POV DARIUS.Encostei-me na parede do corredor que levava até a UTI, cruzei meus braços enquanto observava os movimentos frios e precisos da equipe médica. Estar aqui não fazia parte dos meus planos. Mas Baltazar não ficaria longe da nossa companheira e infernizaria minha vida se eu não viesse para esse hospital, ele precisava da presença de Alice. Já era difícil para ele não ter concluído o vínculo de companheirismo. Só eu podia sentir como meu lobo estava infeliz com essa situação. Então aqui estou eu, vigiando minha companheira teimosa. Eu, um rei alfa supremo, tendo que conquistar uma humana fraca. Eu nunca precisei correr atrás de fêmea, elas sempre se ofereciam para mim. Essa situação é patética, mas não posso ignorar o vínculo fraco que sinto por Alice. Eu não sou louco por ela como Baltazar, mas sinto uma certa necessidade de vê-la e protegê-la.Continuei parado observando o corredor e o acontecia dentro da UTI. Algo em Alice… em sua força, mesmo diante de tanta dor, fazia co
POV DARIUS.A porta da ala da UTI se abriu, e Alice passou por ela bastante abalada. Eu a observava com atenção; Baltazar estava apreensivo pelo estado emocional de sua companheira. Assim que me notou parado no corredor, Alice reclamou da minha presença ali.Ela quis saber se eu não tinha trabalho a fazer. Até parece que Baltazar e eu deixaríamos ela aqui, nesse hospital, sozinha, com aquele Luís a rondando e cobiçando o que é nosso. Depois de uma conversa estressante, como sempre, voltamos para a sala de espera, onde a amiga de Alice a aguardava com aquele infeliz do Luís.Alice ficou emocionada quando falou do estado da mãe, e, antes que um dos dois pudesse se aproximar para consolá-la, eu a abracei por trás, lhe dando apoio e carinho. Alice não me afastou; ela aceitou o abraço e relaxou em meus braços. Baltazar vibrou de felicidade.Abigail arregalou os olhos, surpresa, ao nos ver abraçados. Luís bufou, insatisfeito. Fiquei muito satisfeito com seu descontentamento. Ele precisa ent
POV ALICE.Estava sentada na sala de espera do hospital, a cabeça abaixada, as mãos entrelaçadas e o coração apertado. Rezava em silêncio pela recuperação de minha mãe. As palavras fluíam num misto de súplica e esperança. Darius havia saído há pouco, e, por mais que eu não quisesse admitir, sua ausência era estranhamente incômoda. Eu tentava me concentrar na prece, mas, vez ou outra, me pegava pensando nele, naquele jeito imponente e na sensação de segurança que seus braços me proporcionavam.Abigail e Luís estavam ao meu lado, mas se mantinham em silêncio, respeitando meu momento. Eu podia sentir a ansiedade de Abi crescendo, pois ela não parava de mexer os pés; eu conhecia minha amiga, ela estava claramente louca para me questionar sobre a presença de Darius ali e sobre o que ela viu entre nós. Luís, por outro lado, parecia mais inquieto do que curioso. Eu ouvia seus dedos batucando no braço da cadeira. Eu sabia que, assim que terminasse de rezar, eles não demorariam a me bombardear
POV ALICE.Abi riu baixinho, como se divertisse às minhas custas. Eu, porém, não tinha mais energia para discutir. Tudo parecia um turbilhão e, naquele momento, tudo o que eu queria era alguma paz. Olhei para a porta pela qual Luís havia saído e suspirei, ainda tentando digerir sua reação. Eu não queria fazer meu amigo sofrer desse jeito. Mas não posso corresponder ao seu amor.— Ele vai voltar, Alice — disse Abi, em um tom mais gentil. — Só precisa de um tempo para digerir que te perdeu para Darius. Dê um tempo a ele. — Comentou Abi.— Espero que sim — murmurei. — Não quero perder a amizade dele por causa disso. Eu queria poder corresponder ao amor de Luís, mas tudo que sinto por ele é um amor fraternal. — Falei. Abi me olhou com uma expressão de compaixão.— Ele é seu amigo, Alice. Mas também é um homem apaixonado. Vai levar tempo para ele aceitar tudo isso — falou. Abaixei a cabeça, os dedos trêmulos brincando com o tecido da minha blusa.— Eu não queria magoá-lo, Abi. Nunca quis.
