VALERIAPensei na possibilidade de que ele tirasse essa pesada corrente do meu tornozelo, parecia estar encantada e era o que drenava toda a minha energia.Não tive sorte, ele não me libertou, mas nossos passos nos levaram até as portas duplas de vidro que davam para uma pequena sacada.Meus olhos, espantados, observaram a noite.Parecia estar no alto, em um castelo antigo, sobre uma montanha cercada de neve e um lago congelado.À distância, as muralhas escuras se erguiam em meio a um ambiente frio, envolto por uma névoa densa e sombria que cobria o céu.— Já que está admirando a vista, por que não dá uma olhada nos nossos convidados na praça? — ele sussurrou ao meu ouvido, segurando minha cabeça enquanto meu cabelo negro ondulava com o forte vento das alturas, assim como o fino camisão que não me protegia do frio intenso.— Não... não... — balbuciei, ao olhar para baixo e ver, muito distante, uma ampla praça de pedra cercada pelas muralhas.Lá estava Celine, amordaçada e com os braço
VALERIA— Quem… quem é você? – Levantei-me imediatamente, um pouco cambaleante.A verdade é que não tinha medo dessa pequena idosa, que mal chegava à altura do meu peito, mas de onde ela surgiu tão de repente?— Venha, venha, não se assuste, você sabe que eu não vou machucá-la. Deite-se na cama, o chão está muito frio, você pode pegar um resfriado – disse ela, empurrando-me gentilmente para a enorme cama, abrindo o edredom para mim e depois me cobrindo delicadamente.Eu me sentia como uma criança pequena novamente e, enquanto observava suas costas, vi quando ela foi até a lareira para colocar mais lenha, aquecendo o quarto gelado.Algo nela, em sua aura, me fazia ter vontade de chorar. Lembrei-me das palavras que li no último altar.Será ela quem me chamava de pequeno corvo?— Sou eu mesma – respondeu, virando-se finalmente e sorrindo. Ela voltou para a cama, subiu e sentou-se ao meu lado.— Você é minha ama? Por que sabe meu nome e me chama de princesa? Por que me chama de pequeno co
VALERIACaminhava nervosa de um lado para o outro no sufocante quarto, roendo as unhas e sem conseguir fechar os olhos.Minha mão acariciava instintivamente meu ventre.Agora, essa era minha prioridade: proteger meu filhote a qualquer custo.Eu não podia acreditar quando Nana me contou.Parecia uma mentira cruel, mas então eu vi.Com sua magia, ela me mostrou a vida crescendo dentro de mim. Um sorriso escapou dos meus lábios sem que eu pudesse evitar.Este segredo precisava ser guardado no mais profundo do meu ser; ninguém além de Nana e eu poderia saber.Meu ventre, antes estéril, agora florescia.Nana disse que era o milagre do amor verdadeiro, a poderosa linhagem de sangue de seu pai e meu despertar como Selenia.Ela até me ofereceu restaurar meu rosto, mas eu recusei.Não é que eu queira ficar assim para sempre, mas agora é mais seguro passar despercebida diante do Rei Vampiro.— Aldric... — sussurrei seu nome sentada na cama, morrendo de saudades.Ele pareceu me reconhecer naquel
VALERIA— Então venha, aproxime-se desta mesa — ele me levou até uma enorme mesa oval de mármore com um gigantesco mapa sobre ela.Algumas áreas estavam desenhadas com detalhes, enquanto outras permaneciam opacas e escondidas.— Tragam a caixa! — ordenou, e um guarda trouxe uma pequena caixa de madeira. Ela me parecia familiar e, quando ele a abriu, reconheci a pedra que havia queimado minha mão da última vez que a toquei fingindo fraqueza.— É uma pedra feita do Altar-Mãe, o primeiro de todos, que está localizado onde se encontra a Porta Lunar. É uma relíquia da sua raça. Pegue-a com uma mão e estenda a outra para mim. — ordenou com arrogância, e eu não tive outra escolha senão obedecer.Meus dedos trêmulos se aproximaram da pedra escura que parecia brilhar com minúsculos cristais em seu interior.Eu lembrava claramente da dor que ela causou da última vez, mas agora sentia apenas um chamado, como uma força invisível que me puxava para algo sagrado e magnífico.Quando meus dedos final
