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O Segredo de Finigans
O Segredo de Finigans
Por: Luiz Valença
1- Adeus Antiga Vida

Com o corpo debruçado em uma árvore e o braço tapando a própria visão, Arthur começa a contar em voz alta - “1, 2, 3, 4…” Ele falava cada número com firmeza, quase gritando. Ao mesmo tempo, o menino sentia o cheiro peculiar de natureza naquela árvore. 

A alguns metros dali, todas as crianças de sua vila corriam juntas na mesma direção, fugindo de Arthur. Carregavam alegria e inquietação pela brincadeira. Entreolharam-se ao correr, dividindo a simpatia da animação. Wilhelm era um dos meninos mais novos do grupo, tinha apenas 10 anos. Seu cabelo era castanho claro. Por ser o mais novo e mais lerdo, no início da brincadeira, ele sempre tinha a mesma visão das costas das outras crianças correndo em um campo cercado de árvores paralelas, formando um corredor - o Caminho do Bosque. Ele era apaixonado pela animação do grupo. Aquela alegria dos seus amigos lhe fazia bem. Mas, dessa vez, resolveu não seguir ninguém, e se escondeu em um buraco previamente cavado em segredo por ele e seu amigo Renan.

Arthur contava “48, 49”, e finalmente, em um grito: ”50, LÁ VOU EU!” Ao abrir os olhos, escutou um barulho alto ecoando no céu, seguido de um vibrante tremor da terra. Enquanto tentava compreender o que havia acontecido, escutou outro som distante, aparentando ser um grito desesperado de uma mulher! Sem entender, corre na direção de sua casa. Atravessa árvores da mata fechada do caminho. Agora, passa por uma rua de terra clara, cercada de casas de sua vila, todas de madeira e com grandes quintais cobertos de grama verde. No caminho, à sua frente, o menino se depara com as costas de um homem correndo devagar. Arthur o alcança e reconhece o bigode branco do senhor Weller, seu vizinho. Eles se entreolham e continuam a correr juntos.

  • O que houve? - pergunta o menino.
  • Não sei! O barulho veio de lá!

  Depois de um minuto correndo, eles percebem uma aglomeração de pessoas que fechavam a passagem da rua, a qual era limitada por cercas de madeiras de ambos os lados - delimitando o quintal de duas casas. Por ser o mais baixo atrás dos adultos, Arthur não conseguia ver o que acontecia do outro lado. O menino por sua vez, vai forçando a passagem por seus vizinhos, até chegar ao outro lado. E então, vê o caos e a atrocidade! Muitos homens altos, armados com machados e escudos, matavam os moradores no meio da enorme praça da vila. Eles se concentravam em torno de um grande chafariz circular de pedra cinza. Em meio a gritaria, outros moradores saíam de suas casas correndo, pulando nos inimigos, formando uma imensa bagunça. Haviam muitas casas em torno da praça, o que deixava a visão mais complexa. Desorientado, tentando entender, Arthur observava alguns dos invasores: homens com a cabeça coberta por um capacete de metal. Outros, sem capacete - possuíam longos cabelos e barba, predominantemente loiros. Eles atacavam todos os homens de sua vila, mas, coordenadamente, se protegiam em um círculo. Já os seus conterrâneos, agiam de forma impulsiva, descoordenada, muitas vezes sem armas e afobados, atacando pela emoção. Era um massacre! Arthur queria pará-los!

Finalmente, os guerreiros de sua vila surgiram com espadas e escudos, em um batalhão alinhado. Cada soldado lado-a-lado, formando uma linha, entreolharam-se firmes, preparados para atacar. Arthur vê os três lendários guerreiros de Sheear, com seus longos cabelos escuros presos, e enche-se de esperança. Esboçava um sorriso! Passou a observar a cena com empolgação. Suas expectativas de vitória subiram tanto, que demorou para perceber que as pessoas mais próximas - entre as cercas - começaram a correr. O único que ficou foi o senhor Weller, que agonizava sozinho com uma flecha na lateral de seu tronco, a qual atingiu o pulmão!

