O Voyeur Na Minha Janela
O Voyeur Na Minha Janela
Por: EMY FERNANDES
Capítulo 01

—Bing!

A porta do elevador se fechando é o encerramento de um ciclo muito conturbado na minha vida, aos vinte e cinco anos, formada em publicidade, achei que minha vida fosse ser assim, uma correria no trabalho , mas perfeitamente calma em casa, não foi assim que imaginei comemorar o meu aniversário. Não foi assim que eu quis chegar em casa e ser recebida, sendo praticamente chutada pelo meu noivo. Quando fui trabalhar esta manhã, achei mesmo que algo estava errado, mas imaginei que fosse apenas o cansaço.

—Nós não damos mais certo, eu não consigo mais, não quero mais você!

—O quê? Como assim? - perguntei parcialmente confusa.

—Andria, você vive para trabalho e depois reclama quando eu vou procurar na rua o que não tenho com você. -ele respondeu enfático.

—Então eu te perdoei atoa? Tem certeza? -questionei.

—Absoluta. -ele respondeu firme e foi a última coisa que eu o ouvi dizer.

Thiago terminou comigo porque segundo ele, eu trabalho muito e não tenho tempo para nós dois, ele sempre quis ter uma família, mas eu disse que ainda sou jovem demais para isso. Não nego que eu também quero isso, mas não no momento. As lágrimas que caem no meu rosto também são de alívio, de certa forma, já não íamos bem e ele chegou a me trair várias vezes.

Quando cheguei no apartamento alugado em que eu vivia antes de quase me mudar para o apartamento dele, tudo estava silencioso, cheio de poeira, no fundo algo me dizia para eu manter o aluguel em dias, tá aí o motivo.

Minha sorte é que logo após a minha formação, eu consegui um bom emprego, apesar de eu não ser norte americana e ter minha formação ainda no Brasil, eu sempre me esforcei muito para conseguir me destacar no mercado. Minha carreira de sucesso está apenas começando e eu não quero abrir mão disso.

Não posso negar que a solidão do primeiro dia não seja estranha, porque ela é. Eu estava acostumada a uma vida com alguém e de repente eu estou sozinha. É um misto de sentimentos. Organizei o que tinha que organizar e apenas tomei um banho e deitei na cama. Em meu notebook, comecei a pesquisar outros alugueis, em um local diferente, perto do trabalho talvez, mas o preço no centro é muito caro. Mas, sonhar não custa nada, certo? Certo!

Passei bastante tempo procurando, até que encontrei um, o apartamento é lindo, bem espaçoso, e com um preço muito acessível para ser no centro, mandei uma mensagem no chat do locador e esperei ele responder, no anúncio dizia que ele vai mudar para outro país e precisa de um inquilino que seja cuidadoso e trabalhe por perto. Perfeito, é para mim.

Deixei o notebook de lado e fui jantar, eu tinha que me alimentar depois de tudo o que ouvi hoje. Eu e Thiago já não tínhamos mais nada em comum, éramos quase estranhos, mas isso não significa que eu não queria casar com ele, eu acostumei com sua presença, ele é brasileiro também e foi meu primeiro namorado.

Fiz apenas um sanduíche de frango e queijo e voltei para a cama, quando peguei o notebook, vi que o anúncio foi respondido, a pessoa passou outras informações importantes e disse que eu poderia fazer uma visita no dia seguinte. Prontamente marcamos um horário, a pessoa pareceu bastante solicita comigo e eu já gostei nesse momento.

Depois de comer e chorar um pouco mais, lembrando das coisas que ouvi hoje, decidi que bastava, desliguei a luz e fui dormir, nada seria resolvido apenas com choro.

Acordei com o corpo tão dolorido, parece que alguém me deu uma surra de boxeador, tomei um remédio para dor muscular e fui iniciar o meu dia, às nove eu teria essa visitação no centro de Chicago e precisava ir rápido, já que eu iria de trem.

Fiz um café bem mesquinho e nada convidativo, botei tudo para dentro e fui me arrumar, como uma boa brasileira, não poderia começar o dia sem um bom banho. Não fiz nenhuma maquiagem porque não achei necessário, afinal era às nove da manhã de um sábado e eu queria apenas descansar, mas marquei esse compromisso.

Eu sinto que depois do rompimento, eu preciso de uma vida nova e isso inclui tudo, um novo lugar, novos hábitos, vou começar a cuidar melhor de mim mesma e crescer ainda mais profissionalmente.

Saí de casa quase em cima da hora, peguei o trem bem rápido para minha sorte. O endereço parecia maravilhoso demais para a minha sorte, ficava apenas alguns quarteirões da sede da empresa em que eu trabalhava.

—Ai! -falei alto.

Alguém passou por mim e esbarrou seu corpo alto e forte, um homem.

—Seu idiota, me peça desculpas, pelo menos. —eu gritei.

Ele não olhou para trás, apenas parou e eu vi parcialemnte seu rosto lateralmente.

—OLhe por onde anda. —foi o que ele disse antes de voltar a andar.

Eu fiz careta mas segui minha viagem, me apresentei na portaria e o porteiro me liberou, entrei no elevador e subi até o andar onde fica o apartamento.

Quem me recebeu foi uma senhorinha muito gentil, ela disse que estaria voltando para sua terra natal no México e que estaria alugando o apartamento ou iria vender, o que viesse primeiro. Nós conversamos mais e até tomei uma xícara de chá, ela me mostrou tudo, disse que a mobília inteira ficaria, ela ficou viúva a pouco tempo e seu marido a deixou muito bem, por isso ela iria descansar em seu país.

Quando chegamos ao quarto principal, uma suíte, ela explicou.

—Querida, temo que você queira dormir no outro quarto, esse aqui tem um problema —ela abriu a janela e apontou. —Ele fica bem de frente para a janela do outro prédio.

—Ah, mas isso não é problema nenhum. —eu respondi sorrindo.

—Não até você ver, o vizinho da frente não presta, sempre deixe a janela fechada, querida, ou cubra com uma cortina. —ela me disse.

Realmente, é uma janela de vidro enorme, dá pra ver tudo, mas uma cortina daria conta do recado.

—Está bem.

—Gostei de você, parece honesta, se quiser, é seu. —ela disse.

—Então é isso, quando posso me mudar? —perguntei sorrindo.

E foi assim que na sexta feira eu terminei um noivado e no sábado já estava alugando um apartamento no centro da cidade e que parecia um cinto de fadas, algo estava estranho, nada dava tão certo assim.

Voltei para casa com uma certa sensação, um pouco de tristeza ainda, mas eu ainda estou no começo da vida, vou ter tempo de ser feliz. Passei o final de semana inteiro apenas organizando a minha mudança, porque já na segunda feira uma empresa faria toda a mudança.

Eu usei um pouco da economia que eu tenho e paguei três meses adiantados. O apartamento em que estou ainda é da empresa de Thiago, ele é engenheiro e tem uma empresa que vende e aluga imóveis em vários países, outra coisa que ele me disse foi isso, que ele já tem dinheiro e eu não precisaria me preocupar, sendo que ele cobra até o troco do restaurante em que jantávamos. Palhaço.

Vinte e cinco anos, é agora que tudo vai acontecer, minha subida, minha mudança, minha nova vida.

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