Hope de Luca
O ensaio foi intenso, mesmo assim foi maravilhoso, havia um dos diretores do Bolshoi para acompanhar no treino, o que estava deixando todas as outras bailarinas entusiasmadas pela possibilidade de ser uma escolhida, para integrar o melhor corpo de dança do mundo.
Me afasto do palco, me despedindo do pequeno público que estava acompanhando as audições e vou em direção aos bastidores. Percebo o olhar de minha mãe e minha irmã em cima de mim, suspiro porque imagino o motivo das duas estarem juntas.
Mahjub Al-Makki
Mesmo tendo apenas dezesseis anos, estou atrelada ao compromisso com o futuro sheik do Sudão, é algo que poderia dizer me deixar empolgada. Tenho sentimentos pelo príncipe herdeiro do Sudão, e mesmo assim tenho muito medo de tudo o que pode acontecer nesse ínterim.
Aparentemente, Mahjub não me deseja como esposa, por outro lado, cresci acreditando que seria a sua mulher e que seria a única mulher que ele tomaria como sua. Coisa que não vejo nele.
Pelo menos é isso que minha mãe sempre diz quando surge alguma reportagem dele pelas boates de seus amigos “influentes”. Quando comecei a entender realmente o que tudo isso significava, a paixão que sinto por Mahjub começou a se apagar dentro de mim.
E, sim, eu me apaixonei pelo príncipe herdeiro do Sudão.
Mas, como não poderia me apaixonar, ele é lindo, com aqueles olhos claros em tom de mel, sua voz com uma mistura de sotaques de português e árabe que me deixa arrepiada sempre que o ouço. Fora a sua altura, que é um quesito bastante importante para mim.
Entro no staff e vejo algumas das minhas companheiras de balé, estavam sentadas olhando para algo no celular.
— Olhe só, Hope… — Uma delas me chama para sentar ao seu lado.
Sorrio empolgada, imaginando que seja alguma cena dos doramas que assistimos juntas, sento em um espaço que elas abrem para mim e me aproximo da tela do celular que exibia a imagem que não esperava ver nunca.
Então veio o choque com o vídeo que estava circulando na internet. Era o homem a quem meu pai me prometeu em casamento, o homem que deveria ser o meu príncipe e que todos da família acreditavam que um dia nos amaríamos.
Engulo o sabor amargo de sua traição, mesmo que não seja de conhecimento público, ainda assim existe um compromisso. Nunca fiz nenhum tipo de aparição que o deixasse em dúvida de minha pureza e castidade. Diferente do príncipe que sempre está se exibindo por aí com uma mulher diferente.
Dou um sorriso falso às minhas amigas e finjo interesse no vídeo que se desenrola.
Mahjub estava sentado em um sofá, o ambiente escuro recebia alguns feixes de luzes coloridas, deixando claro que estava em alguma boate. A pessoa que estava filmando estava a dada distância, mas conseguia pegar a imagem com bastante clareza. Mahjub está com uma modelo de passarela bastante conhecida, atracada em sua boca, o beijando, enquanto havia outra entre as suas pernas e pelos movimentos pareciam que ela estava fazendo algo bem inapropriado.
Nesse momento, agradeço a Deus que meus pais e nem os pais de Mahjub colocaram o nosso relacionamento na mídia ou nesse momento estaria sendo tachada de “menina traída”. Engulo a dor pelo que estou vendo e me despeço de minhas amigas, dando a desculpa de que estava sendo aguardada.
Levanto-me do meio delas, com o sorriso mais falso que consigo para aquele momento, com a cabeça ainda rodando o vídeo do príncipe que deveria ser apenas meu. Caminho e sinto a presença de uma das minhas amigas ao meu lado.
Acho que ela percebe o quanto fiquei abalada com alguma coisa, talvez ela esteja pensando que estou preocupada com a audição que acabamos de fazer.
— Minha mãe e irmã chegaram, deve ter acontecido algo. — Digo e uma das minhas amigas se aproxima e me abraça.
