Capítulo 2
Fico olhando, sem saber o que fazer, para a imensa casa à minha frente. Consigo ouvir a música agitada tocando em algum lugar lá fora. Também conseguia ouvir os gritos das crianças enquanto se divertiam.

Era o oitavo aniversário de Krystal e eu não tinha sido convidada. Eu nem sabia que haveria uma festa. Quão patético é isso? Não saber que sua filha tinha uma festa de aniversário planejada?

Eu liguei para Darren e perguntei o que eu poderia fazer. Ele respondeu irritado que Miranda já tinha tudo preparado e que eu não deveria me preocupar em aparecer, porque nem ele nem Krystal me queriam lá.

Sempre fui eu quem planejou as festas dela, e elas sempre foram na nossa casa. Mas este ano a festa estava sendo feita na casa da Miranda.

Ao que parece, Krystal pediu que ela planejasse a festa. Porque, segundo ela, eu não fazia as festas do jeito que ela queria. Elas eram sempre chatas e feias, e ela as odiava.

Doía saber que Krystal nunca havia gostado ou dado valor ao trabalho e esforço que eu dedicava em suas festas. Que não era suficiente e ela odiava as festas.

Suspiro ao saber que a Miranda acabou com tudo o que eu havia feito. Que todos os meus esforços não são nada comparados aos dela.

Por que essa porra ainda dói? Já se passaram meses desde que ela voltou. Eu já deveria estar acostumada com a nova realidade, mas ainda estava sofrendo.

"Você é capaz, Ren", murmura minha loba Blue, enquanto busco coragem para andar até a casa dela. Um lugar que não sou bem-vinda.

"Esta é a festa da nossa filhote e não podemos perdê-la", ela continua.

Se eu achava que o que Darren fez era ruim, é porque eu não tinha ideia de como eu ficaria com isso. O fato de Krystal e Darren não quererem que eu estivesse presente no dia de seu aniversário. Eu estava com raiva dos dois, mas depois a raiva se transformou em mágoa.

Deixei de lado esses pensamentos, e dei um passo à frente. A porta se abriu, então entrei e fiquei totalmente admirada. Tudo era lindo, a Miranda realmente tinha feito um ótimo trabalho. Parecia algo saído de um conto de fadas.

"O que você está fazendo aqui?", o grito me faz sair dos meus pensamentos.

Eu me viro e vejo Krystal. Ela me encara com raiva e repulsa, como se minha presença fosse arruinar o dia dela. Seu grito havia atraído a atenção dos convidados, tanto humanos quanto lobos.

Eu não respondo. Incapaz de entender o que mudou em Krystal. Por que, de repente, ela passou a me odiar? Foi algo que eu fiz? Algo que eu disse?

"Eu não quero você aqui, vá embora e nunca mais volte!", ela gritou. Suas mãos se fecharam com força.

"Querida, vim trazer seu presente", respondi gentilmente. Minha voz estava trêmula por tentar segurar as lágrimas.

Eu estava me esforçando muito. A última coisa que eu precisava era ser o assunto do dia na cidade. Eu podia sentir a pena de nossos companheiros de matilha através do vínculo. E sei que a maioria não concorda com o que Darren está fazendo. Mas eu não quero a pena deles, só quero minha família de volta.

Krystal estende a mão para pegar o presente. Eu estava prestes a suspirar de alívio, a sorrir para ela. Mas então ela faz algo que eu nunca esperei que fizesse.

Ela joga o presente no chão e pisa nele. Ela quebrou a boneca que eu havia comprado para ela. Fico olhando para a boneca quebrada, que é o reflexo perfeito de como está meu coração. Ela pisou na boneca da mesma forma que pisou em meu coração.

"Eu já disse que não quero você aqui e não quero seu presente estúpido e feio", ela respondeu. Ela estava tremendo como se não conseguisse controlar seu ódio.

Como chegamos a esse ponto? O que a Miranda tem que eu não tenho? O que havia nela que fazia com que minha família a amasse e me odiasse?

Tudo o que sempre fiz foi amá-los. Dei a eles tudo de mim, o meu melhor. Fiz tudo o que podia para ser a esposa perfeita, para ser a mãe perfeita. Mas parecia que nada disso era suficiente. Porque a Miranda facilmente me substituiu em seus corações.

"Krys...". Eu engasguei com seu nome. A dor e as lágrimas fecharam minha garganta.

Ela me interrompe e grita. "Não! Eu te odeio e o papai também te odeia. Nós não queremos você aqui. O papai vai se casar com a mamãe Miranda, mas você não quer que eles se casem porque você é uma pessoa ruim e malvada. Você tem inveja dela porque ela é mais bonita do que você. Se você não deixar o papai ser feliz, vou rezar para que a deusa te mande para o inferno".

Eu me afasto porque sinto como se tivesse levado um soco. Não só porque ela me odeia tanto que me deseja para o inferno, mas também porque Darren está planejando se casar com Miranda.

Como foi que isso aconteceu? Como eu passei de mãe a vilã em sua história de conto de fadas?