POV ALICE.O silêncio na sala parecia ensurdecedor, preenchido apenas pelo som da minha própria respiração descompassada. Agatha e Bartolomeu Moss estavam diante de mim, e a revelação de que eram os pais de Darius foi uma grande surpresa, deixando-me tensa. Meus olhos saltaram de um para o outro, ainda tentando absorver a informação. Era evidente que compartilhavam alguns traços: a postura imponente de Bartolomeu, o olhar perscrutador e, de alguma forma, assustadoramente semelhante ao de Darius. Já Agatha tinha um sorriso caloroso que mascarava a intensidade de sua presença. Por um momento, as palavras simplesmente desapareceram da minha mente. Abigail, ao meu lado, parecia tão perplexa quanto eu. Ela inclinou-se e sussurrou, com um tom misto de curiosidade e diversão:— Parece que seus sogros vieram te conhecer — disse Abigail.Revirei os olhos, mordendo o lábio para conter uma resposta. A última coisa que eu queria era me estressar mais do que já estava com tudo o que estava aconte
POV DARIUS.Eu esperava no corredor do hospital, encostado contra a parede fria. A luz fluorescente piscava levemente acima de mim, acentuando a atmosfera estéril do lugar. Meus pensamentos estavam caóticos, divididos entre Alice e a alcateia, e isso só aumentava minha irritação. Era como se o peso de duas responsabilidades distintas estivesse sobre meus ombros, ambas exigindo prioridade imediata.O som dos passos ecoando pelo corredor me tirou dos devaneios. Levantei a cabeça assim que o cheiro familiar de minha mãe e do meu pai chegou até mim. Poucos segundos depois, meus pais apareceram no final do corredor. Eles chegaram em tempo recorde, devem ter vindo correndo transformados em lobos ou já estavam aqui por perto.Minha mãe veio apressada, com seus braços abertos. O gesto caloroso, que ela sempre tinha quando se aproximava de mim. Quando ela me envolveu num abraço, meu corpo ficou rígido, e um rosnado baixo escapou dos meus lábios antes que eu pudesse conter. Eu não gostava de ab
PRÓLOGO.Nasci amaldiçoado, condenado a carregar uma punição que não era minha. O primeiro rei supremo dos lobisomens, Julian, teve seu coração corrompido e exterminou alcateias indefesas. Foi punido por suas ações cruéis com uma maldição: transformar-se em uma besta infernal que destrói tudo ao seu redor. Desesperado, rogou à deusa Lua por misericórdia, mas tudo que conseguiu foi transferir a maldição para seus descendentes.A intenção era dar-lhe tempo para encontrar uma solução, mas Julian não se importava com quem sofreria, contanto que não fosse ele. Sua companheira, no entanto, não suportava a ideia de seus filhos herdarem esse fardo. Recorreu à feitiçaria para poupá-los, condenando, assim, seus netos. Sou esse neto. Meu pai foi poupado, mas herdei o castigo imposto a Julian, meu avô. Quando me transformo em besta infernal, perco todo controle; o único desejo que sinto é o de sangue e destruição.A deusa profetizou em sonho a um dos antigos anciões da nossa alcateia que a maldiç
POV DARIUS.— O que tinha no chá, sua maldita? — perguntei com raiva.— Não se preocupe, querido, agora você é meu. — Disse Agnes, sorrindo vitoriosa.Senti uma leve tontura e percebi o cheiro de lobos se aproximando. Rosnei de raiva e Agnes se assustou. Levantei-me, pronto para matar a todos. Agnes me olhou, com os seus olhos arregalados, e saiu correndo pela porta da cabana. Eu me levantei, ainda um pouco tonto, e saí da cabana logo atrás da bruxa, pronto para acabar com sua vida. Mas, quando cheguei na porta, só pude ver ela desaparecendo em meio à fumaça roxa e densa. Com dificuldade, fui me transformando em um lobo negro de olhos azuis, mas era tarde demais. Minha visão estava turva, e meus reflexos, lentos.Havia algo naquele chá que me impedia de lutar com toda a minha força. Maldita hora em que confiei naquela bruxa e suas promessas. Pensei, enquanto minhas mandíbulas se fechavam em torno do pescoço de um lobo marrom, quebrando-o com um estalo surdo. O gosto metálico do sangue