— Acho que você foi a selecionada! — Ela diz empolgada.
Nego com a cabeça franzindo a sobrancelha. Nesse momento, seria perfeito ser uma das escolhidas para ir para Moscou e ser uma das bailarinas do corpo de dança.
— Tem meninas que se saíram bem melhores… — Digo e lhe dou um beijo na bochecha.
Ouço rir, com o meu desdém, e sinto quando sua mão b**e em minha bunda. Tenho sorte por ter boas amigas que estão ao meu lado, não por ser a herdeira da Oil Company ou por ser filha do senador Luca, nem filha da doutora de Luca. Mas por me ver apenas como Hope, a garota que ama o balé e deseja dançar para muitas pessoas.
Nossa amizade é pelo que somos e, se qualquer uma de nós for escolhida, tenho certeza que vibraremos, mas também ficaremos de coração partido por perdermos uma de nossa amiga. Crescemos juntas, desde o primário, já que todas elas são filhas de pessoas importantes aqui da capital, de políticos a celebridades.
Me afasto delas e vou em direção ao vestiário, preciso me trocar, não posso sair pelas ruas da capital usando tutu e sapatilhas, esse pensamento me faz rir, mesmo sentindo o meu coração partido e esmigalhado, como estou sentindo nesse momento. Entro no vestiário e tento ser o mais rápido que posso, porque tenho certeza de que, se minha mãe está aqui, ela já viu o vídeo.
Troco de roupas rápido e me sento no banco apenas para engolir um pouco a dor que estou sentindo nesse momento, não quero deixar minha mãe e irmã preocupadas com os meus sentimentos. Mas me nego a chorar por ele aqui.
Aqui não…
Saio do vestiário e vou ao encontro da minha família, que deve estar terrivelmente preocupada com a minha demora. Assim que me aproximo delas, o olhar preocupado e magoado estava em seus rostos, me aproximo e recebo o abraço apertado das pessoas que mais amo. Comprovando que elas já viram o mesmo vídeo.
Suspiro com a cabeça enfiada no ombro da minha mãe, sentindo mãos passando por minhas costas. Deixando o conforto tomar conta de mim e me controlando para não chorar aqui, na frente de pessoas que não entenderiam a minha reação.
Amo a família de Mahjub, todos eles sempre me receberam muito bem quando os visitava ou quando eles vinham à capital para visitar a minha mãe, já que tanto Carolina ou Laís são amigas muito próximas da senhora de Luca. Por esse motivo, acredito que a mãe dele, que deveria ser minha sogra, deve estar com tanta vergonha que não sabe onde enfiar a cara.
Afasto um pouco da minha mãe e sorrio, pelo menos tento parecer que nada daquilo me abalou. Mas, na verdade, meu coração se partiu em muitos pedaços quando vi aquele vídeo. Posso estar errada, mas tenho certeza de que jamais confiarei em alguém depois do que vi.
— Seu pai resolverá, meu amor, não se preocupe. — Minha mãe Alessa diz me fitando.
— Apenas vamos para casa, estou cansada e tenho que terminar de enviar as minhas cartas de admissão. — Digo e a vejo trocar um olhar com minha irmã.
Estou completando dezessete anos, tenho créditos mais que suficientes para iniciar a faculdade em gestão de empresas. Mesmo depois que soube sobre o compromisso de casamento com Mahjub, desejei cursar faculdade e meus pais sempre me apoiaram sobre isso.
Talvez agora, com o desenrolar dessa situação, em vez de ir para a faculdade, possa ir para Moscou e brilhar no que amo fazer. Tenho certeza de que meu pai pode usar um pouco da sua influência e me colocar dentro do Bolshoi.
Saímos do pequeno teatro e percebo quando minha mãe dispensa a minha segurança e recebo a chave do carro para dirigir. Olho confusa para a chave e ouço a risada das duas em minha frente.
— Apenas para comemorar a sua carteira de habilitação! — Olho surpresa para as duas e pulo de alegria em seus braços.
