Priscila Almeida O telefone vibrou sobre a mesa, e eu sabia que a hora estava chegando, a ansiedade dentro de mim crescia a cada segundo que se passava. Olhei para o visor e reconheci o número. O "Amigo". Nosso relacionamento se baseava em duas coisas: eficiência e dinheiro. O que eu precisava dele, ele entregava. Nada mais, nada menos.Peguei o telefone com mãos trêmulas e respirei fundo antes de atender.— Já está tudo pronto? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas o nervosismo transparecia em cada palavra.— Quase, mas vai precisar esperar mais uns três dias — ele respondeu, com aquela voz tranquila e despreocupada que me irritava profundamente.— TRÊS DIAS? — gritei, perdendo completamente o controle. — Você está brincando comigo? Eu já esperei tempo demais!A frustração subiu pelo meu corpo como uma onda, e meu peito estava queimando de raiva. Tudo estava planejado há semanas, e eu não aguentava mais a espera. Precisava que isso acabasse logo. Quanto mais o tempo passava
Bianca CardosoDepois de passar o dia inteiro andando pela cidade atrás de uma vaga de emprego, cheguei em casa exausta. Minhas pernas doíam, os pés estavam inchados dentro dos sapatos baratos que insistiam em apertar. Soltei um suspiro frustrado enquanto girava a chave na porta, já sabendo que encontraria minha mãe deitada no sofá, como sempre.Entrei, e lá estava ela, com o controle remoto na mão, zapeando pelos canais de televisão sem muito interesse. A sala tinha aquele cheiro característico de casa fechada, misturado com o perfume barato que ela usava. Joguei minha bolsa em cima da mesa e me sentei na poltrona, passando as mãos pelos cabelos suados.— E aí, conseguiu alguma coisa? — perguntou ela, sem nem olhar na minha direção.Suspirei de novo, dessa vez mais longo. O peso daquela pergunta sempre me atingia. Quantas vezes ela já havia feito a mesma pergunta? E quantas vezes a resposta tinha sido a mesma? Baixei os olhos, evitando o olhar de julgamento que eu sabia que estava po
Maria Fernanda Fagundes LancasterO bar da minha mãe e da minha tia sempre foi um dos meus lugares favoritos para relaxar. Depois da minha primeira sessão de fisioterapia, que por sinal foi melhor do que eu esperava, decidi vir para cá e espairecer um pouco. Fazia um bom tempo desde a última vez que eu me permiti aproveitar uma noite tranquila, sem me preocupar com as competições ou as responsabilidades que a vida constantemente me jogava.Entrei no bar e fui recebida por aquela mistura familiar de risadas, música ao fundo e cheiro de bebida. Minha mãe estava no balcão, sorrindo e cumprimentando os clientes habituais.Encontrei uma mesa perto da janela, me sentei e tirei o celular do bolso, pronta para passar o tempo navegando pelas redes sociais enquanto esperava o movimento do bar começar a agitar. Era uma quarta-feira, o que significava apenas uma coisa: noite de karaokê. As noites de quarta no bar da minha mãe sempre acabavam em uma bagunça animada, com clientes, já levemente alte
— Boa noite, pessoal! — Pedro começou, sua voz ecoando pelo bar. — Hoje é noite de karaokê, certo? Então, gostaria de dedicar essa próxima música à minha namorada, Maria Fernanda, que está ali me olhando. — Ele apontou para mim com um sorriso, e eu senti todos os olhares se voltando para mim. Meu coração acelerou. — Eu te amo, linda.As pessoas ao redor começaram a murmurar e aplaudir levemente, enquanto Pedro selecionava uma música. Quando os primeiros acordes começaram a tocar, reconheci imediatamente: era “Perfect” de Ed Sheeran. Uma escolha perfeita, e também uma das minhas músicas favoritas.Pedro começou a cantar com aquela voz rouca e apaixonada que eu amava tanto. Ele me olhava de vez em quando, sorrindo entre as palavras, como se cada verso fosse especialmente para mim."I found a love, for me..."A suavidade da voz dele preencheu o bar, e, por um instante, parecia que éramos só nós dois. As palavras da música ressoavam com um significado ainda mais profundo enquanto ele cant
