Giulia Ricciardi Senti o olhar de meu pai cair sobre mim, profundo e pesado. Ele se afastou de Lorenzo, caminhando em minha direção com passos lentos, como se cada um deles carregasse o peso dos erros que cometeu. Meu peito se apertou, meus olhos começaram a marejar, e a emoção ameaçava me dominar a qualquer instante. — Mia principessa… — ele disse em um tom baixo e rouco, a voz embargada, os olhos se enchendo de lágrimas. — Me perdoe… por favor, me perdoe. Eu tentei me manter firme, mas as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, quentes e incontroláveis. — Papà… o senhor me machucou demais. — minha voz tremeu, cada palavra saindo como um desabafo há muito tempo guardado. — Nunca confiava em mim… nunca me ouvia. Sempre me via como ingênua. Por quê, papà? Por que não acreditava em mim? Ele não tentou conter as lágrimas que agora corriam por seu rosto, marcando suas feições rígidas com uma vulnerabilidade que eu jamais tinha visto. — Porque fui um tolo! — confessou, a voz c
Lorenzo Salvatore Chegamos à imponente casa dos Ricciardi. Tudo estava igual, os corredores carregavam o mesmo ar austero, o piso impecavelmente limpo, os móveis no mesmo lugar… Mas, ao mesmo tempo, algo parecia diferente. Talvez fosse o peso das últimas revelações, ou o fato de que agora eu e Giulia estávamos, finalmente, livres para viver nossa história. Talvez fosse a verdade que veio à tona: eu não era mais apenas Lorenzo Salvatore. Agora, eu também carregava o sangue dos Cavalcante, e isso mudava tudo. O ar parecia mais pesado, como se anunciasse uma tempestade iminente. Assim que entramos, Giulia, Francesca, Liz e Sophie seguiram juntas para outro lado da casa. Já eu, junto com Domenico e os outros homens, seguimos para o escritório. O ambiente era sério e carregado de tensão. Mal havíamos entrado e Domenico já ordenou que chamassem seus melhores homens. Um por um, eles começaram a chegar. Entre eles, estava Thomas, que me olhou surpreso, como se tivesse visto um fantasma. E
Giulia Ricciardi Assim que Lorenzo saiu do quarto, minha mãe soltou uma risada baixa, cruzando os braços enquanto balançava a cabeça. — Agora que tudo foi revelado, é tão óbvio o quanto vocês se amavam. — comentou, sorrindo de leve. — Não acredito que nunca percebi nada. Como fui tão cega? Soltei um riso tímido, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ela caminhou até mim, segurando minhas mãos com firmeza, enquanto seus olhos, tão parecidos com os meus, me encaravam com ternura. — Me perdoe, filha. — A voz dela soava carregada de arrependimento. — Eu estava tão preocupada em segurar seu pai, com medo de que ele entrasse em colapso por causa de todo o estresse, que acabei negligenciando você e seus irmãos. Seus olhos começaram a se encher de lágrimas, a sinceridade nas palavras dela partindo meu coração. Por mais que eu quisesse ser forte, não consegui segurar as minhas próprias lágrimas. — Eu entendo, Mamma. — minha voz saiu baixa, mas cheia de verdade. — O que me confo
Lorenzo Salvatore Após alguns minutos, minha mãe começou a se acalmar. O choro foi diminuindo, e a tensão em seu rosto suavizou um pouco. Giulia, sempre cuidadosa, foi até a cozinha e preparou um chá para ela. — Beba devagar, vai te ajudar a se acalmar, — disse, oferecendo a xícara. Minha mãe tomou pequenos goles, respirando fundo a cada pausa. Seus olhos ainda carregavam o medo, mas agora havia um traço de esperança. Enquanto isso, Giulia se sentou ao lado de Luca, que estava encolhido no sofá, claramente assustado. Ela o envolveu com cuidado, murmurando palavras tranquilizadoras até que, exausto, ele acabou dormindo em seu colo. Por um momento, me perdi na cena. Se não fosse pelo caos ao nosso redor, eu teria sorrido ao ver Giulia segurando Luca com tanta ternura. Ela parecia já fazer parte da nossa família, como se sempre estivesse ali. — Eu vou encontrá-la, mamma. Eu prometo. — segurei as mãos dela, encarando-a nos olhos. — Mas a senhora precisa ficar calma e forte. Cuide do
