Maria Fernanda Fagundes Lancaster Meus irmãos haviam saído e eu olhei para o teto, tentando acalmar meus pensamentos, quando a porta se abriu de novo. Minha mãe entrou, e logo seu olhar encontrou o meu. A expressão no rosto dela me trouxe um misto de alívio e inquietação. Ela parecia cansada, mas forte, como sempre. Mamãe era o tipo de pessoa que nunca demonstrava fraqueza, mesmo quando tudo estava desmoronando ao redor. E, vendo-a ali, era como se finalmente eu pudesse respirar aliviada. — Oi, minha guerreira — ela disse com um sorriso suave, aproximando-se da cama. — Oi, mãe — respondi, tentando sentar melhor. Ela se apressou em me ajudar, ajeitando os travesseiros atrás de mim com aquele cuidado de sempre. Ela se sentou ao meu lado, seus olhos correndo por mim, examinando cada detalhe. Eu sabia que ela estava procurando sinais de desconforto, tentando entender como eu realmente estava. Antes que ela pudesse perguntar, eu fui direto ao ponto. — Como foi? — perguntei, ob
As palavras de minha mãe ecoavam em minha mente como uma sentença. Um ano e meio fora do campo. Um ano e meio de recuperação. Um ano e meio longe daquilo que eu mais amava fazer. Eu me esforcei para manter a calma, para não deixar o peso dessa notícia me esmagar, mas era impossível. Um nó se formou na minha garganta e, antes que eu pudesse me controlar, as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Minha visão ficou embaçada, e o quarto ao meu redor parecia girar. A única coisa que eu conseguia ouvir era o som dos meus próprios soluços, abafados pela mão que eu rapidamente levei à boca, tentando conter a onda de emoção que me engolfava. — MaFê, filha... — ouvi a voz da minha mãe, agora fraca e trêmula, como se cada palavra fosse um esforço doloroso. Ela se aproximou, sentando-se ao meu lado, e me puxou para um abraço. Seu toque era familiar, reconfortante, mas naquele momento, eu me sentia perdida demais para encontrar consolo, mesmo em seus braços. — Eu... não acredito... — conse
Pedro Henrique SoaresEstava mergulhado nos relatórios do novo projeto, tentando adiantar o máximo possível antes de sair. Minha cabeça já estava no hospital, pensando na MaFê, mas eu precisava terminar algumas coisas para poder visitá-la sem deixar pendências no trabalho. O relógio na parede marcava 16h, e eu ainda tinha uma pilha de documentos para revisar.Peguei o telefone para ligar para minha equipe quando ele começou a vibrar em minha mão. Era Laiane.— Pedro, está ocupado? — A voz da minha irmã era baixa, o que já me deixou com a sensação de que algo estava errado.— Estou, sim, Lai. Tô adiantando o que posso para poder ir visitar a MaFê mais tarde. — Continuei digitando enquanto falava, achando que era só uma ligação de rotina.Do outro lado da linha, ouvi um suspiro longo e pesado.— Pedro… acho que é melhor você não ir.As palavras dela me fizeram parar imediatamente. Coloquei o laptop de lado e segurei o telefone com mais firmeza.— Como assim, não ir? O que aconteceu? —
Maria Fernanda Fagundes Lancaster O silêncio era pesado, quase sufocante. Eu sentia cada segundo se arrastar, como se o tempo estivesse de propósito tentando prolongar a minha dor. O som das minhas próprias lágrimas caindo sobre o travesseiro era o único ruído no quarto, e até ele parecia ecoar demais. O peso da notícia ainda estava ali, me pressionando, me esmagando. Um ano e meio. Um ano e meio sem tocar numa bola, sem pisar num campo, sem sentir a adrenalina de uma partida, sem lutar pelo meu sonho. Tudo o que eu mais amava parecia ter sido arrancado de mim em questão de segundos. Virei meu rosto para a janela, sem forças nem para encarar o quarto vazio. As imagens do meu futuro, antes tão claras e cheias de possibilidades, agora eram um borrão. Não conseguia mais enxergar nada à frente. Meu coração estava quebrado, e eu não sabia como iria colar os pedaços. E então, o som da porta se abriu. Eu sabia quem era, mesmo sem olhar. Podia sentir sua presença, e por um segundo, me per
