02 - Hope de Luca

Hope de Luca

Minha irmã foi um apoio nesse momento, me explicando como dirigir um carro automático, uma vez que sempre usei o carro de papai para dirigir. Depois que consegui me adaptar à direção, sorri por estar conseguindo fazer algo sozinha, estava orgulhosa de mim mesma, então tomei coragem.

— Quero ir para o Bolshoi, quero esquecer tudo o que me ligue a esse compromisso! — Digo com as mãos apertando forte o volante e com os olhos fixos na avenida.

Pelo espelho, vejo o olhar de minha irmã Giulia em minha direção, a vejo se aproximar e ficar entre os dois bancos e olhar de mim para a minha mãe.

— Acho que devemos esperar o seu pai falar com Salim e Hassan, querida, mas esse compromisso com certeza chegou ao fim. — Suspiro ao ouvir minha mãe. 

— Graças a Allah, porque não tenho vocação para ser mais uma em seu harém! — Exclamo e entro no estacionamento do congresso.

Depois que falo, me dou conta de como fui educada e instruída para ser a esposa perfeita para o príncipe árabe, conheço a sua cultura, falo seu idioma com fluência e praticamente sou uma muçulmana praticante, que apenas não usa o hijab.

Com as instruções de minha mãe e irmã, consegui estacionar o carro sorrindo ao sair dele e ver que estava com os pneus alinhados. Isso me fez esquecer novamente o idiota que deve ter ido para a cama com duas essa madrugada.

Com as duas ao meu lado, me parabenizando, entramos no congresso e percebi uma movimentação incomum. Havia muitas pessoas paradas em lugares específicos, nossos seguranças se aproximam e o telefone de minha mãe começa a tocar em sua bolsa. Assim que chegamos no corredor onde fica a sala de meu pai, começamos a ver homens com o habitual keffiyeh lenço quadriculado em suas cabeças. Sinal que a família Al-Makki estava aqui.

— Mãe, quero ir embora! — Digo, me sentindo já bastante humilhada.

Observo a minha mãe sem saber o que fazer, olhando para a sala de meu pai, tenho certeza de que ela estava se corroendo por dentro, desejando ir até aquela sala e despejar a raiva que estava sentindo, deixando-a inquieta na minha frente.

— Vou para casa com a minha segurança e espero por vocês lá, não quero mais ter contato com eles. — Digo e me sinto mal com o meu pensamento. — Pelo menos enquanto tudo isso não se acalmar.

— Tudo bem, a Scott a levará, assim que terminar, te encontrarei lá! — Abraço a minha mãe e deixo que ela vá.

Viro em direção à minha segurança do serviço secreto e me despeço de minha irmã, que se dirige em direção à sala do nosso pai.

Respiro fundo e acelero os meus passos, a última coisa que preciso nesse momento é que seja vista por qualquer um deles. Cumprimento alguns políticos que me conhecem e sei que desejam que meu pai dê abertura para que os filhos deles se aproximem de mim.

Se eles soubessem que meu coração foi moldado e lapidado para um certo príncipe estrangeiro, mas que em sua festinha de orgia ele conseguiu destruir toda a imagem que tenho dele.

Acompanho Scott até o estacionamento, percebo haver alguns paparazzi com suas lentes focadas para a entrada do prédio, sorrio para alguns e aceno gentilmente.

— Senhorita, vamos em nosso… — Minha atenção muda quando sinto uma mão em meu braço, restringindo que continue a seguir a minha segurança.

Olho para trás e me surpreendo quando vejo Mahjub com o seu habitual keffiyeh, olhos escuros e o masbaha que havia lhe presenteado em seu aniversário daquele ano. Podia ver que seu rosto tinha alguns hematomas, sinal de que recebeu um corretivo de seus pais.

— Podemos, conv… — Não permito que conclua.

Retiro meu braço de sua mão e, com toda força que tenho, acerto um soco no meio de sua cara. Ficando surpresa comigo mesmo, nunca fui violenta, sou uma pessoa muito pacifista, talvez por ter aprendido o islã, por isso estou surpresa com a minha reação.

Mahjub acaba se desequilibrando e cai sobre o capô do carro que estava ao nosso lado. Posso não ter a mão pesada como um homem, mas ver o sangue escorrer por seu nariz foi o suficiente para me deixar feliz e um tanto vingada pelo que ele fez na noite anterior.

Sinto os flashes disparando e pegando todos os ângulos que podiam, mas ainda não me sentia satisfeita, estava bufando de raiva e segurava as lágrimas para não me humilharem ainda mais nesse momento.

Noto que ele passava as contas por seus dedos um pouco mais rápido que o normal, provavelmente deve estar pedindo a Allah que me acalme. Mal sabe ele que nesse momento Allah está do meu lado e vai me ajudar a colocar a pedra final nessa situação.

Puxo com violência o masbaha de suas mãos, a peça delicada que havia escolhido com tanto cuidado e amor se rompe entre nossas mãos, vemos as contas se espalharem pelo chão e o olhar aterrorizado que ele me lança.

