Já era o terceiro dia que Danna vinha à igreja ajudar nos preparativos para a festa de São Francisco de Assis, padroeiro da cidade. Recusei ajuda da maioria das pessoas e os poucos que aceitei pedi que fizessem coisas em suas casas e não na igreja, alegando que estava pintando ainda e o forte cheiro impedia que pudéssemos usar o local.
Meu pai estava nos auxiliando e também Isla e Vanessa no final do dia, quando saíam do trabalho. No segundo dia Danna trouxe Jorge, o advogado e Calum, o médico.
Ela soube se comportar e por sorte parecia que ninguém percebia o sentimento forte que havia entre nós. Primeiro eu senti ciúme de Jorge, que parecia ter uma ligação de certa forma íntima com Danna. Até que o vi beijando Vanessa e entendi que não tinha nenhum tipo de envolvimento afetivo entre os dois.
Depois encuquei com o médico, que embora mais velho,
- Depois de tudo que você fez, não imaginei que a encontraria na igreja. – Juliana olhou para mim, como que pedindo alguma explicação.Depois de tudo que houve, inclusive de minha declaração para Danna há dias atrás, no salgueiro chorão, era a primeira vez que eu reencontrava as duas juntas.Olhei para Juliana e depois para Danna. Exceto na cor dos cabelos, eram completamente diferentes. Cheguei a gostar de Juliana. Dizer que nunca senti nada por ela seria uma mentira, já que cheguei a pedi-la em casamento e imaginar uma vida ao seu lado.Mas o que eu sentia por Danna era completamente diferente. Era intenso, forte, dolorido, insano. E ia muito além da atração física. Era como se eu não existisse sem ela. A mínima possibilidade de perdê-la já me deixava completamente nervoso.- "Quem dentre vós não tiver pecado, s
- Danna, sem palavrões! Não quero penitenciá-la! – Avisei.- E não vai penitenciar Juliana, que me viu comendo o tal corpo... E não disse nada? Meu Deus do céu... Comi o pedaço de um corpo! – Cuspiu novamente, apavorada.- É trigo, Danna.- Trigo? – Me olhou, confusa.- Não vai fazer nada a respeito disto, Killian? – Juliana pressionou.- As hóstias não estavam abençoadas, Juliana.- Isto significa que ela pode comer como se fossem biscoitos? Ok, vamos matar a fome da população com hóstias sagradas! – Foi irônica.Suspirei, tentando não tomar partido para o lado de Danna:- Ela não sabia.- Achei que era... Uma biscoiteira. – Danna mostrou o cálice sagrado, que em nada lembrava... Uma “biscoiteira”. Bem, eu não sabia o que era uma biscoi
POV DANNA DAVE- Duvido que você consiga mentir por tanto tempo. – Ouvi a voz de Vanessa entrando na igreja tranquilamente.Juliana olhou para minha prima e imediatamente ficou ruborizada.- Não sei do que está falando! – Fingiu-se de desentendida.- Ah, sabe sim! – Vanessa riu, de forma irônica – Ainda bem que eu fui inteligente e não me deixei enganar por você. Sempre acreditei na minha prima. Uma pena que nem todos pensem desta forma e se deixem ser enganados, como o padre Killian e os moradores de Machia.- Pois vá lá e grite aos quatro cantos que eu não sou uma boa pessoa. Ninguém acreditará. – Juliana mostrou a verdadeira face à Vanessa.- Será que realmente está presa à esta cadeira de rodas? – Vanessa questionou.- Infelizmente sim. Caso contrário, eu já teria tomado conta da p
