Primeiro

O destino é o amor.

Hoje estou cansada, ainda bem que amanhã é sábado. Vou tomar um banho e morrer na cama, não, vou tentar assistir alguma coisa. Tomara que o ChinHwa não invente nada para hoje, ele irá sozinho. Amo meu trabalho, mas hoje foi difícil.

Eu sou Janaina, mais conhecida por Jany, tenho vinte e um anos, exerço a profissão mais importante do mundo, sou professora, também sou conhecida por tia Jany, prof. Jany ou sora Jany. Ensino os primeiros passos, o ABC e o 123, formada em pedagogia e letras, moro com meu namorado, ChinHwa, ele tem vinte e sete anos e é gerente de departamento pessoal, não me perguntem o motivo dele morar aqui no Brasil, até hoje não entendo direito, acho que ele sabia que eu morava aqui e veio me conhecer, só pode ser isso.

Nos conhecemos há cinco anos quando entrei na faculdade, a história até que foi engraçada, eu consegui passar em duas faculdades com bolsa integral e em uma universidade federal, então fiz o balanço para ver como faria para poder conciliar as duas, outra história, estava chegando na universidade primeiro dia de aula, e eu havia esquecido que não era pedagogia e sim letras, e fui lindamente com uma flor no cabelo que um amigo colocou durante a tarde, sim eu tinha que achar um lugar perto para ficar, então fui morar com um amigo e o namorado, voltando... Sentei na cadeira e fiquei na sala esperando a professora entrar, na hora da chamada meu nome não estava na lista. Como não, eu não tive problema nenhum na minha matricula? Pensei... Do nada veio na cabeça que eu estava na turma errada, olhei para professora.

- Diz para mim que aqui é a turma de letras.

- Não, aqui é a turma de pedagogia! Letras é a última sala do corredor...

Saí correndo desesperada com minhas coisas nas mãos, braços e boca, sim boca também... Coloquei a alça da bolsa na boca. Aquele corredor parecia não ter mais fim! Pensem em um corredor comprido, e multiplica, entrei na sala quase sem chamar a atenção, correndo e deixando cair tudo que estava em meus braços e mãos, menos a bolsa que estava na boca, pelo menos ninguém pode me chamar de boca aberta... Então, ele, ChinHwa, estava dando uma palestra sobre responsabilidade. E eu chegando atrasada e responsavelmente atrapalhando a sua palestra. Ele prontamente me ajudou a juntar as coisas.

- Então, senhorita, sente-se, por favor. Aqui na frente tem lugar. - Sempre tem lugar na frente, deve ser castigo pra quem chega atrasado. – Pode se apresentar para turma, é uma pena, todos saberão quem a senhorita é, mas não saberá quem eles são...

Mas minha cara de pau é maior que qualquer vergonha que eu possa passar. Fiz minha apresentação nos mínimos detalhes, inclusive não deixei de incluir duas frases que eu uso com frequência “tá tudo errado” e “pronto acabou”, pois a vergonha tomava conta de mim apesar de não transparecer. Sentei e ele continuou a bendita da palestra, chegou à hora do intervalo, ele me chamou para conversarmos, falou que não iria me dar falta, ele se apresentou e disse que não era professor e sim apenas um convidado para palestrar e então fui lembrada do meu estilo visual.

- Ficou bem legal o penteado, só que a flor natural murcha e morre se não for regada...

Esqueci da flor no cabelo, dei um sorriso e tirei-a. – Trouxe para você! - Virei às costas e saí.

Terminamos o restante da aula com a professora que eu entrei errado, lá no início da história. Ela me olhou sorriu e perguntou se eu estava na turma certa agora, todos riram, pois isso confirmou o que tinha acontecido comigo de verdade.

Estávamos saindo da sala, agora eu já era um ícone para meus colegas, a atrapalhada e desatenta, além de ter um humor irreverente. Fui puxada do meio das minhas colegas de uma forma muito sutil que quase arrancou meu braço fora.

- Tentei colocá-la no meu cabelo, mas não ficou tão bom quanto no seu. - Então Chin, é assim que eu o chamo agora, acho difícil a pronuncia do seu nome, arredou meu cabelo e colou a flor de volta na minha orelha. Fiquei meio sem graça por alguns minutos. – Te vejo amanhã?

- Sim, irei fazer todas as cadeiras neste semestre.

- Então, até amanhã!

- Até amanhã!

- Ei, espere. Pode me passar seu número de telefone caso não consigamos nos encontrar.

Eu falei meu número, ele salvou e me ligou.

- O que é isso? – Perguntei enquanto pegava meu telefone.

- Está certo mesmo e agora você já tem o meu número... Não custa conferir, sabe? Às vezes as pessoas erram o próprio número de telefone!

Fiquei olhando para ele, sem acreditar no que ele tinha feito, me ligar e se tivesse passado o número errado mesmo?