— Chegou o resultado? — Pergunto eufórica, retirando o celular da bolsa para verificar o meu e-mail.
— Sim, hoje de manhã. — Abro o meu aplicativo de e-mail e realmente estava lá.
Havia passado no exame prático de habilitação, deveria ir acompanhada por um responsável legal e retirar a minha carta. Nesse pequeno momento de alegria, esqueço tudo referente ao árabe que vai me tirar uma noite de sono e muito choro depois do que ele acabou de fazer comigo.
Mesmo não querendo ser a causadora da ruptura da amizade de Ruslan e Mahjub, muito menos de minha mãe com a mãe dele. Sei que minha família fará de tudo para me alegrar e, se for necessário, que eles se afastem. Tenho certeza de que eles farão isso sem pensar duas vezes.
— Então, após saber o que houve… — Minha mãe diz e volto a minha atenção a ela. — Fui lá com a sua irmã, agora nos leve para o congresso, temos um almoço de comemoração! — Vejo em seus olhos a tentativa de me consolar.
Confirmo com a cabeça e sorrio para a chave que estava em minha mão. Vamos em direção ao estacionamento do pequeno teatro, vejo a minha segurança e o que faz a vigilância da minha mãe se afastar. Mordo o lábio inferior ao perceber que iremos apenas nós três no carro, o que me faz estremecer. Sei que a minha mãe usará essa oportunidade para falar comigo.
Entro no carro do lado do motorista, faço todo o procedimento necessário para poder dirigir e percebo que o veículo que minha mãe usa é um automático. Fico meio confusa, mas estou decidida a enfrentar a direção e ir para frente, deixar toda essa história do passado.
Hope de LucaMinha irmã foi um apoio nesse momento, me explicando como dirigir um carro automático, uma vez que sempre usei o carro de papai para dirigir. Depois que consegui me adaptar à direção, sorri por estar conseguindo fazer algo sozinha, estava orgulhosa de mim mesma, então tomei coragem.— Quero ir para o Bolshoi, quero esquecer tudo o que me ligue a esse compromisso! — Digo com as mãos apertando forte o volante e com os olhos fixos na avenida.Pelo espelho, vejo o olhar de minha irmã Giulia em minha direção, a vejo se aproximar e ficar entre os dois bancos e olhar de mim para a minha mãe.— Acho que devemos esperar o seu pai falar com Salim e Hassan, querida, mas esse compromisso com certeza chegou ao fim. — Suspiro ao ouvir minha mãe. — Graças a Allah, porque não tenho vocação para ser mais uma em seu harém! — Exclamo e entro no estacionamento do congresso.Depois que falo, me dou conta de como fui educada e instruída para ser a esposa perfeita para o príncipe árabe, conheç
Mahjub Al-MakkiQuatro anos se passaram desde o dia em que Hope me acertou na entrada do congresso, o dia em que magoei o seu coração e percebi estar fazendo a pior coisa que deveria. Naquele momento do lado de fora, quando a ouvir falar e senti a dor que ela estava sentindo, me senti um miserável por destruir o coração de uma garota inocente.Mesmo sabendo que Hope estava sendo preparada para ser a minha esposa um dia, não imaginei a profundidade disso, imaginei que, assim como eu, ela estaria longe de sentir qualquer coisa por mim. Afinal, se nos víamos umas três vezes no ano, era muita coisa.Fomos até o Congresso para que pudesse me desculpar com o seu pai, mas antes que pudesse entrar, ela apareceu saindo do prédio. Seria perfeito, mas não contava com a sua reação e então, vendo os seus olhos se enchendo de lágrimas, percebi.Hope estava apaixonada, ela estava gostando de mim, do homem que a cada semana era fotografado com uma mulher diferente, envergonhando meus pais que tinham
