Gerd se aproximou de mim e me deu um tapinha no ombro.
— Cuide dela. Ela precisa de força. — E virando-se para Krica. — Obrigado, Krica. Essas informações foram muito importantes. Foi bom saber um pouco do que aconteceu por aqui. — Krica abriu os olhos. — Vou conversar com Iana e Ansur. Descanse.
Gerd e Ansur desapareceram, seguidos de Iana. Inclinei-me para mais perto de Krica. Olhando diretamente dentro dos seus olhos, passei a mão por seu cabelo, depois por sua bochecha e com o polegar contornei seus lábios.
— Você é especial, sabia?
Ela deu um sorriso, mas pude perceber que estava cansada demais até para esse simples ato.
— Não sei mais o que eu sou. — Ela fez esforço para se sentar. — Até uns dias atrás eu não tava nem aí pr
Eu tive uma sensação estranha quando surgimos ao lado da casa. Parecia que alguma coisa havia sido sugada de dentro de mim. Nunca tinha sentido isso quando Arion me transportava para os lugares. O céu já dava sinais de que iria amanhecer logo. Entrei na casa escura e subi para meu quarto. Acendi apenas a luz do abajur. Abri a porta do armário e comecei a enfiar roupas para dentro da mochila. Senti que alguém estava no quarto. Arion não iria mesmo me deixar sozinha. — Já disse que não preciso de babá — eu disse rindo da preocupação exagerada dele, enquanto eu fechava a porta do armário. Levei um susto ao virar a cabeça e me deparar com quem estava de pé, bem de frente para mim. — Iana? O que você tá fazendo aqui? — Tá vendo isso? Ela sacudia a pe
— Você ficou completamente maluca, Iana! — Foi aquela garota que me atacou. Eu só fui dizer a ela que poderia levá-la de volta para casa. Ela é doida! — E porque fez isso? Porque queria levar a Krica embora? Ela é a profetiza que está nos ajudando! — Ansur perguntou. Não estava completamente ciente da extensão do ciúme que Iana sentia. — Ela queria ir embora, não lembra? Só achei que poderia ajudá-la. — Pare de ser cínica, Iana! — eu disse com raiva. — Esperem. — Gerd disse elevando as mãos para tentar nos acalmar. — Não podem discutir assim. Deixem-me conversar com Iana. — É melhor mesmo. Estou cansado das criancices dela. — Olhei para Gerd. — E
Arion desapareceu e não entendi nada até tia Odete aparecer na porta do quarto. — Bom dia, Maria Cristina. Ouvi vozes. Era você? — hum... Eu estava cantando. — Bom ver você feliz. Quer descer para me ajudar? — Na verdade estou com um pouquinho de dor de cabeça. Vou ficar por aqui mais um pouco. Tia Odete deu a risadinha que eu já estava me acostumando a ouvir. — Vai ficar tudo bem. Por isso precisa passar uns dias com o pastor Jonas. Até todas as impurezas que trouxe saírem de seu corpo. Ela ainda achava que meu sumiço se devia a eu estar hospedada com Jonas. Estremeci ao pensar lembrando-me de minha estada em sua casa. — Hoje não terá aula — ela falou. — O pastor irá fazer um culto &a
Retornei ao mirante. Era ali que eu gostava de estar para refletir. Eu precisava reconquistar o amor de Krica. Eu passei mais de cem anos sem me incomodar se um dia eu conheceria ou não alguém que me fizesse sentir assim. E se conhecesse teria que ser especial, a pessoa certa. E eu sabia que essa pessoa era Krica. Ela havia me conquistado por ser autêntica, honesta, sincera, mesmo todos achando o contrário. Ela não era má. Estava apenas confusa, em conflito com sua própria personalidade. E eu estranhamente senti sua chegada. Mesmo ela não sendo viajante ainda, nem tendo qualquer conexão comigo, eu a senti chegando. E presumi que minhas dores de cabeça fossem, também, algum tipo de conexão com Krica. Só não entendia como, nem porquê. Resolvi ir procurar pelos outros. Daria a Krica tempo suficiente para pensar e decidir o melhor para si. Mesmo eu tendo medo do resultado.
Passei horas pensando no que acontecera. Iana acusando Arion de me enganar e Arion sendo tão sincero ao expor seu amor. Definitivamente eu acreditava em Arion. Não era possível que o que eu presenciei, a aura de poder que nos envolvia, aquele beijo e todo o amor que eu sentia por ele viesse apenas de um só lado. Apenas do meu lado. Ele acreditava que eu era merecedora de seu poder e seu amor. Eu não tinha tanta certeza disso. Eu explodia com facilidade. Talvez eu não me aproveitasse desse poder para roubar. Mas, mesmo assim, eu tinha minhas dúvidas quanto ao resto. Nunca fui um exemplo de garota. Mas como dizer que eu simplesmente não poderia ficar com ele porque não o merecia? Ele não iria aceitar. Ele achava que me conhecia, mas eu me conhecia melhor do que ninguém e, se eu já fazia merda sendo normal, não queria nem pensar tendo alguns poderes. Arion não podia desconfiar
Eanes bateu à porta dos Siqueira. Ficamos ao lado da casa esperando e ouvindo. — Boa noite, Dona Odete. — Boa noite, Eanes. Tudo bem com você? Ainda não foi se recolher. Seu pai disse para dormimos cedo. O sol já se pôs. — Eu sei. Mas preciso pegar algo que Krica esqueceu. — Claro, minha querida. Entre. Ela deve ter saído quando estávamos no culto. Como ela está? — Muito bem. Está se adaptando. — Fico feliz. Pode subir, Eanes. O quarto dela é à esquerda. — Obrigada. Ouvi os passos de Eanes subindo as escadas e depois somente silêncio. Estava ficando ansioso quando a ouvi dizer: — Ela pegou algumas roupas do armário. Ainda está bagunçado. Parece que se
Acordei zonza. O rosto colado à terra úmida e fria. Sentei-me e abaixei a cabeça apertando as têmporas com as mãos. Senti algo molhado. Olhei para minhas mãos e havia sangue em uma delas. Eu bati a cabeça no chão quando caí. Lembrei-me da visão. Iana e Arion sujos de sangue. Fechei os olhos e tentei me concentrar ao máximo. Eu tentaria ter outra visão. Gerd havia dito que ficariam mais frequentes e que as teria acordada também. Talvez eu pudesse controlá-las. Fiquei algum tempo esperando que algo aparecesse em minha mente. Mas nada. Levantei-me e suspirei esperando que tivesse sobrado poder suficiente para voltar. E novamente fiquei tonta. — Merda! Sentei-me no chão e o turbilhão de imagens começou. Concentrei-me e pude ver Jonas envolto em um escudo. Como o de Olaf. Vi-me entrando no escudo por trás de Jona
Krica desapareceu de repente. Eu estava atordoado. Não entendi o que ela pretendia fazer. Minha cabeça doía e havia sangue escorrendo por meu rosto. O céu estava encoberto por uma nuvem azulada que descia em forma de espiral em direção a Jonas e Gerd. Levantei-me com dificuldade e me aproximei dos dois. Gerd olhava para cima. — O que faremos? Como vamos impedir que isso continue avançando? — eu perguntei para Gerd. — Não podemos. Eu calei Jonas, mas elas continuam vindo em nossa direção. — Mate-o, Gerd! — Não antes de saber se posso. A espiral de fumaça azulada estava descendo lentamente, mas estava muito próxima a nós. Jonas sorria debilmente ancorado ao chão pelo poder de Gerd. Krica reapareceu. — Gerd! Mate-o!