Pedro Henrique Soares Acordei com a luz fraca do sol que entrava pela fresta da cortina do quarto de hospital. O ambiente ainda estava em silêncio, exceto pelo som suave da respiração de MaFê, que dormia ao meu lado. Eu mal havia dormido, preocupado com ela a noite inteira. A cada vez que ela se mexia ou suspirava em meio ao sono, meu coração se apertava. Era difícil ver a pessoa que eu mais amava passando por tanta dor. Olhei para o rosto dela, ainda sereno enquanto dormia, embora soubesse que por dentro tudo era uma tempestade. Estar ali, com ela, me trazia uma paz indescritível, mas ao mesmo tempo me fazia sentir impotente. Eu queria protegê-la de tudo, carregar o peso da dor em seu lugar, mas sabia que isso não era possível. Tudo o que eu podia fazer era estar ao lado dela, oferecendo todo o suporte que tivesse. De repente, ouvi o barulho leve da porta sendo aberta e uma enfermeira entrou no quarto. Ela carregava um sorriso gentil e discreto no rosto. Quando me viu, o sorriso
Maria Fernanda Fagundes Lancaster Assim que Pedro saiu do quarto, o silêncio tomou conta do ambiente. A ausência dele trouxe um estranho vazio, como se a tranquilidade que ele me passava tivesse ido junto. Fechei os olhos por um momento, tentando encontrar um resquício de paz em meio à dor que insistia em me acompanhar desde o acidente. Era como se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. Ele era incrível, e eu sentia a intensidade do amor dele em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar. Mas, por mais que ele estivesse ao meu lado, eu ainda me sentia sozinha nessa luta. Sozinha com meus medos, minhas incertezas e inseguranças. Era difícil admitir, até para mim mesma, que estava perdida.Tentei me mexer um pouco na cama, mas o peso do corpo me lembrou do que havia acontecido. A perna imobilizada parecia um lembrete constante da minha vulnerabilidade. Respirando fundo, virei o rosto para a janela e observei o movimento do sol subindo no céu. Lá fora, a vida
Jhonathan LancasterEu mal conseguia pensar. Minha mente era uma confusão de preocupações e medo. Maria Fernanda, minha bebê, estava no hospital, frágil e sofrendo, e a ameaça constante de Priscila pairava sobre nós, sem sabermos quando ou se ela iria se concretizar. Tudo parecia desmoronar ao meu redor, e eu não conseguia enxergar uma saída.— Ela vai ficar bem, Jhonathan — a voz de Anthonella era doce e serena, mas firme. — Nossa filha é forte e tem a nós ao lado dela. Ela vai superar isso.Respirei fundo, tentando me agarrar às palavras de Anthonella. Eu sabia que ela estava certa, MaFê era forte. Sempre foi, desde pequena, demonstrando determinação em cada desafio que a vida colocava no caminho. Mesmo assim, a dor de vê-la naquele estado me consumia.— Espero que sim — sussurrei, com a voz fraca. — Eu só... não aguento vê-la assim, An. Não suporto ver nossa menina sofrendo.Anthonella parou de acariciar minhas costas e segurou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus.— Vamos p
Quando finalmente chegamos ao hospital, o cenário era desolador. O cheiro estéril e o som dos monitores cardíacos ecoavam no ar. Ao entrarmos no quarto de MaFê, meu coração apertou ao vê-la. Ela estava sentada na cama, olhando pela janela, com um semblante triste. O sol da tarde iluminava seu rosto, mas havia uma sombra de preocupação em seus olhos.— MaFê... — murmurei, tentando controlar a emoção ao vê-la naquele estado. Minha filha, sempre tão alegre e determinada, agora parecia tão vulnerável.Anthonella tocou meu braço suavemente, como se me pedisse para ser forte. Ela estava certa. MaFê não precisava de mais preocupações. Ela já estava enfrentando o suficiente.— Oi, meu amor — Anthonella quebrou o silêncio, aproximando-se de MaFê com um sorriso suave. — Como você está, querida?MaFê olhou para a mãe e depois para mim, com os olhos marejados.— Estou... bem, acho. Só cansada — ela disse, sua voz baixa, quase em um sussurro.Me aproximei, segurando sua mão e sentindo uma pontada