— Curta o seu harém, vossa alteza, a partir de hoje é livre. — Viro de costas e, com a ajuda de Scott entrou em meu carro.

Sei que amanhã serei assunto em todos os tabloides nacionais e internacionais.

Me jogo no banco de trás e deixo as lágrimas saírem, nesse momento a garota boba que acreditava no amor acabou de morrer. Mesmo que Mahjub nunca tenha demonstrado nenhum sentimento por mim, ainda sim tinha esperanças de que, quando alcançasse um pouco mais de idade, ele fosse me olhar com diferente, dando uma oportunidade para os nossos sentimentos florescerem. 

Pelo visto, os únicos que merecem o meu amor, são a minha família e o meu balé.

Ao chegar em casa, vou direto para o meu quarto e decidida pôr um ponto final em tudo que se refere à família Al-Makki. Entro em meu closet e puxo duas malas para guardar tudo o que havia recebido durante esses anos da família de Mahjub.

Abro as duas malas e começo a guardar com carinho as diversas roupas típicas entre os muçulmanos, assim como todas as joias que eles me enviam desde que sou criança. Encho as duas malas com tudo. Me ergui do chão e olho para tudo aquilo, mas ainda sinto que falta algo ali.

— Aliança… — Me recordo da peça.

Corro até o quarto dos meus pais, entro no closet e vou até o cofre que existe atrás do expositor de relógios e abotoaduras de meu pai. Digitei a senha e a porta se abre, revelando as caixinhas de todas as nossas joias.

Pego a caixinha em cor marfim e abro, para admirar pela última vez aquela peça. Era um anel delicado e os brilhantes formavam uma flor. Sento no chão olhando para aquele anel e recordo do dia em que havia recebido a peça.

Fazia uma semana que houve a minha festa de quinze anos, nossos pais escolheram realizar apenas um jantar com toda a família para formalizar o compromisso que meu pai e o avô de Mahjub fizeram. Sei que ambas as famílias tinham esperança de que ele se apaixonasse por mim.

Mas para a minha tristeza, não foi isso que aconteceu…

Durante o jantar, Mahjub mal trocou meia dúzia de palavras comigo, sabia que ele não estava contente. Acreditava que era por conta da nossa idade, afinal, sou sete anos mais nova do que ele, tenho certeza de que ele quer uma noiva que possa ir para a cama com ele, esse é o pensamento que vem me atormentando há algum tempo.

Estava com quinze anos, aprendendo a cultura e a religião justamente para não estranhar tanto quando houvesse o nosso casamento e me mudasse para o deserto. Mas esse sonho agora é algo que jamais acontecerá, ele não merece a minha dedicação, não merece a garota, que foi protegida e cuidada para ser sua esposa.

Abro os olhos quando ouço passos se aproximando e, quando ergo meu olhar, vejo o meu pai aliviado. Me ergo correndo, deixando a caixinha cair com a aliança.

— Pai… — Choramingo grudada ao peito do homem que sempre foi a minha expectativa de marido.

— Me perdoe, Hope, não imaginei que isso poderia acontecer. — Ele sussurra enquanto choro em sua camisa.

— Mattia, não há encontro… — Ouço a voz de minha mãe desesperada.

— Estamos aqui, ragazza! — Continuo chorando e sou levada para a cama com meus pais.

Minha mãe se aproxima e se ajoelha na minha frente, segura o meu rosto com carinho, secando as minhas lágrimas. Naquele momento, não precisamos dizer nada. Sei muito bem que meus pais fizeram o melhor, com elegância e decência, para me livrar desse compromisso.

Sinto a mão de meu pai passando por minhas costas e minha mãe com seu olhar triste me olhando. Mas somos surpreendidos pelos passos e Ruslan surge na porta do quarto.

— Não quebrou a mão, não é? — Ele perguntou, preocupado.

Encolho os ombros e suspiro com o latejar que estava sentindo desde que cheguei em casa. Tenho certeza de que meus pais não têm ideia do que aconteceu.

— Quando saí do prédio, Mahjub estava do lado de fora, ele segurou em meu braço e o acertei no nariz. — Olho para a mão e percebo que alguns dedos estavam inchados e começando a doer.

— Pai, ela o acertou em cheio… — Ruslan se aproxima e senta no chão ao lado das minhas pernas.

Ele mostra o vídeo que já estava circulando nas redes, passava de um milhão de views e várias curtidas.

— Alessa de Luca, você está pagando aulas de defesa pessoal para a nossa princesa? — Meu pai pergunta se divertindo.

Sorrio e deito a cabeça em seu ombro e sinto carinho por todos eles.

— Esse compromisso acabou, não criei minha princesa para passar por uma humilhação dessa forma, sua mãe conversou comigo e até o fim da semana estará indo para o Bolshoi. — Meu pai anuncia.

Olho feliz para todos e os abraços com todo o carinho que tenho por cada um.

— Devolvam tudo que eles já me deram, não quero lembrar de nada que envolva os Al-Makki. — Digo terminando esse assunto.

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