Depois de muito analisar a porta de entrada finalmente aperto a campainha esperando alguém atender.
Samuel aparece na porta sem camisa, com os cabelos bagunçados, olhos vermelhos e inchados com uma expressão emburrada.
Ao me ver, abre um lindo sorrir esfregando uma mão no olho.
— Minha linda menina. — Antes que eu possa dizer algo Samuel envolve seus braços envolta da minha cintura em um abraço apertado esfregando o rosto em meu pescoço me enviando um arrepio de medo por todo o corpo.
Procuro não demonstrar a aflição que percorre meu corpo me forçando a aceitar seu toque e retribuo seu abraço com carinho, mas logo me desvencilho de seu aperto sem que ele perceba minha aversão por contatos tão diretos e íntimos.
Com ele meus medos são quase nulos, mas contatos muito diretos me afligem um pouco.
— O que aconteceu com você Sam? — pergunto preocupada. — Não atendeu minhas ligações o dia todo.
— Entre. — Ele abre passagem para mim.
Entro em sua casa e me surpreendo com a decoração, é tudo tão rústico e sério, tudo tão parecido com ele.
O chão de cimento queimado cinza combina com um par de sofá de couro preto no centro da sala, uma enorme televisão se destaca na parede de tijolos vermelha e a mesinha de centro contém alguns livros espalhados. No canto uma estante escura reserva vários livros de advocacia e alguns romances conhecido, me surpreendo com o violão encostado ao lado do sofá, esquecido naquele espaço, alguns vasos de flores quebram a seriedade do local e uma cortina branca esconde a grande janela de vidro que dá para o jardim da entrada. Sorrio ao ver o quão organizado ele era.
— Eu não queria te atrapalhar. — Encolho os ombros envergonha. — Mas estava preocupada.
Ainda em silêncio ele fica parado ao lado da porta de entrada me encarando por longos e pesados segundos. Seus olhos vermelhos e cansados não estão normais e isso só me preocupa ainda mais.
— Você está bem? — Caminho em sua direção passando a mão por sua face e ele fecha os olhos se entregando ao meu contado.
— Na verdade não. — Sua voz magoada faz meu peito se apertar.
— O que está acontecendo? — questiono na tentativa de ajudá-lo.
— Sente-se por favor. — Ele indica o sofá e sigo até lá me sentando.
Samuel pega uma camiseta que estava sobre a poltrona e somente agora foco minha atenção em seu corpo. Mordo os lábios ao analisar todos os seus músculos bem definidos e encaro seu abdômen bem malhado que exibe todos os quadradinhos em perfeito estado, mais do que deveria. Ele coloca a camiseta quebrando meus pensamentos e percebo que estou mordendo os lábios ao ver tamanha beleza em um só corpo.
Como ele consegue ser tão lindos? Eu também não sei, mas é um pecado tamanha beleza reunida em um só homem.
Samuel com certeza passou na fila da perfeição milhares de vezes.
Ele se senta ao meu lado pensativo e isso me deixa apreensiva.
— Você não está feliz com nosso relacionamento? — acabo perguntando preocupada.
— Não. — Ele sorri negando. — Ter você ao meu lado é tudo o que sempre quis Katy, nunca duvide disso por favor — ele afirma, segurando minha mão com carinho.
— Eu nunca duvidei, só estou preocupada com você. Ultimamente você está distante e tão quieto. Você nunca ignorou uma ligação minha antes e hoje, bom, você nem respondeu minhas mensagens. — Encolho os ombros não querendo ser invasiva.
— Peço perdão por preocupar você, eu estava tão irritado e frustrado, não queria correr o risco de descontar essa frustração em você. — Seu dedo toca suavemente minha bochecha levando alguns fios de cabelos soltar atrás da minha orelha. — Eu não sei como começar a contar, não sei como expor o que está acontecendo.
— Eu sei como é difícil colocarmos nossos medos para fora, mas isso está te machucando Sam. — Apoio minha mão sobre a sua e ele desvia o olhar para nossas mãos.
— Eu não queria me envolver novamente, não queria ter que mexer no passado Katy. Meu pai. — Ele sorri com ironia. — Tudo isso é culpa dele.
— Você não se dá bem com seus familiares? — pergunto surpresa, e ele nega abalado.
— Minha mãe está morrendo. — Solta aquelas pesadas palavras me pegando desprevenida.
Arregalo os olhos o observando sem saber ao certo o que dizer e como ajudar em um momento tão complicado e complexo.
— O Sam... você foi visitá-la hoje? — Aperto sua mão vendo a dor explicita em seus olhos.
— Não posso visitá-la. — Ele engole em seco e mesmo que tente segurar as lágrimas algumas rolam por sua face.
Meu peito se aperta e deslizo a mão por seu rosto enxugando suas lágrimas com o polegar.
— Por que não?
