—Andria, você conseguiu o contrato com a empresa de medicamentos? —minha “supervisora” que na verdade é outra funcionária que acha que pode cobrar dos outros porque trepa com o patrão, veio me perguntar.
—Com a Medhappy? Sim, consegui. —respondi sem muita animação.—Hum.. que bom. —ela respondeu, completamente falsa e manipuladora.—Por quê? Você achou que eu não fosse conseguir? —perguntei de forma irônica e direta.—Claro, eu conheço um talento quando vejo um, não reconheci nada em você. —ela disse.—Oh não, querida, você só reconhece aquelas que fodem com o chefe para conseguir promoções. —debochei.—O que está querendo dizer? —ela perguntou irritada.—Querendo não, estou dizendo. —enfatizei.Eu Karine nos odiamos logo que nos conhecemos, ela é insuportável e acha que um dia vai ser chefe disso, porque na cabeça dela, o chefe vai pedi-la em casamento qualquer dia desses. Muito humilde da parte dela.—Você é apenas mais uma estrangeira tentando tomar o nosso lugar. —ela falou.Eu a encarei com o rosto o mais debochado que consegui e falei:—Tomando o seu lugar? Como eu disse, eu estudei para estar aqui, não precisei dormir com ninguém. E outra, se vocês fossem tão bons, não precisariam de pessoas como eu.Eu trabalhei o mês passado inteiro no contrato da Medhappy, eles precisavam de anúncios e propagandas que conseguisse transmitir o que eles querem. Uma empresa séria que vende medicamentos e deixa o paciente além de saudável e curado, feliz. Eu estou ansiosa para conhecer mais do lugar onde vou viver, preciso dizer que me sinto animada em ter conseguido alugar esse apartamento. A senhorinha, dona Marieta, disse que eu posso fazer qualquer mudança que quiser, desde que eu avise com antecedência.Ainda não recebi nenhuma ligação de Thiago, pelo contrário, acho que ele até me bloqueou de seus contatos, mas é isso, nenhum de nós queria assumir que aquele noivado não iria pra frente.Em meu horário de almoço, dava tempo de ir em casa, mas preferi comer em algum restaurante do quarteirão, eles são caros, mas como eu disse, vida nova, hábitos novos, não vai me matar se eu comer em um restaurante legal pelo menos uma vez.Saí da sala ouvindo a voz irritante de Karine, dando graças a Deus pelo horário de almoço. A empresa onde trabalho fica no vigésimo andar em um prédio de vinte e cinco andares. Todos os andares são ocupados por empresas, o último andar é onde fica o dono do prédio, que também é dono de uma construtora com várias filiais pelo estado.O elevador está vazio e eu fico feliz por isso, odeio aquele aperto de várias pessoas juntas ao mesmo tempo. Quando ele ia fechar, uma mão grande entra no meio entre as duas portas e elas voltam a se abrir.—Bom dia! —eu falei hipnotizada.—Bom dia! —ele respondeu seco e entrou.Foi de forma despretensiosa, eu olhei para a pessoa e tenho certeza que foi o homem mais atraente que eu já vi na vida, cabelos castanhos, com alguns fios brancos, olhos castanhos e muito intensos, eu perdi até a noção de onde eu estava indo, tenho a sensação de que já o vi antes. Ele fez uma manobra com a língua, umedecendo os lábios e eu captei tudo. Quando ele virou o rosto para me encarar, eu apenas desviei e olhei para o chão. Depois de alguns segundos, ouvi sua voz grossa e rouca dizer:—Você não vai a lugar nenhum?Eu o encarei de forma totalmente patética, balancei a cabeça em afirmação e ele apontou para o painel. Claro, eu não tinha apertado nenhum botão.