PIETRA - 3

Mordi um milhão de réplicas que ameaçavam sair da minha boca. Eu tinha que ser legal com esse cara, não importava o quão rude ele fosse comigo. Uma palavra dele e Frances poderia ser demitida. E por mais que eu me ressentisse de estar aqui, eu gostava dela e não queria ser a razão pela qual ela tinha que parar de trabalhar nas cavernas. Isso e eu precisava passar neste curso se tivesse alguma esperança de entrar no programa de mestrado.

Então, respirei fundo e tentei acalmar meu coração acelerado e aquele calor estranho e vibrante em minhas veias. O que esse cara tinha que fazia todo o meu corpo sentir como se eu tivesse colocado o dedo em uma tomada?

— Tu toma com leite e açúcar? — Bati algumas xícaras no balcão, mais forte do que pretendia.

— Apenas um pouco de leite — Josh disse, sem levantar os olhos da leitura. —Conte-me o que tu descobriu sobre o sítio até agora.

— Tu não gostaria de questionar a professora Doyle sobre isso? — eu exigi. —Afinal, sou apenas uma estudante.

Assim que as palavras saíram da minha boca, eu queria engoli-las de volta. O que havia de errado comigo? Eu nunca falei assim com ninguém. Eu era a maior bobalhona do mundo. O próprio fato de eu estar neste buraco dos infernos em vez da Sicília era uma prova disso. Mas esse cara me deixava completamente no limite.

— Então estamos mal-humorados hoje, não é?

Josh deve ter sentido meu desconforto, pois ele me deu um sorriso um pouco mais amigável. Ele largou o caderno e olhou para mim, aqueles olhos verdes perversos me avaliando. Uma mecha de cabelo molhado caiu sobre seu olho, e ele estendeu a mão e colocou-a atrás da orelha. Eu engoli. Se ao menos ele pensasse em mim como algo diferente de uma estudante irritante que não vale o seu tempo… ele era o tipo de cara que eu procuraria, minhas fantasias mais profundas e sexistas ganhariam vida… — Percebo que tu não gosta de mim.

— Eu… não é… eu apenas… — Eu me afastei dele. Tudo estava dando errado. Eu não estava acostumada a ser confrontada assim, não quando minhas veias zumbiam de tensão. — Eu não sei se devo. Tu parece que realmente não quer estar aqui.

— Então tu me entendeu mal. Eu quero muito estar aqui. — Seus olhos encontraram os meus. — E não apenas por causa das cavernas.

Meu coração bateu forte no meu peito. Eu ouvi direito? Esse homem incrivelmente arrogante e incrivelmente bonito estava flertando comigo?

Acho que ninguém nunca flertou comigo antes.

—Eu… hum…

Eu devo estar errada. Ele não poderia estar…

— Deixe-me pegar esse chá. — Josh se levantou, seu corpo a centímetros do meu na pequena cozinha. O ar ao meu redor crepitava com eletricidade. Mais do que tudo no mundo, eu queria me inclinar para frente, pressionar meu corpo contra o dele e sentir seus lábios roçarem os meus.

Não.

Eu tinha que resistir a esses pensamentos. Eu não estava pronta para homens de novo, não depois do que aconteceu com Ben. E eu certamente não estava pronta para um homem como este, que era arrogante e confiante e estava sentado no acampamento com um ar de eu-como-qualquer-mulherque-passar-pelo-meu-caminho. Esse cara rasgaria meu coração e o mergulharia em seu chá.

Josh chegou mais perto e foi pegar o leite. Minha pele se arrepiou com o calor, a vontade de tocá-lo gritou dentro de mim. Meus olhos travaram em seus lábios, imaginando como seria beijá-los, sentir sua língua deslizar contra a minha…

— Eu posso fazer isso sozinha — eu disse, minhas palavras saindo frias e severas enquanto eu tentava controlar meu desejo. Peguei o leite das mãos dele e dei um passo para trás, jogando um pouco na xícara dele. — Não pense que, só porque tu é o guarda florestal daqui, pode me intimidar com sua mera presença. Não fico impressionada com caras como tu.

— O que faz tu pensar que estou tentando impressioná-la? — Josh disse. Um sorriso perverso se espalhando por seu rosto. — Provavelmente já chega.

— Já chega… — Eu olhei para baixo. Enquanto conversava, ainda estava derramando o leite. Uma pequena cachoeira branca corria pelas bordas de sua xícara e descia pela lateral do armário. — Ah, merda!

— Não se preocupe. — Josh pegou algumas toalhas de papel no armário e começou a limpar. — Eu cuido disso.

