A floresta ainda estava mergulhada na penumbra quando encontraram as fêmeas. Elas estavam reunidas em meio às árvores, os corpos trêmulos e os olhos arregalados de medo. Algumas ainda choravam baixinho, segurando seus filhotes contra o peito, como se temessem que o pesadelo daquela noite terrível voltasse a se repetir.Collin olhou ao redor, sentindo o peso da tragédia sobre os ombros. O cheiro de sangue e fumaça ainda impregnava o ar.Quando voltaram para a aldeia, o sol já se erguia no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados. Collin parou por um instante na entrada da aldeia e voltou o olhar para a floresta, incapaz de afastar a sensação de que não estavam seguras.Foi quando algo se moveu entre as árvores.Seu coração parou por um segundo.Um vulto emergiu da mata, mancando. O jovem lupino que havia atraído os inimigos para longe surgiu ensanguentado, cambaleando como se cada passo fosse uma luta.— Não… — murmurou Collin, correndo até ele.Os joelhos do jovem cederam antes
A chuva ameaçava cair desde o amanhecer, mas ainda não havia despencado. O cheiro de terra molhada pairava no ar, misturado ao ferro do sangue seco e à fuligem das casas queimadas.Após a chegada dos lupinos sobreviventes, a aldeia se encontrava mergulhada em uma mistura de alívio e luto. As fêmeas que reencontraram seus companheiros correram para abraçá-los, lágrimas e soluços se misturando a palavras de gratidão. Mas algumas apenas ficaram paradas, os olhos vasculhando entre os que retornaram… e não encontrando aqueles que esperavam.Liam observava tudo em silêncio. Seu rosto estava endurecido, mas as veias saltadas em suas mãos cerradas denunciavam a raiva e a culpa que o consumiam. Seu olhar percorreu as casas destruídas, os corpos cobertos por panos, e ele soltou um longo suspiro antes de erguer a voz.— Todos para o templo.Sua ordem ecoou forte e, mesmo sem mais explicações, todos obedeceram.O templo estava lotado. O clima ali dentro era um misto de esperança e pesar. Alguns o
A água morna ainda os envolvia, os corpos colados em um encaixe perfeito. O silêncio agora só era quebrado pelas respirações entrecortadas de ambos. O choro de Collin havia cessado, mas sua mente ainda estava um turbilhão.Liam apertava sua cintura, os dedos firmes segurando-a como se temesse que ela desaparecesse. Ele suspirou contra seu pescoço, a respiração quente arrepiando cada centímetro da pele sensível.Collin sentiu um leve tremor atravessar seu corpo quando ele inclinou o rosto e inalou seu cheiro profundamente.— Liam… — sua voz saiu fraca, quase um sussurro.Ele não respondeu. Ao invés disso, sua língua quente deslizou sobre a marca fraca que ele deixara em seu pescoço antes. Collin se arrepiou dos pés à cabeça, mordendo o próprio lábio para conter um gemido.Sem aviso, Liam segurou seu queixo com firmeza e virou seu rosto. Seus olhos estavam intensos, escuros, famintos.E então ele a beijou.Não havia delicadeza, não havia hesitação. O beijo era bruto, faminto, uma colisã
O quarto estava silencioso, exceto pelo farfalhar das vestes de Collin enquanto ela se movia inquieta na cama. Diante dela, dois vestidos repousavam sobre os lençóis, mas sua mente estava longe da escolha trivial entre cores e tecidos.Os humanos tinham funerais, cerimônias envoltas em flores, lágrimas e despedidas murmuradas. Mas aquilo… aquilo era diferente. A tradição dos lupinos ainda era um mistério para ela.Ela suspirou e se levantou, decidida a vestir qualquer coisa. Mas antes que pudesse escolher, a porta do banheiro se abriu.Liam entrou no quarto, seu olhar baixo, os ombros tensos. O vapor da água quente ainda pairava sobre sua pele, e seus cabelos úmidos caíam sobre a testa. Ele não olhou para ela, apenas caminhou até o guarda-roupa, revirando as prateleiras em busca de suas roupas.Collin engoliu em seco e desviou o olhar.— Eu… não sei que tipo de roupa usar.Ele permaneceu em silêncio, continuando a buscar suas vestes, como se não a tivesse ouvido.Ela cruzou os braços.