Arthur ficou perplexo por não ter percebido que todos os outros haviam sumido de suas costas. Também não entendia de onde havia surgido a flecha. Ao olhar para o lado, vê a rua vazia. Olha em volta, e não encontra nenhum arqueiro. Sem entender, para com seus olhos a observar a expressão triste dos grandes olhos e bigode branco do senhor Welller. O menino gesticulava a palavra "não". Caminhou para perto do seu velho amigo. O ferimento já estava cheio de sangue. Arthur segura a flecha pensando em puxá-la. Antes de mover a mão, olha novamente para o rosto do adulto procurando a aprovação. Mas, o senhor Weller observava o horizonte desentendido. Devagar, vai levantando a cabeça, até terminar com os olhos apontados para o céu. Arthur também olha para cima, e vê uma chuva de flechas a caminho. Há também pedregulhos voando pelo céu! Os inimigos na praça se juntaram correndo e formaram uma parede de escudo, protegendo suas laterais e suas cabeças. Já os seus conterrâneos, desentendidos e desinformados, estavam despreparados, focados no inimigo. As flechas começaram a cair acertando a todos! Batiam em seus peitos, pescoços, pernas, costas, etc. Por abraçar Arthur, o senhor Weller recebeu mais duas flechas nas costas, protegendo-o.

O caos e o desespero batiam na cabeça do garoto. Seu amigo caiu de lado no chão e parou de se mexer - estava morto. Arthur o encarava com angústia. Não havia palavras para expressar os seus sentimentos. Uma dor no peito, junto com a aflição de uma grande dívida por alguém que ele sempre respeitou, e desejava impressionar - era uma mistura de sentimentos que ocupava o coração do garoto. Sua única frase pensada e falada repetidas vezes foi:

  • Não deveria ter sido assim. Não deveria ter sido assim!

A praça estava banhada de sangue, mortos e feridos! Outras grandes pedras caíram do céu, destruindo casas - seus destroços voaram para todos os lados. Apesar de Arthur sentir uma fisgada nervosa no estômago, sua natureza responsável tentava organizar seus pensamentos cheios de ódio. Precisava encontrar o seu pai. Mas não conseguia vê-lo na praça - nem em seus caminhos adjacentes. Enquanto o procurava correndo ainda na praça, longe dos soldados, o menino observava a chegada de arqueiros. Portavam máscaras, que escondiam suas bocas e narizes - deixando visível seus olhos e suas testas. Eles se organizaram próximos uns dos outros, formando um semicírculo. Cada um pegou uma flecha com uma mão, e esticando o braço, apontaram na diagonal para cima. Todos encostaram suas flechas umas nas outras, como se fizessem o cumprimento dos três mosqueteiros. E então, um homem de túnica branca, com capuz e detalhes vermelhos na borda de sua roupa, ficou abaixo das flechas, no meio do semicírculo de pessoas. Este levantou o braço, apontando a palma da mão para cima, e, acendeu magicamente as pontas das flechas com uma espécie de fogo transparente, produzindo um efeito fantástico! Tudo em volta ficou mais sombrio como a noite. É como se o fogo absorvesse parcialmente a luz em volta, deixando suas chamas translúcidas e o ambiente escuro. Todos os arqueiros sorriam fascinados! Eles armaram as flechas e atiraram nos telhados das casas, espalhando o fogo transparente por toda a vila, trazendo a noite.

Arthur, na porta de uma das casas em volta da praça, se deparou com um amigo mais velho. Ele era bem magro e tímido. Estava escondido, observando a invasão.

  • Rápido! Vamos embora daqui! - disse Arthur.

Ao terminar de falar, o garoto sentiu o seu braço ser puxado para trás. Seu corpo gira, se deparando com o homem de túnica branca. Este encara os olhos de Arthur.

  • Interessante!

O garoto fica perplexo e sem reação! Este homem, há alguns instantes, estava longe, do outro lado da imensa praça! Havia uma grande distância entre eles e os soldados. Enquanto pensava nesse absurdo, o garoto era carregado pelo braço. Sentiu uma força enorme deste homem, como se seu braço pudesse ser arrancado. Assim, foi sendo carregado, agonizando pela dor.

O seu amigo, agachado na janela, observava aquela cena. Se escondeu, encostando-se às costas da parede, e começou a conversar consigo mesmo:

  • Dunga, não seja covarde! Se mexa! Vai morrer amedrontado? Seu pai terá vergonha de você no outro mundo!

Dunga, por sua vez, desencostou da parede e começou a correr. Ao pular nas costas do homem de tûnica, aplicou um mata leão em seu pescoço. O homem de branco solta Arthur e passa a agonizar sem ar. Com dificuldades, fala algumas palavras desconhecidas, e encosta a ponta do dedo no braço de Dunga.

