03 - Mahjub Al-Makki

Mahjub Al-Makki

Quatro anos se passaram desde o dia em que Hope me acertou na entrada do congresso, o dia em que magoei o seu coração e percebi estar fazendo a pior coisa que deveria. Naquele momento do lado de fora, quando a ouvir falar e senti a dor que ela estava sentindo, me senti um miserável por destruir o coração de uma garota inocente.

Mesmo sabendo que Hope estava sendo preparada para ser a minha esposa um dia, não imaginei a profundidade disso, imaginei que, assim como eu, ela estaria longe de sentir qualquer coisa por mim. Afinal, se nos víamos umas três vezes no ano, era muita coisa.

Fomos até o Congresso para que pudesse me desculpar com o seu pai, mas antes que pudesse entrar, ela apareceu saindo do prédio. Seria perfeito, mas não contava com a sua reação e então, vendo os seus olhos se enchendo de lágrimas, percebi.

Hope estava apaixonada, ela estava gostando de mim, do homem que a cada semana era fotografado com uma mulher diferente, envergonhando meus pais que tinham um compromisso com os pais dela. Era a oportunidade de que precisava para apenas me desculpar com ela pelo que havia feito.

Não me importei de estar com o rosto cheio de hematomas, uma vez que meus pais me puniram de uma forma que nunca fizeram antes, mas de toda a surra que recebi de meus pais e minha mãe, o que mais doeu foi o soco que recebi de Hope, o seu olhar magoado não era o que esperava.

Afinal, na época ela estava apenas com seus dezesseis anos. Mesmo sabendo que ela estava sendo preparada para um casamento comigo, tinha certeza de que ela deveria ter algum relacionamento por fora de toda essa loucura que nossos pais orquestraram. Em minha cabeça, tinha convicção de que Hope deveria ter algum namorado na escola.

Não que não a ache Hope linda, muito pelo contrário, ela é uma linda mulher, mas naquela época estava em uma fase em que muita coisa me incomodava e pensar que a minha rebeldia afetaria meus pais era o que desejava. Mas a única coisa que causou foi o fim do nosso compromisso e o afastamento dela de seus pais.

Hope já era uma garota linda na época em que estávamos comprometidos, mas agora ela está deslumbrante, não por se tornar uma das principais bailarinas do Bolshoi. Hope é a única mulher que conseguiu construir um prédio inteiro com um outdoor estampando o seu lindo rosto em minha cabeça.

A sua reação me fez perceber o quanto idiota estava sendo e, agora, preciso reconquistar a garota que vive em minha cabeça. Desde que ela partiu para Moscou e começou a fazer suas apresentações, tento de tudo para poder conseguir uma brecha e me aproximar dela, mas ainda não tive nenhuma chance de ficar perto dela e conversar um pouco.

Hoje estou aqui em Moscou para assistir a uma das suas apresentações e, por coincidência, é seu aniversário de vinte anos. Não que tenha programado para estar aqui no dia certo de seu aniversário. Mas usei minha influência para conseguir que meus negócios ocorressem durante essa semana na Europa. Aproveitei que uma amiga estava aqui e a convidei para me acompanhar ao espetáculo de balé.

Não consigo negar a mim mesmo que naquele dia, quando recebi toda a sua raiva em meu rosto, naquele momento ela passou a se tornar alguém realmente especial para mim. Alguém que não deveria ter magoado da forma como havia feito.

Mas eu tinha um problema em minhas mãos, a minha família. Que se tornou contra a minha aproximação e a família de Luca fez o possível para que não me aproximasse da princesinha do petróleo. O que explica o porquê de todas as minhas tentativas serem frustradas.

Acredito que não foi somente Mattia e Alessa de Luca que me atrapalharam para que pudesse me aproximar de Hope, tenho convicção de que um alguém chamado Carolina Alcântara Al-Makki está também interferindo.

Bufo com a frustração de ser atrapalhado por minha própria mãe, entendo toda a chateação que todos sentiram quando o vídeo da minha orgia sexual acabou caindo na internet. Dando trabalho a todos para justificar o porquê do herdeiro do Sheik Al-Makki, um muçulmano, estar em uma boate com duas mulheres praticamente cometendo atos sexuais à vista de todos.

Já não bastasse o vídeo da mulher fazendo sexo oral em mim, o soco que Hope me deu foi filmado e, em menos de uma hora, já havia mais views do que os clips de grandes cantoras internacionais. Piorando a minha situação com a minha família.

A situação me rendeu a perda da confiança de meus avós e principalmente de meu pai Hassan, que não aceitou que tivesse perdido uma linda garota para se tornar a minha esposa. Se não fosse meu pai, Bruno, acho que até hoje estaria sendo tratado como o membro da família que deveria continuar exilado na Antártida. Babi Bruno foi o que mais se esforçou para unificar a família novamente.

Por quase dois anos, fui olhado de canto de olho, mal recebi uma palavra  de minha mãe, meu pai Hassan ficou por três anos sem nem me olhar, pior ainda sem dizer qualquer coisa para mim. No meu aniversário de vinte e cinco anos, ele não estava presente. Havia ficado no Brasil e dito que eu não merecia ter a sua presença.