Lorenzo Salvatore O carro estava mergulhado em silêncio, quebrado apenas pelo ronco suave do motor e pelos sons noturnos que vinham do lado de fora. O céu estava escuro, sem lua, e a estrada deserta parecia se estender infinitamente sob o brilho fraco dos faróis. O ar gelado da madrugada entrava pela janela entreaberta, acariciando meu rosto e me mantendo alerta. Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade que me corroía por dentro. Ao meu lado, Thomas mantinha os olhos fixos na estrada, as mãos firmes no volante. Antônio e dois soldados estavam no banco de trás, tão concentrados quanto eu. No comboio que nos seguia, Domenico, Matteo, Stefan, Luis, George e mais soldados ocupavam os outros carros. O silêncio reinava ali também, mas não era de calmaria — era o silêncio tenso de quem estava prestes a enfrentar o inimigo. Todos estavam focados em um único objetivo: vingança. Vittorio já havia causado destruição suficiente. Ele havia cruzado todos os limites, machucado pessoas que
Lorenzo Salvatore Assim que a porta escancarou, a cena diante de nós foi revelada em uma fração de segundo. Era uma sala ampla, iluminada por refletores pendurados no teto, que projetavam uma luz fria e opressora. Caixas de madeira e mesas desorganizadas estavam espalhadas pelo lugar, formando um labirinto improvisado. No fundo da sala, dois homens estavam posicionados ao lado de uma jovem com as mãos amarradas à cadeira — Anna. Meu sangue gelou. Ela estava pálida, com o rosto marcado por um corte na bochecha, mas seus olhos estavam vivos e atentos. Assim que me viu, sua expressão mudou de medo para esperança. Os dois homens se voltaram para nós, surpresos, mas foram rápidos em erguer suas armas. — Cobre-se! — gritei, mergulhando para trás de uma das caixas enquanto os tiros explodiam pelo ambiente. O som era ensurdecedor, o eco dos disparos se misturando ao caos que se instaurava. O cheiro de pólvora ficou mais forte, queimando minhas narinas. Os soldados ao meu lado respondera
Giulia Ricciardi A água fria escorria pelo meu corpo, mas não era capaz de apagar o incêndio que consumia meu peito. Ela se misturava às minhas lágrimas quentes, escorrendo juntas pelo ralo, levando embora tudo… menos a dor. Uma dor que queimava, que rasgava, que parecia não ter fim. O vazio dentro de mim era um abismo sem fundo. Nada poderia preenchê-lo, porque nada, nada nesse mundo poderia trazer Marco de volta. Meu irmão. Meu protetor, meu confidente, meu melhor amigo. O peso da realidade ainda não havia caído sobre mim por completo. Eu me agarrava a uma esperança irracional, como se, ao sair deste banheiro, eu pudesse encontrá-lo no corredor, sorrindo de canto, me dando um beijo na testa como fazia todas as manhãs. Mas eu sabia que isso não aconteceria. A lembrança daquela ligação ainda ecoava na minha cabeça. O telefone tocou, e nossa mãe atendeu com pressa. Eu e Francesca trocamos um olhar ansioso. Talvez ele tivesse acordado do coma. Talvez… talvez tivéssemos mais uma
Lorenzo Salvatore Um mês depois...Enquanto revisava alguns documentos sobre os armamentos que estavam para chegar, senti minha cabeça latejar. A exaustão pesava sobre mim como um fardo invisível. Havia tantas coisas para consertar, tantas mudanças a fazer.Vittorio havia deixado um rastro de caos. Ele não passava de um monstro sanguinário, um assassino impiedoso, mas jamais um líder. Sua administração era um desastre, e agora, três semanas depois de tomar o meu lugar de direito, eu ainda estava limpando sua sujeira.Para alguns, minha ascensão foi um alívio. Para outros, uma afronta. E para esses últimos, deixei claro que havia apenas um caminho: a eliminação. Muitos dos homens serviam Vittorio e Leonardo por necessidade, não por lealdade. Quando assumi o comando, muitos vieram até mim, jurando fidelidade e contando sobre as atrocidades que presenciaram.Outros fugiram. Alguns tentaram me desafiar, afirmando que aquele não era o meu lugar. Tive que mostrar que estavam errados. Execu