Dois dias se passaram desde a cerimônia, e dois dias desde que Liam desaparecera sem deixar rastros. Seu sumiço pairava sobre a Montanha de Prata como uma sombra, deixando a alcatéia inquieta. Murmúrios percorriam os corredores, olhares preocupados eram trocados e perguntas sem resposta se acumulavam. Onde ele poderia estar?Collin tentava se manter ocupada, oferecendo ajuda onde pudesse. O que antes era desconfiança por parte das fêmeas da alcatéia agora parecia ter se transformado em aceitação. Elas passaram a vê-la com outros olhos, reconhecendo seu esforço e presença. Os sorrisos discretos e os gestos gentis aqueciam seu coração, mas não apagavam a preocupação latente.Foi então que, ao longe, avistou Damon retornando de mais uma patrulha. Seu porte era rígido, os olhos varriam o caminho à frente com cautela. Sem hesitar, Collin correu em sua direção.— Alguma novidade? — perguntou, ofegante.Damon suspirou pesadamente, balançando a cabeça.— Nada. Não senti cheiro de invasores, n
Liam não disse nada. Apenas seguiu em passos firmes para cabana, como se nada tivesse acontecido. Seu olhar frio e distante não deixava espaço para explicações, e a maneira como ignorava os olhares curiosos e preocupados só aumentava a tensão no ar.Atrás dele, os lupinos recém-chegados adentravam a aldeia. Suas presenças eram pesadas, cada movimento meticulosamente calculado. Eles pareciam inspecionar tudo ao redor, seus olhares penetrantes analisando cada detalhe do território que agora pisavam.Collin se virou para Damon, que observava os estranhos com uma expressão carregada de desconfiança.— Quem são eles? — sua voz saiu tensa.Damon permaneceu em silêncio por um instante antes de responder, ainda mantendo os olhos fixos nos recém-chegados.— Não tenho certeza.Foi tudo o que ele disse antes de seguir os desconhecidos.Collin então voltou sua atenção para Liam, que já havia sumido dentro da cabana. Sem hesitar, seguiu atrás dele. -----A porta rangeu lev
Assim que a reunião terminou, Collin e Damon não perderam tempo. Eles cortaram caminho entre os membros da alcatéia, avançando em direção a Liam, que ainda conversava com membros da alcatéia.O Alfa percebeu a aproximação antes mesmo de olhá-los. Seu corpo enrijeceu ligeiramente, como se já soubesse o motivo da aproximação. Sem dar tempo para discussões em público, ele foi para sala ao lado do palco. E logo adentraram. Assim que a porta se fechou atrás deles, Damon explodiu.— Você tem merda na cabeça?!Collin arregalou os olhos. Ela sabia que Damon e Liam eram próximos, praticamente irmãos, mas até que ponto essa amizade resistiria a um confronto tão direto?Liam não se moveu de imediato. Seus olhos escuros analisaram Damon por um momento antes de ele responder. Sua voz saiu baixa.— Damon, eu sei que somos como irmãos… — ele inclinou a cabeça levemente, seus olhos brilhando com um aviso silencioso — …mas não esqueça que eu ainda sou seu Alfa.O rosnado em sua voz fez a tensão no am
Damon*Eve já havia saído da banheira, e Damon a esperava na sala, sentado na poltrona de couro já desgastada pelo tempo. Ele tamborilava os dedos no braço da cadeira, tentando reunir paciência, mas sua mente ainda girava com a revelação.Grávida.Ele ainda não conseguia digerir essa palavra completamente.Quando ela finalmente apareceu no cômodo, Damon sentiu o estômago revirar.O vestido azul leve caía suavemente sobre seu corpo, mas parecia grande demais para sua silhueta agora esguia. Os cabelos cacheados ainda estavam úmidos, pingando algumas gotas de água pelo chão de madeira. Sua pele, outrora radiante, estava pálida.Ela estava se matando aos poucos, e isso o enfurecia.— Há quanto tempo? — Sua voz saiu baixa, mas carregada de uma força contida.Eve suspirou, desviando o olhar.— Não quero falar sobre isso, Damon.— Mas vai falar. — Seu tom tornou-se mais rígido, e Eve crispou os lábios, frustrada.— Jhon já sabia, não é? — ele insistiu.Ela bufou e se jogou na cadeira ao lado