— Então como saberemos que nos pertencem, Alair? E imagino que já saiba qual é a sua.— No dia em que minha mãe lhe presenteou com a estrela de porcelana, na festa de Laidé, ela cintilou quando a tocou. Aquele brilho revelou aos meus pais que você era a outra escolhida. Padiah levou essas duas espadas camufladas em sua carroça. Você não nos conhecia, estava absorta com seus pais. Não sabia da existência de uma profecia e dessas armas também. Minha mãe conjurou uma energia paralela, entre o objeto e a espada guardada. Se você tocasse a estrela de porcelana e tanto, ela quanto a espada brilhasse, confirmaria a criança que vira a estrela. Naquele momento em que você tocou a peça, a pedra brilhou, e agora, a seu toque, a sua espada também vai brilhar, indicando sua dona.— A cada momento, deparo-me com mais revelações sobre meu passado. Como fui tão boba e insegura. Se eu não tivesse sido tão submissa aos comandos de meus pais, não estaria atrasada com essa missão.— Sarati, permaneci tam
O forte impacto desequilibrou suas pernas, e Sarati só não foi ao chão, pois Alair a segurou e não a deixou que desabasse. Assim que se equilibrou, e foi pega pelas mãos fortes de Alair, os dois perceberam o quão estavam próximos. O coração de Sarati galopou furiosamente, e o braço, ainda apoiado pelas mãos fortes de Alair, sentiu uma percepção enigmática. Foram apenas segundos dessa conexão tão significativa, porém fora intenso. No entanto, em seguida, o senso de dever chamou o jovem à razão para o que tinha acontecido e ela se afastou dois passos para trás.— Sarati, veja. A sua espada a escolheu. Agora preciso lhe ensinar a usá-la.Ele afastou-se, empunhou sua espada e a investiu contra ela, fazendo com que, dessa vez, pelo choque das lâminas e a força empregada, Sarati fosse ao chão. As costas dela doíam, e surpreendeu-se por ter se defendido com a espada, que jazia cravada na espada de Alair em posição de defesa. O rapaz, então, começou a rir.— Por acaso sou uma pessoa engraçad
Sarati levantou as pontas dos pés e viu a toalha amontoada no chão. — O que vou fazer?Ela olhou para a janela, Alair estava, agora de costas, cortava alguns legumes para colocar junto a carne.— Se eu sair, e ele virar, vai me ver nua. O que faço — pensou a guardiã — Ah, minhas roupas, seco com elas. Deixei dependuradas na porta.Mais uma travessura da estrela. As roupas também voaram para longe.— Como essa toalha e essas roupas foram parar tão longe. Não teve nenhum vento. Será que eu estava tão assustada com os sonhos que não senti o vento. O que vou fazer?— Sarati — gritou Alair da porta — o almoço está pronto. Já terminou.A guardiã, com as mãos no rosto de vergonha, teve que responder e pedir ajuda, ou ficaria lá o dia todo.— Alair, estou com um pequeno problema. Você terá que me ajudar, mas também terá que me prometer algo muito importante.Ela ouviu os passos dele saindo da casa.— Não venha aqui, antes de me escutar e me prometer.— Estou parado. Pode falar.Sarati olhou
Ele a esperava de fora, vestido da mesma forma que ela, sendo o único diferencial os modelos serem masculinos.— Uau! Agora, sim, assemelha-se a uma guardiã da estrela!— Eu acreditava que guardiões trajavam vestidos ou túnicas.— Os de milênios atrás, sim e quando estão praticando alguns rituais ou nas aulas. Pelo menos foi o que meu pai me ensinou, quando me entregou essas roupas. E ele ainda acrescentou: — Filho, você é um guardião moderno. E Sarati também.— Preciso colocar isso em você. Posso?— E seu eu disser que não.— Aí, terá que colocar sozinha e não é fácil. Se quiser tentar.Ela abriu os braços para Alair. Ele depositou um cinto de couro trespassado pelo tórax dela, prendeu-o à cintura da jovem e acomodou a espada nas costas de Sarati. Esse gesto levou o rosto dos dois a uma proximidade incomoda, e sufocante, mais uma vez.— Você não me ensinará a lutar?— Sim, mas só depois que tiver músculos e força suficientes para manusear uma espada. Corra, Sarati, corra! — mandou Al
