— Que susto, garoto! Tá doido? Como aparece no meu quarto assim?
— Quer, por favor, falar baixo.
— O que tá fazendo aqui? Veio me criticar mais? Vai falar o quê agora? Sobre meu modo de vestir?
Ele aproximou-se de mim.
— Para. Desculpe-me, ok. — E sentando-se na beirada da cama continuou: — Vim buscar você. Gerd acha perigoso você ficar sozinha aqui.
— Ah. Veio porque o Gerd mandou.
Ele me olhou sério.
— Eu também acho perigoso. Não sabe o que senti... — Ele parou de falar e baixou a cabeça. Eu fiquei olhando para ele sem entender.
— Tudo bem. Eu volto pra mansão. Mas antes quero que me explique tudo. — Fiquei olhando para ele até que levantasse a cabeça. E entã
Os sonhos de Krica não faziam sentido. Nem mesmo para Gerd. — Bem, pelo que sei, seus sonhos irão ficar mais recorrentes e depois começará a ter visões até mesmo acordada. Krica arregalou os olhos. — Fala sério! Não quero ficar tendo visões! Vou ficar doida antes de conseguir sair desse vale. Iana apareceu na sala e sentou-se na poltrona de frente para onde estávamos. — A energia continua pairando sobre ela. Não ocorreu nenhuma alteração. — Certo — Gerd falou. — Arion poderia ficar um pouco com ela agora. — E virando-se para mim perguntou: — Tudo bem? —Claro — respondi e olhei para Krica que estava sentada no sofá. — Vem comigo? Ela
Aparecemos na sala, mas estava vazia. Sem soltar minha mão, Arion me olhou. — Vamos dar uma volta pela cidade. — Ele disse puxando-me em direção à porta. Achei estranho usarmos a porta já que poderíamos aparecer no meio da cidade em menos de um segundo. — Nós vamos andar? — eu perguntei confusa. Ele sorriu. — Quer procurar por eles aparecendo e desaparecendo por toda cidade? — Acho que não. Tudo bem, andar um pouco serve. Ele riu e sacudiu a cabeça. Não sei se ele esqueceu do detalhe, mas não soltou minha mão e caminhamos assim, em silêncio, por um bom tempo. Descemos a colina e fomos em direção ao mirante, mas eles não estavam lá. Somente quando passávam
Não estava gostando nem um pouco de pensar em Krica sozinha dentro da casa do pastor Jonas. Era muito difícil para mim, lembrar a última vez em que ela esteve lá. Por mais que eu quisesse apagar meu sentimento por ela, ele só crescia. Ficava cada vez mais complicado controlar. Eu teria que ficar por perto. Não poderia deixá-la sozinha. Ficamos o dia todo discutindo estratégias para tentarmos fazer direito, mas mesmo assim… Gerd virou-se para nós, desviando meus pensamentos. — Então Krica ficará dentro da casa. É melhor que Iana fique com Dami. Arion pode ficar na casa onde Isadora deu o sinal e Ansur ficará por perto da casa de Jonas. Eu ficarei fazendo ronda. Aparecerei a cada hora em um local para ajudar quem precisar. — Eu quero ficar perto da casa de Jonas — eu disse dando um passo à fr
Aparecemos do lado de fora da casa do pastor Jonas. Precisei puxar minha mão para que Ansur a largasse. — Pode me soltar, Ansur. Não vai dizer que tá preocupado em ter que me salvar de lá também. — Não, desculpe, tudo bem. Eu só estava distraído pensando porque Arion anda tão irritado ultimamente. — Pra mim ele sempre foi irritado. E irritante. — Deixa pra lá. Vamos esperar para ver se Jonas e a família saem de casa. Ficamos sentados por trás do tronco de uma árvore na área de piquenique. — Sabe, eu até que estou gostando que tudo isso esteja acontecendo. Não que esteja feliz com gente morrendo. Não, de jeito nenhum. É que há muitos anos estamos só rondando, vigiando, esperando. Nada a
— Ansur! Onde está Krica? — Ele a pegou, Arion. Não pude fazer nada. — Eu sabia! Ela não deveria ter ido! Ansur parecia muito assustado e confuso. — Eanes? O que ela tá fazendo aqui? Nesse momento ouvimos Gerd gritando assim que se tornou visível. — Ansur! O que aconteceu? Krica está presa na casa de Jonas! Ansur olhou de um para outro atônito e gritou para Gerd: — Eu sei, Gerd! Por isso vim pra cá. — E olhando de volta para mim, — O que Eanes está fazendo aqui? Como ela conseguiu entrar na mansão? — Eu tentei impedi-la de matar a Mariana. Joguei-me em cima dela e o primeiro lugar que pensei foi esse. Pra onde mais eu a levaria? Ansur começou a andar de um lado para
Acordei suando e assustada. Não sei por quanto tempo dormi. No quarto sem janela era difícil dizer se ainda era noite. Mais um sonho. Sentei na cama com as pernas cruzadas e fechei os olhos para me concentrar. Eu agora sabia a importância dos sonhos. Uma bola azul brilhante do tamanho de uma bola de tênis saía de uma janela, vagava pela floresta e entrava no tronco de uma sumaúma. A árvore iluminava-se brevemente, depois se apagava deixando a floresta escura e silenciosa novamente. Lembro-me de ouvir gritos e depois todas as árvores estavam em chamas. Abri os olhos. Outro sonho sem sentido para mim. Esforcei-me para lembrar mais algum detalhe, mas nada além dessa visão aparecia. Lembrei-me da pedra que carregava no bolso. Peguei a pedra alisando-a com os dedos, sentindo sua superfície lisa e fria, observando o leve brilho azulado que ela emanava. Guardei a pedra de volta no bolso. Se algué
Senti a presença deles chegando. Meu coração acelerou com a incerteza de que Krica estaria bem. Fechei os olhos e respirei fundo e calmamente para relaxar. Eu estava ficando louco. Meu coração dizia para correr e abraçá-la e minha razão dizia para não chegar perto. Uma inconsequente, uma rebelde, com uma noção bem desajustada de certo e errado. Eu nunca poderia ficar com ela. Respirei fundo novamente e desci, sem me preocupar em desaparecer. Assim teria mais tempo para me recompor. Engano meu. Ao chegar na sala, ver Eanes desacordada no sofá e não ver Krica, meu coração disparou novamente. — Onde está a Krica? E o que Eanes faz de novo aqui? — A Krica subiu para descansar. Estava fraca. Eanes tentou matá-la — Gerd falou. — Chegamos bem na hora. Se tivéssemos demor
Se eu soubesse que, quando chegasse no vale, teria esse tal chamado de profetisa esperando por mim não viria nem amarrada. Mas por outro lado eu estava gostando dessa história toda de viajantes, protetores e pastores malucos assassinos. Acordei de outro sonho. E dessa vez fazia mais sentido. Abri a cortina e olhei para a janela. O sol estava alto no céu. Minha rotina de sono estava completamente louca. Saí do quarto para procurar por Gerd e contar os sonhos que tive. Ainda nem havia contado o anterior. Desci as escadas e parei no último degrau. Uma lâmina gelada cortou meu peito, do estômago até o coração. Fiquei paralisada. Eu não estava vendo aquilo. Não, eu ainda estava dormindo. Fazia parte do sonho. Arion e Eanes estavam abraçados no sofá envolvidos em um beijo de tirar o fôlego. Eles se afastaram e Arion olhou para mim. Não vi nada em sua expressão q