"Você não pode estar falando sério, Krystal. Eu sou sua mãe", grito. Não consigo impedir que minhas lágrimas caiam.

Por que sinto que meu coração está sendo partido em pedaços, como se estivesse sendo cortado como carne moída?

"Você não é mais a minha mãe. Eu só tenho uma mãe, que é a mamãe Miranda", ela afirmou enfaticamente. Ela então vira as costas para mim e corre para Miranda.

Miranda a abraça, olhando para mim enquanto sussurra para ela palavras reconfortantes, como se ela fosse sua mãe biológica e eu fosse a amante, a que destruiu seu dia especial.

Não consigo acreditar que Krystal acabou comigo na frente dos convidados. Como ela pôde fazer isso? E como Darren permitiu que ela fizesse isso? Como eles puderam escolher a Miranda em vez de mim?

As partes que restavam do meu coração estavam se despedaçando. Acho que não havia mais nada que pudesse consertá-lo, que pudesse deixá-lo como era antes.

Antes mesmo que eu pudesse recuperar minha dignidade, Darren chegou. Ele agarrou meu braço com força e me levou embora.

"Por favor, Darren...". Eu imploro a ele quando estamos quase chegando à porta.

"Cale a boca, sua vadia idiota!", ele grita. Ele está completamente furioso. Seu olhar está mudando para um olhar de ódio.

Eu fiquei completamente chocada por ele me xingar dessa forma. Como se eu não passasse de uma biscate desagradável que estava tentando acabar com sua família feliz.

Isso doeu pra caralho.

Ele tirou as mãos do meu braço e as colocou em volta do meu pescoço. Ele apertou com força, me fazendo perder a consciência. Suas garras se cravam profundamente e eu posso sentir o sangue descendo pelo meu pescoço, encharcando minha blusa.

"Que esta seja a última vez que eu te vejo perto da Krystal ou de mim. Não toque nela, nem sequer olhe para ela e muito menos respire a porra do mesmo ar que ela. Se você chegar nem que seja um centímetro perto de nós, eu te mato", ele me ameaçou. Sua voz era áspera.

"Mas ela é minha filha", sussurrei, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Sua voz era fria e cheia de firmeza quando ele retrucou. "Você ouviu... você não significa nada para ela e não significa nada para mim".

Sem falar mais nada, ele me joga para fora da porta e fecha. Tento amortecer a queda caindo sobre minhas mãos e joelhos. Nem me dei conta de que os machuquei. Ou que meu pescoço, apesar de estar cicatrizando, ainda está sangrando.

A dor de meus ferimentos físicos não se compara à dor em meu peito. Como devo lutar quando me sinto destruída? Devo lutar por eles ou apenas desistir? Sabendo que eles viraram as costas para mim e me odeiam. Então, para que tentar qualquer coisa? Eles não me querem mais, nem a nós. Essa tristeza profunda é irreparável, foi para o fundo da minha alma.

"Ei", uma vozinha doce me tira do transe.

Era um garoto de uns dez anos que estava ao lado do meu carro. Ele tem cabelos loiros e olhos cinzentos. É um menino bonito e me parece muito familiar.

"Meu pai diz que meninas bonitas não devem chorar. E você é a mulher mais linda que eu já vi", ele me diz com carinho e convicção.

Meu coração se aquece pelo fato de esse menino me achar bonita, enquanto a própria filha não acha.

Eu me ajoelho para ficar na altura dele, apesar de isso me fazer ficar com dor.

"Obrigada, meu anjo. Qual é o seu nome?" Pergunto com um sorriso emocionado, tentando enxugar minhas lágrimas.

Ele sorri para mim e isso o deixa ainda mais fofo.

"Eu me chamo Jax... e você é a mãe da Krystal. Não quero ser mau, mas não gosto muito da Krystal agora. Ela foi malvada com você e isso me deixou com raiva. Eu também não gosto da minha mãe e nem do pai da Krystal, eles não estão sendo legais com você. Eles é que deveriam ser castigados", diz ele com raiva. Ele cerrou as mãos em punho.

Só quando ele terminou de falar que eu percebi. Esse garoto, que tentava me confortar, era filho da Miranda.

Também me ocorreu que eu poderia colocá-lo contra sua mãe. Dizer todo tipo de coisa para que ele a odiasse, mas não farei isso. Não sou dessas. Eu jamais desejaria essa dor a qualquer mãe.

"Eu sei, querido, mas ela ainda é sua mãe, não importa o que aconteça. Você deve amá-la e respeitá-la", digo com calma e delicadeza.

Ele olha fixamente para mim antes de dizer. " Ok, mas saiba que mesmo que eles não gostem de você, eu gosto e você é maravilhosa".

Em seguida, ele me dá um abraço e um beijo no rosto antes de ir embora. Não sei o motivo, mas sinto uma conexão com ele. Alguma coisa me diz que nossos caminhos estão de alguma forma interligados.

Eu entro no meu carro e dirijo para longe da minha filha e do meu marido. Estou me sentindo bem, pela primeira vez em meses. E tudo isso por causa do filho da minha inimiga.
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