— Também acho que devemos dormir e buscar amanhã essa resposta — concordou, o guardião, com os olhos chamejantes e a voz rouca pela emoção que lhe tomava.Ela retirou sua outra mão, bem rápido e quase correndo retirou-se para a cama. Ao deitar-se, rogou à Manú que auxiliasse seu coração. Sarati temia que mais uma decepção viesse e ele se partisse ao meio. Por isso, ansiava que a estrela indicasse outra forma de abrir a passagem. Manú não veio, mas outro sonho, bem romântico, com direito a beijo, na encosta do morro, teve e mais uma vez, Alair a acordou bem no momento crucial.— Sarati, café da manhã. Temos que treinar.Ela levantou o tronco, o cabelo todo desarrumado.— Alair, porque você tem o dom de me acordar quando não estou tendo um pesadelo e sim, o melhor dos sonhos.— Porque não posso adivinhar que está tendo um sonho.— Mas você não pode ler mentes.— Só quando aciono esse dom, e como ele faz eu gastar muita energia, só acionei aquele dia, para a irritar.Sarati pegou o trave
Luídi caminhou encantado com o que avistava. Assim que Padiah veio ao encontro dos dois, Luídi não conteve a emoção. Permanecera muitos anos recluso, sem a esposa e a filha, guardando um segredo na solidão do penhasco que o abrigou. — Esse é seu quarto, meu amigo. Relaxe um pouco. Daqui mais um tempo venho buscá-lo para nos reunirmos em outro local.— Acho que terá que me buscar mesmo. Com certeza me perderei nesse imenso lugar, parece um labirinto.Mais tarde, já restabelecido, foi surpreendido por Anarit, que o levou até o pai. Padiah conduziu os guardiões presentes até a biblioteca para ouvir as novidades.— Estamos todos aqui — iniciou Padiah — para escutar Lucadelli que conduziu os guardiões da estrela até a passagem fechada para o Monte, que fica bem perto da casa de Luídi. No caminho, vários guardiões os ajudaram, inclusive Buriah, que teve a missão de os conduzir, e se foi, logo após irem embora. Saudemos Buriah, com a força da Estrela.Todos bateram palma, e ainda bem fraca,
— Oi, você está cansado.— Oi, ficarei bem. Estou com saudades.— Eu também. Vou ver meu pai.— Não fale nada, quero eu mesmo conversar com ele. — Sim. Descanse, pelo menso um pouco. Os dias serão, a partir de hoje, até a volta de Jetiah, serão mais exaustivos do que essa viagem que fez.Lucadelli passou a mão do rosto de sua companheira e a deixou, indo direto para o quarto descansar.*****Padiah sentou-se na companhia de Luídi.— Como trouxe tantos livros, Padiah? É impressionante sua coragem. Além de ter salvado o rei e a rainha, ainda recuperou um pouco da história de Jetiah. Estou maravilhado! Minha Salari seria afortunada diante dessa maravilha.— Sinto muito por Ariala. Ela foi uma guardiã extraordinária, enérgica e apaixonada por sua missão. Cumpriu a missão que lhe foi confiada e deixou-lhe uma filha abençoada e igualmente poderosa. Tenho fé que Salari será uma grande guardiã quando voltarmos às nossas funções.— Como conhece minha filha, Padiah? Ariala só se tornou mãe dep
— Imagino que seja só eu que tire seu tempo, menina Salari — falou Magdali rindo.— Como assim — captou algo no ar, o velho pai.Lucadelli nem se mexeu. Era muito discreto. Quem se assustou mais com a brincadeira foi Salari, mas que logo contornou a situação.— Ajudo Magdali também com as peças de artesanato, papai. — Estão fazendo minha filha trabalhar muito, hein. Mas não pensem que o soldado se salvou tão fácil. Ele quase colocou a comida para fora, quando Luídi o perguntou.— Lucadelli acho que já perguntei antes, ou quis perguntar, não me lembro. Não encontrou sua companheira ainda?O soldado segurou a comida na boca e para engolir foi um processo lento e doloroso, sem conseguir falar.— Luídi — respondeu Padiah. Nosso amigo é discreto, não gosta muito de falar sobre sua vida pessoal.— Mas aqui é uma caverna. Todos devem se conhecer.— É uma caverna, mas muito grande — respondeu Magdali.Lucadelli terminou e se levantou.— A conversa está boa, mas, Luídi, precisamos dormir bem