— Porque meu pai não me aceita mais como filho Katy. Sempre evitei falar da minha família porque na verdade não tenho uma família, sou sozinho. — Seus olhos azuis mostram toda a dor que ele guarda dentro do peito.
Comovida com sua história já me sinto pronta para cravar uma imensa batalha contra o velho que Samuel chama de pai.
— Nós vamos visitar sua mãe — digo certa de que ele verá a mãe.
Surpreso me encara sem palavras.
— O que foi? — Olho para ele sem entender o porquê está me encarando tão surpreso.
— Você não entende Katy. — Ele sorri fazendo com que eu abaixe minha guarda. — Enfrentar meu pai não é tão simples como parece. Eu fiz minhas escolhas e hoje elas pesam sobre mim.
— Sam, eu entendo que você fez suas escolhas, na verdade, não sei o que te levou a isso ou porque seu pai não te aceita mais como filho, mas sua mãe está partindo e você precisa se despedir dela. Você está sofrendo e sente falta dela, se não for visitá-la agora levará essa culpa e essa dor para o resto da sua vida.
— Meu pai é Bennett Hugh, Katy.
Olho para ele boquiaberta sem acreditar no que estou ouvindo e não consigo conter a surpresa e susto ao ouvir aquilo.
— Você é um Hugh? Da corporação de entendimento, jogos e tudo mais? — Sinto meu sangue se esvair ao descobrir isso.
— Risquei esse nome da minha vida e agora só levo o da minha mãe, então sou um Rizzon — diz convicto.
— Meu Deus. — Levo a mão a testa processando aquela informação. — Você é filho legítimo de Bennett Hugh. — Não consigo conter meu desespero e surpresa.
É impossível.
Como? Como Samuel poderia ser filho de um dos maiores homens do mundo. Porque dizer do país seria humildade demais, afinal tudo que envolve os mais novos e impressionantes gráficos digitais sai daquela corporação.
— Eu não queria te assustar. — Ele passa as mãos pelos cabelos demonstrando nervosismo e culpa. –Mas na verdade, legalmente eu sou o herdeiro de Bennett.
Assinto ainda tentando processar aquela informação absurda e ele me joga outra bomba sem nem ao menos esperar meu coração se recuperar da primeira.
— Eu avisei que era complicado. — Ele encolhe os ombros olhando para baixo.
— Sam é impossível não ficar supressa ao saber que você é filho e herdeiro de Bennett Hugh, mas ele não pode te impedir de visitar sua mãe que está doente — afirmo.
— Ele necessariamente não está impedindo que eu vá no hospital, não sou bem vindo em casa e a tantos anos não visito meus pais que perdi as contas. Eu simplesmente não quero encontrá-lo novamente Katy, ele me humilhou tanto no passado e vê-lo outra vez só irá gerar brigas e discórdia, mas minha mãe não merece tudo isso — diz visivelmente cansado.
— Explique o que aconteceu por favor — peço, tentando entender aquela história. — Quero entender porque você não é bem vinda em sua casa, afinal, você é um homem honrado, que lutou arduamente para chegar onde está, não vejo erros ou problemas com você — falo com sinceridade.
— Eu sou o primogênito e herdeiro dos Hugh, mas nunca quis assumir o lugar do meu pai, desde pequeno meu sonho era ser advogado, nunca gostei da administração e o cargo de chefe, isso nunca me atraiu, mas como eu disse sou o filho mais velho, o filho que herdaria todo o império Hugh e Bennett não aceitou a profissão que escolhi, eu seria administrador ou não faria parte do seu império, e bom, como pode ver escolhi a advocacia e meu pai escolheu me abandonar, ele me deixou sozinho para seguir minha vida sem nenhuma ajuda e assim eu fiz. — Ele faz uma breve pausa.Vejo que para ele contar tudo isso é difícil, e com muito pesar ele abre seu coração deixando seus medos e seus fantasmas expostos.— Ele cortou todos os meus benefícios, mesada e dinheiro extra. Minha mãe vendo aquilo não aceitava que ele tratasse um de seus filhos daquela maneira, mas ele
Dias depois...Acordo cedo me preparando psicologicamente para enfrentar Bennett Hugh, melhor fosse que esse homem mal caráter não estivesse por lá, mas temos que nos preparar para tudo, então estou mentalizando um mantra do bem para que tudo dê certo.Sabe quando você tem aquela estranha sensação de que tudo vai vir por água abaixo e de que você vai tocar o terror quando deve ser a dama bem vestida e educada?É exatamente assim que me sinto ao imaginar enfrentar de frente um Hugh.Claro que pouco me importo se ele vai gostar ou não quando eu falar umas belas verdades em sua cara, mas é aí que está o problema. Tenho que me segurar não por mim ou pelo fato dele ser um dos homens mais influentes do mundo dos negócios, conhecido por sua inteligência imbatível e seu mal humor diá
