POV ALICE.Abi riu baixinho, como se divertisse às minhas custas. Eu, porém, não tinha mais energia para discutir. Tudo parecia um turbilhão e, naquele momento, tudo o que eu queria era alguma paz. Olhei para a porta pela qual Luís havia saído e suspirei, ainda tentando digerir sua reação. Eu não queria fazer meu amigo sofrer desse jeito. Mas não posso corresponder ao seu amor.— Ele vai voltar, Alice — disse Abi, em um tom mais gentil. — Só precisa de um tempo para digerir que te perdeu para Darius. Dê um tempo a ele. — Comentou Abi.— Espero que sim — murmurei. — Não quero perder a amizade dele por causa disso. Eu queria poder corresponder ao amor de Luís, mas tudo que sinto por ele é um amor fraternal. — Falei. Abi me olhou com uma expressão de compaixão.— Ele é seu amigo, Alice. Mas também é um homem apaixonado. Vai levar tempo para ele aceitar tudo isso — falou. Abaixei a cabeça, os dedos trêmulos brincando com o tecido da minha blusa.— Eu não queria magoá-lo, Abi. Nunca quis.
POV ALICE.O silêncio na sala parecia ensurdecedor, preenchido apenas pelo som da minha própria respiração descompassada. Agatha e Bartolomeu Moss estavam diante de mim, e a revelação de que eram os pais de Darius foi uma grande surpresa, deixando-me tensa. Meus olhos saltaram de um para o outro, ainda tentando absorver a informação. Era evidente que compartilhavam alguns traços: a postura imponente de Bartolomeu, o olhar perscrutador e, de alguma forma, assustadoramente semelhante ao de Darius. Já Agatha tinha um sorriso caloroso que mascarava a intensidade de sua presença. Por um momento, as palavras simplesmente desapareceram da minha mente. Abigail, ao meu lado, parecia tão perplexa quanto eu. Ela inclinou-se e sussurrou, com um tom misto de curiosidade e diversão:— Parece que seus sogros vieram te conhecer — disse Abigail.Revirei os olhos, mordendo o lábio para conter uma resposta. A última coisa que eu queria era me estressar mais do que já estava com tudo o que estava aconte
POV DARIUS.Eu esperava no corredor do hospital, encostado contra a parede fria. A luz fluorescente piscava levemente acima de mim, acentuando a atmosfera estéril do lugar. Meus pensamentos estavam caóticos, divididos entre Alice e a alcateia, e isso só aumentava minha irritação. Era como se o peso de duas responsabilidades distintas estivesse sobre meus ombros, ambas exigindo prioridade imediata.O som dos passos ecoando pelo corredor me tirou dos devaneios. Levantei a cabeça assim que o cheiro familiar de minha mãe e do meu pai chegou até mim. Poucos segundos depois, meus pais apareceram no final do corredor. Eles chegaram em tempo recorde, devem ter vindo correndo transformados em lobos ou já estavam aqui por perto.Minha mãe veio apressada, com seus braços abertos. O gesto caloroso, que ela sempre tinha quando se aproximava de mim. Quando ela me envolveu num abraço, meu corpo ficou rígido, e um rosnado baixo escapou dos meus lábios antes que eu pudesse conter. Eu não gostava de ab
PRÓLOGO.Nasci amaldiçoado, condenado a carregar uma punição que não era minha. O primeiro rei supremo dos lobisomens, Julian, teve seu coração corrompido e exterminou alcateias indefesas. Foi punido por suas ações cruéis com uma maldição: transformar-se em uma besta infernal que destrói tudo ao seu redor. Desesperado, rogou à deusa Lua por misericórdia, mas tudo que conseguiu foi transferir a maldição para seus descendentes.A intenção era dar-lhe tempo para encontrar uma solução, mas Julian não se importava com quem sofreria, contanto que não fosse ele. Sua companheira, no entanto, não suportava a ideia de seus filhos herdarem esse fardo. Recorreu à feitiçaria para poupá-los, condenando, assim, seus netos. Sou esse neto. Meu pai foi poupado, mas herdei o castigo imposto a Julian, meu avô. Quando me transformo em besta infernal, perco todo controle; o único desejo que sinto é o de sangue e destruição.A deusa profetizou em sonho a um dos antigos anciões da nossa alcateia que a maldiç
