Com o corpo debruçado em uma árvore e o braço tapando a própria visão, Arthur começa a contar em voz alta - “1, 2, 3, 4…” Ele falava cada número com firmeza, quase gritando. Ao mesmo tempo, o menino sentia o cheiro peculiar de natureza naquela árvore.
A alguns metros dali, todas as crianças de sua vila corriam juntas na mesma direção, fugindo de Arthur. Carregavam alegria e inquietação pela brincadeira. Entreolharam-se ao correr, dividindo a simpatia da animação. Wilhelm era um dos meninos mais novos do grupo, tinha apenas 10 anos. Seu cabelo era castanho claro. Por ser o mais novo e mais lerdo, no início da brincadeira, ele sempre tinha a mesma visão das costas das outras crianças correndo em um campo cercado de árvores paralelas, formando um corredor - o Caminho do Bosque. Ele era apaixonado pela animação do grupo. Aquela alegria dos seus amigos lhe fazia bem. Mas, dessa vez, resolveu não seguir ninguém, e se escondeu em um buraco previamente cavado em segredo por ele e seu amigo Renan.
Arthur contava “48, 49”, e finalmente, em um grito: ”50, LÁ VOU EU!” Ao abrir os olhos, escutou um barulho alto ecoando no céu, seguido de um vibrante tremor da terra. Enquanto tentava compreender o que havia acontecido, escutou outro som distante, aparentando ser um grito desesperado de uma mulher! Sem entender, corre na direção de sua casa. Atravessa árvores da mata fechada do caminho. Agora, passa por uma rua de terra clara, cercada de casas de sua vila, todas de madeira e com grandes quintais cobertos de grama verde. No caminho, à sua frente, o menino se depara com as costas de um homem correndo devagar. Arthur o alcança e reconhece o bigode branco do senhor Weller, seu vizinho. Eles se entreolham e continuam a correr juntos.
Depois de um minuto correndo, eles percebem uma aglomeração de pessoas que fechavam a passagem da rua, a qual era limitada por cercas de madeiras de ambos os lados - delimitando o quintal de duas casas. Por ser o mais baixo atrás dos adultos, Arthur não conseguia ver o que acontecia do outro lado. O menino por sua vez, vai forçando a passagem por seus vizinhos, até chegar ao outro lado. E então, vê o caos e a atrocidade! Muitos homens altos, armados com machados e escudos, matavam os moradores no meio da enorme praça da vila. Eles se concentravam em torno de um grande chafariz circular de pedra cinza. Em meio a gritaria, outros moradores saíam de suas casas correndo, pulando nos inimigos, formando uma imensa bagunça. Haviam muitas casas em torno da praça, o que deixava a visão mais complexa. Desorientado, tentando entender, Arthur observava alguns dos invasores: homens com a cabeça coberta por um capacete de metal. Outros, sem capacete - possuíam longos cabelos e barba, predominantemente loiros. Eles atacavam todos os homens de sua vila, mas, coordenadamente, se protegiam em um círculo. Já os seus conterrâneos, agiam de forma impulsiva, descoordenada, muitas vezes sem armas e afobados, atacando pela emoção. Era um massacre! Arthur queria pará-los!
Finalmente, os guerreiros de sua vila surgiram com espadas e escudos, em um batalhão alinhado. Cada soldado lado-a-lado, formando uma linha, entreolharam-se firmes, preparados para atacar. Arthur vê os três lendários guerreiros de Sheear, com seus longos cabelos escuros presos, e enche-se de esperança. Esboçava um sorriso! Passou a observar a cena com empolgação. Suas expectativas de vitória subiram tanto, que demorou para perceber que as pessoas mais próximas - entre as cercas - começaram a correr. O único que ficou foi o senhor Weller, que agonizava sozinho com uma flecha na lateral de seu tronco, a qual atingiu o pulmão!
Arthur ficou perplexo por não ter percebido que todos os outros haviam sumido de suas costas. Também não entendia de onde havia surgido a flecha. Ao olhar para o lado, vê a rua vazia. Olha em volta, e não encontra nenhum arqueiro. Sem entender, para com seus olhos a observar a expressão triste dos grandes olhos e bigode branco do senhor Welller. O menino gesticulava a palavra "não". Caminhou para perto do seu velho amigo. O ferimento já estava cheio de sangue. Arthur segura a flecha pensando em puxá-la. Antes de mover a mão, olha novamente para o rosto do adulto procurando a aprovação. Mas, o senhor Weller observava o horizonte desentendido. Devagar, vai levantando a cabeça, até terminar com os olhos apontados para o céu. Arthur também olha para cima, e vê uma chuva de flechas a caminho. Há também pedregulhos voando pelo céu! Os inimigos na praça se juntaram correndo e formaram uma parede de escudo, protegendo suas laterais e suas cabeças. Já os seus conterrâneos, desentendidos e desinformados, estavam despreparados, focados no inimigo. As flechas começaram a cair acertando a todos! Batiam em seus peitos, pescoços, pernas, costas, etc. Por abraçar Arthur, o senhor Weller recebeu mais duas flechas nas costas, protegendo-o.
