04 - Mahjub Al-Makki

Mahjub Al-Makki

Sinto meus batimentos se acelerando ao som da abertura, as cortinas se abrem e o espetáculo se inicia com Hope, surgindo linda no palco em sua roupa impecável para a sua apresentação. Sorrio para a garota que se tornou o eixo da minha rotação nos últimos anos, a mulher que deixei escapar por minha imaturidade e meu enorme ego por me achar o todo-poderoso por ser quem sou.

Magoar a garota, que foi escolhida para mim, teve seus impactos em minha vida e de minha família. Precisei aceitar que apenas poderia vigiá-la de longe, a conhecer através dos olhos de outros, o que foi mais difícil e doloroso do que imaginei.

A cada nova foto que recebia, vendo-a sorrir por presentes que deveriam ser meus, por declarações que deveriam ser minhas, foi uma tortura muito pior do que minha família fez comigo. Fui um moleque, um irresponsável e um idiota. Sei que meu pai sente vergonha pelo que fiz com a filha de um parceiro de negócios…

Com os pensamentos tão aleatórios como estavam, indo ao passado e voltando para a apresentação que acontecia diante dos meus olhos. Sentia uma confusão enorme dentro de mim, ainda me sentia terrivelmente responsável pelo que aconteceu, por magoar o coração inocente de Hope e ter perdido a oportunidade de ter a mulher por quem agora sou apaixonado ao meu lado.

Sinto quando a mão de Pietra tocou a minha, enquanto mantinha os meus olhos fixos nos movimentos tão suaves e delicados que Hope executava, transmitindo toda a sua graciosidade.

— Ela é linda… — sussurro com o meu masbaha entre os dedos.

No fim do primeiro ato, as cortinas se fecham e algumas pétalas vermelhas são arremessadas no palco. Observo com atenção e tento encontrar o responsável por arremessar as pétalas, mas infelizmente estava escuro demais e não consigo ver quem estava arremessando as pétalas.

Olho para Pietra e a vejo com o olhar perdido em direção às poltronas, como se tivesse reconhecido alguém. Tento acompanhar o seu olhar, mas não consigo reconhecer ninguém. Toco em sua mão e sorrio para a minha amiga, que retribui o sorriso.

O segundo ato começa e a vejo nos braços de outro bailarino, o que não me agrada ver é a mão dele tão próxima do lugar que venho sonhando há vários anos, em ser o primeiro a tocar, ser seu primeiro homem e o último. O pensamento me atormenta e o ciúme me corrói de uma forma que começo a bufar ali sentado.

Pode ser ingenuidade? Pode.

Mas quero acreditar na possibilidade de que Hope ainda não tenha entregado a sua pureza a outro homem que não seja eu. Sinto uma inquietação enorme em mim apenas em pensar que ela esteve nos braços de outro homem.

Passei os quatro atos olhando para ela com muita atenção, admirando a distância os pequenos sorrisos que ela lançava em direção à sua família e para o público à sua frente. A vi deslizando com sutileza e reverenciando o público que jogava flores em sua direção, ovacionando a sua apresentação impecável.

Observo com atenção quando um homem se aproxima dela com um microfone, a vi relutar para não ter que falar com o público, comprovando que ela continua tímida depois de tantos anos se apresentando para um teatro sempre lotado.

— Para quem não sabe, a nossa estrela está comemorando o seu aniversário de vinte anos, sendo ovacionada. — O homem fala com um olhar carinhoso em direção a Hope.

Creio que seja o diretor falando, pela forma como se direciona para o público e tentando ser atencioso à bailarina que estava ao seu lado, com as duas mãos à frente de seu corpo apertando uma na outra, talvez tentando controlar o nervosismo.

— O que será que vão aprontar? — Pergunto, me divertindo com o olhar envergonhado de Hope em direção aos seus pais.

— Quero convidar a todos para bater os seus parabéns para Hope. — Assim como todo o teatro, me ergo para cantar os parabéns.

O seu olhar passa por todos os lugares e, por um instante, os nossos olhares se cruzam, mas não se prendem, o que me faz acreditar que ela não me reconheceu. O homem com o microfone inicia cantando os seus parabéns, sorria feliz por estar ali felicitando a mulher a quem quero implorar o seu perdão, nem que seja preciso me arrastar no chão no qual ela pisa.

Pietra ao meu lado, batia palmas sem muito ritmo, nos parabéns, nem prestando atenção. Acredito que ela já tenha arrumado uma companhia para mais tarde, reviro os olhos em direção à Pietra que conversava com um homem do camarote ao lado. Quando volto o meu olhar para o palco, vejo que Hope estava com o seu olhar fixo em mim, minha respiração se acelerou enquanto sorria em sua direção e mostrei sutilmente a ela que estava com o masbaha que ela havia me presenteado.

Mas, para o meu desespero, reconheço Guilherme Lira se aproximando com um buquê de rosas-vermelhas caminhando atrás dela. Ela estava com o seu olhar preso em mim, enquanto o meu estava na cena atrás dela. Uma lágrima escorre por meu rosto, sentindo que acabei de perder a mulher que habita meus pensamentos e meu coração.

Hope estava com seus olhos fixos nos meus e podia ver em sua expressão de surpresa por me ver ali, até que algo chamou a sua atenção e a vi me dando as costas, para olhar para Guilherme, que abre um sorriso enorme. O filho de um dos amigos de meu pai, Bruno, estava ali.

