A noite continuou com conversas animadas. Minha filha fazia diversas perguntas sobre os tios e os primos, e eu sorria ao ver sua empolgação. Ela sempre me questionou por que não tinha parentes, e agora descobriu que tem vários.— Mamãe, Mia não é nome de ‘cassoo’? ‘Po que’ a tia tem esse nome? — Ela franziu o cenho tentando entender, e eu fiquei com vergonha. Ainda bem que a mulher não está aqui, imagina a vergonha.— Filha, esse é nome de gente.— ‘Mai’ conheço ‘sei’ ‘cassoo’ com o nome dela.Disse a Maria Fernanda que depois conversaria com ela e mudei de assunto para ela se entreter e esquecer. Logo ela havia esquecido e ficou animada conversando sobre o que gosta e não gosta da escola. Joyce retirou a mesa, e eu fui para a cozinha lavar a louça.— Nossa filha é uma graça, ela se parece muito com a vó Joana. — Disse Jhonathan, entrando na cozinha.— É estranho — franzi o cenho.— O que? — Ele perguntou de cenho franzido.— Ouvir você dizendo nossa filha. Estou tão acostumada a dize
Os dias foram passando rapidamente, e Jhonathan se mostrava um excelente pai. Sua dedicação e paciência com Maria Fernanda eram admiráveis. Eles eram parecidos em muitos aspectos, e às vezes eu olhava para os dois e me perguntava por que carreguei minha filha por nove meses, passei por perrengues e, no final, a menina é o pai todinha.MaFê herdou de Jhonathan o sorriso encantador, a cor dos olhos e a cor dos cabelos, até mesmo o jeito de se mexer enquanto fala. Era impossível negar a semelhança. Eu me pegava rindo sozinha, lembrando de alguma expressão ou gesto que ela fazia e que eram idênticos aos do pai.Hoje, Maria Fernanda estava mais animada do que nunca, pois ela iria finalmente ver um jogo do Vasco. Desde que descobriu seu amor pelo futebol, não falava em outra coisa. Jhonathan observava a empolgação da filha com um sorriso curioso.— Anthonella, quem influenciou MaFê a gostar tanto de futebol e escolher o Vasco como time? — Ele perguntou, enquanto ajeitava o boné na cabeça de
Rio de Janeiro, Outubro de 1996Maristela Olivas Hoje é o meu aniversário e estou bem animada, finalmente 18 anos. Em breve, poderei tomar as minhas próprias decisões.— Amiga, feliz aniversário! Que seus sonhos sejam realizados. — Giulia me abraçou.— Obrigada, amiga. Tenho certeza que o dia será maravilhoso para nós.— Sua festa vai ser um arraso, seus pais não pouparam nenhum centavo, como sempre.Minha amiga estava mais animada do que eu. Não curto festas, mas meus pais acham que para não sermos esquecidos na sociedade, precisamos fazer de tudo um grande evento, o que era muito chato.— Hoje é seu aniversário e não estou vendo a sua animação?— Eu odeio essas festas grandiosas, você sabe. O que eu quero é apenas uma comemoração simples com pessoas que amo de verdade.— Sua simplicidade é impressionante, nem parece que é filha de um magnata.— Acredito que há coisas melhores na vida.— Pode ser, mas dinheiro é importante. Por exemplo: se Gustavo tivesse dinheiro, seu pai não veria
Meu amor por Gustavo crescia a cada dia, e fizemos diversos planos para o nosso futuro. Hoje, na saída da faculdade, ele me esperava com um sorriso que denunciava que tinha uma boa notícia para me contar.— Por que está animado? — Perguntei curiosa.— Vamos à sorveteria que eu te conto.Assim que chegamos, Gus me mostrou uma documentação e eu o encarei sem entender.— Consegui um emprego novo.— Nossa! Que maravilha! Estou muito feliz por você.— Vou trabalhar na construção civil. Sei que não é o emprego dos sonhos, mas é um passo a mais. Quem sabe eu consiga ir para a faculdade e me tornar um arquiteto de renome.— Eu levo fé que você vai conseguir. — Sorri para ele, que se levantou para me beijar.— Maristela Olivas Ferrer. O que significa isso? — Tomei um susto quando ouvi a voz da minha mãe.— O que está fazendo aqui? — Perguntei a ela.— Eu que te pergunto: o que está fazendo aqui e com ele? — Minha mãe apontou para Gustavo. — Seu pai já disse que não a quer andando com ele. Aind
