Aparecemos do lado de fora da casa do pastor Jonas. Precisei puxar minha mão para que Ansur a largasse.
— Pode me soltar, Ansur. Não vai dizer que tá preocupado em ter que me salvar de lá também.
— Não, desculpe, tudo bem. Eu só estava distraído pensando porque Arion anda tão irritado ultimamente.
— Pra mim ele sempre foi irritado. E irritante.
— Deixa pra lá. Vamos esperar para ver se Jonas e a família saem de casa.
Ficamos sentados por trás do tronco de uma árvore na área de piquenique.
— Sabe, eu até que estou gostando que tudo isso esteja acontecendo. Não que esteja feliz com gente morrendo. Não, de jeito nenhum. É que há muitos anos estamos só rondando, vigiando, esperando. Nada a
— Ansur! Onde está Krica? — Ele a pegou, Arion. Não pude fazer nada. — Eu sabia! Ela não deveria ter ido! Ansur parecia muito assustado e confuso. — Eanes? O que ela tá fazendo aqui? Nesse momento ouvimos Gerd gritando assim que se tornou visível. — Ansur! O que aconteceu? Krica está presa na casa de Jonas! Ansur olhou de um para outro atônito e gritou para Gerd: — Eu sei, Gerd! Por isso vim pra cá. — E olhando de volta para mim, — O que Eanes está fazendo aqui? Como ela conseguiu entrar na mansão? — Eu tentei impedi-la de matar a Mariana. Joguei-me em cima dela e o primeiro lugar que pensei foi esse. Pra onde mais eu a levaria? Ansur começou a andar de um lado para
Acordei suando e assustada. Não sei por quanto tempo dormi. No quarto sem janela era difícil dizer se ainda era noite. Mais um sonho. Sentei na cama com as pernas cruzadas e fechei os olhos para me concentrar. Eu agora sabia a importância dos sonhos. Uma bola azul brilhante do tamanho de uma bola de tênis saía de uma janela, vagava pela floresta e entrava no tronco de uma sumaúma. A árvore iluminava-se brevemente, depois se apagava deixando a floresta escura e silenciosa novamente. Lembro-me de ouvir gritos e depois todas as árvores estavam em chamas. Abri os olhos. Outro sonho sem sentido para mim. Esforcei-me para lembrar mais algum detalhe, mas nada além dessa visão aparecia. Lembrei-me da pedra que carregava no bolso. Peguei a pedra alisando-a com os dedos, sentindo sua superfície lisa e fria, observando o leve brilho azulado que ela emanava. Guardei a pedra de volta no bolso. Se algué
Senti a presença deles chegando. Meu coração acelerou com a incerteza de que Krica estaria bem. Fechei os olhos e respirei fundo e calmamente para relaxar. Eu estava ficando louco. Meu coração dizia para correr e abraçá-la e minha razão dizia para não chegar perto. Uma inconsequente, uma rebelde, com uma noção bem desajustada de certo e errado. Eu nunca poderia ficar com ela. Respirei fundo novamente e desci, sem me preocupar em desaparecer. Assim teria mais tempo para me recompor. Engano meu. Ao chegar na sala, ver Eanes desacordada no sofá e não ver Krica, meu coração disparou novamente. — Onde está a Krica? E o que Eanes faz de novo aqui? — A Krica subiu para descansar. Estava fraca. Eanes tentou matá-la — Gerd falou. — Chegamos bem na hora. Se tivéssemos demor
Se eu soubesse que, quando chegasse no vale, teria esse tal chamado de profetisa esperando por mim não viria nem amarrada. Mas por outro lado eu estava gostando dessa história toda de viajantes, protetores e pastores malucos assassinos. Acordei de outro sonho. E dessa vez fazia mais sentido. Abri a cortina e olhei para a janela. O sol estava alto no céu. Minha rotina de sono estava completamente louca. Saí do quarto para procurar por Gerd e contar os sonhos que tive. Ainda nem havia contado o anterior. Desci as escadas e parei no último degrau. Uma lâmina gelada cortou meu peito, do estômago até o coração. Fiquei paralisada. Eu não estava vendo aquilo. Não, eu ainda estava dormindo. Fazia parte do sonho. Arion e Eanes estavam abraçados no sofá envolvidos em um beijo de tirar o fôlego. Eles se afastaram e Arion olhou para mim. Não vi nada em sua expressão q
