Capítulo 2

Aqueles lindos olhos reluzentes me encaram esperançosos, automaticamente meu coração bate mais forte dentro do peito.

— Olá senhor Rizzon, o que faz perdido por aqui? — Me apoio na janela do carro, observando-o do outro lado.

— Estava te esperando. — Seu sorriso cresce, sou obrigada a sorrir de volta.

— Faz tempo que chegou? — Arqueio a sobrancelha preocupada.

— Digamos que uns quarenta minutos. — Ele franze o nariz passando a mãos sobre o cabelo.

— Poderia ter me chamado. — Faço uma careta.

— Não queria atrapalhar o seu serviço — afirma arrumando a gravata em seu pescoço.

— O que deseja?

— Que entre. — Ele indica o banco ao seu lado. — Está frio e eu achei que seria uma boa ideia levá-la para casa.

— Sabe que não precisa fazer isso todos os dias. — Abro a porta do carro e tenho a sensação de ser observada.

Olho para trás e vejo apenas o guarda que acena se despedindo, me acomodo ao seu lado tirando aquela estranha sensação dos meus pensamentos.

— Eu gosto de vir buscá-la. — Balança os ombros pensativo.

— Desculpe por fazê-lo esperar. — Sorrio encolhendo os ombros.

— Não se desculpe, vim sem avisar, a culpa não é sua. — Ele segura minha mão depositando um suave beijo, fixando seus olhos nos meus.

A intensidade daqueles mares azuis me faz querer suspirar, inconscientemente observo seus cabelos loiros desalinhados querendo correr meus dedos por eles apenas para sentir seus fios macios entre meus dedos.

Envergonhada desvio meus olhos dos seus arrumando minha postura no banco.

— Sam — sussurro, e ele solta minha mão erguendo as suas em sinal de paz. 

— Amigos — ele afirma. — Eu não fiz nada. — Se defende.

Acabo rindo com sua reação.

— Eu não te acusei de nada, mas se você está tão preocupado é porque estava com pensamentos inapropriados. — Ergo uma sobrancelha, observando-o divertida.

Ele desvia o olhar coçando o queixo por um momento fazendo uma careta.

— É errado querer roubar um beijo seu e ter você só para mim todos os dias da minha vida? — pergunta duvidoso e eu sinto meu coração quase sair pela boca, mas tento disfarçar minha surpresa.

Fixo meus olhos nos seus por um momento e logo desvio constrangida.

Por mais que eu quisesse falar que não era errado, apenas me mantenho em silêncio.

— Por que você não deixa eu me aproximar Katy? — pergunta pensativo, e eu fixo meus olhos em minhas mãos. — Eu só quero fazer parte da sua vida e você me repele. Me dê só uma oportunidade.

Evito encará-lo e sinto meu coração se acelerar com medo do rumo daquela conversa.

Eu não quero perder Samuel, não quero me afastar dele ou vê-lo ir embora como todos os outros, mas também não quero que ele descubra sobre meu desastroso passado. Eu só o quero ali do meu lado sem questionamentos e sei que isso será impossível, pois Samuel não se calará para sempre.

Um grande nó sufoca minha garganta e sinto meus olhos marejarem. Forço as lágrimas a voltarem não querendo chorar em sua frente.

— Me desculpe eu... Eu prometi que iríamos devagar e esperaria seu tempo. — Ele dá a partida no carro, e eu agradeço mentalmente.

Fazemos metade do caminho até minha casa em um silêncio pesado.

 Em alguns momentos me pego observando-o e vejo um misto de preocupação e culpa em seus olhos.

Queria perguntar se está tudo bem, mas prefiro me manter em silêncio, pois a culpa está começando a me incomodar, afinal a distância que há entre nós sempre foi imposta por mim, e ele nunca tentou avançar o sinal em momento algum respeitando os meus limites sem questionamentos.

Samuel é a única pessoa que insiste em permanecer ao meu lado além dos meus familiares e meu chefe. Não deveria tratá-lo com tanta frieza.

Noto que seus dedos se apertam suavemente sobre o volante do carro e seus olhos fixos na rua me incomodam. Ele é sempre muito brincalhão, mas hoje as coisas pareciam não estar muito bem.

