Eu estava bem bela e feliz em uma segunda-feira chegando da escola, vocês devem se perguntar quem fica bela e feliz numa segunda-feira? Eu mesma! Entrei tirando meu casaco, falta pouco para irmos morar na China, contra minha vontade, que fique claro... Então, entrei, pensando naquela turminha que iria deixar nas mãos sabe-se lá de quem, sempre é difícil deixar uma turma, ainda mais assim, nestas circunstâncias. Fui arrancada dos meus pensamentos quando o levei um tremendo susto.
- Vamos correr?
- Deus do céu, Chin, quase pari um filho agora! De onde você saiu?
- Brotei do piso amor!
- O que faz em casa essa hora? Quer ir morar sozinho me avisa, não precisa me matar!
- Eu fui ver nossos vistos, aproveitei e fiquei em casa, estava esperando você para subir na academia...
- Vou trocar de roupa, já venho.
- Quem sabe corremos depois?
- Isso me parece é uma proposta para não corrermos, isso sim!
- Queima mais calorias que correr.
- Não, eu irei correr.
- E eu?
- A menos que queira queimar suas calorias sozinho, pode ir comigo.
- Coisa mais insensível, nem parece aquela fofura que entrou na sala com uma flor no cabelo. Se eu não tiver o desempenho desejável daqui vinte anos, não reclame, você não colabora, às vezes.
- Espera! Vai lá na sala que já vou... - Peguei uma flor artificial em um vaso, coloquei perfume e coloquei no cabelo, entrei na sala. - Pronto, agora entrei na sala com uma flor no cabelo, quer que eu vá com ela na academia?
- Não amor, que vergonha está ridícula!
- Naquele dia achou fofa, e linda pelo que lembro...
Eu sou um pouco desastrada, ou melhor, muito... Fui colocar a flor no vaso e acabei quebrando ele, e a academia acabou sendo no hospital levando alguns pontos na mão...
- Viu, eu disse para queimarmos calorias em casa.
- Vou tomar um banho, acho, não acho nada. Vou limpar antes!
- Não, minha bomba atômica, eu limpo, vai tomar banho. Coloca uma luva na mão!
- Não, vou colocar a luva na cabeça...
- Vai, florzinha, antes que eu desista de limpar e esqueça que ainda não tomou banho. Está cheirosa. – Ele veio me cheirando.
- Não vem! Não posso nem me defender com a mão assim!
- Isso vai ser legal...
- Tá tudo errado! Se não limpar o chão, eu irei.
- Está bem, pobres crianças. Ninguém merece uma profdrasta na sala de aula...
Fui muito madura para acabar com a discussão, coloquei a língua pra fora e fui tomar banho! Pronto acabou...
Ele chegou e escorou na porta do banheiro.
- Já tomou banho docinho?
- Não, não consigo lavar o cabelo.
- Adorei isso, vou te ajudar!
- Sério? Sem nenhuma outra intenção?
- Claro que não, como pensa mal de mim, meu amor. Vou fazer dois favores para você e ainda reclama!
- Era só lavar o cabelo. Não tinha nenhum outro que eu me lembre.
- Tá o outro eu acrescentei por ter se machucado e estar com dor, eu posso secar você e depois de um tempo de pausa por causa da sua mão ajudo você a colocar a roupa. Pensa nas suas criancinhas amanhã, você se estressou quando cortou a mão, eu só quero ajudar a relaxar. Elas irão me agradecer inclusive...
Comecei a rir dele, é muito sem vergonha. Lembrei-me da primeira vez que saímos, ele falando que depois de eu insistir tanto e ter implorado, ele resolveu me dar uma chance, sendo que ele me ligou dez dias seguidos pedindo para sairmos. Persistência e foco, esse era o lema dele...
Depois de colocar minha roupa, meu pijama na verdade. Acabei tomando um remédio e não lembro de mais nada, só acordei no dia seguinte, com café na cama.
- Alguém morreu?
- Bom dia, meu amor!
- Bom dia, amor, não precisava trazer aqui!
- Ainda está estressada?
Dei uma risada. – Não, estou bem, minhas crianças não irão sofrer, nem posso dizer nas minhas mãos, então elas estarão seguras!
- Falando sério agora, como irá, acha que pode dirigir?
- Acho que sim! Irei tentar tirar o carro, se não conseguir irei de ônibus!
- Nem pensar, se for assim, eu te levo!
- E na troca das escolas, esperto?
