Maria Fernanda Fagundes Lancaster O silêncio era pesado, quase sufocante. Eu sentia cada segundo se arrastar, como se o tempo estivesse de propósito tentando prolongar a minha dor. O som das minhas próprias lágrimas caindo sobre o travesseiro era o único ruído no quarto, e até ele parecia ecoar demais. O peso da notícia ainda estava ali, me pressionando, me esmagando. Um ano e meio. Um ano e meio sem tocar numa bola, sem pisar num campo, sem sentir a adrenalina de uma partida, sem lutar pelo meu sonho. Tudo o que eu mais amava parecia ter sido arrancado de mim em questão de segundos. Virei meu rosto para a janela, sem forças nem para encarar o quarto vazio. As imagens do meu futuro, antes tão claras e cheias de possibilidades, agora eram um borrão. Não conseguia mais enxergar nada à frente. Meu coração estava quebrado, e eu não sabia como iria colar os pedaços. E então, o som da porta se abriu. Eu sabia quem era, mesmo sem olhar. Podia sentir sua presença, e por um segundo, me per
Pedro Henrique Soares Acordei com a luz fraca do sol que entrava pela fresta da cortina do quarto de hospital. O ambiente ainda estava em silêncio, exceto pelo som suave da respiração de MaFê, que dormia ao meu lado. Eu mal havia dormido, preocupado com ela a noite inteira. A cada vez que ela se mexia ou suspirava em meio ao sono, meu coração se apertava. Era difícil ver a pessoa que eu mais amava passando por tanta dor. Olhei para o rosto dela, ainda sereno enquanto dormia, embora soubesse que por dentro tudo era uma tempestade. Estar ali, com ela, me trazia uma paz indescritível, mas ao mesmo tempo me fazia sentir impotente. Eu queria protegê-la de tudo, carregar o peso da dor em seu lugar, mas sabia que isso não era possível. Tudo o que eu podia fazer era estar ao lado dela, oferecendo todo o suporte que tivesse. De repente, ouvi o barulho leve da porta sendo aberta e uma enfermeira entrou no quarto. Ela carregava um sorriso gentil e discreto no rosto. Quando me viu, o sorriso
Maria Fernanda Fagundes Lancaster Assim que Pedro saiu do quarto, o silêncio tomou conta do ambiente. A ausência dele trouxe um estranho vazio, como se a tranquilidade que ele me passava tivesse ido junto. Fechei os olhos por um momento, tentando encontrar um resquício de paz em meio à dor que insistia em me acompanhar desde o acidente. Era como se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. Ele era incrível, e eu sentia a intensidade do amor dele em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar. Mas, por mais que ele estivesse ao meu lado, eu ainda me sentia sozinha nessa luta. Sozinha com meus medos, minhas incertezas e inseguranças. Era difícil admitir, até para mim mesma, que estava perdida.Tentei me mexer um pouco na cama, mas o peso do corpo me lembrou do que havia acontecido. A perna imobilizada parecia um lembrete constante da minha vulnerabilidade. Respirando fundo, virei o rosto para a janela e observei o movimento do sol subindo no céu. Lá fora, a vida
Jhonathan LancasterEu mal conseguia pensar. Minha mente era uma confusão de preocupações e medo. Maria Fernanda, minha bebê, estava no hospital, frágil e sofrendo, e a ameaça constante de Priscila pairava sobre nós, sem sabermos quando ou se ela iria se concretizar. Tudo parecia desmoronar ao meu redor, e eu não conseguia enxergar uma saída.— Ela vai ficar bem, Jhonathan — a voz de Anthonella era doce e serena, mas firme. — Nossa filha é forte e tem a nós ao lado dela. Ela vai superar isso.Respirei fundo, tentando me agarrar às palavras de Anthonella. Eu sabia que ela estava certa, MaFê era forte. Sempre foi, desde pequena, demonstrando determinação em cada desafio que a vida colocava no caminho. Mesmo assim, a dor de vê-la naquele estado me consumia.— Espero que sim — sussurrei, com a voz fraca. — Eu só... não aguento vê-la assim, An. Não suporto ver nossa menina sofrendo.Anthonella parou de acariciar minhas costas e segurou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus.— Vamos p