Arthur em choque, vê seu amigo soltar o homem e cair no chão duro, com os olhos para o nada.

  • O toque da morte existe - o garoto falou devagar, ainda perplexo.

Soldados se aproximavam correndo. E então, Arthur também corre, como jamais correu na vida! Ele percorre de volta à terra clara, da mesma rua que o levou até praça. Depois, atravessa a mata fechada e volta de onde saiu. Olha para trás e não vê ninguém. E então, parte escondido entre as árvores, circulando pelos arredores de sua vila. Vê cada planta e cada árvore com aflição - o caminho parecia interminável. Subitamente, para sua surpresa e desentendimento, acaba vendo um braço saindo do chão. Se aproxima lentamente e escuta uma voz aguda pedindo ajuda. Uma das pedras tapou quase completamente a entrada do buraco.

  • Wilhelm?
  • Eu fiquei preso! A pedra é muito pesada! - Depois, continua em um tom desanimado - Nem se mexe.

O garoto, como uma criança, sentia medo. Aquele medo que faz questionar que talvez não haja jeito para sair da enrascada.

Arthur, apressado, tocou na terra da borda do buraco. Forçou com os dedos para tentar cavar, mas viu que fez pouquíssimo efeito. A terra era dura e suja. Imaginou que os dedos de seu amigo eram frágeis para ela.

  • Eu já tentei cavar -  disse Wilhelm.

Arthur olhou ao redor, viu árvores e plantas.

  • Espere aqui - que ridículas palavras, ele pensou.

Ansioso, segurando a respiração, utilizando as duas mãos e seu peso como alavanca, quebrou um galho de árvore. Voltou ao buraco, testou-o como apoio para cavar, e viu que fazia mais efeito. Não era uma pá, mas dava para cavar. Talvez demorasse horas, mas era possível abrir um buraco no chão com aquilo. Olhou para trás. Respirou. Voltou a olhar para o seu amigo. Lhe passou o galho e disse:

  • Cave nessa direção para não derrubar a rocha. Quando sair, ande escondido. Tome cuidado! Faça de tudo para não ser visto!
  • Por que? - perguntou confuso.
  • Isso é sério! Preste atenção, se algo der errado, me espere na cachoeira.

Sem tempo para escutar ou explicar, Arthur parte correndo. Precisava analisar o ambiente. Entende que a única opção era resgatar o maior número de pessoas e fugir. Assim, continua a contornar a sua vila pela mata fechada, até parar atrás da sua casa. Ele morava no final da vila, na última casa mais escondida, longe da estrada. Pensativo, resolveu verificar se havia alguém lá. Assim, encostou suas costas na parede externa de sua casa, se arrastou até conseguir ver alguma coisa do outro lado. Inesperadamente, sua irmã sai correndo de dentro da casa na direção da invasão. Arthur sente um aperto no coração, e, desencosta da parede analisando o ambiente, aflito. Se prepara para correr, mas, logo em seguida, o seu pai sai atrás dela. Arthur também começa a correr atrás deles, esboçando um sorriso de alegria emocional, preenchida de alívio e dor. Contudo, logo volta o desespero em seu coração quando outro homem também sai de sua casa bem à sua frente, correndo atrás dos dois, a poucos passos de Arthur. Ele observa as costas do estrangeiro - utilizava uma camisa verde escura e uma malha de metal por baixo. Era um material de guerra belo e chamativo.

Enquanto Arthur se distraiu analisando o inimigo, a sua irmã foi capturada por três homens do exército inimigo que se juntaram, fechando o caminho. Um dos homens segurava-a aos gritos. O rosto da menina inocente ficou molhado de lágrimas e suor. O pai de Arthur parou de correr e os encarou. Assim, o inimigo que corria atrás do pai sorriu pela oportunidade de acertá-lo pelas costas. Ao tentar sacar sua espada, Arthur a puxou antes. O inimigo olha para baixo, consegue ver a mão de Arthur, tenta segurar sua espada, mas o garoto a puxou mais rápido, com força, ferindo a mão do inimigo. Este sente um leve dano. Com fúria, em movimento da corrida, vira-se contra Arthur. Quando se depara contra a criança, recebe um corte em seu pescoço por esta. 