- Eu não irei mais trabalhar, te levo de uma para outra. Amor mais sério ainda.
- Nossa que medo...
- Sério, amor. Como está o seu chinês?
- Nossa, é só isso? Não é tão sério assim! Estou indo bem, semana que vem eu começo o curso intensivo, quinze dias.
- Ai, meu anjo, que bom! Precisa se virar lá, não poderei estar o tempo todo ao seu lado.
- Eu sei.
- Quer saber, eu irei te levar.
- No meu carro.
- Não, irei no meu!
- Não pode, tem que ser no meu, os traficantes já conhecem ele, o seu não, não irão deixá-lo entrar.
- Certo amor. Tem razão! Esqueço-me desse detalhe. Vem, irei ajudá-la a se arrumar.
- Obrigada meu amor.
Levantei, me arrumei com a sua ajuda, e assim fomos. Chegamos na entrada da vila onde fica a escola, acabei tendo que descer e subir a pé, pois eles não permitiram a entrada do carro, e nesta situação acaba sendo mais seguro se eu for a pé até a escola, do que ele ter que pegar um táxi ali. Logo depois do meio dia, Chin já estava me esperando para me levar até a outra escola.
- Irei deixar o carro com você, florzinha!
- Tudo bem! Aconteceu alguma coisa?
- Não, mas acho melhor que você fique com o carro, posso acabar me atrasando para buscá-la e não quero que você me espere sozinha no portão da escola.
- Está certo, meu amor! Eu poderia ter vindo com o carro, mas você não quis. Achei lindo da sua parte, mas totalmente desnecessário.
- Nada é desnecessário se for para você!
- Ai que bonitinho! Também amo você!- Vou estacionar aqui e pegar um táxi para casa, ficarei com saudade!
- Eu também sentirei saudade.
Eu estava arrumando minhas malas para irmos então para o tão sonhado trabalho dele, não, para China, é isso... Separando o que eu deixaria e o que levaria, na verdade não tenho muito para levar, a proposta era deixar quase tudo e comprar lá o que faltasse, que dificuldade de me desfazer das minhas roupas, mesmo sabendo que irá para doação me dói. Minhas maletas de maquiagem, eu parada sentada no chão com as pilhas de roupas ao meu redor sem saber o que deixar ou levar, a cena devia ser engraçada, mas eu não estou feliz, estou tentando não transparecer, mas estou muito chateada de ter que ir embora e recomeçar minha vida em outro país, o qual a cultura é muito diferente, embora a qualidade de vida seja um pouco melhor que a nossa, não quero deixar minhas crianças, meus amigos, meus pais. Mas eu prometi que não o abandonaria e ele está feli
Estamos na China enfim, fomos bem recebidos, e pegamos as chaves do nosso novo apartamento, ele é muito bonito, mas é a metade do nosso. Já estamos nos acomodando, aliás, estou me acomodando, pois ele já está se acomodou reclamando do espaço e que ele teria que colocar borracha ou algo assim para amortecer as batidas nos cantos dos móveis, se lá eu já tinha problemas com isso... Ali melhor nem comentar.- Vem me ajudar.- Espera, estou cansado, senta um pouco aqui comigo.- Eu passei horas sentada naquele avião, aqui não tem academia, né? Seria pedir demais, eu acho...- É, amor, seria pedir demais! Você ficou linda assim... Só acho que tem pegar mais leve.-Mais ainda? Olha para mim, estou engordando.- Será que isso não é culpa do bebê?- Que beber? Faz tempo que não bebo! Acho que o fuso p
Saí cedinho para fazer duas entrevistas de emprego, aproveitei e fiz algumas compras, ainda não consegui me acostumar com o clima daqui, com o povo, sei lá, ainda não estou bem ambientada. Eu não consigo me sentir a vontade nos lugares, parece que me observam o tempo todo. Caminhei muito e não comprei quase nada. Como sinto falta de onde morava, passei no mercado e comprei algumas coisas, estava com as mãos cheias. Larguei as sacolas no chão para abri o portão, e aquele ser simpático que ainda não sabia o nome juntou minhas sacolas. Desta vez ele se apresentou, Cheng, esse era o nome do meu vizinho simpático. Me apresentei e ainda disse que estamos a pouco mais de um mês.- Eu sei, lembro-me do nosso primeiro encontro no elevador. Sabia que era nova no prédio. São poucas pessoas com traços ocidentais por aqui. E é impossível não reparar.-