Meu peito se fragmentou quando percebi que aquele idiota iria fazer naquele momento…

Observo o filho do candidato à presidência colocar o joelho no chão, puxar uma caixinha do seu terno e olhar para Hope, com um sorriso apaixonado. Estava me choque naquele momento, seguro no parapeito do camarote, olhado para o que estava acontecendo e, por um segundo, vejo Hope voltar a me olhar e a confusão estava em seus olhos.

Enquanto nos meus estava a porra do remorso e arrependimento.

Deveria ser eu ali…

Era para estarmos nos casando, fazendo dela a minha sheikha, estar com ela ao meu lado, sendo o meu apoio no governo de meu país.

— Hope se apaixonar por você é inevitável para qualquer homem, a sua graciosidade, o seu desejo por viver a vida livremente é encantador, sou grato pelo dia que seu carro apagou e pude lhe  ajudar a seguir viagem e com esse mesmo espírito aventureiro, quero fazer o pedido mais importante de nossas vidas, Hope de Luca você aceita ser a minha esposa? — Fico olhando para eles se reação.

Me desequilibro e acabo derrubando a poltrona atrás de mim no chão, causando um estrondo que deve ter chamado atenção de todos. Ao erguer os olhos, vejo que todos procuram o causador do barulho.

Aquele que estragou o momento mais que especial para a bailarina reconhecida mundialmente, a mulher que estava sendo pedida em casamento pelo filho do candidato à presidência americana. Meu olhar cruza novamente o de Hope e a vejo respirar fundo e virar em direção ao homem, que estava ajoelhado à sua frente.

Sinto o meu peito se apertar a ponto de me sufocar, precisando urgentemente de ar, a vejo confirmando com a cabeça e aceitando o pedido que deveria ser meu.

Meus olhos estão fixos no anel deslizando em seu dedo e, mesmo a distância, consigo ver o quanto a peça era bonita, não tanto quanto a que havia dado a ela. A mesma que me foi devolvida no dia em que nossas vidas deixaram de pertencer um ao outro.

Queria descer até aquele palco e implorar perdão, pedir a Hope que me desse a chance de explicar o que aconteceu, dizer que não… não…

Estava sentindo o meu peito ficando apertado, o ar estava faltando e começando a ficar tonto com o que estava vendo acontecer. Sinto quando Pietra segura em meu braço e começa a me puxar para fora de nosso camarote. Noto vários olhares de algumas pessoas em cima de mim. Com certeza, sem entender o motivo da minha reação naquele momento.

— Vamos, Mahjub, acho que precisa daquele chá que acalma sempre o seu pai, Bruno. — Minha amiga diz.

Pietra me tira do teatro e não faço ideia como foi que ela conseguiu nos trazer para o hotel onde estava hospedado, mas sou grato por ela não me deixar cometer nenhuma loucura nesse momento.

— A perdi Pietra, a perdi novamente…

Digo, sentindo as mãos de minha amiga retirando meu smoking, conseguia ver em seu rosto a tristeza que estava sentindo por mim, pelo reflexo do espelho. Pietra é a que mais me apoiou e incentivou a tentar novamente ter uma conversa com a bailarina, que conseguiu fazer com que me apaixonasse por ela.

E nessa noite, Hope sapateou em meu coração com a sua sapatilha de ponta.

— Calma, a guerra ainda não acabou, talvez tenha perdido apenas uma batalha. — Viro em direção à minha amiga com um olhar amargurado.

Ela senta ao meu lado e vejo um olhar travesso em seu rosto. Conheço Pietra o suficiente para saber que ela faria qualquer coisa por mim e por Zara.

— Ele é maior gatinho, posso dar em cima dele… — Viro em sua direção.

A forma como ela falou de Guilherme chamou a minha atenção, normalmente a Pietra não é de demonstrar sentimentos, mas por algum motivo, sinto que ela queria deixar transparecer alguma coisa.

Ela diz, se jogando para trás e se apoiando em suas mãos na cama macia onde estávamos sentados. Ela estava olhando para o teto com os pensamentos em algum lugar e a vejo suspirar.

Conheço Pietra desde quando Zara foi estudar para se tornar uma sommelier em Capri e desde então nos tornamos inseparáveis. Uns anos atrás, ela precisou ir para Miami para uma extensão do seu curso de Diplomacia e, quando ela voltou, se afastou de todos, ficamos sem saber o que havia acontecido. Então tudo mudou, Pietra estava diferente, a via saindo com um cara diferente todo dia.

Mas não queria pressioná-la, já que Pietra e meus irmãos foram os únicos que ficaram ao meu lado enquanto fui exilado, para meu tempo de castigo pelo que causei a garota…

Não… garota não!

A linda mulher em que Hope se transformou. Fui exilado por minha família por magoar o coração de uma jovem mulher que cresceu e se transformou no espetáculo que ela é hoje.

— Guilherme Lira não tem nada de gatinho, ele é esquisito. — Digo, estranhando a postura da minha amiga.

Levanto da cama no momento em que ouço alguém batendo na porta, é provavelmente o serviço de quarto, havíamos pedido um chá.

— Isso é inveja, mas entendo Hope ter se apaixonado por ele… — respiro fundo e vou em direção à porta.

Enquanto minha amiga suspira pelo homem que acabou de pedir a minha ex-pretendente em casamento, vou em direção à minha porta e agradeço a Allah por eles providenciarem o meu chá de hortelã com urgência.

Abro a porta e sou surpreendido com uma visita inesperada, que estava parada em frente à minha porta a essa hora da noite, fico sem reação e apenas sustento o seu olhar.

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