VALERIA— Lamento muito, parece que... tive um sonho — disse, envergonhada, enquanto limpava as lágrimas com a manga do vestido e me levantava da cadeira de balanço.— Um sonho? — Alondra me olhou com incredulidade, segurando um pequeno frasco na mão. — Muito estranho, porque aqui dentro do meu espaço não é possível sonhar.— O quê? Mas eu...— Aqui está o remédio para sua amiga. Ele vai apenas mantê-la estável por um tempo, mas, princesa, a cura para essa híbrida está nas mãos de seu companheiro — interrompeu minhas palavras confusas e explicou:— Quando ela receber a mordida de seu mate, seja um vampiro ou um lobisomem, o equilíbrio será restaurado.Fiquei surpresa ao saber que a cura de Celine nem sequer estava em minhas mãos. Encontrar o mate dela parecia ainda mais complicado.— Eu... não quero abusar de sua generosidade. Na verdade, não tenho como pagar, mas havia uma criança, ele parecia estar morrendo. A senhora poderia me dar algo para ajudá-lo também? — pedi, envergonhada, m
VALERIA— Estou melhor, Quinn. O remédio que Valeria me deu funciona, na verdade, é o melhor que já tomei.— Celine! — exclamamos ao mesmo tempo, aliviados. Ela sorriu da cama, embora ainda estivesse fraca.Limpei o suor de sua testa com um pedaço da minha saia e a ajudei a se sentar.— Obrigada, Valeria. Quinn, o que você vai fazer? — De repente, ela olhou para o irmão, e eu fiz o mesmo.O Lycan abriu o frasco e o bebeu de uma vez. Nós duas ficamos em choque.— Pronto, problema resolvido. O gosto é horrível, mas tenho certeza de que ela te deu uma porcaria que só estabilizaria você por um dia e depois te deixaria pior, talvez até mais grave — disse ele, dando de ombros como se não fosse nada.No final, não conseguimos evitar rir, aliviados por termos superado o momento difícil. Aproveitei para explicar a Celine que apenas seu mate poderia salvá-la.— Sinto muito. Vocês me seguiram através de algo tão perigoso, e eu não sou o antídoto para o seu mal — confessei, envergonhada, mas ela
VALERIA— Havia uma lenda de que ali estava escondido um poder inigualável. No entanto, os tolos que ousaram atravessar o lago nunca mais voltaram.Lugar assustador, amaldiçoado e com morte garantida; esse é o nosso destino, sem dúvida. Reunimos as poucas coisas que tínhamos e partimos em direção ao Lago dos Mortos, rezando para não sermos os próximos da lista.— Gente, vocês sempre ao meu lado. — Segurei a mão de Celine, e Quinn assentiu ao lado dela.Atravessamos juntos uma floresta selvagem durante a noite, avançando sem parar pelos arbustos cheios de galhos pontiagudos, sob a cobertura das árvores densas que bloqueavam a luz da lua acima de nós.À medida que nos aproximávamos do lago, a umidade e o frio no ar aumentavam. Um detalhe perturbador era que nada se ouvia.Não havia o sussurrar de animais noturnos, o som de asas de corujas ou o brilho de vaga-lumes no ar. Nada. Parecia que a vida havia sido completamente sugada daquele lugar.Saímos da floresta e chegamos às margens do l
VALERIAOs soldados vampiros estavam sendo atacados, garras escuras surgiam traiçoeiramente do nada.Por melhor que fosse a visão deles, era quase impossível prever os golpes. Os gritos se acumulavam, junto com o cheiro de sangue.— Maldição, Valeria, corra! Corra para fora dessa porcaria ou eu mesmo vou jogar os seus amiguinhos pulguentos no primeiro espectro que aparecer! — rugiu o Rei Vampiro. E foi exatamente o que fiz, comecei a correr como uma louca.Meu vestido voava ao vento, a escuridão se revolvia ao meu redor, éramos perseguidos, olhos vermelhos por todos os lados, gritos e puro terror.No meio de tanta escuridão, vi uma luz brilhante, como a fenda de uma porta gigantesca entreaberta. Do outro lado, deveria estar a salvação.Meus tornozelos foram agarrados, os saltos dos meus botins afundavam em uma substância pegajosa, e garras afiadas seguravam meus braços.Precisei lutar várias vezes. Não acredito que ser uma Selenia me tornasse completamente imune ao perigo.— Já estamo
