Priscila AlmeidaEstava à espreita, observando à distância. A cada tentativa frustrada de acabar com Maria Fernanda, a raiva dentro de mim crescia. Era como se essa garota tivesse um anjo da guarda forte demais. Sempre que eu planejava algo, uma interferência acontecia, como se o universo estivesse protegendo-a a todo custo. Minha mente estava em turbilhão. Os anos de rancor não tinham desaparecido. Eles apenas cresceram, se tornaram mais amargos, mais urgentes. Eu precisava me livrar dela de uma vez por todas, assim como tentei fazer quando ela era pequena. Mas, de alguma forma, a sorte sempre estava do lado dela. Revirei os olhos ao pensar na última tentativa. Tinha sido perfeita, ou pelo menos deveria ter sido. Tudo estava meticulosamente calculado. Mas, como sempre, algo deu errado. Um erro mínimo que me custou mais uma chance de finalmente ver Maria Fernanda fora do meu caminho para sempre. Voltei para o meu novo esconderijo temporário, o pequeno apartamento alugado no cent
Maria Fernanda Fagundes Lancaster Assim que desci as escadas, vi meu pai na porta. Ele já estava com Pedro, e como eu previa, dando suas famosas recomendações. Cheguei perto, tentando suavizar o momento.— Pedro, eu sei que você tem boas intenções, mas lembre-se, minha filha é meu tesouro mais precioso — começou meu pai, o olhar fixo no Pedro, sério como nunca. — Não quero que nada de ruim aconteça com ela. Cuide bem da MaFê. Não passe dos limites, e lembre-se sempre que eu estarei de olho.Minha mãe estava por perto e interveio rapidamente.— Jhonathan, amor, deixa o rapaz respirar. Ele sabe o que faz. Dê um pouco de espaço a eles. — Ela tocou o ombro do meu pai com um olhar compreensivo.Meu pai, no entanto, apenas deu de ombros e continuou, como se não tivesse ouvido.— MaFê é uma menina de ouro, e sei que você sabe disso, Pedro. Mas, de novo, quero que fique claro: respeite ela. Quero ver minha filha bem e feliz. Entendido?Eu, ao lado deles, sentia o calor subir pelo meu rosto.
O pai de Pedro e Laiane era muito legal. Ele gostava de futebol, e ficamos horas conversando sobre o esporte. A mãe dele se juntou a nós em um momento, mas fez uma careta enquanto nos observava.— Querido, a menina vive para o esporte. Vamos mudar de assunto — pediu ela, com um leve sorriso de reprovação.— Não se preocupe, eu adoro conversar sobre futebol — respondi, tentando tranquilizá-la.Laiane desceu as escadas e se juntou a nós, com uma expressão emburrada. Eu tinha a sensação de que era porque Pedro me tirou do quarto dela mais cedo.— Sobre o que estão falando? — perguntou ela, cruzando os braços.— Estávamos conversando de tudo um pouco, até você chegar e estragar tudo — disse Pedro, provocando a irmã.Ela o encarou e mostrou o dedo do meio, enquanto o pai deles suspirava, exasperado.— Crianças, comportem-se! O que Maria Fernanda vai pensar de vocês? — repreendeu ele, com uma mistura de seriedade e humor.— Relaxa, pai. Ela nos conhece muito bem e até nos compara com os irm
Ficamos um bom tempo sentados na grama, apreciando a companhia um do outro. O silêncio entre nós era confortável, um espaço seguro onde as palavras não precisavam preencher o vazio. No entanto, tudo aquilo foi interrompido quando Laiane se aproximou.— Você está bem, Pedro? — perguntou ela, sentando-se ao lado do irmão.— Agora estou. — Ele sorriu para mim, depois para ela.Laiane, então, mudou de assunto com uma energia mais leve. — Que tal a sobremesa? Mamãe mandou fazer pudim de leite do jeito que você gosta. — comentou ela, fazendo Pedro sorrir animado.Ele rapidamente se levantou, estendendo a mão para me ajudar a levantar também. No entanto, enquanto Pedro foi à frente, Laiane me puxou discretamente para trás.— Obrigada por ficar ao lado dele. Pedro se sente muito culpado pela perda do nosso irmão. E, às vezes, meu pai o faz lembrar que também acha o mesmo. Mas não pense que meu pai é um péssimo pai... ele só não aprendeu a lidar até hoje com a perda de Pedro Afonso.— Não fiz