O caos e o desespero batiam na cabeça do garoto. Seu amigo caiu de lado no chão e parou de se mexer - estava morto. Arthur o encarava com angústia. Não havia palavras para expressar os seus sentimentos. Uma dor no peito, junto com a aflição de uma grande dívida por alguém que ele sempre respeitou, e desejava impressionar - era uma mistura de sentimentos que ocupava o coração do garoto. Sua única frase pensada e falada repetidas vezes foi:
A praça estava banhada de sangue, mortos e feridos! Outras grandes pedras caíram do céu, destruindo casas - seus destroços voaram para todos os lados. Apesar de Arthur sentir uma fisgada nervosa no estômago, sua natureza responsável tentava organizar seus pensamentos cheios de ódio. Precisava encontrar o seu pai. Mas não conseguia vê-lo na praça - nem em seus caminhos adjacentes. Enquanto o procurava correndo ainda na praça, longe dos soldados, o menino observava a chegada de arqueiros. Portavam máscaras, que escondiam suas bocas e narizes - deixando visível seus olhos e suas testas. Eles se organizaram próximos uns dos outros, formando um semicírculo. Cada um pegou uma flecha com uma mão, e esticando o braço, apontaram na diagonal para cima. Todos encostaram suas flechas umas nas outras, como se fizessem o cumprimento dos três mosqueteiros. E então, um homem de túnica branca, com capuz e detalhes vermelhos na borda de sua roupa, ficou abaixo das flechas, no meio do semicírculo de pessoas. Este levantou o braço, apontando a palma da mão para cima, e, acendeu magicamente as pontas das flechas com uma espécie de fogo transparente, produzindo um efeito fantástico! Tudo em volta ficou mais sombrio como a noite. É como se o fogo absorvesse parcialmente a luz em volta, deixando suas chamas translúcidas e o ambiente escuro. Todos os arqueiros sorriam fascinados! Eles armaram as flechas e atiraram nos telhados das casas, espalhando o fogo transparente por toda a vila, trazendo a noite.
Arthur, na porta de uma das casas em volta da praça, se deparou com um amigo mais velho. Ele era bem magro e tímido. Estava escondido, observando a invasão.
Ao terminar de falar, o garoto sentiu o seu braço ser puxado para trás. Seu corpo gira, se deparando com o homem de túnica branca. Este encara os olhos de Arthur.
O garoto fica perplexo e sem reação! Este homem, há alguns instantes, estava longe, do outro lado da imensa praça! Havia uma grande distância entre eles e os soldados. Enquanto pensava nesse absurdo, o garoto era carregado pelo braço. Sentiu uma força enorme deste homem, como se seu braço pudesse ser arrancado. Assim, foi sendo carregado, agonizando pela dor.
O seu amigo, agachado na janela, observava aquela cena. Se escondeu, encostando-se às costas da parede, e começou a conversar consigo mesmo:
Dunga, por sua vez, desencostou da parede e começou a correr. Ao pular nas costas do homem de tûnica, aplicou um mata leão em seu pescoço. O homem de branco solta Arthur e passa a agonizar sem ar. Com dificuldades, fala algumas palavras desconhecidas, e encosta a ponta do dedo no braço de Dunga.
Arthur em choque, vê seu amigo soltar o homem e cair no chão duro, com os olhos para o nada.
Soldados se aproximavam correndo. E então, Arthur também corre, como jamais correu na vida! Ele percorre de volta à terra clara, da mesma rua que o levou até praça. Depois, atravessa a mata fechada e volta de onde saiu. Olha para trás e não vê ninguém. E então, parte escondido entre as árvores, circulando pelos arredores de sua vila. Vê cada planta e cada árvore com aflição - o caminho parecia interminável. Subitamente, para sua surpresa e desentendimento, acaba vendo um braço saindo do chão. Se aproxima lentamente e escuta uma voz aguda pedindo ajuda. Uma das pedras tapou quase completamente a entrada do buraco.
