Capítulo 04

A noite passada com certeza foi a pior da minha vida, acordei diversas vezes à noite, em outros momentos eu sonhava, eu até podia sentir o que aquela estranha estava sentindo, a sensação quente, o suor gelado descendo pela linha da coluna.

Estou parecendo um zumbi, olhos baixos, ombros caídos, a sensação é de exaustão e sono, mas não posso dormir, porque eu posso sonhar novamente com aquelas cenas e meu estado só vai piorar.

—Até o mês que vem, você vai trabalhar na campanha daquela empresa de cosméticos, certo? —O senhor Hilton me perguntou agora que estou na sala dele.

—Se o senhor quiser, claro. —eu respondi.

—Não quero, eu preciso de você lá, você é a mais criativa, sei que vai elevar ainda mais o nome da empresa. — ele disse e sorriu. —Andria, com o aumento de cargo, também vem o aumento de salário, esse mês já vem tudo certinho.

O senhor Hilton tem vários defeitos, inclusive o de dormir com funcionárias, mas desonestidade não é um defeito dele.

—Obrigada senhor, darei o meu melhor. —eu respondi.

Passei a manhã inteira na sala de marketing com meus colegas debatendo sobre a melhor forma de divulgar uma empresa que é relativamente nova no mercado da beleza.

—Podemos chamar uma atriz, as pessoas vão associar o rosto dela à marca. —Um dos rapazes, Andrew, que trabalha com isso deu a ideia.

—Sim, mas uma atriz famosa pode custar caro e a empresa é nova, o orçamento é limitado. —Comentei.

—E se for uma jovem atriz? Alguém que está começando agora? Seria bom para os dois lados. —ele rebateu.

—Então, comecem a ir atrás de uma, amanhã me tragam uma lista de possíveis mulheres atrativas e não tão caras. —comentei brincando, o resto do pessoal sorriu e nós demos continuidade ao trabalho.

Quando eu ia saindo, Andrew me chamou.

—Vamos almoçar em um restaurante de comida asiática aqui perto, você vem?

Comida asiática não é muito a minha praia, acho que só provei umas duas vezes na vida, acho que meu rosto denunciou meus pensamentos pois ele riu.

—Mas lá também faz o que você pedir.

Olhei no relógio e realmente já estava na minha hora de almoço, decidi aceitar.

—Muito bem, vamos.

A equipe estava animada, tagarelando vários nomes de mulheres que eles achavam potencialmente bonitas para esse trabalho.

Eu não era muito enturmada com eles porque eu trabalhava com outro pessoal, Andrew diminuiu o ritmo para que eu ficasse junto de todos e puxou assunto.

—Eles estavam ansiosos para trabalhar com você.

Eu o encarei por alguns segundos e ele abriu um sorriso, covinhas bonitas se formaram e seus olhos pareciam brilhantes.

—Por que? —questionei.

—Hilton fala muito bem de você. —ele disse.

Eu levantei a sobrancelha curiosa.

—Hilton? e não Sr.?

—Eu sou amigo dele, um amigo jovem. —ele brincou.

Fomos conversando confortavelmente até o restaurante que fica do outro lado da rua, encontramos uma mesa grande e nós sentamos todos juntos.

—Andria, você é casada?

—Você tem filhos?

Eles me bombardearam com uma enxurrada de perguntas.

—Calma, gente, não sejam indiscretos. —Andrew respondeu.

—Desculpe —Os três disseram juntos.

—Não, está tudo bem, eu não sou casada e nem tenho filhos, terminei um noivado há um mês atrás, mais ou menos. —comentei.

—Dificil de acreditar, você é tão bonita. —a única mulher da equipe, Nikki, me disse.

Ela é uma dessas jovens mulheres que amam cultura nerd, usa bastante roupas temáticas de seus animes preferidos, cabelo longo e franjinha, ela é uma fofa.

—Obrigada, você também é, Nikki.—sorri. —Mas é verdade, ele não acostumou com meu amor pelo trabalho. Ou achou alguém melhor.

Comentei sorrindo e todo mundo gargalhou.

—Vai ser um grande esforço, encontrar alguém melhor. Pelo menos, fisicamente falando. —Andrew comentou.