O inimigo que ainda estava em movimento de costas, para completamente de se mover. Segura o seu pescoço sangrento, e esboça uma feição de desentendimento triste. O sangue transborda através de sua mão. Desesperadamente, olha para os seus companheiros com um ar que suplica ajuda. Mas, naquele momento, sabia que seria inútil - a morte era inevitável. Seu sangue já descia pelo braço. Assim, se ajoelha ao chão, e cai de bruços, desmaiando para morte. Arthur sentiu um extremo desgosto. A morte de seu inimigo foi, até então, o ato mais cruel que já havia cometido contra outra pessoa - teve compaixão pelo desespero do outro humano. Pensou: "Então é assim que é matar alguém? Meu coração também sofreu por ele. Por que eles estão nos atacando?"

Arthur olha para o seu pai buscando instintivamente um olhar confortante, mas percebe uma expressão perplexa. Os olhos de seu pai apontavam para os inimigos. E ao fitá-los, o garoto também reproduz a mesma expressão perplexa de seu pai. Pelo absurdo, seu queixo caiu. Seus inimigos gargalhavam ao ver a bravura do garoto. Ignoraram completamente o desespero e a morte de seu companheiro:

  • Esse garoto tem o sangue da guerra!
  • Que bravura!

Depois de 5 segundos gargalhando, quem segurava Ailin gritou:

  • Peguem-no!

Os dois homens empunharam seus machados e escudos, e caminharam lentamente na direção de Arthur e seu pai.

  • Fuja! Deixe eles comigo - ordenou o pai.

O filho desobedece e segura a sua nova espada, já preparado para a batalha. Depois, observando os inimigos, percebe que atrás deles havia um homem de cabelos escuros, barbudo, correndo em passos largos, quase salteando. Carregava um martelo de guerra de cabo longo. Este homem, se aproxima tão rápido, que pula na direção do sequestrador de Ailin, acerta-o com uma martelada tão violenta na cabeça, que mesmo portando um capacete de metal, o inimigo morreu instantaneamente! O barulho do impacto foi tão alto, que todos o encararam no susto.

No silêncio da surpresa, Ailin corre circulando os soldados, até se proteger atrás de seu pai. O jogo havia virado!

  • Pegue a carroça de Weller - disse Arthur para sua irmãzinha.

Seu pai olha para a carroça e pensa, "a estrada principal do outro lado da vila estava dominada pelo exército estrangeiro. Mas, há o Caminho do Bosque. É possível fugir por lá! Será que Arthur havia pensado nisso? Essa é a melhor coisa a se fazer!"

  • Vá com ela - disse o seu pai. Se algo der errado, esqueçam a carroça e voltem para cá.
  • Não! Isso é roubar - disse a inocente Ailin.
  • Está tudo bem, querida. O senhor Weller não irá mais precisar de sua carroça. Tenho certeza que ele ficará feliz que façamos uso dela. Eu o conheço bem!

Os dois soldados admiram o novo agressor. Um deles era muito mais forte que o outro. O mais forte possuía barba e bigode longos, volumosos e loiros. Seu capacete de metal era belo, esculpido com longas asas abertas de metal nas laterais. Possuía uma camisa e capa de couro, que ia até os seus joelhos. O mais forte fala para o outro:

  • Esse é um guerreiro formidável. Não se intrometa! Pegue o outro!

O mais fraco circula o pai de Arthur. Já o mais forte, protegido atrás de seu escudo, empunha o machado na outra mão, e sorri vivamente pela batalha. Corre na direção do barbudo do martelo. Já o barbudo, procura uma abertura no inimigo. O único ponto desprotegido do escudo eram as pernas. Imaginou-se mirando um golpe nelas. Mas, sentia que receberia uma machadada na nuca - se agachar era perigoso e vulnerável. Enquanto imaginava, o inimigo loiro de olhos azuis corre mais rápido, surpreendendo-o, e se preparando para golpeá-lo. Para não demonstrar passividade, o barbudo levantou o gigante martelo no alto com as duas mãos, e golpeou com toda a sua força o escudo do soldado. O barulho foi um estouro! O escudo quebrou, ferindo o braço do inimigo. Mas este não se intimidou. Levantou o machado acima de sua cabeça, investindo em um golpe com toda a sua força. Mas, em um movimento de destreza, o barbudo dá um pulo para trás, puxa a marreta com as duas mãos, depois, o estica para frente, e golpeia precisamente o queixo do inimigo, que cai desmaiado.