— Desculpe — peço novamente, e seus lindos olhos se voltam para mim rapidamente.

— Eu é quem lhe devo desculpas, não quero te forçar a nada Katy. — Um pequeno sorriso preenche seus lábios.

— Obrigada..., mas tem algo te incomodando é visível — afirmo, e a surpresa fica estampada em seu rosto. — Foi algo que eu disse?

Não quero forçá-lo a nada, mas percebo que assim como eu, Samuel é uma pessoa fechada que não costuma se abrir com os outros e às vezes é necessário colocarmos para fora aquilo que nos sufoca, mesmo eu não seguindo meus próprios pensamentos.

— Eu sei que tem coisas que não gostamos de compartilhar com ninguém e que tem segredos que gostamos de manter guardados. Eu sou a prova viva disso, mas só queria dizer que se tiver algo te incomodando você pode contar comigo.  — Volto toda a minha atenção para ele, que pensativo, permanece em silêncio.

Depois de alguns momentos ele sorri como um menino travesso e diz.

— Então namora comigo? — Sua voz brincalhona não esconde a verdade por trás daquele pedido.

Não é a primeira vez que ele faz esse pedido, mas como em todas as outras vezes sinto meu coração pulsar forte e a emoção dominar meus sentidos. Samuel nunca escondeu de ninguém o que sente por mim, apenas eu construo barreiras onde não deveriam existir.

A quem estou querendo enganar?

Sinto uma forte atração por ele e estar ao seu lado é o que almejo todos os dias. Sua fragrância única prende minha atenção e aquele cheiro almiscarado acabou se tornando sua marca registrada, um cheiro másculo e inebriante que me tira o chão.

Seu jeito brincalhão que me cativa, seus gestos de carinho, sua preocupação com meu bem estar. Estou simplesmente apaixonada por esse homem, mas não quero dar o braço a torcer para mim mesma, para os medos... para os meus traumas.

— Sim — respondo.

Ele freia bruscamente o carro, levando os outros a buzinarem e gritarem com sua parada brusca.

— Sério? — Surpreso e assustado ele ignora as buzinas e xingamentos dos carros que desviam de nós.

— Acho melhor conversamos em outro lugar. — Faço uma careta rindo. 

Mais do que depressa ele acelera o carro e como não estamos longe do meu apartamento chegamos rápido. Samuel estaciona na primeira vaga que encontra próximo ao prédio e me observa receoso.

— Katy? — Ele suspira com olhos arregalados.

— Apesar de você ter fugido do assunto principal que é o fato de estar silencioso e preocupado eu aceito ser sua namorada. — Sorrio, e ele desvia o olhar.

— É um assunto familiar complicado. — Seu sorriso se desfaz gradativamente.

— Ok, não vamos falar sobre isso. — Seguro sua gravata, fazendo-o olhar para mim. — Só fiquei preocupada, não precisa se obrigar a contar nada, eu mais do que ninguém te entendo. — Acaricio seu rosto e sua expressão de preocupação se suaviza.

— Eu posso te beijar? — pergunta me fazendo rir, eu maneio a cabeça em concordância, pois quero muito sentir seus lábios contra os meus novamente.

Samuel envolve cuidadosamente os dedos em minha nuca e nossos lábios se encontram em beijo calmo que se intensifica a cada segundo.

Solto o cinto de segurança, o que faz Samuel avançar ainda mais em minha direção, aproveito para enroscar meus dedos nos fios macios de seus cabelos. Ele desce sua mão por meu corpo e seus dedos se fixam em minha cintura pressionando aquele local com cuidado, mas aquele ato faz todo o meu corpo tencionar e rapidamente Samuel recua quebrando o nosso beijo enquanto encosta sua testa na minha deslizando o polegar por minha bochecha.

Minha respiração se acelera e me sinto culpada por carregar as marcas de Túlio até hoje. Eu não queria, eu juro que não queria a sombra daquele homem em minha vida, mas não consigo me libertar tão facilmente das marcas gravadas em minha mente, não consigo me livrar da sensação de desespero causada por aqueles dias presa à mercê de seus desejos.

Eu não queria aquelas sensações, é claro que não queria, mas elas são mais fortes do que eu, e sei que Samuel não merece minhas recusas, mas ainda não descobri uma maneira de afastá-los de mim.

