Lorenzo Salvatore Após alguns minutos, minha mãe começou a se acalmar. O choro foi diminuindo, e a tensão em seu rosto suavizou um pouco. Giulia, sempre cuidadosa, foi até a cozinha e preparou um chá para ela. — Beba devagar, vai te ajudar a se acalmar, — disse, oferecendo a xícara. Minha mãe tomou pequenos goles, respirando fundo a cada pausa. Seus olhos ainda carregavam o medo, mas agora havia um traço de esperança. Enquanto isso, Giulia se sentou ao lado de Luca, que estava encolhido no sofá, claramente assustado. Ela o envolveu com cuidado, murmurando palavras tranquilizadoras até que, exausto, ele acabou dormindo em seu colo. Por um momento, me perdi na cena. Se não fosse pelo caos ao nosso redor, eu teria sorrido ao ver Giulia segurando Luca com tanta ternura. Ela parecia já fazer parte da nossa família, como se sempre estivesse ali. — Eu vou encontrá-la, mamma. Eu prometo. — segurei as mãos dela, encarando-a nos olhos. — Mas a senhora precisa ficar calma e forte. Cuide do
Lorenzo Salvatore O carro estava mergulhado em silêncio, quebrado apenas pelo ronco suave do motor e pelos sons noturnos que vinham do lado de fora. O céu estava escuro, sem lua, e a estrada deserta parecia se estender infinitamente sob o brilho fraco dos faróis. O ar gelado da madrugada entrava pela janela entreaberta, acariciando meu rosto e me mantendo alerta. Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade que me corroía por dentro. Ao meu lado, Thomas mantinha os olhos fixos na estrada, as mãos firmes no volante. Antônio e dois soldados estavam no banco de trás, tão concentrados quanto eu. No comboio que nos seguia, Domenico, Matteo, Stefan, Luis, George e mais soldados ocupavam os outros carros. O silêncio reinava ali também, mas não era de calmaria — era o silêncio tenso de quem estava prestes a enfrentar o inimigo. Todos estavam focados em um único objetivo: vingança. Vittorio já havia causado destruição suficiente. Ele havia cruzado todos os limites, machucado pessoas que
Lorenzo Salvatore Assim que a porta escancarou, a cena diante de nós foi revelada em uma fração de segundo. Era uma sala ampla, iluminada por refletores pendurados no teto, que projetavam uma luz fria e opressora. Caixas de madeira e mesas desorganizadas estavam espalhadas pelo lugar, formando um labirinto improvisado. No fundo da sala, dois homens estavam posicionados ao lado de uma jovem com as mãos amarradas à cadeira — Anna. Meu sangue gelou. Ela estava pálida, com o rosto marcado por um corte na bochecha, mas seus olhos estavam vivos e atentos. Assim que me viu, sua expressão mudou de medo para esperança. Os dois homens se voltaram para nós, surpresos, mas foram rápidos em erguer suas armas. — Cobre-se! — gritei, mergulhando para trás de uma das caixas enquanto os tiros explodiam pelo ambiente. O som era ensurdecedor, o eco dos disparos se misturando ao caos que se instaurava. O cheiro de pólvora ficou mais forte, queimando minhas narinas. Os soldados ao meu lado respondera
Giulia Ricciardi A água fria escorria pelo meu corpo, mas não era capaz de apagar o incêndio que consumia meu peito. Ela se misturava às minhas lágrimas quentes, escorrendo juntas pelo ralo, levando embora tudo… menos a dor. Uma dor que queimava, que rasgava, que parecia não ter fim. O vazio dentro de mim era um abismo sem fundo. Nada poderia preenchê-lo, porque nada, nada nesse mundo poderia trazer Marco de volta. Meu irmão. Meu protetor, meu confidente, meu melhor amigo. O peso da realidade ainda não havia caído sobre mim por completo. Eu me agarrava a uma esperança irracional, como se, ao sair deste banheiro, eu pudesse encontrá-lo no corredor, sorrindo de canto, me dando um beijo na testa como fazia todas as manhãs. Mas eu sabia que isso não aconteceria. A lembrança daquela ligação ainda ecoava na minha cabeça. O telefone tocou, e nossa mãe atendeu com pressa. Eu e Francesca trocamos um olhar ansioso. Talvez ele tivesse acordado do coma. Talvez… talvez tivéssemos mais uma
