Capítulo 1

Katy

Diante da tela do computador, me vejo presa a perguntas que me assombram todos os dias.

O que fazer quando se não acredita no seu potencial?

O que fazer quando a vida não faz mais sentido para você?

Quando há apenas uma única pessoa que te faz seguir em frente, mas você tem medo de ser abandonada?

Eram perguntas que me enlouqueciam dia após dia e sei que preciso dar continuidade ao folder de lançamento das novas tendências para o verão, mas as feridas abertas de um passado não tão distante sagravam me jogando em um limbo de depressão.

Muitos dizem releve, esqueça e siga em frente, mas é difícil esquecer do que destruiu sua vida, e mesmo assim, com muito esforço consegui me reerguer, mesmo que parcialmente, e como válvula de escape me fechei para novas experiências, principalmente as que envolvem amor. 

 Realmente não me importo muito com o amor e depois daquela noite as coisas funcionam de uma maneira diferente, em um ritmo diferente, pois procuro o máximo me afastar e não me envolver já que o contato físico com homens me desencadeia crises de pânicos incontroláveis, mas a vida gosta de nos pregar peças e tudo o que planejamos e organizamos vira de ponta cabeça em piscar de olhos e é exatamente isso que está acontecendo na minha vida agora.

Samuel Rizzon entrou na minha vida sem permissão, apenas para virar meu mundo de pernas para o ar, e tenho que confessar que ele é o único que consegue tamanha proeza, afinal, costumo repelir todo contato masculino. Não que eu não goste de homens, apenas aprendi a me proteger das cicatrizes que o passado deixou evitando o contato exagerado com homens, mas Samuel consegue abalar meu mundo de forma surpreendente e me lembrar no nosso primeiro encontro me faz sorrir feito boba.

Seguimos para entrada do Brighton Pier e fico encantada com tudo a minha volta, todos os detalhes do parque construído sobre o mar são maravilhosos, e daqui temos uma bela vista da cidade, fora os brinquedos que chamam a atenção com suas luzes coloridas.

Na parte externa a montanha russa me chama a atenção, fora a casa de horrores que faz meus olhos brilharem.

Samuel faz uma leve careta ao ver minha empolgação para ir nos brinquedos, mas logo se anima para me acompanhar.

No interior do Brighton Pier há um grande salão com várias máquinas de jogos, meus olhos brilham diante das máquinas com ursinhos de pelúcia, mas contenho minha afobação parando em frente uma barraca de tiro ao alvo.

Não resisto ao ver que o prêmio é o unicórnio da Agnes do filme “Meu Malvado Favorito” e tenho certeza que meus olhos brilham como nunca antes, amo o filme e amo muito mais a Agnes que é maravilhosa.

A única coisa que preciso fazer é derrubar a pilha de latinhas com alguns tiros.

Samuel percebendo minha agitação paga a primeira rodada deixando que eu tente a sorte.

Acabo me empolgando e miro nas latinhas ansiosa, mas o máximo que consigo é acertar as pilhas de latas ao lado. Chateada e irritada vejo que não conseguirei ganhar o unicórnio fofinho da Agnes e desisto antes que desfalque a carteira do homem ao meu lado.

Samuel observa minhas reações atentamente, debruçado sobre a bancada, e ri ao ver minha tentativa frustrante de acertar as latas.

— Eu queria o unicórnio da Agnes. — Faço uma careta chateada.

Vendo minha tristeza ele paga mais uma rodada e se oferece a tentar. Sem muita dificuldade mira nas pilhas de baixo bombardeando as latas derrubando todas de uma única vez.

Arregalo os olhos pasma com sua atitude, boquiaberta o observo sem conseguir entender direito o que aconteceu, sua prática é surpreendente e sinceramente não esperava que ele fosse conseguir com tanta facilidade.

— Não me olhe assim, prático defesa pessoal e tiro ao alvo porque sou advogado. — Ele dá de ombros, e sorri entregando o unicórnio de pelúcia para mim.

— Achei que você fosse algum super-humano. — Rio pegando a pelúcia. —Obrigada! — agradeço constrangida, mas abraço o unicórnio animada.

Voltamos a caminhar e paramos próximo as barras de proteção admirando o mar a nossa frente, as diversas luzes coloridas que recobrem as águas deixam o local ainda mais belo e encantador.

Por um momento desvio o olhar da paisagem para observar o homem ao meu lado, que mantem as mãos nos bolsos da calça olhando fixamente para o mar, seus penetrantes olhos azuis sobre a paisagem se perdem no horizonte e seus cabelos loiros bagunçados balançam com a brisa suave me fazendo ter uma imensa vontade tocá-los.

