A noite havia chegado silenciosa, como se o mundo lá fora tivesse finalmente decidido descansar. No apartamento, a tensão do dia se dissipava devagar, dissolvida entre taças de vinho tinto e músicas suaves que preenchiam o ambiente como um sussurro acolhedor.Isabela vestia um vestido leve, de tecido macio e cor azul-marinho. Seus cabelos estavam soltos, caindo em ondas sobre os ombros. Leonardo, de camisa branca com os botões de cima abertos e jeans escuro, preparava uma pequena tábua de queijos e frutas na bancada.— Achei que merecíamos uma noite sem guerra — ele disse, pegando duas taças. — Só paz. Você, eu e um céu sem ameaças.Ela sorriu, aproximando-se devagar. Seus passos eram quase uma dança, e seus olhos refletiam uma mistura de alívio e encantamento.— Você percebe que a gente passou por um furacão? — ela disse, apoiando-se na bancada. — E ainda assim estamos aqui. Inteiros. Mais fortes.— Não inteiros, Isa. Eu perdi partes de mim que nunca mais vão voltar... mas ganhei out
O fim de tarde coloria o céu com tons suaves de rosa e dourado, enquanto a brisa marítima acariciava os cabelos de Isabela. Ela caminhava sozinha pela areia fina, deixando pegadas que logo eram apagadas pela maré. Leonardo, que havia dito que precisava resolver algo no vilarejo, prometeu encontrá-la ali antes do pôr do sol.Ela sorriu sozinha, olhando o mar com o coração aquecido. Pela primeira vez em anos, sentia-se em paz. Sem pressões, sem segredos entre eles, sem máscaras. Era apenas ela e o amor que resistira a tantas tempestades.Quando se virou para retornar à casinha de madeira onde estavam hospedados, viu Leonardo à distância. Ele vinha em sua direção, com um sorriso cúmplice nos lábios e algo escondido atrás das costas. Vestia uma camisa social dobrada até os cotovelos, calça leve de linho e andava descalço, como ela.— Achei que não fosse chegar a tempo — ela disse, rindo.— E perder a chance de ver o sol se pôr refletido nos seus olhos? Jamais.Isabela revirou os olhos com
A manhã seguinte foi pontuada pelo canto de galos, o aroma de pão fresco vindo da casa vizinha e o sol preguiçoso invadindo o quarto pela janela entreaberta. Isabela se espreguiçou sob os lençóis amassados, um sorriso nos lábios ao lembrar da noite anterior — do pedido de casamento, do beijo de tirar o fôlego e do amor que agora pulsava livre entre eles.Leonardo, por outro lado, dormia de boca aberta e em posição completamente desajeitada, com um braço pendurado pra fora da cama e o outro cobrindo o próprio rosto.— Que príncipe — Isabela sussurrou, segurando o riso enquanto o observava.Ela pegou o celular e fez uma selfie dos dois. Ele roncava levemente, o cabelo bagunçado feito ninho. Era o tipo de momento que ela queria guardar pra sempre.— Bom dia, dorminhoco — disse, tocando de leve no nariz dele.Leonardo abriu um olho devagar, piscando contra a luz.— Que horas são?— Quase nove.— Em fuso horário de onde?— Daqui mesmo, senhor noivo.Ele sorriu ainda sonolento, puxando-a pa
Isabela mal teve tempo de fechar a porta do quarto quando Leonardo a puxou pela cintura, colando os corpos como ímãs de polaridade oposta. A mochila com os pães velhos ainda pendia de um dos ombros dele, e o cheiro de campo e farinha preenchia o ar.— Está me sequestrando, senhor Vasconcellos? — ela provocou, com um sorriso travesso.— Estou, sim, senhorita quase Vasconcellos. E aviso logo: aqui dentro, só entra quem aceitar beijar antes do almoço.— Ai, que ameaça terrível — respondeu, já se rendendo ao beijo que veio quente, doce e despretensioso.O beijo se alongou até que ambos perderam o fôlego. Isabela encostou a testa na dele, o riso ainda vibrando no peito.— A gente parece adolescente de 17 anos.— Errado — Leonardo disse. — Adolescente de 17 anos não tem dor nas costas depois de dormir em colchão de pousada.Ela caiu na gargalhada.— Verdade. A vida adulta é sexy, mas cheia de boletos e hérnia.— Fala isso com essa cara linda, com cabelo preso nesse coque desarrumado e esses