— Espere. — Eu odiava o jeito que minha voz soava. Estendi minha mão para as toalhas. — Eu sinto muito. Isso foi desnecessário. Foi um dia longo e estou muito molhada, com frio e mal-humorada. Deixe comigo.

Estendi a mão para pegar as toalhas da mão dele, mas ele as puxou para longe.

— Eu disse que cuido disso — disse ele bruscamente. — Tu apenas senta ali e tenta não tocar em mais nada.

Fui para o outro lado do balcão, a uma distância segura daqueles ombros ondulados e olhos penetrantes. Eu devia estar enganada. Ele não estava flertando. Ele acabou de deixar claro que não está interessado. Eu deveria ter me sentido aliviada, mas tudo o que senti foi a descarga de vergonha, misturada com amarga decepção.

Josh terminou de limpar o derramamento e jogou as toalhas no lixo. Ele limpou a caneca e a colocou sobre a mesa à minha frente, o mais longe possível de mim no pequeno espaço. Ele empurrou minha própria caneca na minha frente.

— As cavernas — disse ele. — Fale-me me sobre elas.

— Frances pode…

— Eu não perguntei à professora Doyle — disse ele. — Eu perguntei a tu.

Sem levantar os olhos da minha xícara, gaguejei durante uma descrição básica do sítio, como uma família extensa provavelmente viveu nas cavernas por várias gerações, usando-as sazonalmente para armazenar alimentos e se abrigar quando o tempo mudava.

— E tu não encontrou nenhuma pintura de caverna, algo assim?

Eu balancei minha cabeça.

— As pinturas rupestres são extremamente raras, especialmente neste período. As condições precisam ser perfeitas ou elas serão destruídas. Não acho que encontraremos algo tão interessante como isso por aqui.

— O que é isso no seu pulso? — Josh perguntou, apontando para a pulseira de prata com a qual eu brincava subconscientemente.

Apressadamente, cobri minha mão sobre a tira de metal frio. Meu pai me deu a pulseira quando recebi meus GCSEs. “Estou tão orgulhoso de tu, Pietra”, ele disse enquanto deslizava o metal frio no meu pulso. “Eu sei que tu fará coisas incríveis.” Ele morreu duas semanas depois, e eu não a tirei desde então. Apenas tocá-la me tranquilizava quando eu estava nervosa, e estar no mesmo espaço que Josh Lowe me deixava incrivelmente nervosa.

— Os regulamentos ambientais proíbem claramente o uso de joias nas cavernas. — Josh franziu o cenho. — Ela pode ficar presa nas rochas e causar danos às cavernas, sem mencionar o fato de que joias em qualquer local são uma preocupação de saúde e segurança. Sua equipe já danificou uma estalagmite. Se eu vir algum outro dano nas cavernas, vou pedir a todos que saiam.

— É… é apenas uma pulseira — eu disse, um nó na garganta. — Estou sendo muito cuidadosa. Tu não tem ideia. Eu sou a única usando capacete.

Certamente isso é mais importante…

— Tudo é importante. Essa pulseira não é permitida. Tu precisa tirá-la.

— Tudo bem. — Eu mal conseguia expressar as palavras. Lágrimas batiam contra minhas pálpebras. Tentei piscar de volta, mas elas se derramaram, batendo nas minhas bochechas. Eu não podia ficar lá com ele, não enquanto estava chorando. Meu corpo inteiro ficou vermelho de vergonha por isso. Eu virei a cabeça, empurrei o banco para trás e enfiei os pés nas botas.

— Pietra, espera! — Josh chamou, mas eu já estava do lado de fora e fugia para a minha barraca.

Uma vez dentro da privacidade das minhas paredes de lona, eu caí de costas sobre o colchão, as lágrimas fluindo espessas agora. O que havia de errado comigo? Estava me sentindo bem há um mês. Não chorava por Ben há algumas semanas e enterramos papai anos atrás… então por que eu estava tão chateada agora? Josh estava certo, a pulseira era contra as regras. E eu sabia melhor do que ninguém o quão importante era obedecer às regras.

Era aquele cara, Josh. Sua arrogância entrou na minha cabeça. Talvez eu não tivesse superado Ben como pensava, porque apenas o pensamento de Josh estar flertando comigo me fazia sentir mal.

Por que Josh tinha que vir para cá? Por que eles não enviaram um guarda florestal pouco ou nada atraente? E, acima de tudo, por que meu próprio corpo estava me traindo? Por que eu o queria tanto, mesmo que também o odiasse?

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