O sol já começava a se pôr quando Leonardo e Isabela saíram do prédio abandonado. Carregavam a caixa metálica envolta em um lençol velho, como se fosse apenas uma relíquia de família. Mas os documentos e o pen drive dentro dela tinham potencial para derrubar poderosos e reacender feridas profundas.No carro, Isabela estava em silêncio. Seus dedos apertavam o pen drive como se fosse a chave da liberdade… ou da ruína.— Está tudo bem? — Leonardo perguntou, tirando os olhos da estrada por um segundo para encará-la.— Não. Mas vai ficar. — Ela forçou um sorriso. — Preciso processar tudo isso. Meu pai estava no meio disso há mais tempo do que imaginei.— E você está mais no centro do furacão do que nunca.— Acha que ele confiaria em mim para resolver isso?— Ele confiou, Isa. Está tudo nas suas mãos agora. E eu estou com você.Ela olhou para ele, emocionada. A noite envolvia o carro com um manto de silêncio quebrado apenas pelo som do motor. Quando pararam diante do hotel onde estavam hosp
Na manhã seguinte, o som do celular de Isabela vibrou incessantemente sobre o criado-mudo. Ela abriu os olhos devagar, ainda sonolenta, enroscada nos lençóis e com a lembrança quente da noite anterior pulsando no corpo. Leonardo já não estava ali — o travesseiro ao lado ainda guardava seu perfume amadeirado.Ela pegou o celular, piscando diante da luz da tela. Uma série de chamadas perdidas e uma mensagem com um número desconhecido a fez franzir o cenho.“Nos encontramos no Café do Lago às 10h. Sozinha. Leve o pen drive.”Isabela sentiu o coração acelerar. Quem seria? E como sabiam do pen drive?Vestiu-se rapidamente, optando por algo discreto: jeans escuros, uma camiseta branca básica e um blazer cinza. Prendeu o cabelo em um coque bagunçado e passou um batom claro para disfarçar o rosto cansado. Desceu até o saguão, onde Leonardo tomava café e lia o jornal como se fosse um cidadão comum — o que claramente não era.— Bom dia, meu amor — ele disse ao vê-la, sorrindo. — Dormiu bem?— D
Após o beijo quente no estacionamento do Café do Lago, Isabela e Leonardo voltaram para o hotel. A tensão da conversa com Adriano ainda pairava no ar, mas a presença dele, firme ao lado dela, era um bálsamo que acalmava suas tempestades internas.Já no quarto, ela jogou o blazer na poltrona e se sentou na beira da cama, apoiando o rosto nas mãos.— Você vai ficar repetindo essa cena dramática até quando? — Leonardo provocou com um sorriso maroto, largando as chaves sobre a cômoda.— Até o mundo parar de me dar plot twists dignos de novela das nove — respondeu ela, sem conseguir conter o riso.— Você não acha que é hora de virar roteirista e assumir o controle da história?— Seria ótimo... se a vida deixasse.Leonardo se aproximou, agachando-se na frente dela. Seus olhos escuros encontraram os dela com firmeza.— A gente precisa se antecipar. Você está cercada, Isa. Não adianta só reagir. Está na hora de atacar.Ela respirou fundo e assentiu.— Eu pensei em algo. — Levantou-se e pegou
O sol começava a surgir no horizonte quando Isabela e Leonardo estacionaram o carro em frente à antiga casa de praia da avó dela. Era uma construção modesta, de alvenaria branca com detalhes azuis desbotados, janelas de madeira e um portão enferrujado que rangia ao menor toque.— Uau... isso parece cenário de filme — comentou Leonardo, ajustando os óculos escuros. — Um daqueles filmes que você sabe que alguma coisa vai acontecer... só não sabe se é boa ou ruim.— Acho que é exatamente essa a sensação — respondeu Isabela, descendo do carro.Ela vestia um vestido leve, branco com estampas florais azuis, que balançava suavemente com a brisa salgada do mar. Os cabelos presos em um coque solto deixavam seu pescoço exposto, e Leonardo se pegou admirando-a em silêncio por alguns segundos.— O que foi? — ela perguntou, percebendo o olhar dele.— Nada... só pensei que talvez seja ilegal alguém ser tão bonita às sete da manhã.Ela riu, balançando a cabeça, e os dois caminharam até a entrada. O
