VALERIAO artefato mágico havia assumido a forma deste navio, mas em miniatura, navegando acima do mapa que o Rei Vampiro havia colocado sobre uma mesa na cabine do capitão.— Para onde nos leva agora? — perguntou, visivelmente impaciente.— Não sei, só quero chegar à Porta Lunar. Não conheço o caminho exato — respondi no mesmo tom irritado.A noite já havia passado, e os primeiros raios de sol apareciam no horizonte. No entanto, o nevoeiro que nos cercava dificultava muito a visibilidade.— Quero ver meus amigos...— Terra à vista! — alguém gritou no convés, interrompendo qualquer resposta dele.Ele saiu apressadamente, me empurrando de lado de forma grosseira, e eu segui seus passos, subindo a escada até o lado de fora.Meus pés tocavam o chão de madeira. Muitos de seus soldados estavam presentes, todos olhando para uma única direção, e eu também fixei meus olhos no ponto para onde avançávamos.Logo, a silhueta do que parecia ser uma pequena ilha começou a se formar. Ninguém falava;
VALERIA— Meu senhor está apenas de passagem, indique o melhor lugar para descansar neste... peculiar vilarejo — ouvi de onde estava, cercada pelos guardas do Rei.Parece que ele não gostava de chegar anunciando sua presença, algo que achei estranho, considerando o quão narcisista ele parecia ser.— Claro... claro, vossa senhoria, aqui está a melhor pousada do nosso vilarejo — respondeu o homem sorridente, magro como um esqueleto, com a cabeça quase careca. Sem demora, começou a nos guiar.Caminhamos pelas ruas de pedra, e meu olhar vagava discretamente pelos antigos edifícios que mal se mantinham de pé.A pobreza e a decadência estavam em cada esquina, assim como os olhos curiosos que espiavam por detrás das janelas escuras.Nunca havia estado neste Reino. Será que todos os vilarejos eram assim?Na verdade, acho que até a matilha mais pobre do Reino dos Lobos parecia um paraíso comparado a este lugar.— Esta é a melhor pousada, e também tem um restaurante. O senhor Arthur faz os melh
VALERIA— Três… três centavos? Eu... só tenho isso, não posso pagar tanto! Você sabe que ninguém aqui pode pagar um imposto tão alto!— Então reclame com o Rei, não comigo! Tirem-na daqui agora e, se resistir, batam nela até deixá-la inconsciente para que se cale! — disse, chutando a mão da mulher antes de se virar para sair. As duas moedas escurecidas que ela segurava caíram no chão e rolaram.A pobre mulher esfarrapada se lançou ao chão para recolhê-las, chorando. Em seguida, aqueles homens, como predadores, tentaram arrastá-la para longe da porta, em direção a um beco.Quando se virou, pude ver o pequeno embrulho em seus braços: um menino de pouco mais de um ano, tão magro quanto ela, como o guia sorridente e como todos os outros que já tinha visto neste lugar... menos aquela bruxa e seus guardas.— Deixem-na em paz! — não consegui me conter, especialmente ao ver a criança. Era óbvio que a espancariam sem piedade ou fariam algo pior.Puxei a mulher para os meus braços e, quando os
VALERIAO interior da pequena cabana de madeira era tão acolhedor quanto eu imaginava, repleto de flores e do intenso aroma medicinal.Havia uma mesa onde aquela misteriosa mulher preparava uma mistura de folhas, cadeiras ao redor e, ao fundo, uma lareira com duas confortáveis cadeiras de balanço cobertas de almofadas coloridas.— Oh, querida princesa, não fique aí parada tão tensa, sente-se na cadeira de balanço, vamos conversar — convidou-me, e, apesar de um pouco receosa, sentei-me, observando o ambiente com atenção.— Disseram-me que havia apenas uma curandeira no vilarejo. Por que você está escondida? Há uma criança inocente precisando de tratamento, e aquela outra bruxa se recusa a ajudá-lo — não pude evitar questioná-la.— Eu sei — respondeu com um suspiro, sem parar de triturar as ervas no pilão.— Este vilarejo tem esse nome porque antigamente era o lar de um clã de Bruxas Brancas. Somos principalmente curandeiras, respeitosas das leis naturais e dos desígnios da Deusa, mas t