—Ah, claro. —eu dei um sorriso nervoso e apertei o térreo.Não dissemos mais nada, quando o elevador chegou ao meu destino, eu senti que minhas pernas iam desabar, mas consegui sair na frente dele, eu não tive coragem de olhar para trás, mas pude sentir sua presença.Quando eu saí fora do prédio e me misturei com as pessoas que passavam pela rua, respirei fundo e olhei para trás, ele não estava mais. Balancei a cabeça e tratei de esquecer esse surto de agora.Um restaurante de comida italiana foi o escolhido, entrei e fiz o pedido, eu nunca havia provado vinho, mas decidi que seria deprimente demais experimentar sozinha pela primeira vez. Quando houver uma boa companhia eu terei a oportunidade.Meu telefone tocou e eu prontamente atendi, sem olhar o visor.—Alô—Andria, como você está? conseguiu a mudança? —minha mãe perguntou do outro lado da linha.—Oh, sim, mãe. Consegui. —mudei de idioma e recebi alguns olhares, apenas curiosos.—Ótimo, não deixe de me ligar, seu pai ficou preocupado. —ela comentou.—Tudo bem, desculpe, eu os avisarei de agora em diante.Entre uma conversa animada com minha mãe, meu prato foi servido e eu tive que desligar, me concentrei apenas na comida, um macarrão com molho de frutos do mar, eu comi bem devagar porque sei que isso irrita muito minha querida colega Karine.Como imaginei, o prato custou uma fortuna, mas não me senti mal, pelo contrário, foi uma ótima experiência.Ao voltar para a empresa, recebi outra ligação, mas por sorte olhei o visor, Karine já me ligava, certamente para perguntar se eu ainda voltaria a empresa, uma forma de dizer que eu tinha trabalho a fazer.Eu não atendi, quero ver sua cara de raiva em cima de mim, nossa rivalidade faz valer a pena o emprego. Eu estava olhando algumas coisas em meu telefone, algumas fotos que minha mãe me enviou, meus irmãos foram passar o fim de semana com ela. Enviei uma mensagem de voz, em português enquanto o elevador subia.Voltei a sentir aquela presença, meu corpo enrijeceu e o elevador estava tão silencioso que eu pude ouvir uma respiração pesada.Quando as portas abriram, eu dei uma olhada apenas para confirmar, um par de olhos castanhos estavam me fitando, uma expressão indecifrável, uma que eu nunca tinha visto antes, virei o rosto para o chão novamente e me afastei.Nem a voz de hiena de Karine foi capaz de causar algo em mim, passei o resto da tarde trabalhando, vez ou outra lembrando das feições daquele homem.Ir para casa andando foi uma das melhores coisas que pude ter ao alugar aquele apartamento, pude ir no meu ritmo, presa em meus pensamentos.Quando cheguei, fui direto tomar um banho, estava anoitecendo e eu queria aproveitar o máximo de tempo antes de dormir, talvez ver um filme, ler um livro.O quarto é espaçoso, há uma parede toda de vidro, a que fica de frente para outra da mesma no prédio da frente, como eu ainda não vi ninguém lá, deixei a cortina aberta apenas nas laterais e fui tomar banho.Minhas pernas voltaram a doer, ao me lembrar daquele homem, aquele olhar, suas mãos grandes e bem cuidadas, mudei do jato quente para o frio, para forçar minha mente a pensar em algo real e concreto, e não em uma pessoa que talvez eu não verei nunca mais.Duas semanas se passaram e eu não vi aquele estranho de novo, mas pelo menos recebi uma promoção, agora eu passei a ser tudo aquilo que minha colega Karine queria, supervisora da equipe de propagandas. Meu chefe disse que eu estava muito empenhada e depois do contrato com a MedHappy, eu ganhei uma certa credibilidade. Foi um contrato bastante lucrativo para nós e para eles. -Como conseguiu? –Ouvi a voz da Hiena perto de mim. -Trabalhando. –respondi sorrindo. -Estranho, você foi a ultima da equipe a entrar aqui e já recebeu uma promoção. —ela vez questão de soltar seu veneno. —Não acho que seja estranho, existem várias formas de chamar atenção no trabalho, além de transar com o chefe. —eu alfinetei.Ouvi uma série de suspiros, risadas baixinhas e alguns "boa". —Está insinuando alguma coisa? —ela perguntou novamente fingindo estar ofendida. —Insinuando não, estou dizendo a verdade. —Escuta aqui, sua mendiga de quinta, eu... —Está chamando a mim de mendiga? Logo você que vende seu