- Credo Jany, estava te esperando, vamos, o Carlos não comeu nada ainda.

- Vamos, desculpa, Paulo. Boa noite? - Fiquei esperando ele se apresentar.  

- ChinHwa Lee. Boa noite, Janaina.

- Jany, por favor!

- Está bem, Jany.

- Quem é bonitão?

- Longa história...

- Quer me matar de fome? Acha que por você não comer os outros não precisam?

Isso aconteceu em 2010, já faz cinco anos, nem eu acredito... Ele foi meu primeiro namorado. Ele chegou batendo a porta.

- Amor, onde está?

- No quarto, Chin!

- Quer ir jantar fora? Tenho que te contar uma coisa!

- Está gravido?

- Não, meu amor! Isso só se você estivesse...

- Então não mesmo. Fala, não quero sair, estou cansada.

- Vamos morar na China.

- Vamos? Quem irá com você!

- Pare de brincar, Jany. Sabe muito bem quem irá comigo! Preciso do seu passaporte.

- Espera. Você decidiu por mim? Não posso simplesmente sair assim, preciso fazer a comunicação e pedir licença em uma das escolas e demissão na outra.

- Você terá esse tempo, meu amor, temos sessenta dias. Você só precisa de trinta dias.

- Eu odeio quando usa a lei contra mim.

- Eu amo seu rostinho quando fica brava... Vou pedir algo para comermos.

Ele foi para cozinha, pediu uma pizza. Ainda da cozinha ele gritou: - Pensei em fazer uma janta com o Paulo e o Carlos amanhã, o que acha?

- Liga para eles, esse horário eles já estão em casa.

Continuei assistindo minha série preferida deitada, enquanto ele arrumava as coisas.

- Você está bem? Deitada há essa hora, não é seu normal, esse horário estaria correndo na academia.

- Estou cansada, tive que implorar para entrar na vila e poder dar aula, depois implorar de novo para poder sair, estou triste metade dos meus alunos não foram, grande parte dos professores não conseguiram entrar, tentei conversar para deixarem, mas quem eles não gostam não foi autorizada a entrada, outras ficaram com medo de dar tiroteio enquanto estivessem na escola.

- Por que você entrou? Poderia ter vindo mais cedo embora.

- Eu cresci no meio disso, sei como funciona, não iria deixar meus alunos sem aula, acabei juntado os três primeiros anos. Ficou uma galerinha, arredamos as mesas e cadeiras e sentamos no chão. Não tinha mais que quarenta crianças.

- E você deu aula sentada no chão? Eu não quero mais isso para você!

- Quem disse que eu não gosto? Mas ficamos no chão para nossa segurança, se desse tiroteio seria só deitarmos. Sem falar que estávamos longe das janelas tudo para evitar uma bala perdida.

- Você é louca. Eles disseram que vem amanhã. Vou tomar banho, a pizza está para chegar, pega o dinheiro na minha carteira se precisar.

Tocou o interfone, atendi e desci. Peguei a pizza. Temos o costume de pedir uma pizza pequena e levamos um refrigerante ou suco, o que tivermos fechado dentro da geladeira, para o porteiro, hoje era um rapaz novo, perguntei pelo nosso porteiro, ele disse que estava de férias. Expliquei o que fazíamos o que na verdade quase todos no prédio tinham esse costume, não sei quem começou com isso, mas acho que foi o zelador. Ele disse que não se importava, agradeceu e eu subi.

- Ei, existe roupas sabia? O tempo de Adão e Eva já passou... E parece que já faz muito tempo...

- Você desceu de pijama... Eu estou dentro do meu apartamento, minha namorada linda! Se a vizinha olhar aqui para dentro problema é do vizinho que vai perder a esposa depois que olhar esse homem maravilhoso aqui!

Olhei para mim, e sacudi a cabeça. – Certo, homem maravilhoso! O vizinho é muito legal para perder a esposa dele. E pensa bem, ela tem mais de quarenta, você acha que dá conta?

Ele me olhou sério. – Está reclamando do meu desempenho?

Comecei a rir. – Não reclamei de nada. Fiz apenas uma constatação científica, a mulher depois dos quarenta fica... Como direi isso? Mais exigente!

- Então quer dizer que daqui a vinte anos você irá me deixar por eu não era um desempenho para tal exigência?

- Você ainda tem vinte anos para melhorar seu desempenho, meu amor!

Comemos e fomos assistir série... Mas ele sempre pausa no meio, sempre, alega não aguentar ficar sem namorar de verdade... Mas desta vez, eu dei a arma infalível para ser cobrada até o resto da minha vida!

- Ei, você disse que eu tenho que aprimorar meu desempenho! E eu só posso fazer isso com você!

- Esperto! Você nunca mais irá esquecer isso, né?

- Nunquinha! Se eu quiser suprir suas necessidades daqui vinte anos, tenho que treinar muito, igual fazemos na academia!

Ele começou a me beijar.

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