— Eu sei que você ainda esconde seus segredos e confesso que queria saber o que te causa tantos medos, mas eu prometo que vou esperar com paciência até que você me conte tudo. — Deixa um beijo na minha testa sorrindo.

— Eu sei que você irá esperar. — Acaricio seu rosto sabendo que é verdade. — Eu confio em você. — Deixo um suave beijo em seus lábios.

Samuel me observa por incontáveis segundos sem dizer nada e aproveito o momento para admirá-lo. Não canso de observá-lo e gravar os traços de seu rosto em minha mente.

— Boa noite senhor Rizzon, até amanhã. — Pisco abrindo a porta do carro pronta para sair.

Antes que eu possa colocar os pés na calçada ele segura minha mão, me puxando de volta apenas para deixar um demorado beijo em meus lábios.

— Boa noite minha belíssima menina. — Seu sorriso encantador toma conta de seu rosto, me deixando atordoada.

Despeço dele mais uma vez e saio do carro andado em direção ao prédio. Samuel só dá partida no carro quando tem certeza que estou em segurança dentro do prédio e antes de vê-lo partir aceno em despedida. 

Assim que passo pela recepção cumprimentando senhor Rodrigues, que está atrás do balcão com um sorriso no rosto.

— É bom ver você saindo um pouco Katy, esse jovem parece te amar muito e faz tempo que não vejo esse sorriso bobo em seu rosto. — Rodrigues sorrir animado.

— Cala boca Rodrigues. — Reviro os olhos caminhando até o elevador.

— Vai lá Katy, solta esse coração. — Rio com seu comentário.

— O que posso fazer se tem pessoas que chegam para arrebentar as barreiras que construímos?! — Entro no elevador rindo.

— Estava na hora. — Ele pisca para mim, reviro os olhos querendo mandá-lo a merda, mas as portas do elevador se fecham impedindo que eu extravase minha raiva.

Apesar de tudo gosto muito daquele velho barrigudo e brincalhão, o conheço desde que me mudei para cá e Rodrigues é uma das muitas pessoas que não gostava de Túlio. Ele sempre fazia questão de dizer que Túlio era um imprestável que gostava de viver as minhas custas, mas como o amor é cego acreditei que era implicância.

Antes estivesse escutado os conselhos dele e de Megan que seria bem melhor, ele não sabe de tudo o que aconteceu entre nós, mas sabe que Túlio me fez muito mal por isso me tranco do presente com medo do meu passado.

Ao sair do elevador vou direto para o meu apartamento e depois de Philipe e Adam aprendi a trancar as portar corretamente. Aqueles dois velhos fizeram muito mal a mim e principalmente a Megan, não cairia na besteira de esquecer as portas abertas novamente.

Jogo minha bolsa no sofá e sigo para o banheiro tomando um banho demorado e relaxante.

Agora sou oficialmente uma desencalhada e preciso contar esse milagre para Megan o mais rápido possível. Eu sei que ela vai surtar e me encher de perguntas, mas tenho que confessar que estou muito feliz por dar uma oportunidade a Samuel, afinal ele está sendo muito compreensível em esperar eu estar preparada para contar tudo sobre meu passado e nenhum outro foi tão paciente e compreensível como ele.

Sei que uma hora ou outra ele se cansará de esperar e terei que expor todas as minhas verdades, mas não sei dizer quando estarei pronta para abrir meu coração.

Trazer átona todo o mal que Túlio me causou era a última coisa que eu queria fazer e se pudesse viver e apagá-lo do meu futuro agradeceria aos céus.

Túlio é um mostro, uma enorme pedra no meu caminho e a única coisa que quero e simplesmente apagá-lo da minha vida de uma vez por todas. Sei que não deveria jogar esse fardo em Samuel, mas confesso que no fundo do meu coração coloco todas as esperanças da minha salvação em suas mãos mesmo ele não sabendo de nada.

Tiro esse pensamento da minha mente indo para o quarto me trocar, estou em uma nova fase da vida onde Samuel não é Túlio.

Samuel é um homem digno, maravilhoso, amoroso e carinhoso que me faz bem e a única coisa que quero nesse momento é me entregar as novas experiências que viverei com ele.

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