O motor do carro ronronava preguiçoso pela estrada de terra, levantando uma nuvem de poeira dourada sob o céu azul de fim de tarde. Isabela ajeitou os cabelos num coque alto e se encostou no banco com um suspiro.— Acabou a lua de mel improvisada — ela murmurou.Leonardo, ao volante, olhou de relance e sorriu.— Mas começamos a temporada de viver juntos sem fugir.— Com boletos, café requentado e o gato da pousada que quase seguiu a gente até o carro.— Ele era insistente.— Quase tanto quanto você.Leonardo soltou uma risada. Isabela sorriu também, mas o riso se perdeu logo, substituído por um olhar pensativo. O retorno à cidade trazia mais do que compromissos e rotina — trazia também pendências, fantasmas e… surpresas.Quando chegaram no apartamento, era início da noite. A cidade parecia um organismo pulsante, viva em cada buzina, farol e cheiro de comida saindo das janelas. Leonardo estacionou o carro na garagem do prédio e os dois subiram de mãos dadas. Ainda estavam em clima de r
O dia amanheceu com a luz filtrada pelas persianas. Isabela acordou antes de Leonardo e ficou observando o rosto dele, ainda adormecido. Era engraçado como ele parecia mais jovem dormindo, com os traços relaxados e os lábios entreabertos. O peito dele subia e descia em um ritmo calmo, contrastando com o turbilhão de pensamentos que dançava na mente dela.Ela se levantou devagar, vestiu a camisa dele — uma de algodão cinza, larga demais para o seu corpo esguio — e foi até a cozinha. Colocou a água pra ferver, achou duas canecas e preparou café. Enquanto isso, tentava ignorar a pasta sobre a mesa, como se a presença dela fosse apenas um detalhe fora de lugar.Leonardo apareceu com os cabelos bagunçados, vestindo apenas a calça de moletom e os olhos sonolentos.— Você acordou antes de mim... — murmurou, abraçando-a pelas costas.— Eu tive pesadelos. Sonhei que a tal “D” tinha colocado câmeras na nossa casa.— Não duvido mais de nada.Ele beijou seu pescoço, e Isabela se inclinou levement
O antigo prédio da empresa do pai de Isabela ficava na parte mais antiga da cidade. Alto, de fachada imponente e janelas altas com grades enferrujadas, o local estava fechado havia mais de seis anos, desde que a empresa foi vendida e logo abandonada. O clima ao redor parecia carregado de história... e de segredos.— Tem certeza que ainda tem acesso a esse lugar? — Leonardo perguntou, olhando para a porta principal trancada com um velho cadeado.Isabela tirou um molho de chaves da bolsa. Sorriu com um ar de nostalgia.— Meu pai me dava essas chaves como se fossem brinquedos. Mas elas eram de verdade. Ele sempre dizia que “segredos devem ser guardados por mãos que merecem”. Na época, eu não entendia. Agora... acho que entendo.Ela encaixou a chave com cuidado, e o cadeado se abriu com um estalo seco.Lá dentro, o ar era denso, cheirando a mofo, poeira e passado. A recepção estava coberta por lençóis brancos sobre os móveis, como fantasmas guardando memórias. Isabela guiou Leonardo pelos
O sol já começava a se pôr quando Leonardo e Isabela saíram do prédio abandonado. Carregavam a caixa metálica envolta em um lençol velho, como se fosse apenas uma relíquia de família. Mas os documentos e o pen drive dentro dela tinham potencial para derrubar poderosos e reacender feridas profundas.No carro, Isabela estava em silêncio. Seus dedos apertavam o pen drive como se fosse a chave da liberdade… ou da ruína.— Está tudo bem? — Leonardo perguntou, tirando os olhos da estrada por um segundo para encará-la.— Não. Mas vai ficar. — Ela forçou um sorriso. — Preciso processar tudo isso. Meu pai estava no meio disso há mais tempo do que imaginei.— E você está mais no centro do furacão do que nunca.— Acha que ele confiaria em mim para resolver isso?— Ele confiou, Isa. Está tudo nas suas mãos agora. E eu estou com você.Ela olhou para ele, emocionada. A noite envolvia o carro com um manto de silêncio quebrado apenas pelo som do motor. Quando pararam diante do hotel onde estavam hosp