As mãos de Isabela tremiam ao segurar a carta. O papel envelhecido tinha o perfume suave que sua mãe usava — jasmim com algo adocicado. Ela passou os dedos delicadamente sobre o envelope, como se pudesse, de algum modo, sentir o toque materno através da textura áspera.Leonardo observava em silêncio, respeitando o momento. Havia aprendido, ao longo dos meses, a não preencher os silêncios que não lhe pertenciam.— Você quer ficar sozinha? — ele perguntou, suavemente.— Não... — disse ela, engolindo em seco. — Se tem alguém que merece saber tudo isso comigo, é você.Ela quebrou o lacre da carta com cuidado. O papel estava repleto de palavras escritas à mão, a tinta levemente desbotada, mas ainda legível. A caligrafia elegante parecia deslizar pelas linhas com urgência e emoção.“Minha filha,Se você está lendo esta carta, é porque finalmente chegou o momento de saber toda a verdade…”Isabela leu em voz alta, tentando manter a respiração sob controle.“…A vida nem sempre me permitiu faze
A casa de praia exalava serenidade. Lá fora, o som das ondas embalava a tarde quente, mas, dentro do quarto iluminado por cortinas brancas esvoaçantes, o clima era outro — carregado de desejo contido e intimidade crescente.Isabela caminhava pelo quarto com uma camisa larga de Leonardo, os cabelos soltos e os pés descalços sobre o chão de madeira. Estava diferente, mais segura. Mais dona de si. E aquilo, aos olhos de Leonardo, a tornava ainda mais irresistível.— Você parece perdida em pensamentos — ele disse, encostado no batente da porta, com os braços cruzados e um leve sorriso nos lábios. Vestia apenas uma calça de moletom, o peito nu revelando o físico forte e bronzeado.— Estou — ela respondeu. — Perdida em lembranças… e nas possibilidades.Leonardo se aproximou devagar, como se cada passo fosse uma provocação silenciosa. Parou bem diante dela, roçando os dedos em sua cintura.— Quer que eu te ajude a se encontrar?Isabela sorriu, mordendo o canto dos lábios.— Depende do método
Na manhã seguinte, o céu estava limpo, com tons dourados colorindo o horizonte. Isabela acordou antes de Leonardo. Ficou observando-o dormir por um instante, os traços serenos, o peito subindo e descendo calmamente. Parecia impossível que aquele homem tivesse causado tanta confusão na sua vida… e agora, fosse sua base mais firme.Ela se levantou devagar, caminhou até a varanda e respirou fundo. O cheiro do mar, o som das ondas… tudo parecia diferente. Não era o mundo que mudara — era ela. Vestiu uma calça jeans de cintura alta e uma blusa branca de linho, sapatos de salto bloco e cabelo preso em um coque baixo elegante. Uma maquiagem leve completava seu visual de mulher decidida. A garotinha assustada do passado tinha ficado para trás.Leonardo apareceu logo depois, vestindo uma camisa social azul dobrada até os cotovelos e calça de alfaiataria. Ele sorriu ao vê-la pronta.— Vai matar todo mundo do coração quando chegar desse jeito.— Que bom. Quero causar impacto mesmo.— Missão dada
O sol já se punha quando Isabela e Leonardo chegaram à casa de praia. A arquitetura rústica de madeira clara e janelas amplas fazia o lugar parecer um refúgio mágico. O som das ondas quebrando suavemente ao fundo preenchia o silêncio entre os dois, que caminhavam de mãos dadas até a varanda.— Faz quanto tempo que você não vinha aqui? — ele perguntou, abrindo a porta.— Desde antes de tudo... Desde antes de me sentir forte o suficiente para voltar.Leonardo segurou seu queixo com delicadeza, forçando-a a encará-lo.— Você sempre foi forte, Isabela. Só não sabia ainda.Ela sorriu, mas seus olhos marejaram.— Eu lutei tanto para ser vista, Leo. Tantos anos tentando provar meu valor para minha família, para o mundo... E agora que consegui, sinto um vazio. Como se algo ainda faltasse.Ele a puxou para o peito.— O que falta não é algo que o mundo possa te dar. É o que a gente constrói junto... com calma, com verdade.A casa estava impecável por dentro, com móveis claros, tecidos leves e a
