NARRADORAElliot correu como um louco, sem direção, descalço.Ele não sentia as pedras duras nem os arranhões no torso nu provocados pelos galhos afiados em seu caminho.Suava intensamente, sua respiração era irregular.Caiu de repente sobre a grama macia no meio da floresta intricada.Sentia sua pele inteira queimar, como se a temperatura aumentasse sem parar.Seus ossos estalavam de forma estranha.Arqueou as costas em posição fetal, suportando os espasmos dolorosos dos músculos.Com as mãos cheias de garras, abraçou a cabeça, que latejava como se milhares de pregos ardentes estivessem se cravando em seu crânio.Seu coração batia tão rápido que pensou que teria um ataque e morreria ali mesmo.Apertou o peito, cravando as unhas nos peitorais fortes.Algo clamava para sair de dentro dele, tomar o controle, comandar sua vontade, mas ele resistia.Ele sempre resistia.A única vez que cedeu foi naquela noite.Não sabia exatamente o que tinha acontecido, mas foi algo muito parecido; perde
NARRADORA—Não sou nenhum espião. Posso ir e ser útil —Elliot logo se interessou.Ele precisava saber exatamente o que estava acontecendo ali.Apesar dos protestos de Tomas, acabou seguindo-os pela floresta.Avançavam rápido, correndo com agilidade.Elliot nunca ficou para trás. Aquela velocidade e resistência não podiam ser mantidas por um elemental comum.Nenhum deles era comum.*****Eles se esconderam agachados atrás de grandes rochas, no alto de um penhasco.Abaixo, havia um profundo desfiladeiro e, bem ali, passava o largo rio que marcava o limite entre os dois Ducados."Elliot, consegue nos ouvir?" Aldo tentou mais uma vez falar com ele em sua mente, mas nada; Elliot sequer deu sinais de ter percebido.Aldo franziu o cenho.Esse cara estava se fazendo de desentendido ou realmente não conhecia bem seus poderes como ser sobrenatural.De qualquer forma, os sons de cascos de cavalos, o arrastar de rodas e o chapinhar da água os fizeram prestar atenção no que acontecia a alguns metr
NARRADORAElliot não entendia o que aquilo significava. Mesmo assim, imitou o gesto.—Juro pela minha vida, morrerei cruelmente se quebrar minha promessa —afirmou, batendo o punho contra o coração.Elliot sabia que aquele homem era um ser sobrenatural; Aldo havia insinuado isso de várias formas.Também compreendia que Aldo suspeitava dele. Parecia que Elliot havia deixado algo escapar quando o resgatou no rio, mas não tinha coragem de perguntar, de se abrir, porque ele não era qualquer pessoa.Ele era o Duque e tinha muito a perder. Ninguém iria chantageá-lo novamente.Suspeitas não eram o mesmo que confirmações.Aldo entrou na casa para descansar com sua família.Elliot suspirou, olhando para o corredor que levava ao pátio.Seguiu naquela direção para esvaziar a tina e recolher o banheiro de onde escapara como um covarde.Ao abrir a porta, que rangeu baixinho, encontrou-se na penumbra do quarto frio.Rossella havia deixado tudo limpo e seco.Apenas a tina ainda tinha um pouco de água
NARRADORA—Rápido, com este barco vocês atravessam o trecho leste do rio e chegam à aldeia vizinha. Procurem por Joaquim, na única pousada que tem lá. Ele deve estar saindo com a caravana de comércio. Digam que vão em meu nome...Aldo dava instruções apressadas enquanto desatavam os nós das amarras e se preparavam para empurrar o pequeno barco pela rampa até a água.Apoiada dentro do velho galpão do embarcadouro, Katherine os observava nervosa, ainda tentando controlar a respiração acelerada após a corrida suicida.Por todos os céus, aqueles homens não pareciam ter acabado de correr como cães loucos pela floresta, enquanto ela sentia que estava prestes a cuspir os pulmões.E isso que tinha sangue sobrenatural; se não tivesse…—Empurremos. —Com um baque surdo e o som da água espirrando, o barco deslizou até os limites do rio.Faltava apenas um empurrãozinho para que descesse pela rampa.Katherine foi ajudá-los; entre os três seria mais rápido.De repente, Elliot, ao lado dela, ficou rí