A noite passada com certeza foi a pior da minha vida, acordei diversas vezes à noite, em outros momentos eu sonhava, eu até podia sentir o que aquela estranha estava sentindo, a sensação quente, o suor gelado descendo pela linha da coluna. Estou parecendo um zumbi, olhos baixos, ombros caídos, a sensação é de exaustão e sono, mas não posso dormir, porque eu posso sonhar novamente com aquelas cenas e meu estado só vai piorar. —Até o mês que vem, você vai trabalhar na campanha daquela empresa de cosméticos, certo? —O senhor Hilton me perguntou agora que estou na sala dele. —Se o senhor quiser, claro. —eu respondi. —Não quero, eu preciso de você lá, você é a mais criativa, sei que vai elevar ainda mais o nome da empresa. — ele disse e sorriu. —Andria, com o aumento de cargo, também vem o aumento de salário, esse mês já vem tudo certinho. O senhor Hilton tem vários defeitos, inclusive o de dormir com funcionárias, mas desonestidade não é um defeito dele. —Obrigada senhor, darei o meu
Acordei com a certeza de que começar a frequentar a academia do prédio seria uma boa solução, vou ficar cansada e depois de um dia inteiro de trabalho, vou chegar em casa e apenas dormir, sem ter tempo de olhar a janela alheia. Mas não é tão fácil assim, antes mesmo de ir trabalhar eu já estou toda quebrada, acho que peguei pesado demais. Por coincidência, Andrew estava chegando no mesmo momento e entramos no elevador juntos. —Bom dia—Bom dia, Andria. Animada para mais um dia? —ele brincou. —Eu estava, mas acabei tendo a péssima ideia de fazer exercício antes de vir, estou toda moída. —Ah, isso faz bem para a saúde, você se acostuma. —ele comentou enquanto subimos de andar. Dei uma rápida espiada em Andrew, braços definidos, mas suas roupas não são muito justas, ele parece mesmo alguém que cuida da aparência. Antes que eu pudesse pisar o pé para fora do elevador, meu telefone toca, pelo visor vejo que é minha mãe. —Mãe, bom dia. —Bom dia, se não ligo para você, você simplesme
O dia estava nublado e cinzento, acordei com uma dor de cabeça pequena, ainda no começo, mas que já me deixava muito desconfortável, peguei um remédio na mesinha de cabaceira e bebi um pouco de água para ajudar a descer. Meus olhos teimaram em ficar fechados, está muito frio, mas não consigo sair para trabalhar sem tomar um banho. Por isso, me arrastei até o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto na água fria e tomei um banho para despertar. Acabei esquecendo completamente do motivo de minha cortina estar fechada e as abri, para deixar o pouco de luz que tinha entrar. Dei de cara com o quarto do apartamento da frente, mas não foi isso que me chamou atenção. Parado, de frente para a minha janela, estava ele, o homem que me olha de forma intensa, prestes a me devorar até o último pedaço. Estava vestido com uma calça social, sem blusa ainda, tinha uma xícara de café ou chá na mão, estava com o antebraço encostado no vidro e a cabeça apoiada nele. Quando eu ia fechar a cortina, e