O garoto, como uma criança, sentia medo. Aquele medo que faz questionar que talvez não haja jeito para sair da enrascada.
Arthur, apressado, tocou na terra da borda do buraco. Forçou com os dedos para tentar cavar, mas viu que fez pouquíssimo efeito. A terra era dura e suja. Imaginou que os dedos de seu amigo eram frágeis para ela.
Arthur olhou ao redor, viu árvores e plantas.
Ansioso, segurando a respiração, utilizando as duas mãos e seu peso como alavanca, quebrou um galho de árvore. Voltou ao buraco, testou-o como apoio para cavar, e viu que fazia mais efeito. Não era uma pá, mas dava para cavar. Talvez demorasse horas, mas era possível abrir um buraco no chão com aquilo. Olhou para trás. Respirou. Voltou a olhar para o seu amigo. Lhe passou o galho e disse:
Sem tempo para escutar ou explicar, Arthur parte correndo. Precisava analisar o ambiente. Entende que a única opção era resgatar o maior número de pessoas e fugir. Assim, continua a contornar a sua vila pela mata fechada, até parar atrás da sua casa. Ele morava no final da vila, na última casa mais escondida, longe da estrada. Pensativo, resolveu verificar se havia alguém lá. Assim, encostou suas costas na parede externa de sua casa, se arrastou até conseguir ver alguma coisa do outro lado. Inesperadamente, sua irmã sai correndo de dentro da casa na direção da invasão. Arthur sente um aperto no coração, e, desencosta da parede analisando o ambiente, aflito. Se prepara para correr, mas, logo em seguida, o seu pai sai atrás dela. Arthur também começa a correr atrás deles, esboçando um sorriso de alegria emocional, preenchida de alívio e dor. Contudo, logo volta o desespero em seu coração quando outro homem também sai de sua casa bem à sua frente, correndo atrás dos dois, a poucos passos de Arthur. Ele observa as costas do estrangeiro - utilizava uma camisa verde escura e uma malha de metal por baixo. Era um material de guerra belo e chamativo.
Enquanto Arthur se distraiu analisando o inimigo, a sua irmã foi capturada por três homens do exército inimigo que se juntaram, fechando o caminho. Um dos homens segurava-a aos gritos. O rosto da menina inocente ficou molhado de lágrimas e suor. O pai de Arthur parou de correr e os encarou. Assim, o inimigo que corria atrás do pai sorriu pela oportunidade de acertá-lo pelas costas. Ao tentar sacar sua espada, Arthur a puxou antes. O inimigo olha para baixo, consegue ver a mão de Arthur, tenta segurar sua espada, mas o garoto a puxou mais rápido, com força, ferindo a mão do inimigo. Este sente um leve dano. Com fúria, em movimento da corrida, vira-se contra Arthur. Quando se depara contra a criança, recebe um corte em seu pescoço por esta.
O inimigo que ainda estava em movimento de costas, para completamente de se mover. Segura o seu pescoço sangrento, e esboça uma feição de desentendimento triste. O sangue transborda através de sua mão. Desesperadamente, olha para os seus companheiros com um ar que suplica ajuda. Mas, naquele momento, sabia que seria inútil - a morte era inevitável. Seu sangue já descia pelo braço. Assim, se ajoelha ao chão, e cai de bruços, desmaiando para morte. Arthur sentiu um extremo desgosto. A morte de seu inimigo foi, até então, o ato mais cruel que já havia cometido contra outra pessoa - teve compaixão pelo desespero do outro humano. Pensou: "Então é assim que é matar alguém? Meu coração também sofreu por ele. Por que eles estão nos atacando?"
Arthur olha para o seu pai buscando instintivamente um olhar confortante, mas percebe uma expressão perplexa. Os olhos de seu pai apontavam para os inimigos. E ao fitá-los, o garoto também reproduz a mesma expressão perplexa de seu pai. Pelo absurdo, seu queixo caiu. Seus inimigos gargalhavam ao ver a bravura do garoto. Ignoraram completamente o desespero e a morte de seu companheiro:
Depois de 5 segundos gargalhando, quem segurava Ailin gritou:
Os dois homens empunharam seus machados e escudos, e caminharam lentamente na direção de Arthur e seu pai.