Lorenzo Salvatore Um mês depois...Enquanto revisava alguns documentos sobre os armamentos que estavam para chegar, senti minha cabeça latejar. A exaustão pesava sobre mim como um fardo invisível. Havia tantas coisas para consertar, tantas mudanças a fazer.Vittorio havia deixado um rastro de caos. Ele não passava de um monstro sanguinário, um assassino impiedoso, mas jamais um líder. Sua administração era um desastre, e agora, três semanas depois de tomar o meu lugar de direito, eu ainda estava limpando sua sujeira.Para alguns, minha ascensão foi um alívio. Para outros, uma afronta. E para esses últimos, deixei claro que havia apenas um caminho: a eliminação. Muitos dos homens serviam Vittorio e Leonardo por necessidade, não por lealdade. Quando assumi o comando, muitos vieram até mim, jurando fidelidade e contando sobre as atrocidades que presenciaram.Outros fugiram. Alguns tentaram me desafiar, afirmando que aquele não era o meu lugar. Tive que mostrar que estavam errados. Execu
Giulia RicciardiDesci as escadas e segui direto para a sala de jantar, onde o aroma de café fresco e pão recém-saído do forno preenchia o ambiente. Meus pais e Francesca já estavam à mesa, saboreando o café da manhã.— Bom dia, família — cumprimentei, acomodando-me em uma das cadeiras.— Bom dia — responderam em uníssono.Desde a morte de Marco, Francesca e eu decidimos retomar algumas tradições familiares, e uma delas era tomar café juntos sempre que possível. Não era apenas uma refeição, mas um momento de conexão, um esforço silencioso para restaurar um pouco da normalidade que nos foi arrancada.Enquanto comíamos, conversávamos sobre trivialidades do dia a dia—os negócios da família, os eventos sociais que precisaríamos comparecer, e até mesmo sobre o novo jardim que mamãe planejava renovar. O clima estava mais leve do que nos últimos meses, mas ainda havia um vazio sutil pairando no ar.Foi então que mamãe direcionou a conversa para um assunto delicado.— E você, filha? Quando vo
Lorenzo Salvatore Uma semana havia se passado, intensa e repleta de afazeres. Mas, finalmente, as coisas estavam entrando nos eixos. A máfia estava se reorganizando, e as mudanças já eram visíveis. Novos aliados surgiram, e as diferenças em relação ao passado eram inegáveis.Eu sabia exatamente por que tantos buscavam alianças comigo. A máfia dos Cavalcante sempre teve um grande potencial, mas esteve sob um líder fraco e sem visão. Agora, sob o meu comando, tudo estava mudando — e para melhor.E essa era apenas a primeira fase do que eu estava construindo. No futuro, quando meu filho ou filha assumir o poder, ele ou ela não será apenas o líder dos Cavalcante, mas também dos Ricciardi. A união dessas duas máfias não apenas solidificará nosso domínio, mas nos tornará a força mais poderosa da Europa.Todos querem estar ao lado de quem governa o topo. E eu, juntamente com Giulia, criaremos esse topo.Inclusive, hoje começariam as aulas de defesa pessoal dela. Eu estava no escritório, fin
Giulia Ricciardi Um mês depois...Estava no meu quarto, cuidadosamente separando as roupas para a viagem. Em poucas horas, Lorenzo e eu partiríamos para a fazenda da minha família, onde aconteceria o casamento de Francesca e Matteo. O momento deveria ser de alegria e expectativa, mas, conforme dobrava cada peça de roupa e a colocava na mala, senti um aperto no peito.Uma lágrima deslizou pelo meu rosto. Tentei ignorá-la, focando-me no que estava fazendo, mas não demorou para que mais lágrimas surgissem, turvando minha visão.Era estranho. Eu sempre soube que esse dia chegaria. Francesca era apenas um ano mais nova do que eu, mas, para mim, ela sempre seria minha menininha. Eu a vi crescer, cuidei dela, protegi-a... E agora, ela estava prestes a se casar, a construir uma nova família.Solucei baixinho e limpei as lágrimas com a palma da mão, tentando conter o choro, mas parecia impossível. Meu coração estava tão apertado, uma onda de emoção que eu não conseguia controlar.Foi quando o