Krica subiu as escadas correndo. Levantei-me do sofá e Gerd se aproximou estendendo o braço e dizendo “não”, antes que eu desaparecesse e fosse atrás de Krica. — Se você for atrás dela agora só vai piorar as coisas. Deixe que eu converse com ela. Gerd desapareceu e eu me joguei no sofá. — O que aconteceu? Por que você estava me beijando? E por que eu senti tanta necessidade de beijar você? — Eanes corou e se atrapalhou com as palavras. — Quero dizer... eu nunca quis te beijar. Eu... não sei o que houve. De repente eu acordei e estava assim... com você... e… Foi Ansur quem respondeu por mim. Eu não queria falar. Eu não queria pensar no que aconteceu. — Calma, Eanes. Acho que foi uma reação natural para uma viajante. Vo
Arion ficou sozinho comigo no quarto. Quase sozinho. E por um momento desejei que Dami acordasse. Não queria ouvir Arion falando. Não queria ouvir suas explicações. Eu ainda estava com raiva. E com ciúmes, e magoada, e... droga, completamente apaixonada por esse idiota. Ficamos nos olhando em silêncio por alguns minutos. Cada segundo que eu passava observando aquele rosto lindo meu estômago ficava mais frio, minha pulsação mais rápida, meu coração mais acelerado. Eu já estava entrando em desespero quando ele falou baixinho. — Me desculpe. — Pelo quê? — Por você ter visto o que viu sem antes saber o motivo. Por eu ter dado uma impressão errada sobre o que sinto por você. Por… — Tudo bem. — Eu me levantei interrompendo Arion.  
Eu estava em êxtase. Esperava que quando encontrasse alguém que eu realmente amasse, eu me sentiria feliz e completo, mas nunca dessa forma. No momento em que a beijei eu percebi, ela era tudo para mim. Afastei meu rosto para observar o seu. Ela era linda. Acariciei seu cabelo e a puxei para que pudesse abraçá-la, sentir seu corpo junto ao meu. Saber que ela agora estaria sempre perto de mim. Eu estava completamente envolvido. E havia lhe passado uma dose de meu poder. Uma pequenina porção, mas que significava que agora ela era uma viajante, e eu estava realmente disposto a dividir todo meu poder com ela. Afastei-me e segurei suas mãos. — Você não tem noção do que acabei de fazer. Ela ficou séria, olhando para mim sem dizer nada e com uma expressão triste. Uma lágrima escapou de seus olhos. Eu pude sentir que ela estava tão
Eu estava cansada. Era como se eu tivesse feito um esforço físico enorme. Depois que Arion saiu do quarto, me deixando sozinha acho que cochilei. Mas pareceu não ter sido suficiente. Olhei para o lado, Dami respirando tão suavemente e sua pele tão pálida que parecia morta. Mas ela me transmitia paz. Transmitia, porque agora eu estava com medo de tocá-la novamente. Olhei para cima, o dossel vermelho dando um ar melancólico ao quarto. De repente lembrei. Lembrei-me das palavras de Arion: “Não foi por pena de você que te beijei”. Porque ele fazia isso comigo? Eu estava surtando. Eu realmente estava ficando maluca com esse garoto. Não sabia mais o que sentia. Raiva, mágoa ou se explodia de amor por ele. Que saco! Eu iria explodir literalmente uma hora dessas. Ou daria um soco bem no meio da fuça dele, ou o agarraria para mais um beijo. Arion apareceu interrompendo meus pens