O filho desobedece e segura a sua nova espada, já preparado para a batalha. Depois, observando os inimigos, percebe que atrás deles havia um homem de cabelos escuros, barbudo, correndo em passos largos, quase salteando. Carregava um martelo de guerra de cabo longo. Este homem, se aproxima tão rápido, que pula na direção do sequestrador de Ailin, acerta-o com uma martelada tão violenta na cabeça, que mesmo portando um capacete de metal, o inimigo morreu instantaneamente! O barulho do impacto foi tão alto, que todos o encararam no susto.
No silêncio da surpresa, Ailin corre circulando os soldados, até se proteger atrás de seu pai. O jogo havia virado!
Seu pai olha para a carroça e pensa, "a estrada principal do outro lado da vila estava dominada pelo exército estrangeiro. Mas, há o Caminho do Bosque. É possível fugir por lá! Será que Arthur havia pensado nisso? Essa é a melhor coisa a se fazer!"
Os dois soldados admiram o novo agressor. Um deles era muito mais forte que o outro. O mais forte possuía barba e bigode longos, volumosos e loiros. Seu capacete de metal era belo, esculpido com longas asas abertas de metal nas laterais. Possuía uma camisa e capa de couro, que ia até os seus joelhos. O mais forte fala para o outro:
O mais fraco circula o pai de Arthur. Já o mais forte, protegido atrás de seu escudo, empunha o machado na outra mão, e sorri vivamente pela batalha. Corre na direção do barbudo do martelo. Já o barbudo, procura uma abertura no inimigo. O único ponto desprotegido do escudo eram as pernas. Imaginou-se mirando um golpe nelas. Mas, sentia que receberia uma machadada na nuca - se agachar era perigoso e vulnerável. Enquanto imaginava, o inimigo loiro de olhos azuis corre mais rápido, surpreendendo-o, e se preparando para golpeá-lo. Para não demonstrar passividade, o barbudo levantou o gigante martelo no alto com as duas mãos, e golpeou com toda a sua força o escudo do soldado. O barulho foi um estouro! O escudo quebrou, ferindo o braço do inimigo. Mas este não se intimidou. Levantou o machado acima de sua cabeça, investindo em um golpe com toda a sua força. Mas, em um movimento de destreza, o barbudo dá um pulo para trás, puxa a marreta com as duas mãos, depois, o estica para frente, e golpeia precisamente o queixo do inimigo, que cai desmaiado.
O barbudo vira para o pai de Arthur. Vê o segundo guerreiro mais fraco já morto no chão, e então pergunta:
Enquanto o pai se abaixa para pegar o escudo e o machado do inimigo morto, Arthur também se abaixa e pergunta:
O pai disse para todos ouvirem:
Ele assume uma postura ereta, fecha os olhos, e levanta a mão. Sente o vento e respira profundamente. Ainda de olhos fechados, começa a falar:
Ailin e seu pai o escutam muito surpresos e encantados. O olfato de Cleuziou, o barbudo, é mais aguçado do que o olfato do predador mais perigoso que habita o Vale de Sheear. O pai de Ailin junta suas mãos em forma de reza, fecha os olhos e pensa "Obrigado Sucellus".
Quando abre os olhos, percebe seu filho com a expressão franzida.
Seu pai ficou surpreso! Pensou, "Será que ele entende que eu conseguirei agir melhor se eu tiver a consciência que meus filhos estão seguros no ponto mais longe da invasão?" Assim, observou calado seus filhos partirem pelo Caminho do Bosque na carroça. Seu coração ordenava com aperto a ficar perto deles, os protegendo. Mas mandá-los para longe era a escolha mais sábia que ele podia fazer.
Assim, os adultos partiram para a cachoeira.
