PIETRA - 2

— Encontre-o, leve-o de volta ao acampamento e mostre a ele a como tudo funciona. Não o deixe vir aqui até termos uma chance de… limpar as coisas. Diga a ele que voltarei por volta das seis para informá-lo. Quero terminar de analisar essa área.

Por que ela não me disse tudo isso antes que eu me arrastasse de volta pelo buraco novamente, poupando-me uma viagem? Suspirei mais uma vez. Ela não seria chamada de Frances Doida se fizesse isso.

Saí da caverna novamente, no momento em que uma caminhonete com tração nas quatro rodas estacionava ao longo da estreita estrada de terra perto do local. A caminhonete estacionou e eu corri acelerado em direção a ela, meus pés deslizando no chão lamacento. Eu sabia que devia parecer um golem saindo da lama, mas os guardas florestais tendiam a ser bem sujos, e não era como se eu estivesse aparecendo para um encontro. Eu usava meu capacete, o que era a única coisa importante.

— Olá — comecei, quando a porta se abriu. — Eu sou…

Minhas palavras morreram na garganta quando o novo guarda florestal saiu do carro. Seu corpo alto e musculoso erguia-se sobre o meu, bíceps salientes tentavam sair pelas mangas arregaçadas de sua camisa de trabalho. Ele usava calça jeans escura e botas de trabalho com os cadarços soltos, e parecia que ele tinha acabado de sair do set de uma sessão de calendário de Motociclistas sexy. Na borda de sua manga, peguei o contorno de uma tatuagem preta e cinza envolvendo seu braço.

Mas acima de tudo, foram seus olhos que me congelaram. Profundos, poças verdes se moveram sobre meu corpo, me avaliando. Ele deu um breve aceno de cabeça, um cacho marrom escuro caindo sobre o olho. Outro se enrolou em torno de suas orelhas, o resto puxado em um rabo de cavalo apertado, como um guerreiro viking se preparando para a batalha. Uma barba leve cobria sua mandíbula larga, dando-lhe um olhar selvagem e indomável.

Ele era bonito, e aqui estava eu, vestindo macacão folgado, uma camisa que pertencia ao meu pai e com lama endurecida em cada centímetro do meu corpo.

— O-o-olá. — Eu coloquei um sorriso no rosto e estendi minha mão para ele. Uma estranha energia elétrica chiou ao longo das minhas veias. O ar ao nosso redor de repente se tornou espesso e pesado. Meu estômago revirou, e não de qualquer coisa que eu tivesse comido. O que estava acontecendo comigo? O patrulheiro era gostoso, mas ele não era Tom Hiddleston nem nada. Por que me sentia tão nervosa quanto um candidato a doutorado prestes a defender sua tese? — Bem-vindo às cavernas DownMoor. Sou Pietra SanDiir, da Universidade de Loamshire. Eu ficaria feliz em mostrar a tu…

Ele olhou para a minha mão estendida na frente dele, uma expressão de desdém cruel cruzando seus belos traços.

— Não, obrigado — disse ele, olhando-me de cima a baixo, sua carranca se aprofundando. — Eu não lido com estudantes.

Meu rosto ficou vermelho de calor. Eu encarei minhas botas, esperando que ele não notasse.

Parece que alguém tão gostoso podia ser um idiota completo.

— A professora Doyle está na caverna. — Apontei para a entrada da caverna. —Ela não vem embora até a noite e, de qualquer maneira, é bastante apertado lá. Se tu quiser falar com ela, terá que esperar até…

— Eu tenho um trabalho a fazer, e esse trabalho inclui inspeções pontuais na área de trabalho. — Ele me lançou um olhar desafiador, depois caminhou até a entrada da caverna. Eu queria apenas ir embora e deixá-lo resolver as coisas, mas estava curiosa para ver como seria o encontro com Frances. Ele definitivamente iria fazê-la colocar um capacete.

Então eu o segui de volta para a entrada da caverna, esfregando os braços através da camisa, na tentativa de expulsar o calor estranho que os formigava. O guarda ajoelhou-se na frente do pequeno buraco, enfiando uma perna primeiro, depois a outra. Eu esperava que ele batesse seus ombros enormes, esculpidos e arrogantes, mas ele conseguiu deslizar facilmente, a chuva quase não o tocando. Suspirando, agachei-me e deslizei atrás dele.

Quando cheguei à entrada, ele já estava pisando na água em direção ao sítio, com o rosto em uma linha firme. Frances se levantou e espanou as mãos.

— Tu deve ser o novo guarda florestal. Não precisava descer até aqui, sabe? Eu entendo que é um pouco apertado.

