—Bing!
A porta do elevador se fechando é o encerramento de um ciclo muito conturbado na minha vida, aos vinte e cinco anos, formada em publicidade, achei que minha vida fosse ser assim, uma correria no trabalho , mas perfeitamente calma em casa, não foi assim que imaginei comemorar o meu aniversário. Não foi assim que eu quis chegar em casa e ser recebida, sendo praticamente chutada pelo meu noivo. Quando fui trabalhar esta manhã, achei mesmo que algo estava errado, mas imaginei que fosse apenas o cansaço.—Nós não damos mais certo, eu não consigo mais, não quero mais você!—O quê? Como assim? - perguntei parcialmente confusa.—Andria, você vive para trabalho e depois reclama quando eu vou procurar na rua o que não tenho com você. -ele respondeu enfático.—Então eu te perdoei atoa? Tem certeza? -questionei.—Absoluta. -ele respondeu firme e foi a última coisa que eu o ouvi dizer.Thiago terminou comigo porque segundo ele, eu trabalho muito e não tenho tempo para nós dois, ele sempre quis ter uma família, mas eu disse que ainda sou jovem demais para isso. Não nego que eu também quero isso, mas não no momento. As lágrimas que caem no meu rosto também são de alívio, de certa forma, já não íamos bem e ele chegou a me trair várias vezes.Quando cheguei no apartamento alugado em que eu vivia antes de quase me mudar para o apartamento dele, tudo estava silencioso, cheio de poeira, no fundo algo me dizia para eu manter o aluguel em dias, tá aí o motivo.Minha sorte é que logo após a minha formação, eu consegui um bom emprego, apesar de eu não ser norte americana e ter minha formação ainda no Brasil, eu sempre me esforcei muito para conseguir me destacar no mercado. Minha carreira de sucesso está apenas começando e eu não quero abrir mão disso.Não posso negar que a solidão do primeiro dia não seja estranha, porque ela é. Eu estava acostumada a uma vida com alguém e de repente eu estou sozinha. É um misto de sentimentos. Organizei o que tinha que organizar e apenas tomei um banho e deitei na cama. Em meu notebook, comecei a pesquisar outros alugueis, em um local diferente, perto do trabalho talvez, mas o preço no centro é muito caro. Mas, sonhar não custa nada, certo? Certo!Passei bastante tempo procurando, até que encontrei um, o apartamento é lindo, bem espaçoso, e com um preço muito acessível para ser no centro, mandei uma mensagem no chat do locador e esperei ele responder, no anúncio dizia que ele vai mudar para outro país e precisa de um inquilino que seja cuidadoso e trabalhe por perto. Perfeito, é para mim.Deixei o notebook de lado e fui jantar, eu tinha que me alimentar depois de tudo o que ouvi hoje. Eu e Thiago já não tínhamos mais nada em comum, éramos quase estranhos, mas isso não significa que eu não queria casar com ele, eu acostumei com sua presença, ele é brasileiro também e foi meu primeiro namorado.Fiz apenas um sanduíche de frango e queijo e voltei para a cama, quando peguei o notebook, vi que o anúncio foi respondido, a pessoa passou outras informações importantes e disse que eu poderia fazer uma visita no dia seguinte. Prontamente marcamos um horário, a pessoa pareceu bastante solicita comigo e eu já gostei nesse momento.Depois de comer e chorar um pouco mais, lembrando das coisas que ouvi hoje, decidi que bastava, desliguei a luz e fui dormir, nada seria resolvido apenas com choro.Acordei com o corpo tão dolorido, parece que alguém me deu uma surra de boxeador, tomei um remédio para dor muscular e fui iniciar o meu dia, às nove eu teria essa visitação no centro de Chicago e precisava ir rápido, já que eu iria de trem.Fiz um café bem mesquinho e nada convidativo, botei tudo para dentro e fui me