Arion ficou sozinho comigo no quarto. Quase sozinho. E por um momento desejei que Dami acordasse. Não queria ouvir Arion falando. Não queria ouvir suas explicações. Eu ainda estava com raiva. E com ciúmes, e magoada, e... droga, completamente apaixonada por esse idiota. Ficamos nos olhando em silêncio por alguns minutos. Cada segundo que eu passava observando aquele rosto lindo meu estômago ficava mais frio, minha pulsação mais rápida, meu coração mais acelerado. Eu já estava entrando em desespero quando ele falou baixinho.
— Me desculpe.
— Pelo quê?
— Por você ter visto o que viu sem antes saber o motivo. Por eu ter dado uma impressão errada sobre o que sinto por você. Por…
— Tudo bem. — Eu me levantei interrompendo Arion.
 
Eu estava em êxtase. Esperava que quando encontrasse alguém que eu realmente amasse, eu me sentiria feliz e completo, mas nunca dessa forma. No momento em que a beijei eu percebi, ela era tudo para mim. Afastei meu rosto para observar o seu. Ela era linda. Acariciei seu cabelo e a puxei para que pudesse abraçá-la, sentir seu corpo junto ao meu. Saber que ela agora estaria sempre perto de mim. Eu estava completamente envolvido. E havia lhe passado uma dose de meu poder. Uma pequenina porção, mas que significava que agora ela era uma viajante, e eu estava realmente disposto a dividir todo meu poder com ela. Afastei-me e segurei suas mãos. — Você não tem noção do que acabei de fazer. Ela ficou séria, olhando para mim sem dizer nada e com uma expressão triste. Uma lágrima escapou de seus olhos. Eu pude sentir que ela estava tão
Eu estava cansada. Era como se eu tivesse feito um esforço físico enorme. Depois que Arion saiu do quarto, me deixando sozinha acho que cochilei. Mas pareceu não ter sido suficiente. Olhei para o lado, Dami respirando tão suavemente e sua pele tão pálida que parecia morta. Mas ela me transmitia paz. Transmitia, porque agora eu estava com medo de tocá-la novamente. Olhei para cima, o dossel vermelho dando um ar melancólico ao quarto. De repente lembrei. Lembrei-me das palavras de Arion: “Não foi por pena de você que te beijei”. Porque ele fazia isso comigo? Eu estava surtando. Eu realmente estava ficando maluca com esse garoto. Não sabia mais o que sentia. Raiva, mágoa ou se explodia de amor por ele. Que saco! Eu iria explodir literalmente uma hora dessas. Ou daria um soco bem no meio da fuça dele, ou o agarraria para mais um beijo. Arion apareceu interrompendo meus pens
Gerd levou Krica para novamente tocar a Srª Ruschel. Ansur desapareceu logo em seguida. Eu estava prestes a ir atrás deles quando Iana se aproximou e segurou em meu braço — Arion, por que fez isso? Por que eu posso sentir a presença de Krica agora? Não pode transformá- la em uma viajante. Ela é uma delinquente. Não tem ideia de como ela pode usar esse poder. Ela pode se aproveitar disso para roubar, trapacear e sabe-se lá o que mais. — A Krica não é assim. Ela apenas conviveu tempo demais com as pessoas erradas. Para ela, tudo o que fazia era considerado normal. Não via maldade em roubar se os que a rodeavam também o faziam. Ela pode mudar. Ela já mudou. — Mudou tanto que roubou a pedra da casa de Jonas. — E, admita, se não fosse ela pegar aquela pedra estaría
Abri os olhos para um quarto à meia-luz tentando lembrar porque estava ali. Ao olhar para o lado vi Dami e recordei toda a história que eu havia presenciado através de sua mente. Não entendia porque essas visões me deixavam tão exausta. Arion apareceu no quarto. — Vim ver como você está. Dormiu bem? — Acho que sim, mas ainda tô meio cansada. Que horas são? Minha cabeça estava completamente embaralhada. Ele deu um sorriso. Aproximou-se da cama e sentou-se ao meu lado empurrando-me um pouco para dar espaço. Curvou seu tronco até seu rosto estar quase colado ao meu. — Vai amanhecer em poucas horas — ele disse. — Tenho um remedinho que vai te deixar novinha em folha. Ele encostou seus lábios macios nos meus e só com esse toque meu coraç&a
Gerd se aproximou de mim e me deu um tapinha no ombro. — Cuide dela. Ela precisa de força. — E virando-se para Krica. — Obrigado, Krica. Essas informações foram muito importantes. Foi bom saber um pouco do que aconteceu por aqui. — Krica abriu os olhos. — Vou conversar com Iana e Ansur. Descanse. Gerd e Ansur desapareceram, seguidos de Iana. Inclinei-me para mais perto de Krica. Olhando diretamente dentro dos seus olhos, passei a mão por seu cabelo, depois por sua bochecha e com o polegar contornei seus lábios. — Você é especial, sabia? Ela deu um sorriso, mas pude perceber que estava cansada demais até para esse simples ato. — Não sei mais o que eu sou. — Ela fez esforço para se sentar. — Até uns dias atrás eu não tava nem aí pr
Eu tive uma sensação estranha quando surgimos ao lado da casa. Parecia que alguma coisa havia sido sugada de dentro de mim. Nunca tinha sentido isso quando Arion me transportava para os lugares. O céu já dava sinais de que iria amanhecer logo. Entrei na casa escura e subi para meu quarto. Acendi apenas a luz do abajur. Abri a porta do armário e comecei a enfiar roupas para dentro da mochila. Senti que alguém estava no quarto. Arion não iria mesmo me deixar sozinha. — Já disse que não preciso de babá — eu disse rindo da preocupação exagerada dele, enquanto eu fechava a porta do armário. Levei um susto ao virar a cabeça e me deparar com quem estava de pé, bem de frente para mim. — Iana? O que você tá fazendo aqui? — Tá vendo isso? Ela sacudia a pe
— Você ficou completamente maluca, Iana! — Foi aquela garota que me atacou. Eu só fui dizer a ela que poderia levá-la de volta para casa. Ela é doida! — E porque fez isso? Porque queria levar a Krica embora? Ela é a profetiza que está nos ajudando! — Ansur perguntou. Não estava completamente ciente da extensão do ciúme que Iana sentia. — Ela queria ir embora, não lembra? Só achei que poderia ajudá-la. — Pare de ser cínica, Iana! — eu disse com raiva. — Esperem. — Gerd disse elevando as mãos para tentar nos acalmar. — Não podem discutir assim. Deixem-me conversar com Iana. — É melhor mesmo. Estou cansado das criancices dela. — Olhei para Gerd. — E
Arion desapareceu e não entendi nada até tia Odete aparecer na porta do quarto. — Bom dia, Maria Cristina. Ouvi vozes. Era você? — hum... Eu estava cantando. — Bom ver você feliz. Quer descer para me ajudar? — Na verdade estou com um pouquinho de dor de cabeça. Vou ficar por aqui mais um pouco. Tia Odete deu a risadinha que eu já estava me acostumando a ouvir. — Vai ficar tudo bem. Por isso precisa passar uns dias com o pastor Jonas. Até todas as impurezas que trouxe saírem de seu corpo. Ela ainda achava que meu sumiço se devia a eu estar hospedada com Jonas. Estremeci ao pensar lembrando-me de minha estada em sua casa. — Hoje não terá aula — ela falou. — O pastor irá fazer um culto &a