VALERIAO mar era algo muito mais extraordinário do que eu imaginava.Criada sempre sem sair das matilhas, dentro do Reino dos Lobos, eu nunca teria acesso a essa vista interminável de água que se fundia no horizonte com a escuridão do céu.A lua brilhava sobre nossas cabeças, enquanto o vento e a magia impulsionavam as velas para o local que o artefato tinha marcado no mapa trazido pelo Rei Vampiro.Coloquei um xale sobre os ombros e saí para a pequena varanda do meu camarote.Não era o melhor, mas também não estava tão ruim: uma caminha num canto, com uma mesinha redonda e uma cadeira para tomar qualquer refeição.O que mais gostei foi a privacidade e essa pequena varanda que dava para a popa do navio, onde eu estava de pé observando as estrelas.Cada camarote, cada tábua, cada prego, o som das ondas no casco, tudo eu podia sentir. Esta embarcação avançava sob minha vontade, e se eu não desejasse, ninguém a moveria de seu lugar, a menos que fosse outra Selenia.Celine e Quinn tinham
VALERIAO artefato mágico havia assumido a forma deste navio, mas em miniatura, navegando acima do mapa que o Rei Vampiro havia colocado sobre uma mesa na cabine do capitão.— Para onde nos leva agora? — perguntou, visivelmente impaciente.— Não sei, só quero chegar à Porta Lunar. Não conheço o caminho exato — respondi no mesmo tom irritado.A noite já havia passado, e os primeiros raios de sol apareciam no horizonte. No entanto, o nevoeiro que nos cercava dificultava muito a visibilidade.— Quero ver meus amigos...— Terra à vista! — alguém gritou no convés, interrompendo qualquer resposta dele.Ele saiu apressadamente, me empurrando de lado de forma grosseira, e eu segui seus passos, subindo a escada até o lado de fora.Meus pés tocavam o chão de madeira. Muitos de seus soldados estavam presentes, todos olhando para uma única direção, e eu também fixei meus olhos no ponto para onde avançávamos.Logo, a silhueta do que parecia ser uma pequena ilha começou a se formar. Ninguém falava;
VALERIA— Meu senhor está apenas de passagem, indique o melhor lugar para descansar neste... peculiar vilarejo — ouvi de onde estava, cercada pelos guardas do Rei.Parece que ele não gostava de chegar anunciando sua presença, algo que achei estranho, considerando o quão narcisista ele parecia ser.— Claro... claro, vossa senhoria, aqui está a melhor pousada do nosso vilarejo — respondeu o homem sorridente, magro como um esqueleto, com a cabeça quase careca. Sem demora, começou a nos guiar.Caminhamos pelas ruas de pedra, e meu olhar vagava discretamente pelos antigos edifícios que mal se mantinham de pé.A pobreza e a decadência estavam em cada esquina, assim como os olhos curiosos que espiavam por detrás das janelas escuras.Nunca havia estado neste Reino. Será que todos os vilarejos eram assim?Na verdade, acho que até a matilha mais pobre do Reino dos Lobos parecia um paraíso comparado a este lugar.— Esta é a melhor pousada, e também tem um restaurante. O senhor Arthur faz os melh
VALERIA— Três… três centavos? Eu... só tenho isso, não posso pagar tanto! Você sabe que ninguém aqui pode pagar um imposto tão alto!— Então reclame com o Rei, não comigo! Tirem-na daqui agora e, se resistir, batam nela até deixá-la inconsciente para que se cale! — disse, chutando a mão da mulher antes de se virar para sair. As duas moedas escurecidas que ela segurava caíram no chão e rolaram.A pobre mulher esfarrapada se lançou ao chão para recolhê-las, chorando. Em seguida, aqueles homens, como predadores, tentaram arrastá-la para longe da porta, em direção a um beco.Quando se virou, pude ver o pequeno embrulho em seus braços: um menino de pouco mais de um ano, tão magro quanto ela, como o guia sorridente e como todos os outros que já tinha visto neste lugar... menos aquela bruxa e seus guardas.— Deixem-na em paz! — não consegui me conter, especialmente ao ver a criança. Era óbvio que a espancariam sem piedade ou fariam algo pior.Puxei a mulher para os meus braços e, quando os