Anthonella Fagundes Lancaster O carro parou em frente ao galpão abandonado que Priscila havia indicado. O local era sombrio, sem janelas e o ar cheirando a mofo e abandono. O silêncio pesado no ar era opressor, e só o som do motor desligado quebrava o vazio que cercava o lugar. Meu coração batia acelerado, como se estivesse prestes a sair do peito, e meus olhos se voltaram para Camila no banco do motorista. — Chegamos — disse Camila, sua voz baixa. Havia uma tensão clara em seu rosto, uma determinação que eu não via há muito tempo. Joyce, ao meu lado, já estava com o celular na mão, digitando rapidamente. Ela terminou a mensagem e olhou para mim, seus olhos cheios de preocupação. — Vou enviar a localização para o Marinho — disse ela, com a voz entrecortada. Ela engoliu seco e apertou o botão de envio. — Eles precisam saber onde estamos. Se algo der errado, eles virão. Assenti, minhas mãos suadas tremiam levemente. Joyce tinha razão. Tudo podia dar errado. Estávamos entrando
Anthonella Fagundes Lancaster O galpão parecia maior por dentro do que do lado de fora, com corredores escuros e paredes descascadas, impregnados pelo cheiro de mofo. Mas nada disso importava. A única coisa que me importava naquele momento era MaFê. Onde estava minha filhinha? O que Priscila tinha feito com ela?Meus passos ecoavam pelo chão sujo, o som se misturando à minha respiração acelerada. Virei uma esquina, correndo em direção aos soluços que ouvi.— MaFê! — gritei, meu coração se apertando ao vê-la naquele estado. Me joguei no chão ao seu lado, envolvendo-a em meus braços. Ela estava machucada, mas viva.Ela levantou o rosto para mim, os olhos inchados e úmidos de lágrimas, e soluçou:— Mamãe...— Shhh, está tudo bem agora, meu amor — minha voz saiu embargada pela dor de vê-la assim. — A mamãe está aqui. Você está segura.As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Beijei sua testa com delicadeza, tentando evitar o ferimento em seu rosto, e segurei sua mão com firmeza, como se qui
Maria Fernanda Fagundes Lancaster O som distante de máquinas e vozes ao fundo foi o primeiro sinal de que eu não estava mais no galpão. Minhas pálpebras pesavam, mas, com esforço, consegui abrir os olhos, piscando contra a luz suave que iluminava o quarto. O cheiro estéril de hospital me atingiu, trazendo uma sensação de alívio misturada com cansaço. Eu estava viva. Segura. Ainda um pouco confusa, tentei me mexer, mas uma dor aguda percorreu meu corpo, especialmente na perna e no rosto. Soltei um gemido involuntário, tentando me situar. Foi quando senti uma mão quente envolvendo a minha. — Hey... — A voz suave de Pedro me envolveu como um abraço. Ele se inclinou sobre mim, seus olhos cheios de preocupação e carinho. — Você me deixou muito preocupado, sabia? Ele se abaixou e depositou um beijo leve na minha testa, o calor do gesto acalmando um pouco o turbilhão de sensações que rodava em minha mente. — Estou feliz que você está bem, amor. Não sabe o quanto temi por você. Um sorr
Depois de uma semana interminável no hospital, finalmente estava em casa. A sensação de estar de volta ao meu próprio espaço, com o cheiro familiar da minha casa, trouxe um conforto indescritível. A porta da frente mal tinha se fechado atrás de mim quando fui envolvida por um abraço tão apertado que quase perdi o fôlego. — MaFê! — Ana Fernanda praticamente gritou, com os braços ao meu redor, como se quisesse ter certeza de que eu era real e não uma miragem. — Graças aos céus, você está aqui! Eu estava contando os minutos até você voltar! Senti o calor e o carinho no abraço dela e me permiti relaxar por um segundo. Fechei os olhos, absorvendo aquele momento. Tinha sido uma semana difícil, cheia de dores, exames e preocupações. — Obrigada, irmã. Nunca vou esquecer o que fez por mim. Assim que nos separamos, senti outros braços ao meu redor. Dessa vez, eram meus dois pequenos pilares: minhas avós. Ambas tinham lágrimas nos olhos, mas não disseram nada, apenas me seguraram, me abra