VALERIA— Lamento muito, parece que... tive um sonho — disse, envergonhada, enquanto limpava as lágrimas com a manga do vestido e me levantava da cadeira de balanço.— Um sonho? — Alondra me olhou com incredulidade, segurando um pequeno frasco na mão. — Muito estranho, porque aqui dentro do meu espaço não é possível sonhar.— O quê? Mas eu...— Aqui está o remédio para sua amiga. Ele vai apenas mantê-la estável por um tempo, mas, princesa, a cura para essa híbrida está nas mãos de seu companheiro — interrompeu minhas palavras confusas e explicou:— Quando ela receber a mordida de seu mate, seja um vampiro ou um lobisomem, o equilíbrio será restaurado.Fiquei surpresa ao saber que a cura de Celine nem sequer estava em minhas mãos. Encontrar o mate dela parecia ainda mais complicado.— Eu... não quero abusar de sua generosidade. Na verdade, não tenho como pagar, mas havia uma criança, ele parecia estar morrendo. A senhora poderia me dar algo para ajudá-lo também? — pedi, envergonhada, m
VALERIA— Estou melhor, Quinn. O remédio que Valeria me deu funciona, na verdade, é o melhor que já tomei.— Celine! — exclamamos ao mesmo tempo, aliviados. Ela sorriu da cama, embora ainda estivesse fraca.Limpei o suor de sua testa com um pedaço da minha saia e a ajudei a se sentar.— Obrigada, Valeria. Quinn, o que você vai fazer? — De repente, ela olhou para o irmão, e eu fiz o mesmo.O Lycan abriu o frasco e o bebeu de uma vez. Nós duas ficamos em choque.— Pronto, problema resolvido. O gosto é horrível, mas tenho certeza de que ela te deu uma porcaria que só estabilizaria você por um dia e depois te deixaria pior, talvez até mais grave — disse ele, dando de ombros como se não fosse nada.No final, não conseguimos evitar rir, aliviados por termos superado o momento difícil. Aproveitei para explicar a Celine que apenas seu mate poderia salvá-la.— Sinto muito. Vocês me seguiram através de algo tão perigoso, e eu não sou o antídoto para o seu mal — confessei, envergonhada, mas ela
VALERIA— Havia uma lenda de que ali estava escondido um poder inigualável. No entanto, os tolos que ousaram atravessar o lago nunca mais voltaram.Lugar assustador, amaldiçoado e com morte garantida; esse é o nosso destino, sem dúvida. Reunimos as poucas coisas que tínhamos e partimos em direção ao Lago dos Mortos, rezando para não sermos os próximos da lista.— Gente, vocês sempre ao meu lado. — Segurei a mão de Celine, e Quinn assentiu ao lado dela.Atravessamos juntos uma floresta selvagem durante a noite, avançando sem parar pelos arbustos cheios de galhos pontiagudos, sob a cobertura das árvores densas que bloqueavam a luz da lua acima de nós.À medida que nos aproximávamos do lago, a umidade e o frio no ar aumentavam. Um detalhe perturbador era que nada se ouvia.Não havia o sussurrar de animais noturnos, o som de asas de corujas ou o brilho de vaga-lumes no ar. Nada. Parecia que a vida havia sido completamente sugada daquele lugar.Saímos da floresta e chegamos às margens do l
VALERIAOs soldados vampiros estavam sendo atacados, garras escuras surgiam traiçoeiramente do nada.Por melhor que fosse a visão deles, era quase impossível prever os golpes. Os gritos se acumulavam, junto com o cheiro de sangue.— Maldição, Valeria, corra! Corra para fora dessa porcaria ou eu mesmo vou jogar os seus amiguinhos pulguentos no primeiro espectro que aparecer! — rugiu o Rei Vampiro. E foi exatamente o que fiz, comecei a correr como uma louca.Meu vestido voava ao vento, a escuridão se revolvia ao meu redor, éramos perseguidos, olhos vermelhos por todos os lados, gritos e puro terror.No meio de tanta escuridão, vi uma luz brilhante, como a fenda de uma porta gigantesca entreaberta. Do outro lado, deveria estar a salvação.Meus tornozelos foram agarrados, os saltos dos meus botins afundavam em uma substância pegajosa, e garras afiadas seguravam meus braços.Precisei lutar várias vezes. Não acredito que ser uma Selenia me tornasse completamente imune ao perigo.— Já estamo