Felizmente o final de semana chegou e eu posso aproveitar para espairecer a minha mente, cada vez que eu penso sobre aquele homem do trabalho e meu vizinho de janela, alguma coisa não bate, alguma coisa está errada. O senhor Hilton me pediu que adiantasse o contrato com a O.J Eng. ele disse que o CEO e dono da empresa solicitou que o prazo fosse adiantado, eu aceitei, já que até recebi uma parte do pagamento. Apesar de ser sábado, tirei o dia inteiro para fazer compras, limpar o apartamento e de vez em quando, dar uma espiada na janela do meu vizinho, mas a cortina está fechada. Logo após o almoço, Andrew me ligou, eu fiquei surpresa com isso, pois não acho que nossa relação esteja nesse patamar.—Andria —Oi, Andrew. Ultimamente ele fez diversas brincadeiras sobre como nossos nomes se parecem, vez ou outra fazendo alguma insinuação amorosa, eu não ligo de brincar, mas esse tipo de coisa não me deixa confortável. Entrei no quarto para pegar meu cartão, o entregador de pizza dever
O.J Estou obcecado por Andria Alencar, uma brasileira que trabalha alguns andares abaixo e coincidentemente vive em um apartamento de frente para o meu, eu não vivo lá, é um apartamento de refúgio, onde eu vou para beber e foder em paz, sem contaminar a minha casa.Mas, com ela tudo é diferente, Andria me pegou transando com uma mulher e ao contrário do que eu imaginei, ela não fugiu, eu não fechei a cortina e ela assistiu tudo. Não foi assim que eu imaginei a minha vida aos trinta e oito anos, viúvo, podre de rico, vivendo a vida como um solitário de merda. A falta da minha falecida esposa acabou comigo nos primeiros anos, mas depois eu acostumei a viver com sensação de vazio. O que me incomoda tanto na vizinha é que eu esqueço de tudo quando estou perto dela, é uma sensação que eu nunca senti, nem no meu casamento, eu simplesmente a vejo e meu sangue parece ferver nas veias, ela tem um cheiro afrodisíaco que me deixa duro e imaginando todo tipo de perversão. —Senhor, a reunião c
Meu atual cliente e chefe. O homem na minha janela e o estranho do elevador são a mesma pessoa e ainda por cima é o dono da empresa que atualmente estou prestando meus serviços. Ele continua com aquela aura de intocável e misterioso, sempre contido, voz grossa e rouca, ele tem a mania de entrar no elevador comigo e cheirar perto do meu pescoço, é uma atitude suja e muito suspeita que me deixa quente e suando frio. O senhor O.J é implacável em suas decisões, ele nunca volta atrás naquilo que decide. Eu já apresentei duas propostas e ele não gostou de nenhuma. —Se o senhor me disser exatamente aquilo que gostaria, facilitaria muito o processo. —eu disse no meio de uma reunião. —Mas então você não seria necessária. —ele rebateu. Eu tive que respirar fundo, eu simplesmente o odeio quando estamos na empresa, diferente de quando estamos em casa que ele me faz gozar somente ao me observar. —Ok, pensarei em outra proposta e amanhã eu apresento. —respondi. Ele apenas acenou e deu contin
Antes de ir trabalhar na manhã seguinte eu precisei de um ritual de muita coragem, passei quase meia hora no espelho dizendo a mim mesma que eles são duas pessoas diferentes, um é meu chefe e o outro é o homem que me fez usar um vibrador e gozar para ele na noite passada. Aqueles olhos sombrios e aquele sorriso sacana que ele me deu assim que eu caí na cama depois de ter dado a ele um show completo, vai ficar na minha cabeça por muito tempo. Ele deixou cair a toalha e eu pude ver o tamanho dele, pela primeira vez ele também me mostrou algo, nosso jogo subiu a um patamar diferente hoje, está tudo muito intenso, minha sanidade está indo junto com a água do banheiro quando eu me lavo, pelo ralo. Eu sempre fecho a cortina depois do que fazemos, mas na noite passada eu deixei aberta, então dormimos de frente um pro outro, de forma que ele me viu também esta manhã. Acabei descobrindo que este apartamento não é a residência principal dele, mas não fui perguntar os motivos, não é da minha