— Se continuar olhando assim não responderei pelos meus atos Katy. — Volta sua atenção para mim, com um lindo sorriso no rosto e seus maravilhosos olhos me observam cauteloso.

Sorrio abertamente me afogando na imensidão azul que são seus olhos. E como se as outras pessoas não estivessem à nossa volta admiro seu corpo imponente e majestoso voltado para mim de forma relaxada e descontraída.

Mordo os lábios o analisando e aproximo meu corpo do seu com cautela, envolvo meus braços envolta do seu pescoço e ousada, encosto meus lábios nos dele, dando um beijo demorado subindo meus dedos por seus cabelos que a tempos eu queria sentir. 

Samuel não conhece meu passado, mas de alguma forma compreende meus limites e evita tocar meu corpo. O que agradeço, pois não sei como meu corpo reagiria se suas mãos apalpassem minha pele com segundas intenções.

— Katy o que está fazendo? — o grito de Jack me faz ter um sobressalto na cadeira, me lembrando que ainda estou no trabalho.

Apoio a mão no peito fixando meus olhos nele enquanto tento controlar minha respiração que se acelerou, tamanho o susto que levei.

— Quer me matar? — pergunto chateada, sentindo que meu coração quase sair pela boca.

— Faz cinco minutos que estou te chamando pela secretária eletrônica e você não responde, não se mexe e não dá sinal de vida, achei que estivesse morta sentada nessa cadeira. — Ele ergue uma sobrancelha com os braços cruzados no peito.

— Não é nada apenas estava concentrada demais nos orçamentos que mandou preparar — minto descaradamente olhando para a tela do computador.

— Sei. — Estreita os olhos. — Você está pensando naquele bofe que ainda não me apresentou. — Sua voz debochada me faz suspirar.

— Eu não. — Tento soar o mais natural possível, e ele nega com a cabeça rindo.

— Você nem sabe disfarçar, ele vem te buscar todos os dias. — Ri, revirando os olhos. — A dias te pego voando em seus próprios pensamentos e tenho certeza que esses pensamentos tem nome, endereço e um corpo dos deuses.

— Para de ser idiota Jack. — Reviro os olhos.

— Mais respeito sou o seu chefe. — Ele engrossa a voz me fazendo rir.

— Corta essa voz de macho alfa e volte para o trabalho, pois não vou passar a noite refazendo seus deveres para enviar ao Jean. Se você errar mais alguma planilha ele come seu fígado. — Ele faz uma careta, batendo na madeira da porta três vezes.

— Cruzes Katy, que humor ácido é esse, credo. — Ele faz o sinal da cruz. — Tá repreendido. — Acabo rindo da sua atitude.

— O que foi? Jean é um ótimo sócio só não fica muito na cidade. — Afirmo e ele faz uma careta.

-Aquele lá parece que chupa limão todos os dias, ele não tem um pingo de humor naqueles olhos castanhos quando se trata de trabalho. -Jack torce o nariz me fazendo rir.

Jack é um excelente chefe, totalmente centrado e dedicado, porém quando está com preguiça de fazer algo ele joga seu serviço sobre mim, sem contar os seus problemas amorosos. Então eu sou praticamente um cupido, uma conselheira amorosa e secretária pessoal do bonitão a minha frente.

Jack é totalmente complexo e complicado, mas é um chefe maravilhoso e simplesmente não consigo deixá-lo na mão porque ele é um dos únicos homens que amo incondicionalmente e consigo manter uma aproximação tão aberta e livre.

— Vai me dizer o nome do galã que está roubando seu coração? — Ele se encosta no batente da porta me observando.

— Não irei — afirmo rindo. — Volte para o seu trabalho. — O expulso com a mão.

— Tudo bem estou voltando para minha sala, mas você ainda vai me contar toda essa história nos mínimos detalhes. — Ele balança os ombros seguindo de volta para sua sala e eu suspiro revirando os olhos.

Tento me concentrar no trabalho, mas depois da minha conversa com Jack, Samuel tomou conta de todos os meus pensamentos, e ele não precisa de muito para desestabilizar meu mundo.

Suspiro imaginando aqueles maravilhosos olhos azuis curiosos me encarando com um belíssimo sorriso de tirar o fôlego.

Sabe aquele homem dos sonhos ou aqueles príncipes dos contos de fadas que chegam no cavalo branco com um buquê de flores lindíssimo cavalgando lentamente enquanto os cabelos balançam ao vento? Sim, Samuel é assim, mas em uma versão playboy de terno preto, conversível e olhos azuis.

Ele é tão amoroso e carinhoso que me cativa, mas meus medos fazem com que eu me distancie e nem mesmo assim ele desiste de tentar derrubar as barreiras envolta do meu coração.