Mahjub Al-MakkiSinto meus batimentos se acelerando ao som da abertura, as cortinas se abrem e o espetáculo se inicia com Hope, surgindo linda no palco em sua roupa impecável para a sua apresentação. Sorrio para a garota que se tornou o eixo da minha rotação nos últimos anos, a mulher que deixei escapar por minha imaturidade e meu enorme ego por me achar o todo-poderoso por ser quem sou.Magoar a garota, que foi escolhida para mim, teve seus impactos em minha vida e de minha família. Precisei aceitar que apenas poderia vigiá-la de longe, a conhecer através dos olhos de outros, o que foi mais difícil e doloroso do que imaginei.A cada nova foto que recebia, vendo-a sorrir por presentes que deveriam ser meus, por declarações que deveriam ser minhas, foi uma tortura muito pior do que minha família fez comigo. Fui um moleque, um irresponsável e um idiota. Sei que meu pai sente vergonha pelo que fiz com a filha de um parceiro de negócios…Com os pensamentos tão aleatórios como estavam, ind
Laís CarterEstava sentada em um banco enquanto observava Henrique ser derrubado por Petter novamente em menos de cinco minutos. Meus pensamentos estão na confusão que meu irmão Mahjub causou com a Hope.Sei que para os meus pais a vergonha que estão sentindo nesse momento é a pior, mas se apoiarem meu irmão, tudo isso logo vai se tornar apenas um capítulo nessa história e algo me diz que devemos colocar a pontinha do dedo para resolver essa situação.Minha mãe sempre disse que precisava ser estrategista, como ela sempre foi. Com o passar dos anos, pude enxergar a mesma visão que meu avô Salim teve ao imaginar Mahjub com a filha de Mattia.Levanto do banco e deixo o meu marido ali apanhando do seu conselheiro e vou atrás de Leon, que deveria estar assistindo algo com a Ella. Esse é o nosso mês de férias das crianças.Foi dessa forma que consegui convencer Amélie a deixar que eles se conheçam melhor. Passo pela sala de TV e vejo os quatro ali sentadinhos assistindo a um desenho no stre
Laís CarterIsso fez com que Mahjub conhecesse o mundo de uma forma que Hope jamais iria conhecer. Por isso, concordo que eles deixem que ela vá e aproveite o seu tempo. Porque sei que quando o meu irmão perceber a merda que fez, ele será igualzinho ao papai.O pensamento me tira uma gargalhada, aprendi muito com a nossa mãe a forma de como tratar meu marido, apenas em ver como ela tratava meus pais. Carolina Alcântara Al-Makki, foi uma visionária, abriu o preceito entre as mulheres da “First”, caso houvesse traição e a esposa não decidisse pela morte do cônjuge traidor, ela poderia se casar novamente.Quando meus pais finalmente puderam se assumir, com uma pequena ajudinha do meu marido, sempre olhava para ele e dizia que queria escolher os meus seguranças, é algo que o Henrique sempre surtava. Já que ele sempre disse que prefere a morte do que me ver na cama com outro.Passo pela sala de TV e dou um beijo em meus filhos e seus amigos, que ainda estavam com a atenção presa no filme q
Notas da Autora: Se você leu os livros “O pai da minha amiga” e “Madame Suíça”, finalmente vai conhecer a história de amor entre Mahjub e Hope. Espero que gostem desse casal da mesma forma como eu me apaixonei por ele.Obs.: Os livros são independentes, não havendo a necessidade de ler um para entender o outro. Todas as tramas são explicadas no decorrer do próprio livro. Sem mais deixo vocês com essa história. Dúvidas é só mandar um direct que atenderei a todos. Um beijo e até a próxima.Carolina Al-MakkiNunca pensei que criar o Mahjub com essa mistura de culturas fosse ser fácil. Eu, uma brasileira casada com dois homens, sendo que um deles abdicou de seu lugar como herdeiro do sheik no Sudão para ficar ao meu lado.Criar o nosso filho, um pé aqui no Sudão e, ao mesmo tempo, dando conta de todas as minhas obrigações com a “First” e ao lado de Bruno, foi um pouco difícil nos primeiros meses, mas sempre tivemos muita ajuda para que tudo desse certo.Mas essa fase que Mahjub está passa