Eu estava arrumando nosso apartamento quando Chin entrou, fiquei olhando para ele que ficou sem falar nada, continuei fazendo o que fazia quando ele chegou. Ele entrou no banho, depois veio até mim e me segurou.- Amor, programei um passeio para nós hoje.- Vamos almoçar fora?- Isso, não aguento mais sua comida, quero comer algo diferente...- Engraçadinho.- Estou brincando, minha pérola rara...- Aqui eu sou rara mesmo! Não se nem parecidas.- Vamos lá?- Vou tomar um banho rapidinho!- Ele pode ficar demorado se quiser...- Não, eu quero sair.- Tudo bem, princesa!Tomei meu banho, me arrumei, saímos, fomos almoçar e depois passear.- Coisinha fofa da minha vida, como está? Fala para mim, eu preciso saber se já se adaptou, se gostou do apartamento, você não fala daqui, meu amor!-
- Amor, vem aqui!- O que foi, Chin?- Recebi um e-mail agora, vamos fazer as malas... Iremos para Seul!- Uou! Que legal, meu amor! Quando iremos?- Em quinze dias.- Estou muito feliz com isso.- Acho que meu poder de persuasão voltou por completo agora...- Que bom, estava sentindo falta.- Vem comigo, minha fofinha...- Estava preocupada com você.- Deixa eu te beijar e encher você de amor, antes que o vizinho da cobertura se encarregue disso, se é que já não está, pela informalidade que ele anda te tratando. Isso não é uma coisa que aconteça tão fácil assim!- Não, meu fofinho, ele não está!- Ainda bem que sou bonito... Estou na vantagem se tratando desse quesito. Eu te amo, e agora chega de conversa.Ficamos um tempo abraçados deitados na cama. Ele estava muito diferente, voltou
- Amor, vou pedir que você tenha um pouquinho de paciência, a minha mãe está mais eufórica que você em dia de jogo do seu time... Então, por favor, tenta relevar algumas coisas...- Credo, Chin quando eu tratei mal sua mãe?- É que você anda meio irritada nos últimos dias, então, imaginei que pela animação dela, você pudesse falar algo, entende?- Entendo, mas eu nunca diria algo que fosse magoar sua mãe.- Até se ela falar no casamento?- Ah! Isso... Certo, vou enrolar como sempre!- Eu te amo, minha linda. Eu só não quero ter que brigar com minha mãe desta vez.- Tudo bem! Estou tranquila, eu queria era sair de lá, agora já estamos quase chegando, estou bem melhor...- Ah, meu amor! Eu não tenho noção do que é ou como é o apartamento que ela nos
Hoje comecei a procurar emprego, não consigo ficar parada muito tempo e depender do dinheiro dele não é a solução para mim mesmo. Foi muito puxado, caminhar de um lado pro outro, o dia inteiro na rua. Cheguei exausta no prédio quase nem conseguia mais levantar meus pés do chão, não conhecer os lugares fez com que eu caminhasse mais que o necessário. Entrei no elevador, por que sempre ficamos nos últimos andares, odeio elevadores, aliás, odeio lugares fechados, se forem pequenos odeio mais ainda.- Boa tarde! - Cumprimentei o menino que estava no elevador comigo.- Boa tarde! - Ele pegou minha mão e beijou-a, olhei para ele pensando no ato estranho. - É a nossa nova vizinha?- Sim, Jany, e você é quem? – Sutileza não me acompanha em lugar algum.- Prazer é meu, Namjo. Você é de onde?- Brasil.-
- Ui, o que eu estou vendo aqui? Meu namorado chegou mais cedo e está me esperando, nossa... Que surpresa!- Jany, o que você faz essa hora em casa?- Acho que pelo mesmo motivo que você, é véspera de ano novo, a escola fechou mais cedo! Espera, o que está acontecendo aqui? Você está muito estranho!- Bom, dizer que não é o que parece, vai tornar pior do que já é. Então, é sim, é o que parece! Eu estava com a Nari, ela está tomando banho!- Ok. Vou arrumar minhas coisas e encontrar um lugar para mim até voltar para o Brasil!- Não. Amor, fica comigo! Eu amo você, eu tive uma recaída. Só isso. Eu não gosto dela. Quero ficar com você, me perdoa!- Se fosse eu, você perdoaria? – Ele ficou em silêncio me olhando. - Tudo bem! Entendi. Imaginei que não mesmo!- A