arrumar, como uma boa brasileira, não poderia começar o dia sem um bom banho. Não fiz nenhuma maquiagem porque não achei necessário, afinal era às nove da manhã de um sábado e eu queria apenas descansar, mas marquei esse compromisso.Eu sinto que depois do rompimento, eu preciso de uma vida nova e isso inclui tudo, um novo lugar, novos hábitos, vou começar a cuidar melhor de mim mesma e crescer ainda mais profissionalmente.Saí de casa quase em cima da hora, peguei o trem bem rápido para minha sorte. O endereço parecia maravilhoso demais para a minha sorte, ficava apenas alguns quarteirões da sede da empresa em que eu trabalhava.—Ai! -falei alto.Alguém passou por mim e esbarrou seu corpo alto e forte, um homem.—Seu idiota, me peça desculpas, pelo menos. —eu gritei.Ele não olhou para trás, apenas parou e eu vi parcialemnte seu rosto lateralmente.—OLhe por onde anda. —foi o que ele disse antes de voltar a andar.Eu fiz careta mas segui minha viagem, me apresentei na portaria e o porteiro me liberou, entrei no elevador e subi até o andar onde fica o apartamento.Quem me recebeu foi uma senhorinha muito gentil, ela disse que estaria voltando para sua terra natal no México e que estaria alugando o apartamento ou iria vender, o que viesse primeiro. Nós conversamos mais e até tomei uma xícara de chá, ela me mostrou tudo, disse que a mobília inteira ficaria, ela ficou viúva a pouco tempo e seu marido a deixou muito bem, por isso ela iria descansar em seu país.Quando chegamos ao quarto principal, uma suíte, ela explicou.—Querida, temo que você queira dormir no outro quarto, esse aqui tem um problema —ela abriu a janela e apontou. —Ele fica bem de frente para a janela do outro prédio.—Ah, mas isso não é problema nenhum. —eu respondi sorrindo.—Não até você ver, o vizinho da frente não presta, sempre deixe a janela fechada, querida, ou cubra com uma cortina. —ela me disse.Realmente, é uma janela de vidro enorme, dá pra ver tudo, mas uma cortina daria conta do recado.—Está bem.—Gostei de você, parece honesta, se quiser, é seu. —ela disse.—Então é isso, quando posso me mudar? —perguntei sorrindo.E foi assim que na sexta feira eu terminei um noivado e no sábado já estava alugando um apartamento no centro da cidade e que parecia um cinto de fadas, algo estava estranho, nada dava tão certo assim.Voltei para casa com uma certa sensação, um pouco de tristeza ainda, mas eu ainda estou no começo da vida, vou ter tempo de ser feliz. Passei o final de semana inteiro apenas organizando a minha mudança, porque já na segunda feira uma empresa faria toda a mudança.Eu usei um pouco da economia que eu tenho e paguei três meses adiantados. O apartamento em que estou ainda é da empresa de Thiago, ele é engenheiro e tem uma empresa que vende e aluga imóveis em vários países, outra coisa que ele me disse foi isso, que ele já tem dinheiro e eu não precisaria me preocupar, sendo que ele cobra até o troco do restaurante em que jantávamos. Palhaço.Vinte e cinco anos, é agora que tudo vai acontecer, minha subida, minha mudança, minha nova vida.—Andria, você conseguiu o contrato com a empresa de medicamentos? —minha “supervisora” que na verdade é outra funcionária que acha que pode cobrar dos outros porque trepa com o patrão, veio me perguntar. —Com a Medhappy? Sim, consegui. —respondi sem muita animação. —Hum.. que bom. —ela respondeu, completamente falsa e manipuladora. —Por quê? Você achou que eu não fosse conseguir? —perguntei de forma irônica e direta. —Claro, eu conheço um talento quando vejo um, não reconheci nada em você. —ela disse. —Oh não, querida, você só reconhece aquelas que fodem com o chefe para conseguir promoções. —debochei. —O que está querendo dizer? —ela perguntou irritada. —Querendo não, estou dizendo. —enfatizei. Eu Karine nos odiamos logo que nos conhecemos, ela é insuportável e acha que um dia vai ser chefe disso, porque na cabeça dela, o chefe vai pedi-la em casamento qualquer dia desses. Muito humilde da parte dela. —Você é apenas mais uma estrangeira tentando tomar o nosso lugar. —ela falo