SamuelEncontrar minha mãe tão debilitada sobre uma cama foi um choque tremendo, mas sentir seus toques e todo o seu amor fez meu coração se encher de felicidade.— Mãe eu senti sua falta — digo deixando que as lágrimas rolem pelo meu rosto, sem vergonha de demonstrar meus sentimentos para ela.— Meu menino eu queria tanto te ver. — Ela passa os dedos nos meus cabelos, os penteando para trás em vão. –Eu senti tanto sua falta meu garotinho.Beijo todo seu rosto, sentindo seu cheiro e vendo que a abraçar e tocá-la é real que eu não estou sonhando.Apesar de estar muito magra e cansada ela está linda como sempre. Seu sorriso encantador está presente em seu rosto.— O meu menino eu acompanhei seu crescimento ano após ano estou tão orgulhosa de você.—
KatyConhecer a mãe de Samuel foi muito gratificante. Ela é uma mulher incrível e maravilhosa, mas infelizmente não posso dizer o mesmo do seu segundo filho e do seu marido. Sabe, agradeço por Samuel ter puxado tanto para ela e não ao pai.Essa Mary que acabei descobrindo por acaso não me agrada, por mais que eu saiba que ela faz parte do passado de Samuel não deixo de ter ciúmes.É claro que não vou brigar ou criar caso com ele por uma mulher que nem aqui está, mas isso não me impede de invejá-la por tê-lo conhecido primeiro.Se no lugar de Túlio, Samuel tivesse entrado em minha vida, as coisas hoje seriam completamente diferentes, mas acredito que tudo na vida tem seu tempo.Depois que saímos do hospital acreditei que iriamos embora, mas Samuel me levou para um dos hot&ea
— Oh meu Deus. — Passos as mãos no rosto. — O que eu faço. — Entro em desespero sem saber como apartar os dois.Descontente Samuel avança para cima de Jack e antes que ele conclua seu ato corro em direção aos dois gritando.— Parem. — Me jogo entre os dois segurando o braço de Samuel que recua um pouco para não me acertar.— Saia Katy eu vou acabar com esse maluco. — Samuel arma mais um soco, eu apoio as mãos em seu peito o empurrando em defesa a Jack, que está atordoado demais para conseguir revidar.— Não Sam, ele é o meu chefe. — falo em desespero entre os dois, mas me sinto uma pluma em meio a uma manada de elefantes.— Porra. — Samuel se afasta com irritação. — Por que seu chefe está trancado de cueca dentro do seu apartamento? — Ele passa as mãos pelos cabe
KatyMais uma noite mal dormida por conta dos dois homens que me deixam maluca, mesmo dormindo no meu quarto não consigo me sentir bem ao saber que os dois estão na sala ao lado.Apesar de muito rolar de um lado para o outro consegui cochilar um pouco, mas a olheira envolta dos meus olhos é evidente. Obviamente não culpo nenhum dos dois pelos meus traumas, mas é difícil relaxar.Jack é apaixonado por George, mas infelizmente ele não sente o mesmo, às vezes me sinto culpada por ter colaborado com o início desse relacionamento. Já Samuel tem se mostrado ciumento e depois de conhecer seu irmão ele está ainda mais preocupado do que o normal.Samuel é superprotetor e não adianta tentar convencê-lo do contrário, depois do que aconteceu com Philipe e Adam, ele faz questão de manter minha segu
KatyCom algumas batidinhas na porta entro sem sua autorização já que ele não me responderia mesmo. Conheço muito bem meu amigo e chefe.— Jack você é um homem de 37 anos, lindo, charmoso e um empresário muito bem sucedido, levanta dessa cadeira, vai comer algo e melhora essa cara por favor. — Cruzo os braços encarando-o preocupada.— Não estou com fome, obrigado. — Mexe em alguns papéis e volta sua atenção ao computador me ignorando.— Você não vai ganhar nada se jogando no serviço. — Suspiro observando-o.— Katy, eu apenas não estou com fome. — Posso ver a tristeza por trás dos seus lindos olhos verdes.— Você precisa recuperar sua casa isso sim. — Sento na poltrona a sua frente, vejo ele faz uma careta.— É eu
Todo o meu corpo treme, as lembranças de Túlio preenchem minha mente me fazendo recuar.Samuel fica paralisado no meio da sala e o desespero toma conta de mim, não consigo segurar o aperto dentro do meu peito, o nó que se forma em minha garganta e os tremores que dominam todo o meu corpo.Queria adiar esse momento e essa conversa, não queria que ele soubesse da verdade. Não quero que ele vá embora, mas ao mesmo tempo quero ficar sozinha, apenas me encolher na cama e chorar todas as minhas dores em silêncio.No meu silêncio.— Era exatamente isso que eu queria saber Katy. — Sua expressão não é de surpresa.— Vai embora por favor. — Uma forte dor se instala em meu peito, como se meu coração estivesse sendo arrancando de dentro dele. Apoio a mão no rosto contendo os gritos de desespero que querem ecoar de minha garganta. &mdas