A manhã nasceu preguiçosa na casa de praia. O cheiro do mar misturado ao aroma do café fresco preencheu o ambiente. Isabela, ainda enrolada no lençol, observava Leonardo movimentar-se pela cozinha sem camisa, usando apenas uma bermuda cinza. O bronzeado dourado dele contrastava com a luz suave que entrava pelas janelas.— Você fica ainda mais bonito fora do escritório — ela brincou, bocejando.Leonardo virou-se, exibindo um sorriso torto.— E você fica ainda mais perigosa quando acorda com esse olhar sonolento e cabelo bagunçado.Ela riu, levantando-se do sofá com preguiça. O lençol escorregou levemente de seu corpo, revelando suas curvas. Ela vestiu o robe novamente e se aproximou da bancada.— Estou com uma fome... — disse, pegando um pedaço de pão. — Mas acho que é de você.Leonardo se aproximou por trás, rodeando sua cintura com os braços.— Isso pode ser resolvido depois do café... ou durante.— Leonardo! — ela disse, rindo, batendo de leve em seu braço. — Você está insuportável
O saguão do hospital era branco demais. Frio demais. Silencioso demais. Isabela nunca gostou de hospitais, e aquela sensação de impotência a corroía por dentro.A mãe estava internada na UTI, sob observação, e mesmo que o quadro fosse estável, o médico deixara claro: o emocional da Sra. Helena Navarro estava abalado. E muito do que causara aquilo tinha a ver com os escândalos que estouraram na imprensa naquela manhã.Isabela e Leonardo aguardavam em uma das salas reservadas para familiares. Marcela entrava e saía, com atualizações sobre o hospital e também sobre os estragos que começavam a surgir na Navarro & Costa. A empresa estava sendo pressionada, manchetes pipocavam nos sites de economia e nas redes sociais.— Precisamos agir — Isabela disse, quebrando o silêncio. — Não posso permitir que o nome da minha mãe seja destruído. E muito menos o da minha família.Leonardo, sentado ao lado dela, tocou em sua mão.— A gente vai dar um jeito. Eu liguei para um advogado amigo meu. Ele vai
O salão do hotel estava lotado. O som dos copos tilintando, risadas e conversas paralelas criava uma melodia abafada no ambiente luxuoso. Lustres imponentes pendiam do teto, refletindo a luz dourada sobre os convidados vestidos com trajes impecáveis.Isabela caminhava entre eles com postura impecável, seu vestido preto justo ressaltando cada curva com elegância e sofisticação. Seu olhar estava firme, seu sorriso ensaiado, sua máscara bem ajustada. Afinal, ela aprendera, à força, que fraqueza não tinha espaço no mundo que conquistara.E, naquele momento, mais do que nunca, precisava sustentar essa armadura.— Dra. Isabela, parabéns pela conquista! — Um dos investidores mais influentes do setor aproximou-se, segurando uma taça de champanhe. Ele apertou sua mão com um sorriso admirado. — Sua nova campanha foi um sucesso absoluto.— Fico feliz que tenha gostado, Sr. Albuquerque. Trabalhamos duro para isso.Ela agradeceu com um aceno discreto e ergueu a taça para um brinde silencioso. Esse
Isabela entrou apressada no elevador, sentindo a respiração irregular. Assim que as portas se fecharam, ela encostou-se à parede fria e fechou os olhos por um instante, tentando recuperar o controle.Não podia se permitir fraquejar. Não por ele.Cinco anos. Cinco anos sem uma ligação, uma explicação, um pedido de desculpas. E agora Leonardo reaparecia como se nada tivesse acontecido? Como se pudesse simplesmente pedir para conversar e ela fosse aceitar?Ridículo.O elevador fez um pequeno som ao chegar ao andar de sua suíte. Isabela abriu os olhos e ergueu o queixo, retomando sua postura implacável. Saiu apressada, ignorando os olhares discretos dos funcionários do hotel. Tudo que queria era um momento de silêncio. De solidão.Mas, ao abrir a porta do quarto, seu corpo paralisou.Leonardo estava lá.Sentado confortavelmente em uma das poltronas de couro, uma taça de uísque na mão, observando-a com um olhar intenso.O choque rapidamente se transformou em raiva.— Como diabos você entro