Jhonathan Lancaster O sol já estava se pondo quando me sentei na sala de estar, esperando Maria Fernanda chegar em casa. O relógio na parede parecia fazer os minutos passarem mais devagar. Anthonella, sentada ao meu lado no sofá, folheava distraidamente uma revista. Ela percebeu meu desconforto e tentou me acalmar.— Jhonathan, você deveria relaxar. Nossa filha é responsável. Ela já já estará aqui.Suspirei, olhando pela janela.— Você age como se não se importasse. — comentei, com um tom de leve irritação na voz.Ela fechou a revista e a colocou de lado, voltando sua atenção para mim.— É claro que me importo, Jhonathan. Só que eu confio nela. Você também deveria.— Eu confio. — resmunguei, mas antes que pudesse continuar, Anthonella me interrompeu.— Se você realmente confiasse, não estaria assim, tão nervoso. Maria Fernanda está crescendo, Jhonathan. Temos que dar a ela um pouco de espaço.Fechei a cara, sentindo um misto de frustração e preocupação.— Garotos dessa idade só pens
Maria Fernanda Fagundes Lancaster Enquanto Pedro e eu íamos para a faculdade, conversávamos sobre trivialidades até que ele gargalhou do nada. Virei-me para encará-lo, curiosa.— O que foi? — Perguntei curiosa. — Estou rindo da cara do seu pai quando mencionei sobre casamento em Las Vegas. Acho que ele nunca vai deixar você viajar sozinha comigo.— Pode ter certeza que não mesmo. Meu pai é muito protetor.— O que você pensa sobre isso? — Dei de ombros. — Ele podia me dar um pouco mais de liberdade, mas, no geral, eu amo saber que ele e minha mãe sempre vão estar lá por nós.— Vocês são uma família muito unida, é bonito de ver. — Pedro soltou um longo suspiro. Eu sabia o que ele queria dizer e também que ele não queria entrar nesse assunto.— Vou ter um tempo vago hoje. A professora já avisou que não viria, então vou ficar na quadra.— Isso não te lembra os tempos do colégio? Aula vaga, ficar na quadra?— A faculdade é um colégio, só que saímos de lá com um diploma embaixo do braço
O clima na cafeteria estava mais leve, mas eu sabia que Pedro tinha acabado de pisar em um terreno minado. Valentina não era alguém fácil de lidar, principalmente quando estava estressada, e a última coisa que ela precisava ouvir era uma opinião masculina não solicitada.Pedro e eu nos sentamos à mesa, e a expressão dele ao encarar Valentina me dizia que ele tinha percebido que tinha falado mais do que devia. Antes que ele pudesse se desculpar ou dizer qualquer outra coisa, Valentina disparou:— Quer saber, Pedro? Vai cuidar da sua vida, tá? Ninguém te pediu opinião!Pedro piscou, surpreso, mas logo sorriu, tentando amenizar a situação.— Desculpa, Valentina, só estava tentando ajudar. Mas tudo bem, eu guardo minhas sugestões pra mim.— Isso, guarda mesmo, porque, olha... você já falou besteira demais hoje. — Valentina cruzou os braços e virou o rosto, como se estivesse tentando controlar a raiva.A reação de Valentina foi tão inesperada que não consegui segurar a gargalhada que escap
Após o almoço, partimos para o C.T. Valentina estava em seu carro, então Pedro e eu viemos sozinhos no carro dele. Ele parecia pensativo com algo, e fiquei esperando que ele quisesse dividir comigo.— Tem algo te incomodando? — Perguntei, curiosa.— Não, só estou pensativo a respeito da empresa do meu pai. Acho que ele está me dando muitas responsabilidades muito rápido e, sei lá, é meio estranho.— Isso é sinal de que você está fazendo um bom trabalho e que ele está confiando em você.— Pode ser. — Ele desviou o olhar da pista por um momento e mudou de assunto. — Quer colocar uma música?Notei que ele não estava à vontade para conversar sobre o assunto, então peguei meu celular e coloquei uma música. Assim que a música começou a tocar, ele tirou os olhos da estrada novamente, com um olhar de surpresa.— Sério que você gosta desse tipo de música?— Sim, por quê? — Respondi, arqueando uma sobrancelha.— MaFê, isso parece música de maconheiro. — Ele soltou uma gargalhada, o que me fez r