Desde então, passei a me redimir com Allah e implorar que ele fizesse minha família me perdoar. O que continua sendo reconstruído de grão em grão, sei que eles nunca mais irão confiar em mim, mas farei o meu melhor dia após dia. Já que a confiança de meu pai é como os grãos de areia do deserto que circula o nosso lar, existem ainda muitos grãos para serem recolhidos.

Termino de amarrar a gravata borboleta e estranho não me ver com as roupas típicas de meu povo, mas para chegar perto de Hope não posso estar com minhas roupas ou ela simplesmente vai se afastar. Como fez ano passado quando fui para Paris. Quando me viu chegando, ela simplesmente se ergueu e saiu da primeira fila.

Tento sempre descobrir alguma coisa sobre a sua vida, mas tenho a sensação… na verdade, tenho certeza de que minha mãe pediu para minha prima Gaia complicar qualquer forma que pudesse descobrir alguma informação sobre a Hope.

Até mesmo os negócios que acontecem com a Oil Company fui proibido de participar. Apenas o meu avô continua falando com a família de Luca, já que envergonhei a todos.

— Ainda não está pronto, Mahjub? — Olho para Pietra e sorrio para ela.

— Estou nervoso… — Digo, passando as contas entre meus dedos.

— Deixe de ser idiota, você é lindo e amadureceu muito nos últimos quatro anos. — Ela diz alisando o tecido do meu smoking.

— Essa vai ser a primeira vez que… que… — Fico nervoso e sinto o nervosismo querendo me dominar.

Vejo Pietra rindo da minha aflição e sento na ponta de minha cama enquanto tento controlar a minha respiração.

— Quer que ligue para Zara? — Ela me pergunta e nego com a cabeça.

— Ela não pode fazer nada nesse momento. — Fecho os olhos e começo a passar as contas do masbaha entre os dedos.

Infelizmente, ele está um pouco menor, não consegui encontrar todas as contas, mas todas as que encontrei, guardei e levei para refazer o presente que Hope havia me dado um dia. Um pouco menos aflito, levantei-me da cama e segurei na mão de Pietra, que sorriu, me encorajando.

— Vamos lá, está quase na hora do espetáculo. — Digo.

Pego todos os meus pertences e conduzo a melhor amiga da minha irmã para prestigiar comigo, uma apresentação da bailarina que destruiu o seu coração e que agora estou apaixonado.

Seguimos para o Teatro que estava com um outdoor enorme com Hope caracterizada com a roupa de sua apresentação e nas pontas de sua sapatilha, avisando que essa seria a última apresentação da temporada.

Pietra estava com um vestido escuro, deixando-a bonita, mas não tão atraente quanto a Hope. Consigo entrar com ela por uma entrada um pouco mais exclusiva, o que nos garante um pouco mais de privacidade, longe das lentes dos paparazzi.

Olhava para os lados, pedindo a Allah que ninguém me reconhecesse, não preciso de uma manchete com meu nome estampado. Não quero meus pais se entristecendo comigo outra vez.

Entramos no teatro com os meus pensamentos no que havia preparado para que chegasse mais cedo em seu apartamento, um buquê de flores brancas e um cartão para comemorar o seu aniversário, assim como nos últimos anos.

Venho fazendo o meu melhor para redimir e a cada ano estou enviando um buquê de flores para o seu apartamento, esperando que ela os tenha recebido e gostado de cada uma.

Com o braço de Pietra no meu, conseguimos entrar no camarote sem chamar a atenção de paparazzi ou de outras pessoas que pudessem me reconhecer e agradeço a Allah por isso.

— Se acalme, seu masbaha perderá a cor de tanto que passa as contas pelos seus dedos. — Ela se diverte, enquanto puxo a poltrona para que ela sente.

Estávamos bem de frente para o palco, sei que, se ela focar em mim, vai me reconhecer e essa é a minha intenção, que ela me veja, que me permita chegar um pouco mais perto dela para podermos conversar um pouco.

— Será que ela recebeu as flores? — Perguntei à minha amiga.

Pietra normalmente tem um humor e paciência que vejo apenas em meu avô, mas sei que se ela pudesse hoje me acertaria com a cadeira, mas como uma boa amiga, ela apenas revira os olhos e me entrega o cronograma do espetáculo.

Com o encarte em minhas mãos, observo todo o cronograma da noite, será uma apresentação do lago dos cisnes, ela estaria em todos os atos, já que é a personagem principal do espetáculo. As luzes do teatro se apagam, começo a olhar para todos os camarotes mais próximos do palco e noto que no primeiro camarote estava a sua mãe, que sorria e acenava para alguém que estava na plateia.

Pietra também percebe, a vejo esticando o seu corpo para procurar a pessoa que possa ser algum conhecido, mas assim como eu, ela não consegue identificar ninguém e volta a sentar-se ereta.

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