VALERIA— Valeria, o que faremos? Você não pode dar a esse psicopata o que ele quer. Nós...— Quinn, a verdade é que não posso prometer que tudo isso vai dar certo, mas farei o possível para salvar vocês — respondi em um sussurro, sem muitos detalhes, por causa da proximidade do inimigo.E porque, para ser sincera, eu não fazia ideia de como quebrar o feitiço daqueles colares.Estava caminhando às cegas, confiando apenas na magia que minha mãe deixou para me proteger.— Majestade, só restamos nós. — Olhei por cima do ombro, ajeitando minha roupa, e senti uma satisfação amarga ao perceber que apenas metade dos vampiros havia sobrevivido. Alguns estavam até feridos. Nenhum deles pode sair vivo daqui.— Ótimo. Achei que chegariam ainda menos, então não estamos tão mal. — Ele respondeu como se estivesse falando de animais, e não de sua própria gente.Eu não entendia por que seguiam esse desgraçado. Talvez fosse pelo medo, imaginei.— É a hora, princesa. Vamos. Vocês dois, fiquem de olho n
VALERIALevantei os olhos e contemplei o interior do mundo onde Umbros estava aprisionado.A sensação era horrível, como se toda felicidade tivesse sido sugada por um vórtice de maldade.O que parecia ser uma ilha flutuava ao longe, fora de nosso alcance, e era o único elemento sólido nesse lugar.Todo o restante estava encoberto por uma névoa negra como tinta, enquanto relâmpagos lampejavam ao longe entre nuvens de tempestade e escuridão.Era como estar flutuando no vazio.— Dê o primeiro passo e nos leve até a Ilha Lunar.— O primeiro passo? Para onde? — perguntei, olhando para baixo. A sensação de vertigem me fez recuar rapidamente.— Não seja idiota. Vi que você tinha asas de corvo quando lutou contra o Rei Lycan. Use-as e pare de perder tempo. Voe até a ilha.Fechei os olhos e tentei invocar a transformação.Esperava que funcionasse, pois não conseguia controlá-la com facilidade.Contudo, a sensação de coceira começou em minhas costas, seguida de um desconforto crescente.Meu ves
VALERIAO Rei Vampiro não queria o poder de Umbros. Sempre me perguntei como ele podia ser tão tolo ao ponto de querer controlar um mal tão grande. Mas seus olhos estavam fixos nesse poder, em toda a magia reunida das Selenias que selavam este espaço.Se eu retirasse aquilo dali, Umbros encontraria uma forma de se libertar.Hesitei, com os dedos a centímetros da luz vermelha.— Pegue-a, pegue-a, Valeria, ou eu vou arrancar a garganta daqueles lobos com as minhas mãos! JURO QUE VOU MATÁ-LOS, PEGUE LOGO, PEGUE! — ele gritava como um louco. Cheguei a ouvir o som da água misturada ao sangue.Ele ousou entrar na lagoa, tamanha era sua ambição de se tornar mais poderoso."Toque-a, Valeria, apenas toque-a", a voz da minha velha magia ressoou em minha mente, e finalmente me estiquei na ponta dos pés para fundir meus dedos na fria pedra carmesim.Lembranças brilharam como flashes na minha mente.Uma mulher poderosa sentada em seu trono de ouro, olhos azuis, cabelo negro e longo. Sua felicidade
VALERIAEla começou a caminhar novamente em direção ao Rei Vampiro.Eu sabia muito bem: ele as estava enganando ao beber o sangue da minha mãe que havia guardado, o sangue que estava destinado a mim.Ela estava confusa, guiando-se apenas pelo instinto do vínculo que tinha deixado para me fortalecer.— Eu também tenho o seu sangue, Gabrielle! Como você não consegue reconhecer a própria filha?! — gritei, tomada pela fúria.Agora todas as guardiãs estavam se virando para mim. Eu era a intrusa. O Rei Vampiro estava se disfarçando como uma delas, como uma Selenia, e o sangue de Gabrielle era muito mais poderoso do que meu poder imperfeito.O que faço, maldição, o que faço?Eu morreria com certeza, nunca resistiria ao ataque delas e, enquanto eu morresse, ele roubaria o coração.É isso, o coração!Olhei para a fonte, que agora estava desprotegida. Os segundos corriam. Eu precisava tomar uma decisão e rápido.“Roube o coração, Valeria, roube o coração e liberte sua mãe, rápido!”, a voz dentro