Assim que terminamos a sobremesa, Pedro virou-se para mim com um sorriso travesso no rosto.— Agora que eu já cantei pra você, acho justo você retribuir, né? — ele sugeriu, balançando as sobrancelhas.Franzi a testa e ri, incrédula.— Eu? Cantar? Nem pensar! — balancei a cabeça com veemência.— Ah, não vem com essa, MaFê. — ele continuou, com um tom de brincadeira na voz, mas os olhos cheios de expectativa. — Tenho certeza que você canta bem. Vai lá, só uma música! Por mim?Revirei os olhos, sem conseguir conter o sorriso.— Pedro, eu não sei cantar. — protestei, cruzando os braços. — Eu jogo futebol, não sou cantora!— Ah, qual é? — ele insistiu, rindo. — Tenho certeza que você vai arrasar. E olha só, você nem precisa ser profissional. É karaokê, todo mundo aqui só quer se divertir.Olhei para ele, tentando resistir, mas o jeito que ele me olhava, com aquele sorriso irresistível e os olhos brilhando de empolgação, estava me convencendo aos poucos.— Tá bom, mas se eu for... não ria d
Priscila AlmeidaEu havia esperado três longos dias para este momento. Tudo estava meticulosamente planejado, e hoje seria o dia em que minha vingança finalmente começaria. Anthonella e Jhonathan estavam prestes a provar do meu veneno. Achavam que estavam seguros, protegidos por seguranças, muros altos e uma rotina previsível, mas não sabiam que eu tinha olhos e ouvidos em todos os cantos.Tudo estava pronto. Caminhei até o carro onde meu comparsa, Juca, já estava posicionado, disfarçado entre os pais e babás que aguardavam a saída das crianças da escola. Meu amigo garantiu que ele era o melhor no que fazia, sempre discreto. Hoje, eu veria isso em ação. Dentro de poucos minutos, o sinal de saída soaria, e as crianças começariam a correr pelos portões. Era o momento perfeito.— Você está pronta? — A voz de Juca ecoou pelo rádio em minhas mãos.— Prontíssima — respondi, a voz baixa e controlada. — Faça sua parte e deixe o caminho livre.Eu sabia que Juca estava tão ansioso quanto eu. Es
Anthonella Fagundes Lancaster O escritório estava tranquilo, exceto pelo som suave das teclas enquanto eu revisava alguns relatórios. A luz do sol filtrava-se pelas enormes janelas, mas, apesar do dia parecer calmo, uma sensação estranha me rondava. Eu não sabia o porquê, mas estava inquieta. Talvez fosse o excesso de trabalho ou simplesmente preocupação com as crianças. Estava sempre preocupada com elas.Levantei o olhar por um segundo, vendo Jhonathan concentrado em uma ligação do outro lado da sala. Ele parecia agitado, caminhando de um lado para o outro com o celular colado à orelha. De repente, sua expressão mudou completamente. Ele congelou por um instante, e então, com uma força inesperada, socou a mesa com tanta raiva que o som ecoou pelo escritório.— Puta que pariu! — ele gritou, com os olhos arregalados e a respiração pesada.Eu me levantei de imediato, surpresa e alarmada.— Jhonathan! O que está acontecendo? — perguntei, o coração disparado no peito.Ele desligou o celul
Priscila Almeida Dirigia com a adrenalina pulsando em cada célula do meu corpo, mantendo um olho na estrada e outro no retrovisor, onde Ana Fernanda estava desacordada no banco de trás. O carro deslizava suavemente pela estrada, mas a tensão dentro de mim era palpável. O plano tinha sido executado com precisão, e agora tudo o que restava era chegar ao esconderijo antes que alguém percebesse o que havia acontecido. As árvores passavam rapidamente enquanto eu acelerava, o som suave do motor me acalmando de certa forma. Mas então, algo inesperado aconteceu. Ouvi um leve movimento no banco de trás, seguido por uma respiração pesada e baixa. Ana Fernanda estava acordando. “Droga”, murmurei para mim mesma, olhando para trás por um breve segundo. A menina piscava lentamente, os olhos se ajustando ao ambiente ao seu redor. Por um instante, fiquei tensa, me preparando para a reação inevitável. E não demorou. Ana Fernanda se mexeu, inicialmente confusa, mas em segundos a realização de ond