O barbudo vira para o pai de Arthur. Vê o segundo guerreiro mais fraco já morto no chão, e então pergunta:

  • Onde está Denzel?
  • Morto - disse o pai.
  • E o Almir?
  • Morto - olhou para baixo, inspirou e expirou fundo, voltou a olhar nos olhos do amigo e discorreu - provavelmente todos os homens da vila morreram. Temos que sair daqui agora! Há um guerreiro muito mais forte que esses. E se formos cercados por 15 homens, não teremos chances.
  • E o meu irmão, morreu?
  • Não! O Bryan está no Caminho do Bosque escondido. Estávamos brincando de ocultar o espírito - disse Arthur. Vamos buscá-lo no caminho.

Enquanto o pai se abaixa para pegar o escudo e o machado do inimigo morto, Arthur também se abaixa e pergunta:

  • E o que faremos?

O pai disse para todos ouvirem:

  • Vamos sair logo daqui! Para a carroça! - Enquanto falava, foi colocando as novas armas no transporte.
  • Temos um problema - Arthur encara os dois adultos. - O Bryan e os outros estão escondidos. Posso demorar horas até encontrá-los.
  • Isso não é um problema - disse o barbudo.

Ele assume uma postura ereta, fecha os olhos, e levanta a mão. Sente o vento e respira profundamente. Ainda de olhos fechados, começa a falar:

  • Eu poderia sentir o cheiro deles a quilômetros de distância. Sinto o odor de Bryan vindo do alto, misturado com a água. Provavelmente está no alto da cachoeira Sheear. Ele nem está se mexendo. Me fez pensar que estivesse morto. Já Renan, com certeza está dentro da água do lago que a cachoeira alimenta. Já Laron, este é esperto. Está em um ponto alto, contra o vento. Consigo sentir o cheiro de seu rastro indo na direção do Grande Carvalho. Deve estar bem alto, a ponto do vento levar o seu cheiro. É o único que não tenho certeza onde está.

Ailin e seu pai o escutam muito surpresos e encantados. O olfato de Cleuziou, o barbudo, é mais aguçado do que o olfato do predador mais perigoso que habita o Vale de Sheear. O pai de Ailin junta suas mãos em forma de reza, fecha os olhos e pensa "Obrigado Sucellus".

Quando abre os olhos, percebe seu filho com a expressão franzida.

  • Então é assim? - perguntou Arthur.
  • O que, filho?
  • Então é assim que Bryan sempre ganha? Ele é seu irmão, Cleuziou. Não importa o esconderijo que eu inventasse, ele sempre me acha! O que vocês estão escondendo? Isso não é normal! - Arthur indagou surpreso olhando para o barbudo.
  • Arthur, isso não é hora! Vamos nos dividir para encontrá-los - disse o seu pai. Nos encontramos no final do Caminho do Bosque, onde as árvores terminam.
  • Marlon, o irmão de Laron, está vindo para cá pelo Caminho do Bosque. Está sozinho. O caminho está livre. Já Wilhelm, está no chão perto daqui - deduziu Cleuziou.
  • Wilhelm está preso em um buraco. Não sei se alguém conseguiria tirá-lo rápido de lá - comentou Arthur.
  • Garoto de pouca fé - disse Cleuziou sorrindo.
  • Arthur, vá… - o pai tenta começar a falar, mas é interrompido por seu filho.
  • Laron, Marlon e Renan. Eu sei, pai. Vem, Ailin!

Seu pai ficou surpreso! Pensou, "Será que ele entende que eu conseguirei agir melhor se eu tiver a consciência que meus filhos estão seguros no ponto mais longe da invasão?" Assim, observou calado seus filhos partirem pelo Caminho do Bosque na carroça. Seu coração ordenava com aperto a ficar perto deles, os protegendo. Mas mandá-los para longe era a escolha mais sábia que ele podia fazer.

  • Cleuziou, se algo acontecer, não tente me salvar. Fuja para protegê-los.
  • Não se preocupe. Vamos rápido! Primeiro Bryan. Há soldados vindo na nossa direção. É melhor sairmos do campo de visão. Também tenho medo que meu irmão sinta o cheiro do inimigo e venha ver o que está acontecendo. Wilhelm não sairá do lugar e está escondido.

Assim, os adultos partiram para a cachoeira.

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