As mãos de Isabela tremiam ao segurar a carta. O papel envelhecido tinha o perfume suave que sua mãe usava — jasmim com algo adocicado. Ela passou os dedos delicadamente sobre o envelope, como se pudesse, de algum modo, sentir o toque materno através da textura áspera.Leonardo observava em silêncio, respeitando o momento. Havia aprendido, ao longo dos meses, a não preencher os silêncios que não lhe pertenciam.— Você quer ficar sozinha? — ele perguntou, suavemente.— Não... — disse ela, engolindo em seco. — Se tem alguém que merece saber tudo isso comigo, é você.Ela quebrou o lacre da carta com cuidado. O papel estava repleto de palavras escritas à mão, a tinta levemente desbotada, mas ainda legível. A caligrafia elegante parecia deslizar pelas linhas com urgência e emoção.“Minha filha,Se você está lendo esta carta, é porque finalmente chegou o momento de saber toda a verdade…”Isabela leu em voz alta, tentando manter a respiração sob controle.“…A vida nem sempre me permitiu faze
A casa de praia exalava serenidade. Lá fora, o som das ondas embalava a tarde quente, mas, dentro do quarto iluminado por cortinas brancas esvoaçantes, o clima era outro — carregado de desejo contido e intimidade crescente.Isabela caminhava pelo quarto com uma camisa larga de Leonardo, os cabelos soltos e os pés descalços sobre o chão de madeira. Estava diferente, mais segura. Mais dona de si. E aquilo, aos olhos de Leonardo, a tornava ainda mais irresistível.— Você parece perdida em pensamentos — ele disse, encostado no batente da porta, com os braços cruzados e um leve sorriso nos lábios. Vestia apenas uma calça de moletom, o peito nu revelando o físico forte e bronzeado.— Estou — ela respondeu. — Perdida em lembranças… e nas possibilidades.Leonardo se aproximou devagar, como se cada passo fosse uma provocação silenciosa. Parou bem diante dela, roçando os dedos em sua cintura.— Quer que eu te ajude a se encontrar?Isabela sorriu, mordendo o canto dos lábios.— Depende do método
Na manhã seguinte, o céu estava limpo, com tons dourados colorindo o horizonte. Isabela acordou antes de Leonardo. Ficou observando-o dormir por um instante, os traços serenos, o peito subindo e descendo calmamente. Parecia impossível que aquele homem tivesse causado tanta confusão na sua vida… e agora, fosse sua base mais firme.Ela se levantou devagar, caminhou até a varanda e respirou fundo. O cheiro do mar, o som das ondas… tudo parecia diferente. Não era o mundo que mudara — era ela. Vestiu uma calça jeans de cintura alta e uma blusa branca de linho, sapatos de salto bloco e cabelo preso em um coque baixo elegante. Uma maquiagem leve completava seu visual de mulher decidida. A garotinha assustada do passado tinha ficado para trás.Leonardo apareceu logo depois, vestindo uma camisa social azul dobrada até os cotovelos e calça de alfaiataria. Ele sorriu ao vê-la pronta.— Vai matar todo mundo do coração quando chegar desse jeito.— Que bom. Quero causar impacto mesmo.— Missão dada
O sol já se punha quando Isabela e Leonardo chegaram à casa de praia. A arquitetura rústica de madeira clara e janelas amplas fazia o lugar parecer um refúgio mágico. O som das ondas quebrando suavemente ao fundo preenchia o silêncio entre os dois, que caminhavam de mãos dadas até a varanda.— Faz quanto tempo que você não vinha aqui? — ele perguntou, abrindo a porta.— Desde antes de tudo... Desde antes de me sentir forte o suficiente para voltar.Leonardo segurou seu queixo com delicadeza, forçando-a a encará-lo.— Você sempre foi forte, Isabela. Só não sabia ainda.Ela sorriu, mas seus olhos marejaram.— Eu lutei tanto para ser vista, Leo. Tantos anos tentando provar meu valor para minha família, para o mundo... E agora que consegui, sinto um vazio. Como se algo ainda faltasse.Ele a puxou para o peito.— O que falta não é algo que o mundo possa te dar. É o que a gente constrói junto... com calma, com verdade.A casa estava impecável por dentro, com móveis claros, tecidos leves e a