Pedro Henrique SoaresEstava deitado na minha cama, o teto do quarto meio embaçado pela pouca luz que a luminária emitia. A escuridão do quarto só realçava o brilho prateado do anel que eu segurava entre os dedos. Era um círculo perfeito, simples, mas carregado de significado. O metal frio parecia contrastar com o calor que sentia no peito só de pensar no que esse anel representava. Eu o havia comprado há alguns dias, e desde então não conseguia parar de pensar nele. Era uma ideia maluca, sabia. Pedir a MaFê em casamento agora? Estávamos juntos há tão pouco tempo. Mas não conseguia evitar. Cada vez que a via, era como se uma certeza silenciosa me consumisse. Ela era a mulher certa pra mim. Não havia outra.Com os pensamentos distantes, fiquei brincando de girar o anel entre os dedos, imaginando a reação dela quando o visse. Será que ela aceitaria? Será que MaFê estava pronta para dar esse passo comigo? Sabia que ela ainda era muito jovem, mas algo dentro de mim dizia que tínhamos uma
Acordei com o sol invadindo meu quarto pelas frestas das cortinas, e a primeira coisa que me veio à mente foi a conversa da noite anterior com Laiane. Suas palavras ainda ecoavam em minha cabeça: "E se ela disser não?" Por mais que eu tentasse afastar o medo, ele estava ali, rondando, me lembrando de que havia uma chance de MaFê não estar pronta para dar esse passo. Mas, apesar disso, a certeza de que eu queria passar o resto da vida com ela só crescia a cada dia. Depois de me arrumar rapidamente, sentei na beira da cama e olhei para o celular. A ideia de falar com o pai da MaFê já estava martelando na minha cabeça há dias, mas eu não sabia como começar. Como se pede a mão da mulher que você ama em casamento para o homem que a criou, cuidou e protegeu por tanto tempo? Respirei fundo, peguei o celular e, sem pensar demais, digitei a mensagem."Oi, senhor Jhonathan. Bom dia! Será que a gente pode marcar de se encontrar para conversar hoje à noite?" O som da mensagem enviada me deu
Maria Fernanda Fagundes Lancaster Mais um final de ano havia passado. Parecia que cada ciclo estava passando mais rápido do que eu conseguia acompanhar. Hoje era meu aniversário, e, diferente dos anos anteriores, eu não sentia vontade de fazer festa, de reunir amigos e família para comemorar. Talvez fosse a correria do último ano, minha volta aos treinos leves, a faculdade, os desafios que vieram com o futebol e a pressão de ser sempre a melhor. Tudo isso me deixava exausta. Eu só queria paz.Estava sentada na cama, olhando para a janela, quando meu celular vibrou. Era uma mensagem de Pedro."Feliz aniversário, minha linda! Preparei uma surpresa para você... que tal passar uns dias comigo em Bariloche?"Meus olhos brilharam ao ler aquilo. Bariloche! Era exatamente o tipo de presente que eu precisava. Nada de festas ou eventos formais, apenas ele e eu, curtindo um lugar novo, afastados de tudo e todos.Sorri, sentindo uma onda de animação tomar conta de mim. Pedro sabia exatamente co
Depois de várias horas de voo e algumas escalas, finalmente chegamos a Bariloche. Assim que o avião pousou e as portas se abriram, a brisa fria nos saudou. Meu corpo inteiro relaxou com a sensação de estar, finalmente, longe de toda a agitação do Brasil. Era quase irreal pensar que eu estava aqui, celebrando meu aniversário com Pedro, no cenário dos meus sonhos.Saímos do avião, e o aeroporto estava movimentado, cheio de turistas e locais, todos agasalhados com casacos pesados, algo que me lembrou de que o frio daqui não era brincadeira. Estava ansiosa para sentir a neve sob os pés, mas antes de qualquer aventura, o plano era chegar ao hotel e descansar.Pedro, sempre organizado, já havia chamado um táxi. Ele parecia tão à vontade em liderar as coisas, que eu me permiti relaxar completamente, confiando na eficiência dele. Quando o carro chegou, ele segurou minha mão com firmeza enquanto me guiava até o veículo.— Está tudo bem? — ele perguntou, olhando para mim com aquele sorriso suav