NARRADORA—O quê? Acha que não aceitarão como pagamento? —ela o olhou com olhos preocupados e até inocentes.Elliot observou nas profundezas de seus olhos.Ela parecia sincera, sem truques ou artimanhas.Estava cada vez mais convencido de que esta não era sua esposa original, e agora era mais do que evidente que essa mulher, idêntica a Rossella, não conhecia seu segredo.—Sim, acho que serve. —Ele estendeu o braço com certa hesitação, pensando que, no último momento, ela se arrependeria.Seu coração deu um salto quando ela colocou o colar mágico na palma de sua mão.—Bem, deixo sob sua proteção, então.—Não é um objeto importante para você? —perguntou ele, já guardando o item em seu corpo. Não pensava em entregá-lo novamente, na verdade, destruiria aquilo por completo.—Bem, nem tanto, acho que pertenceu à minha mãe, mas eu nem a conheci. No fim das contas, os vivos precisam encontrar uma maneira de continuar vivendo —disse Katherine, sem dar muita importância ao assunto.E muito meno
NARRADORAA Duquesa o observou de cima a baixo, detendo-se com firmeza em sua braguilha.Elliot a encarou com incredulidade antes de começar a rir às gargalhadas, chamando um pouco de atenção.Katherine sorriu de forma discreta.Nunca o tinha visto rir assim; ele parecia tão sexy, sem aquele ar rabugento e superior.Então o homem de gelo também tinha bom humor de vez em quando.Elliot tossiu um pouco, tentando controlar seu momento de fraqueza.Ela era tão espontânea, como um sopro de ar fresco em sua vida cheia de segredos e temores.Katherine, sem perceber, saía cada dia mais do papel de Rossella.A verdadeira Duquesa era uma mulher formal, cheia de complexos, rígida, e não como essa nova Duquesa, que o encantava com sua sensualidade e vivacidade.Elliot desejava dizer-lhe que estava louco para amá-la como nunca antes imaginou, mas a sombra do que tinha acontecido no dia anterior ainda o assombrava.E se perdesse o controle novamente com ela?E se a machucasse e fosse descoberto?Ab
NARRADORA—SENHOR!! —Wallace estava chocado, feliz e, ao mesmo tempo, preocupado porque não entendia completamente a situação.Menos ainda quando o Duque se colocou diante da Duquesa de maneira protetora, ocultando-a.—Por que... por que, se estava na cidade, não foi ao castelo? Mandei uma patrulha para procurá-lo por todo o Ducado, nos arredores de onde foi atacado. Um dos soldados sobreviveu e veio me avisar —começou a se explicar imediatamente.A atmosfera ao redor era fria e ameaçadora.Ele se sentia como um rato preso em uma armadilha.—Pensei que fosse um complô da Duquesa com o inimigo...!—CALE A BOCA E PARE DE SER TÃO CÍNICO! —Elliot não conseguiu evitar explodir de cólera.Confiou nesse homem, colocou seu patrimônio em suas mãos.Estava farto de ser sempre apunhalado pelas costas; era por isso que achava tão difícil confiar em alguém.—Eu não...—Sim, você sim! —deu um passo à frente, mal contendo os caninos que ameaçavam aparecer.—E vai me dizer absolutamente tudo, ou eu j
KATHERINE—Faz mais ou menos uma hora que o Duque te trouxe nos braços. Imagine o quanto fiquei surpresa, e também assustada, pensando que você pudesse estar ferida ou algo assim. O que aconteceu exatamente? —ela me perguntou com um rosto preocupado.—Espere, primeiro me diga sobre a menina. Ela está bem? Não aconteceu nada com ela enquanto eu estava fora? O mordomo...?—Não, não. Lavinia está bem. Agora está tendo aula com a professora de piano na biblioteca. Tem sido bem comportada, nem pergunta mais por aquela má preceptora —disse, e eu soltei um suspiro de alívio.Descobri-me e coloquei os pés descalços para fora da cama.Nana parecia ter tirado as roupas velhas que eu usava, porque agora estava de pijama.—Bom, por onde começar...? —suspirei e comecei a contar a pequena aventura que vivi com o Duque.—Hmm, o Duque é mesmo um osso duro de roer. Você quase conseguiu, mas ele te rejeitou no último momento. Parece que está começando a se inclinar para o seu lado, mas isso ainda não é