Duas semanas se passaram e eu não vi aquele estranho de novo, mas pelo menos recebi uma promoção, agora eu passei a ser tudo aquilo que minha colega Karine queria, supervisora da equipe de propagandas. Meu chefe disse que eu estava muito empenhada e depois do contrato com a MedHappy, eu ganhei uma certa credibilidade. Foi um contrato bastante lucrativo para nós e para eles. -Como conseguiu? –Ouvi a voz da Hiena perto de mim. -Trabalhando. –respondi sorrindo. -Estranho, você foi a ultima da equipe a entrar aqui e já recebeu uma promoção. —ela vez questão de soltar seu veneno. —Não acho que seja estranho, existem várias formas de chamar atenção no trabalho, além de transar com o chefe. —eu alfinetei.Ouvi uma série de suspiros, risadas baixinhas e alguns "boa". —Está insinuando alguma coisa? —ela perguntou novamente fingindo estar ofendida. —Insinuando não, estou dizendo a verdade. —Escuta aqui, sua mendiga de quinta, eu... —Está chamando a mim de mendiga? Logo você que vende seu
A noite passada com certeza foi a pior da minha vida, acordei diversas vezes à noite, em outros momentos eu sonhava, eu até podia sentir o que aquela estranha estava sentindo, a sensação quente, o suor gelado descendo pela linha da coluna. Estou parecendo um zumbi, olhos baixos, ombros caídos, a sensação é de exaustão e sono, mas não posso dormir, porque eu posso sonhar novamente com aquelas cenas e meu estado só vai piorar. —Até o mês que vem, você vai trabalhar na campanha daquela empresa de cosméticos, certo? —O senhor Hilton me perguntou agora que estou na sala dele. —Se o senhor quiser, claro. —eu respondi. —Não quero, eu preciso de você lá, você é a mais criativa, sei que vai elevar ainda mais o nome da empresa. — ele disse e sorriu. —Andria, com o aumento de cargo, também vem o aumento de salário, esse mês já vem tudo certinho. O senhor Hilton tem vários defeitos, inclusive o de dormir com funcionárias, mas desonestidade não é um defeito dele. —Obrigada senhor, darei o meu
Acordei com a certeza de que começar a frequentar a academia do prédio seria uma boa solução, vou ficar cansada e depois de um dia inteiro de trabalho, vou chegar em casa e apenas dormir, sem ter tempo de olhar a janela alheia. Mas não é tão fácil assim, antes mesmo de ir trabalhar eu já estou toda quebrada, acho que peguei pesado demais. Por coincidência, Andrew estava chegando no mesmo momento e entramos no elevador juntos. —Bom dia—Bom dia, Andria. Animada para mais um dia? —ele brincou. —Eu estava, mas acabei tendo a péssima ideia de fazer exercício antes de vir, estou toda moída. —Ah, isso faz bem para a saúde, você se acostuma. —ele comentou enquanto subimos de andar. Dei uma rápida espiada em Andrew, braços definidos, mas suas roupas não são muito justas, ele parece mesmo alguém que cuida da aparência. Antes que eu pudesse pisar o pé para fora do elevador, meu telefone toca, pelo visor vejo que é minha mãe. —Mãe, bom dia. —Bom dia, se não ligo para você, você simplesme