POV DARIUS.— O que tinha no chá, sua maldita? — perguntei com raiva.— Não se preocupe, querido, agora você é meu. — Disse Agnes, sorrindo vitoriosa.Senti uma leve tontura e percebi o cheiro de lobos se aproximando. Rosnei de raiva e Agnes se assustou. Levantei-me, pronto para matar a todos. Agnes me olhou, com os seus olhos arregalados, e saiu correndo pela porta da cabana. Eu me levantei, ainda um pouco tonto, e saí da cabana logo atrás da bruxa, pronto para acabar com sua vida. Mas, quando cheguei na porta, só pude ver ela desaparecendo em meio à fumaça roxa e densa. Com dificuldade, fui me transformando em um lobo negro de olhos azuis, mas era tarde demais. Minha visão estava turva, e meus reflexos, lentos.Havia algo naquele chá que me impedia de lutar com toda a minha força. Maldita hora em que confiei naquela bruxa e suas promessas. Pensei, enquanto minhas mandíbulas se fechavam em torno do pescoço de um lobo marrom, quebrando-o com um estalo surdo. O gosto metálico do sangue
POV ALICE.Meu primeiro instinto foi correr. O lobo era gigantesco, mais do que eu já tinha visto em qualquer documentário ou livro. Nunca havia ouvido falar de lobos nesta região, e sabia serem perigosos. Mas… algo em mim não permitiu que eu fugisse. Talvez fosse a minha paixão por animais. Ser veterinária sempre foi o meu sonho, e ali estava, diante de mim, uma oportunidade de ajudar. Mesmo que fosse imprudente.Aproximei-me devagar. Peguei um galho ao meu lado, hesitante, e cutuquei o corpo inerte. Nenhuma reação. Ele não se mexeu. Meu coração acelerou, mas a tensão que sentia diminuiu um pouco. Me ajoelhei perto dele, sentindo o cheiro de terra e pinho preenchendo o ar ao meu redor.— Você é enorme… — murmurei, enquanto minha mão tremia ao tocar de leve seu pelo. O calor de seu corpo me chocou. Ele estava vivo, mas tão machucado que eu mal conseguia entender como ainda respirava. Uma onda de pânico me percorreu.— Você está vivo… — sussurrei, me afastando rapidamente, o coração di
POV ALICE.Toquei seu focinho frio e observei atentamente. Seus olhos continuavam fechados, sem qualquer sinal de movimento. A respiração, antes pesada, agora era quase imperceptível. Entrei em pânico.— Não, não, por favor, aguente firme! — implorei em voz baixa, tentando manter a calma. Mas o medo crescia dentro de mim. Então, percebi.— Droga, acho que ele entrou em coma… — minha voz falhou, uma mistura de desespero e impotência tomou conta de mim.Olhei para o lobo, sentindo meu coração apertar. O que eu faria agora? Ele estava à beira da morte, e eu não tinha tempo a perder. Precisava agir, mas não sabia se conseguiria salvá-lo. Apenas uma coisa era certa: eu não poderia desistir dele agora.O lobo continuava imóvel, seu peito mal se movendo. Eu podia sentir o peso da urgência esmagando meu peito. Precisava fazer algo. Mas o quê? Sou apenas uma ajudante de veterinário.Olhei em volta, tentando pensar em uma solução.O único som era minha própria respiração acelerada. Peguei o est
POV ALICE.Eu e mamãe corremos desesperadas em direção à porta do celeiro. Saímos às pressas, ofegantes e tomadas pelo pavor do rosnado que ouvimos.— Eu te disse que esse lobo ia acordar e nos atacar! O que faremos agora com um lobo selvagem dentro do nosso celeiro? — disparou minha mãe, nervosa, a voz trêmula de medo.— Calma, mamãe, eu vou resolver — falei, tentando manter a compostura, enquanto espiava pela fresta de madeira. O celeiro estava quieto, silencioso. Lá dentro, o lobo permanecia deitado, imóvel, no mesmo lugar. Senti um alívio imediato.— Ele continua parado. Acho que rosnou enquanto dormia. Vou entrar para verificar — falei, tentando soar confiante. Minha mãe agarrou meu braço, a preocupação nítida em seus olhos.— Você está louca? E se ele estiver acordado e te atacar? — murmurou, a voz baixa, temendo até mesmo o som de suas palavras.— Vou ter cuidado, prometo — comentei, acariciando a mão dela antes de entrar no celeiro. Aproximando-me do lobo, peguei um pedaço de