao ver que estavam se acertando.– Certo, Sebastião sele o trovão por favor.– Sim senhor. – Respondeu o peão, indo buscar o cavalo.Esperamos um pouco e ele trouxe o cavalo, Dom Andreas a ajudou a montar e veio por trás envolve
Enquanto isso, na igreja...– Padre? Podemos ir? – Disse Leandro de malas nas mãos, esperando pelo sacerdote na frente da igreja.– Claro meu jovem, se não se importar em ir de charrete?– Claro que não. – Estar nesse fim de mundo não era bem o que Leandro queria, graças a seu pai que o obrigou a escolher entre um internato ou a vida no campo. Ele decidiu seguir para lá, escolher uma bela casa para morar por um tempo para ficar longe da vida de jogatina e mulheres, seu pai tomara essa severa decisão. Já que o destino o obrigou a estae ali, iria procurar alguma forma de se entreter.Horas depois, naquela charrete que sacudia mais do que qualquer outra coisa nesse mundo e da conversa do sacerdote, enteidante para Leandro... O velho só sabia falar da vida alheia, avistaram uma grande propriedade.– Esta é a casa de seu primo! – afirmou o padre.– Sem dúvidas ele se estabeleceu bem por essas bandas, já deve estar curado de sua doenças. – Que Leandro acreditava, que o primo havia adquirido
Guadalupe sempre foi uma jovem forte, determinada e jamais se deixou abater pela deficiência visual. Desde cedo, fez questão de ser o mais independente possível dentro de suas limitações. Ela nunca teve o desejo de se casar, pois sempre sonhou em dedicar sua vida a Deus, apesar da vontade dos pais, que, por serem idosos, desejavam que ela tivesse uma família e a proteção de um marido. Dom Andreas, por outro lado, sempre foi um galanteador incorrigível, conhecido por viver de cama em cama, até ser obrigado a se isolar em uma fazenda. Quando viu Guadalupe pela primeira vez, ficou encantado com sua beleza e com a força que ela demonstrava ao enfrentar a vida. O desejo de possuir essa mulher despertou nele uma obsessão perigosa, levando-o a tomar atitudes cruéis para se casar com ela. Porém, ao se ver apaixonado, ele não conseguiu admitir esse sentimento, nem para si mesmo, nem para Guadalupe, o que causaria sofrimento a ambos. Puebla, México – 1900 Esther, mãe de Guadalupe, reflete sob