Quando finalmente chegamos ao hospital, o cenário era desolador. O cheiro estéril e o som dos monitores cardíacos ecoavam no ar. Ao entrarmos no quarto de MaFê, meu coração apertou ao vê-la. Ela estava sentada na cama, olhando pela janela, com um semblante triste. O sol da tarde iluminava seu rosto, mas havia uma sombra de preocupação em seus olhos.— MaFê... — murmurei, tentando controlar a emoção ao vê-la naquele estado. Minha filha, sempre tão alegre e determinada, agora parecia tão vulnerável.Anthonella tocou meu braço suavemente, como se me pedisse para ser forte. Ela estava certa. MaFê não precisava de mais preocupações. Ela já estava enfrentando o suficiente.— Oi, meu amor — Anthonella quebrou o silêncio, aproximando-se de MaFê com um sorriso suave. — Como você está, querida?MaFê olhou para a mãe e depois para mim, com os olhos marejados.— Estou... bem, acho. Só cansada — ela disse, sua voz baixa, quase em um sussurro.Me aproximei, segurando sua mão e sentindo uma pontada
Maria Fernanda Fagundes Lancaster Acordei com o sol brilhando forte pela janela do hospital. Era um dia bonito, e por um segundo, me perguntei se ainda estava sonhando. Desde que fui internada, tinha perdido a noção do tempo. Parecia que os dias tinham se arrastado, misturados entre exames, visitas e horas intermináveis de descanso forçado. No entanto, hoje era diferente. Hoje, finalmente, eu voltaria para casa."Hoje é o dia, MaFê," pensei comigo mesma, tentando afastar a sensação de nervosismo que insistia em se infiltrar. Tudo o que eu queria era estar no meu quarto, longe das agulhas e dos exames. Queria a minha cama, minhas coisas e, claro, a minha família. Suspirei, aliviada por estar mais perto de tudo isso.A porta do quarto se abriu e Pedro apareceu com um sorriso largo. Seus olhos estavam brilhantes e havia uma leveza em seu andar que parecia contagiante.— Oi, princesa. Está pronta para sair daqui? — perguntou, aproximando-se da cama.Eu sorri, tentando não demonstrar a an
Já fazia algumas semanas desde que saí do hospital, e minha recuperação em casa era... lenta. Lenta e tediosa. Nada do que eu gostava de fazer era permitido agora, e o simples fato de ter que ficar deitada por tanto tempo estava me deixando à beira da loucura. Matilda, a enfermeira que meus pais contrataram, era um verdadeiro anjo. Sempre gentil e paciente, ela me ajudava com tudo. Mas, mesmo com toda a sua ajuda, o que eu mais queria era arrancar o gesso de uma vez e começar a fisioterapia. Sentir minhas pernas de novo, andar, fazer as coisas sozinha. Era frustrante.Estava sentada na cama com um livro nas mãos, tentando me distrair. Ler era uma das poucas coisas que eu ainda conseguia fazer sem me sentir completamente inútil. Mas até isso às vezes me cansava. Os personagens pareciam estar vivendo uma aventura incrível, enquanto eu mal conseguia sair da cama.Suspirei, virando mais uma página, quando ouvi risadas familiares vindo da porta. Laiane e Valentina apareceram, carregando pi
Eu ainda estava rindo de uma piada que Laiane contou quando ouvi a porta se abrir e Pedro surgir sorrindo. — Como você está, amor? — ele perguntou, se aproximando de mim, mas antes que eu pudesse responder, Laiane tomou a frente. — Ela está ótima, querido, com as melhores amigas do mundo ao lado dela! — disse Laiane, piscando para mim enquanto me jogava um sorriso travesso. Pedro sorriu de canto, ele se virou para as meninas e fez uma pausa dramática. — As melhores amigas do mundo deveriam dar um espacinho para o namorado, não acham? Valentina e Laiane se entreolharam e reviraram os olhos. — Certo, senhor namorado ciumento — Valentina disse, em tom de brincadeira, enquanto pegava o pacote de pipoca. — Vamos deixar vocês dois sozinhos. — Não precisa nos olhar assim irmãozinho, vamos embora. — Laiane completou com um sorriso. Eu ri enquanto elas se despediam de mim com um abraço rápido e sussurravam mais algumas piadinhas antes de finalmente sair. Quando a porta se