O dia estava nublado e cinzento, acordei com uma dor de cabeça pequena, ainda no começo, mas que já me deixava muito desconfortável, peguei um remédio na mesinha de cabaceira e bebi um pouco de água para ajudar a descer. Meus olhos teimaram em ficar fechados, está muito frio, mas não consigo sair para trabalhar sem tomar um banho. Por isso, me arrastei até o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto na água fria e tomei um banho para despertar. Acabei esquecendo completamente do motivo de minha cortina estar fechada e as abri, para deixar o pouco de luz que tinha entrar. Dei de cara com o quarto do apartamento da frente, mas não foi isso que me chamou atenção. Parado, de frente para a minha janela, estava ele, o homem que me olha de forma intensa, prestes a me devorar até o último pedaço. Estava vestido com uma calça social, sem blusa ainda, tinha uma xícara de café ou chá na mão, estava com o antebraço encostado no vidro e a cabeça apoiada nele. Quando eu ia fechar a cortina, e
Felizmente o final de semana chegou e eu posso aproveitar para espairecer a minha mente, cada vez que eu penso sobre aquele homem do trabalho e meu vizinho de janela, alguma coisa não bate, alguma coisa está errada. O senhor Hilton me pediu que adiantasse o contrato com a O.J Eng. ele disse que o CEO e dono da empresa solicitou que o prazo fosse adiantado, eu aceitei, já que até recebi uma parte do pagamento. Apesar de ser sábado, tirei o dia inteiro para fazer compras, limpar o apartamento e de vez em quando, dar uma espiada na janela do meu vizinho, mas a cortina está fechada. Logo após o almoço, Andrew me ligou, eu fiquei surpresa com isso, pois não acho que nossa relação esteja nesse patamar.—Andria —Oi, Andrew. Ultimamente ele fez diversas brincadeiras sobre como nossos nomes se parecem, vez ou outra fazendo alguma insinuação amorosa, eu não ligo de brincar, mas esse tipo de coisa não me deixa confortável. Entrei no quarto para pegar meu cartão, o entregador de pizza dever
O.J Estou obcecado por Andria Alencar, uma brasileira que trabalha alguns andares abaixo e coincidentemente vive em um apartamento de frente para o meu, eu não vivo lá, é um apartamento de refúgio, onde eu vou para beber e foder em paz, sem contaminar a minha casa.Mas, com ela tudo é diferente, Andria me pegou transando com uma mulher e ao contrário do que eu imaginei, ela não fugiu, eu não fechei a cortina e ela assistiu tudo. Não foi assim que eu imaginei a minha vida aos trinta e oito anos, viúvo, podre de rico, vivendo a vida como um solitário de merda. A falta da minha falecida esposa acabou comigo nos primeiros anos, mas depois eu acostumei a viver com sensação de vazio. O que me incomoda tanto na vizinha é que eu esqueço de tudo quando estou perto dela, é uma sensação que eu nunca senti, nem no meu casamento, eu simplesmente a vejo e meu sangue parece ferver nas veias, ela tem um cheiro afrodisíaco que me deixa duro e imaginando todo tipo de perversão. —Senhor, a reunião c
Meu atual cliente e chefe. O homem na minha janela e o estranho do elevador são a mesma pessoa e ainda por cima é o dono da empresa que atualmente estou prestando meus serviços. Ele continua com aquela aura de intocável e misterioso, sempre contido, voz grossa e rouca, ele tem a mania de entrar no elevador comigo e cheirar perto do meu pescoço, é uma atitude suja e muito suspeita que me deixa quente e suando frio. O senhor O.J é implacável em suas decisões, ele nunca volta atrás naquilo que decide. Eu já apresentei duas propostas e ele não gostou de nenhuma. —Se o senhor me disser exatamente aquilo que gostaria, facilitaria muito o processo. —eu disse no meio de uma reunião. —Mas então você não seria necessária. —ele rebateu. Eu tive que respirar fundo, eu simplesmente o odeio quando estamos na empresa, diferente de quando estamos em casa que ele me faz gozar somente ao me observar. —Ok, pensarei em outra proposta e amanhã eu apresento. —respondi. Ele apenas acenou e deu contin