Nova York, 2023Estava tomando café com minhas filhas e Jimmy quando me avisaram que minha mãe veio me fazer uma visita.— Mãe, o que você quer? — perguntei, me levantando.— Preciso conversar com você, filha.— Se é sobre o meu pai, dispenso. Não quero saber nada a respeito dele.Minha mãe insistiu para conversar comigo e eu acabei aceitando.— Filha, eu sei que você tem raiva do seu pai pelo que ele fez com a Ana Fernanda, mas tudo que ele fez, mesmo erroneamente, foi para o seu bem.— Mãe, você entrou no meu apartamento dizendo que gostaria de cuidar de mim e, depois daquele chá, eu acordei e minha filha havia sumido.— Eu me arrependo de ter feito isso com você, filha, de verdade. Seu pai me convenceu e eu acabei cedendo.— E em que momento vocês pensaram em mim? Ou na minha filha? Sabe-se lá nas mãos de quem a minha filha foi parar. Já pensou nas atrocidades que ela pode ter sofrido? Não, vocês não pensaram em mim, somente nos status de vocês. Se já tinham me deserdado, por que n
Acordei cedo, determinada a seguir com a minha busca. Depois de visitar os dois primeiros orfanatos e não encontrar nenhuma informação sobre minha filha, a tristeza e o desânimo começaram a pesar sobre mim. Mas, mesmo com o coração apertado, eu sabia que não podia desistir. Havia ainda um orfanato para visitar e, apesar de minhas esperanças estarem minguando, parti em direção ao meu último destino.Ao chegar ao orfanato "Lar de Esperança", li o letreiro com uma mistura de ansiedade e nervosismo. Estacionei o carro e caminhei até a entrada. — Bom dia, em que posso ajudá-la? — perguntou uma das funcionárias.— Gostaria de falar com a responsável. — respondi, tentando manter a voz firme.Fui levada até a sala da diretora e, ao entrar, fui apresentada à dona Maria Antônia.— Bom dia, eu sou Maria Antônia, a diretora deste orfanato. Como posso ajudar?— Bom dia, dona Maria Antônia. Meu nome é Maristela Olivas. Eu queria saber se algum bebê foi deixado aqui em agosto de 1997.Ela me olhou
Nova York, 2023Anthonella FagundesEstava na sala com minha filha MaFê, quando ela olhou para mim com uma expressão confusa. Nós estávamos na casa da família paterna dela e, embora todos fossem muito amáveis, havia uma barreira linguística que estava começando a frustrar minha pequena.— Mamãe, ‘po que’ todo mundo fala ‘iquisito’? — ela perguntou, franzindo o cenho. — Eu não estou entendendo nada.Sorri, tentando tranquilizá-la.— Eles não são esquisitos, meu amor. Eles apenas falam outro idioma.MaFê cruzou os braços e fez um biquinho de descontentamento.— ‘Mai’ ninguém fala como eu ou você, mamãe.Antes que eu pudesse responder, Jonathan se abaixou até a altura dela.— Com o tempo, você vai entender, MaFê. É só uma questão de prática. — Ele disse com a voz suave e encorajadora.Ela balançou a cabeça veementemente.— Não vou, não. Esse povo fala tudo ‘iquisito’. — Minha filha bateu a mão na testa e balançou a cabeça novamente.Os que entendiam português na sala começaram a rir da s
Jhonathan Lancaster Estava no terraço do prédio da nossa família, olhando a cidade abaixo de mim. Ouvi passos atrás de mim e virei para ver Dave e Mark se aproximando, sorrisos de orelha a orelha.— Ei, irmão! — Dave começou, batendo de leve no meu ombro. — Quem diria que o senhor chato e certinho teria uma filha?Mark riu e se juntou a ele. — Verdade, Jhony. Sempre achamos que você seria o último a ter uma surpresa dessas.Sorri, um tanto embaraçado, mas com o coração aquecido pelo carinho deles. Dave então puxou do bolso interno do paletó três charutos e os entregou a nós.— Sabe, Jhony, esses charutos são para quando o bebê nasce. Mas acho que descobrir que você tem uma filha é motivo suficiente para uma celebração. Que tal? — ele disse, com um brilho nos olhos.Aceitei o charuto e, juntos, acendemos os nossos. O aroma forte e familiar preencheu o ar, e inspirei profundamente, sentindo uma mistura de emoções.— Então, Jhony — Mark começou, exalando uma nuvem de fumaça — como é a