É estranho dizer isso, mas simplesmente quero abraçá-lo e me sentir totalmente protegida dentro de seus braços fortes, entretanto as incertezas me jogam a realidade perante os olhos e me fazem perceber que talvez a felicidade seja algo passageiro.

O silêncio daquela pequena sala me faz ver o quão vazio é meu coração, o quanto me tranquei em um mundo paralelo e me afastei das pessoas que considero importantes.

Meus olhos focados na tela do computador apenas observavam os borrões das planilhas, e apesar de parecer totalmente focada em meu trabalho sigo no automático enquanto o meu passado obscuro pesa meus ombros sugando o pouco de felicidade que

tenta me dominar.

"Eu destruirei sua vida."

Aquelas palavras retumbam em minha mente, e por mais que tente esquecê-las sei que quem as proferiu conseguiu conclui-las com maestria. Ele não só destruiu minha vida como também a minha fé, mas se ainda me resta algo, bem no fundo do meu coração é um fiasco de esperança que se acende ao encontrar Samuel.

Não sei exatamente se posso confiar nessa pequena chama que cresce em meu peito, mas quero acreditar que sim.

Quero acreditar que tudo dará certo por mais que tudo deu errado até hoje.

Ontem me encontrei com Samuel e a única coisa que posso dizer é “ele é um homem perfeito”. Claro que todos temos defeitos, mas o defeito dele é ser perfeito e sinceramente não sei como isso é possível.

Tento concentrar minha mente no orçamento que precisava terminar, mas não consegui desligar meus pensamentos daquele homem charmoso e sedutor. Às vezes me surpreendo com os estranhos pensamentos que surgem em minha mente, mas sei que é inevitável controlá-los.

Observo o relógio e percebo que já se passou das sete da noite, finalizo o orçamento e deixo o restante para amanhã. Arrumo minhas coisas, pego minha bolsa e sigo para o elevador vendo Jack enfurnado em sua sala.

Nem um pouco surpresa com aquela cena passo pela máquina de café escolhendo um extra forte com pouco açúcar, pois sei que é exatamente assim que ele gosta.

Sigo para sua sala, e mesmo a porta estando aberta dou três toquinhos indicando que estou aqui. Seus olhos cansados e cabelos desgrenhados se voltam para mim surpresos.

Sua mesa abarrotada de papeis me indica que ele vai continuar aqui por um longo período de tempo.

— Você deveria ir descansar um pouco. — Adentro sua sala colocando a xícara de café sobre sua mesa.

Sorrindo, ele me olha sob a lente de seus óculos de descanso e segura a xícara inalando o odor do café. Com um pesado suspiro leva a xícara aos lábios tomando um pequeno gole por ainda estar quente.

— Obrigado! — Seu sorriso indica que ele está satisfeito por eu ter me lembrado dele.

Jack realmente é um menino que precisa de atenção e carinho vinte e quatro horas por dia.

— Não me ignore Jack, você também precisa descansar. — Sorrio tentando convencê-lo.

— Ainda tenho muito trabalho por aqui, vou demorar para ir embora, hoje vai ser um dia cansativo. — Ele suspira tomando seu café.

— Não vou discutir, mas você sabe que deveria se cuidar mais. — Arrumo a bolsa sobre o ombro.

— Eu sei. — Ele faz uma careta. — Não precisa se preocupar comigo, vá logo ao encontro do seu bofe secreto. — Ele revira os olhos, depositando a xicara sobre a mesa com certa força.

Começo a rir ao ver seu jeito e ele me observa com uma sobrancelha arqueada.

— Fica cheia de segredos, me esconde toda a verdade e ainda ri de mim? — Cruza os braços abismado.

— Aprendi com você gato. — Dou uma piscadinha para ele andando até a porta.

— Deus, onde esse mundo vai parar? — Ele finge ofensa.

— Vai embora logo Jack, depois você reclama que George briga com você, mas você dá mais atenção ao trabalho do que ao seu namorado — o repreendo, e ele revira os olhos.

— Eu sei, eu sei, prometo que irei daqui a pouco. — Ele pisca rindo, e eu nego com a cabeça sabendo que ele não tem jeito.

Sigo para o térreo de elevador e me despeço do guarda que fica de plantão todas as noites, quando passo por ele desejo um boa noite. Educadamente ele responde me desejando o mesmo.

Saio a procura do primeiro táxi que posso encontrar, mas sou surpreendida por uma Bugatti Veyron vermelha e preta estacionada em frente ao prédio, nada discreto e muito menos humilde.

Com a sobrancelha arqueada me aproximo do veículo vendo Samuel com as mãos apoiadas no volante. Pigarreio ao lado da janela aberta e seus lindos olhos azuis se voltam para mim com um sorriso no rosto. 

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