O resto do pessoal se perdeu em uma conversa e eu passei um tempo encarando-o antes de agradecer.

—Obrigada, mas sou uma pessoa comum de beleza comum.

—Para ser incrivelmente atraente não precisa ser incrivelmente linda. —ele respondeu.

—Você é casado? —perguntei.

—Não, divorciado há um ano.

Balancei a cabeça em afirmação e me juntei a conversa dos demais.

Em algum momento quando eu estava comendo, senti um formigamento nas costas, olhei ao redor e não encontrei nada demais, concluí que ainda era o efeito do dia anterior.

Andrew se ofereceu para pagar a comida de todos, como um presente de boas vindas para mim. Comecei a reparar melhor em seus traços, ele é um homem bonito.

Quando saímos da mesa para sair do local, eu virei as costas e foi então que eu entendi o motivo de ter sentido o formigamento um pouco antes.

O homem do elevador estava ali, conversando com mais dois homens, uma mulher estava sentada ao seu lado e meu olhar também caiu sobre ela, usava um vestido justo, salto, sua mão estava solta no braço da cadeira, quase tocando o braço do homem.

Franzi a testa estranhando meus pensamentos, eu já vi esse homem além do elevador, mas não consigo decidir de onde, me senti estranha ao ver uma mulher tão perto dele, mas imagino que seja sua esposa ou namorada, pela forma que ela sorri para ele.

—Vamos? —Andrew tocou em meu ombro e me empurrou gentilmente para a frente.

Antes de estar exatamente ao lado deles, o homem levou um copo de bebida a boca e foi então que ele fez contato visual comigo, antes do líquido tocar seus lábios, ele fez uma pausa de alguns segundos, enquanto me olhava.

Os pelos do meu corpo se arrepiaram e eu tive que me forçar a desviar o olhar, eu tenho certeza que o conheço de algum lugar.

Quando saí porta a fora, percebi que estava prendendo a respiração, minhas mãos estavam suadas e o formigamento nas costas havia voltado.

—Você está bem? —Andrew perguntou.

—Oh, sim. Vamos

Voltei para a empresa mais confusa do que ao chegar esta manhã, para me livrar desses pensamentos estranhos, Karine me atormentou a tarde inteira, eu até agradeço por isso, por desfocar minha mente daquele homem.

Ao chegar em casa, a noite, eu demorei a ir direto ao quarto, jantei antes mesmo de tomar banho, apenas passei o tempo que podia na sala, preocupada com o que veria pela janela. Finalmente criei coragem de entrar no quarto e acendi apenas o abajur.

A cortina da frente estava fechada, mas minha mente não decidiu se fica triste ou feliz por isso. Decido que tomar um banho é a cura para esse estresse. Nada de água quente, uma água fria é o suficiente para me manter sã e me dar uma noite de sono tranquila.

Ao chegar no quarto, quase gritei quando olhei para a frente sem querer e lá estava ele, mas dessa vez estava sozinho. Usava uma calça moletom, estava em pé, exatamente de frente para mim, olhando para meu quarto.

Me odeio por não fechar a cortina, me odeio por dar um passo a frente e tocar no meu vidro, enquanto aquele homem de olhos sombrios me encara como se eu fosse uma presa que ele odeia, mas que é obrigado a destroçar.

—Quem é você? Por que você fica me olhando? —perguntei alto com a janela aberta.

Ele vai até sua mesa e enche uma taça com o que eu imagino ser vinho, volta até o vidro e bebe um pouco, balança a taça e continua me encarando, sem sorriso, sem nenhuma expressão perceptível.

—Você é um tarado? —perguntei novamente, mas ele continuou em silêncio.

Minhas mãos agem sozinhas dessa vez, elas vão até onde a toalha está amarrada ao redor do meu corpo e fica ali, ameaçando derrubar o pano no chão, ele bebe do vinho outra vez, mas quando minha mão finalmente abre o tecido, para deixar cair, ele vira o rosto bruscamente para o lado e me dá as costas.

Ele segue até a mesa e pega um telefone, atende e coloca a taça ali, minha dignidade foi salva por essa m*****a ligação, faço o que deveria fazer toda noite antes mesmo de tomar banho, fecho as cortinas e me jogo na cama ofegante.

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