Arthur e sua irmã percorrem o Caminho do Bosque na carroça lentamente, evitando fazer barulho. Ainda próximo do início, encontram Marlon caminhando.O que aconteceu? Por que estão na carroça de Weller?Venha com a gente. Eu te explico no caminho.Marlon sobe na carroça que volta a se mover.O que está acontecendo? Escutei um barulho alto e estranho.A vila foi invadida. Precisamos encontrar os nossos amigos e nos agruparmos no final desse caminho. Meu pai e Cleuziou est&ati
Você está me dizendo que a vila foi dizimada por um exército estrangeiro que ainda está lá?Sim.Por que só o seu pai sobreviveu?Renan, eu não vi tudo. Fugi!Isso é impossível! Vivemos no meio do nada! Não temos contato com o mundo exterior. E ainda é perigoso andar por aqui. Todo mundo sabe que há muitos lobos do lado de fora da vila.Não sei o porquê o ataque aconteceu. S
Sempre quis matar um semideus - comenta um outro homem parrudo, com ossos e cabeça larga. Suas bochechas rosadas eram chamativas, em contraste com seus olhos, que pareciam se esconder, baixos e fechados. Ele se diferenciava do restante da tropa. Seu cabelo era um loiro transparente avermelhado.Ninguém matará nenhum dos quatro aqui, Egil! Humberct, cuide do barba escura! Se Igvar não pode com ele, só você poderá! Acerte-o com força em regiões não letais: pernas, braço e barriga - diz um homem montado a cavalo, com sua voz imponente. Ele era o único em cima de uma cavalo.Egil se irrita com o comando de Whaldar. Observa Cleoziou. Reconhece que é um sujeito forte. S
Fazem 6 horas que Wilhelm cava com o galho na terra. Ele parou apenas algumas vezes para trocar a forma de pegar no galho, pois sentia dor em seu pulso. Sua dedicação e foco eram sustentados pelo medo. Era uma criança sozinha em um buraco totalmente escuro no meio da mata. Inconscientemente, prendia sua respiração - uma atitude instintiva para não chamar atenção. O medo estava presente nos seus pulmões e nas suas mãos. Cada movimento era ligeiramente discreto.Um raio clareou rapidamente o céu, fazendo-o suspirar. Fez-se um silêncio, seguido de um estrondoso trovão! Começava a chover. Wilhelm respirou fundo. Estava exausto! A criança baixou a cabeça, sentindo tontura. Parou para sentar. No descanso, logo apreciou o cheiro da terra molhada. Gostava desse cheiro. Sempre lhe remetia às brincad
Ainda era escuro, prestes ao amanhecer, quando o irmão mais velho saiu de casa com Renan em seu ombro. Sua irmã balança a cabeça fazendo uma careta de reprovação, como reação por não ser ouvida. Quando eles se afastam, ela corre atrás, os alcançando. Caminharam lado a lado por cerca de dez minutos, passando pelas ruas íngremes, até finalmente chegar em uma enorme casa curiosa. Suas paredes eram de pedras. Mas não pedras de formato uniformes como das outras casas. Variam entre cores de creme claro, quase branco, a tons avermelhados. Suas formas e tamanhos também variam. Umas quase poligonais - triangulares, quadrangulares, etc. Já outras, totalmente disformes. Contudo, impressionantemente, todas encaixando umas nas outras, parecendo um quebra-cabeça de pedras
Na noite anterior, a quilômetros de distância, sob o céu escuro, coberto de belas estrelas, Wilhelm escuta um uivar ecoando na floresta. Seus nervos se travam. O medo contrai o seu corpo, tornando a sua pele numa espécie de sensor sensível, conseguindo sentir a mínima brisa da noite com extrema precisão. Ele não sabe o que fazer. Resolve escalar as pedras próximas da cachoeira. No alto, deita no chão encolhido. Fica até a madrugada de olhos fechados, mas acordado, apenas desejando não ser visto, nem cheirado.Na manhã seguinte, Wilhelm acorda com o corpo duro e dolorido. Percebe o malefício que é dormir em cima de pedras. Desce-as ainda com medo. Atento, observa o ambiente em sua volta - muitas árvores, a queda d'água com seu barulho contínuo, e o riacho alimentado pela
Ao pôr do sol, Wilhelm corre veloz por uma estrada coberta de folhas secas - que são levantadas pelo rastro do vento de seu corpo veloz. O caminho é cercado por um corredor de árvores. A fada voa acima de seu ombro, o acompanhando.Lá - a fada aponta para um conjunto de casas de pedra branca no alto de uma pequena colina. - Pare!O menino faz uma parada brusca, levantando poeira. Franze os olhos para observar.Que casas estranhas! São bonitas, mas estranhas - afirma o garoto.Agora é hora de irmos devagar. Não podemos chegar tão rápido. Ir&aa
Mais uma vez, Wilhelm acorda pela manhã atrás da estátua. Ele verifica pela fenda se há alguém por perto. Depois, se levanta, e vai na direção de seu novo emprego. Passa a maior parte do dia trabalhando. Ordenha leite de vacas gordas, brancas com manchas, ou escuras. Enche garrafas de leite. Alimenta galinhas com grãos de ração dura. Mais uma vez, recebe três coxas de frango e um copo de leite no almoço. Mas hoje, ele guardou as três coxas, bebendo apenas um pequeno copo de leite.Depois do almoço, entregou garrafas de leite a todos os clientes. Na volta, parou no caminho, e deu uma coxa de frango para a senhora que pedia esmolas.Olá! Por quê estás no chão, e não trabalhan