Ela não disse isso, mas seu ressentimento com a presença dele estava escrito em todo o rosto, sem ser obscurecido pela aba de seu capacete inexistente. Frances odiava a intromissão do condado em seu trabalho. Eles eram obrigados por lei a supervisionar a escavação, mas Frances via as cavernas DownMoor como sua propriedade. Ela literalmente escreveu o livro sobre cavernas neolíticas na Inglaterra. Ela não queria que um guarda florestal que não conhecia uma ferramenta de pederneira da ponta de uma flecha lhe dissesse o que fazer, especialmente se ele fosse tão espinhoso quanto esse cara parecia ser.

Ele também não apertou a mão dela.

— Eu sou Josh Lowe. Vou substituir Daniel. Tu pode me dizer quais procedimentos tem para preservar o ecossistema dentro da caverna? Percebo uma estalactite danificada na entrada.

Eu me encolhi. Eu fiz isso acidentalmente no primeiro dia. Uma estalactite se formava ao longo de dezenas de milhares de anos, através da água pingando pelas fendas nas rochas. Um balanço incorreto do tripé do teodolito, e eu a danifiquei. E, a julgar pela expressão de Josh, eu poderia ficar feliz por ele não saber que tinha sido eu.

— Tenho um relatório ambiental completo esperando por tu no acampamento, senhor Lowe. Pietra irá mostrar-lhe. Eu tenho muito trabalho delicado para fazer aqui e tenho certeza de que tu prefere sair da chuva.

— A chuva não me incomoda. O que me incomoda é a sua falta de equipamento de proteção individual…

— Bobagem. — Frances praticamente o empurrou em direção à entrada

da caverna. — Eu não gostaria que tu pegasse um resfriado. Vou lhe dar um tour completo do sítio pela manhã, prometo. O clima deve melhorar um pouco até lá. Pietra, leve nosso convidado de volta ao acampamento e faça um chá bem quente. Tu pode terminar o dia e nós estaremos juntos em um momento.

— Vou levar o senhor Lowe, se Pietra preferir ficar para trás. Parece que ela ainda não terminou o quadrante. — Ruth apareceu. Virei minha cabeça, observando-a sorrir amplamente para Josh e enfiar os cabelos loiros na altura do queixo atrás das orelhas. Por alguma razão, isso virou meu estômago mais do que deveria.

— Tudo bem — eu respondi. — Eu posso fazer isso. — Eu não queria ficar sozinha com o novo guarda florestal, mas não daria a Ruth a satisfação de flertar com ele pelo resto da tarde. —Termine meu quadrante para mim, sim? Tu deve estar morrendo de vontade de pegar uma espátula novamente depois de um dia inteiro carregando aquele tripé pesado.

Ruth me deu um olhar de ódio. Eu não podia ter certeza, mas pensei ter visto um lampejo de diversão passar pelo rosto de Josh. Mas quando olhei para ele novamente, ele tinha sido substituído por sua expressão azeda agora familiar.

— Por aqui. — Gesticulei para que ele me seguisse de volta pela entrada da caverna e saísse para a chuva. Eu corri pelo caminho, olhando para trás para me certificar de que Josh estava me seguindo. Ele deu passos longos e graciosos, sem problemas para acompanhar, apesar de parecer que estava apenas dando um passeio. Mais cabelos caíram do rabo de cavalo e a chuva grudou os cachos no rosto, fazendo-o parecer ainda mais atraente. Uma imagem dele nu sob um chuveiro passou pela minha visão, e fiquei tão chocada com o pensamento que me virei e bati direto em uma árvore.

— Argh! — Caí para trás, aterrissando de bunda em uma poça. Lama espirrou na minha camisa e encharcou ainda mais meu macacão.

— Cuidado — Josh falou sob a chuva quando passou por mim. Ele não me ajudou. Que idiota. Eu me amaldiçoei por fantasiar sobre ele.

Fui atrás de Josh em direção ao acampamento, tentando em vão limpar um pouco da lama do fundo do meu macacão. Nós cinco estávamos acampando em uma clareira a mais ou menos quatrocentos metros da rede de cavernas. Tínhamos o trailer velho e frágil da Dra. Doyle como escritório e cozinha, um pequeno galpão de lata que funcionava como depósito de artefatos e uma coleção de tendas vazias em que dormimos. Guiei Josh pelas escadas do trailer e abri a porta.

— Tire os sapatos — pedi-lhe enquanto pendurava meu capacete, chutava minhas botas e pisava na cozinha, sem me importar que estivesse espalhando lama por toda parte enquanto localizava o chá e enchia a chaleira. Ainda tínhamos meio pacote de biscoitos e eu sabia que Frances os estava guardando para quando o novo guarda-florestal chegasse, mas eu não os peguei. Josh não merecia o último dedo de chocolate.

— Por quê? Não é exatamente o Ritz aqui. E com tu andando por aí, parece o set de filmagens de Atacados pela Criatura da Lama das Profundezas. — Ele tirou suas próprias botas e as deixou em frente à porta. Sem esperar por um convite, ele puxou um dos bancos do balcão e sentou-se, pegando um dos cadernos de campo de Frances da pilha no balcão e começando a folhear.

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