Suspirei:- Acho que a vida dá um jeito de punir as pessoas que fazem o mal. Olhe o que ela fez comigo! – Deixei meus braços descansarem ao longo do corpo.- Espero que a vida seja bem severa com ele.- Eu aposto que será. Mas eu já não tenho forças para medir. Só de olhá-lo meu corpo estremece de medo.- Por que não conta ao padre Killian em confissão?- Não... Eu ainda não tenho coragem.Vanessa suspirou e me deu um beijo:- Talvez um dia consiga botar para fora. E quem sabe seus olhos voltem a brilhar com tanta alegria quanto antes.A abracei e disse:- Não irei com você para casa.- Não?- Eu... Vou dormir no salgueiro chorão.Vanessa estreitou os olhos:- Como assim?- Ouvi dizer... Que hoje vagalumes aparecerão por lá.Vanessa balançou a
Quando cheguei em casa deparei-me com pai José na cozinha, preparando o jantar. Franzi a testa:- Sabe que horas são? - Perguntei.- Já passa da meia-noite. - Ele disse de forma tranquila.- E você está preparando uma refeição?- Vá tomar um banho, Killian. Precisamos conversar.- Pode ser agora? - Fiquei muito curioso.- Não, não pode ser agora… O cheiro dela ainda está impregnado em você.Meu coração imediatamente acelerou e senti as pernas trêmulas. Era tão perceptível assim?Fui fazer o que ele mandou. Entrei no chuveiro e fiquei a observar a água morna escorrer pelo meu corpo, retirando tudo que havia restado dela. E aquilo parecia errado, pois eu deitaria na cama logo mais e não teria mais nada de Danna.Não tive pressa no banho e quando cheguei na cozinha o jantar estava p
POV DANNA DAVEEra manhã de domingo. Eu, Vanessa Isla arrumávamos as crianças para a festa da padroeira. Jorge e Calum também estavam ajudando, principalmente com os garotos.Embora eu tentasse dar atenção para todos da mesma forma, minha preferência pela pequena Alegra era nítida. E sempre que eu a procurava com os olhos, a encontrava me encarando com um sorriso.Eu não queria cogitar a hipótese de adotar aquela menina. Nunca tive jeito com miniaturas de pessoas. Mas aquela criaturinha parecia tão diferente... Sem contar o fato de ter sido meu primeiro contato com crianças.Do nada ela veio correndo na minha direção e abraçou-me. Eu já nem poderia dizer que me surpreendi com o gesto dela, já que Alegra era uma caixinha de surpresas.- Eu amo você, Danna Dave. – Ela sorriu enquanto levantava o rostinho na minha dire&cced
Ele riu:- Pode ir no ônibus. Estou de carro.- De onde você tirou um carro?- Emprestado. – Ele piscou e saiu.Respirei fundo e toquei o crucifixo, sem palavras. Eu estava completamente tomada de emoções... E sentia todo o amor do mundo dentro de mim.Esperei que Killian entrasse no carro e partisse, enquanto observava da janela. Assim que ele se foi, saí do quarto. Senti uma tontura e de repente tudo ficou escuro. E desabei.Despertei deitada no sofá, com Calum, Jorge e Vanessa me olhando.Encarei-os, tentando entender como fui parar ali:- O que houve? - Perguntei, confusa.- Você desmaiou. - Calum explicou.- Ok, agora vamos para a festa. - Falei tentando levantar, sentindo um enjoo horrível.- Não, você primeiro irá ao hospital. - Vanessa disse de forma séria.Eu ri:- Claro que não
- Danna… O padre engravidou você?- Não… - Minha voz mal saiu.Calum ficou surpreso. Passavam mil coisas na minha cabeça naquele momento, entre elas voltar para a cachoeira e me jogar lá de cima.Toquei o crucifixo que Killian havia me dado e sentei-me no cordão da calçada, abaixando a cabeça, ainda incrédula. Comecei a rir quando me flagrei com um crucifixo entre meus dedos… Sim, eu, a pessoa que não acreditava em Deus, havia ganhado aquilo como símbolo do amor de Killian por mim. Deus não existia e cada vez mais eu me convencia daquilo.- Achei que eu estava comendo demais… - Falei mais para mim mesma do que para Calum.- Sim, observei que você ganhou peso desde que a conheci.O olhei:-Você… Cogitava isto?- Na verdade, não. Imaginei que se você tivesse grávida saberia.- Estou