Após aquela apresentação um pouco estranha, eu vou até a única cadeira vazia, dentre umas vinte e quatro e me sento.
Pouso a bolsa em cima da mesa e fico olhando para o incrível professor de artes. Jasmine jamais me ouviria dizer aquilo.
— Esse é o bimestre da criatividade. — diz. — Vamos trabalhar com tintas de várias formas. Sejam elas latas de spray ou em gel.
A turma começa a falar em uníssono, enquanto eu fico quieta e olhando diretamente para ele.
— Como sabem, hoje só temos dez minutos de aula. Que é para a pontuação de trabalhos, que sempre ocorrem na sexta. — continua. — Então, quero que escolham alguém para fazer dupla nesse trabalho. Já adianto, quero uma coisa bem diferente.
Por ser a garota nova, eu fico de fora da escolha. Iria ver quem sobrava, para que minha dupla fosse definida. Olho em volta, para ver se alguém se encontrava no mesmo estado que o meu.
— Senhorita Campbell? — ergo meu olhar, encontrando Wood no fim dele. — Está sem dupla?
— É... parece que sim.
Ele olha em volta e então torna a pousar o seu olhar em mim.
— Chase está sozinho. — diz, e suspira. — Tome cuidado com ele. CHASE E CAMPBELL.
Wood volta para a sua mesa e eu olho na direção do tal Chase. Ele era alto, com um cabelo super bagunçado e piercing no canto da boca. Ele pisca para mim e eu reviro os olhos.
— Espero que tenham ideias legais. — Sr. Wood diz. — Esperem o sinal tocar e podem sair.
Suspiro profundamente e sinto o meu celular vibrar. Tiro-o de dentro da bolsa e sorrio ao ver que é uma mensagem de James.
James: Como está a manhã da minha boneca?
Eu: Está legalzinha. Um professor super gato que parece me olhar o tempo todo e um parceiro de trabalho com piercing.
James: Professor gato? :O conte-me mais!
Eu: Ahhh, ele é moreno, tem um corte de cabelo bem jovial, uma barba que faz minha imaginação vibrar, pensando nela em alguns lugares do meu corpo. Ele está usando uma blusa branca social e tem as mangas dobradas, deixando as tatuagens a mostra. Resumindo: UM PUTA DEUS GREGO.
Assim que a mensagem é enviada, uma voz soa acima de mim.
— Campbell, poderia me entregar o seu celular?
Olho aterrorizada para Sr. Wood.
— O que? Não. — cruzo os braços, escondendo o meu celular.
— Não é permitido usar aparelho celular na classe. Entregue-me!
— Mas..., mas eu não sabia!
Ele estica o braço, abrindo bem a palma da sua enorme mão.
— Me entregue o aparelho imediatamente.
Bufo.
— Ok! — descruzo os braços e desbloqueio a tela. — Deixa só, eu... colocar uma senha...
O aparelho é arrancado da minha mão e ele se vira na mesma hora.
— Isso é errado! — digo, alto.
— Você é nova senhorita Campbell, não queira ser maior que eu por aqui.
Bufo mais uma vez e decido ficar calada. Cruzo os braços novamente e fico encarando aquele idiota gostoso se afastar ainda mais com o meu celular.
Ele dá a volta na sua mesa e observa o meu celular por um tempo. Depois abre uma gaveta, olha na minha direção e sorri de lado, antes de jogar o aparelho ali.
Se ele danificar, fizer um arranhãozinho sequer no meu celular, vai se ver comigo!
O tempo que leva até o sinal tocar, se resume em: eu encarando aquele idiota super maravilhoso o tempo todo e com os braços cruzados. Ele estava anotando algo, mas de vez em quando olhava na minha direção e sorria.
Assim que todos os alunos saem da sala, eu vou até ele.
— Será que agora eu posso ter o meu celular devolvido? — questiono, ajeitando a bolsa no ombro.
Sr. Wood se levanta, e em silêncio começa a recolher as várias folhas, que estão espalhadas em cima de sua mesa.
Cruzo os braços e espero pacientemente até que ele termine de pôr tudo dentro de sua maleta. Quando ele finalmente abre a gaveta onde está meu celular, eu me mexo. Wood pega o meu celular de dentro da gaveta, olha para mim e o joga dentro da maleta.
— EI! — exclamo. — Você não pode ficar com o meu celular!
Ele ajeita a blusa branca e pega a maleta.
— Vá ao teatro às dez e meia. — diz. — E então, posso pensar em devolver seu celular.
— Mas você não pode fazer isso!
E sem se importar com as minhas reclamações, ele sai da sala com o aparelho.
[...]
— Por que eu acho que você não está bem?
Jasmine se senta ao meu lado, em um dos bancos da enorme escola, e eu cruzo os meus braços mais uma vez.
— Porque não estou!
— O que aconteceu? Não teve aula com o Wood?
— Nem mencione esse nome para mim! — levanto. — Aquele arrogante, pegou o meu celular! E teve a audácia de não me entregar no fim da aula.
Ela mexe no cabelo.
— Acho que eu deveria ter avisado, que aqui eles não permitem o uso de celular na sala.
— Devia. Devia mesmo!
— Ele vai entregar para o diretor. — ela faz careta. — Meu tio vai ter que vir buscar.
— O que? Então pra que ele me mandou ir no teatro?
— Deve ser para fazer testes para o musical de fim de ano.
Reviro os olhos.
— É bom que não seja! — bufo.
— Hey.
O tal Daniel, que tinha beijado Jas quando chegamos, senta-se do seu lado e beija seu rosto.
— Oi Dan. — ela diz, sorrindo. Parecia uma bobinha apaixonada. — Essa é minha prima, Olívia.
— Prazer, Daniel.
Ele me estica a mão e sorri, mostrando bem os dentes brancos e alinhados.
— Olívia. — aperto sua mão. — Mas, me chame de Oli.
— Você está na aula do Sr. Wood?
Reviro os olhos e assinto.
— Por que todo mundo fala dele?
— Só perguntei, porque meu melhor amigo falou de você. — ele aponta para trás.
Forço os olhos um pouco e observo o garoto grande, com óculos escuros, encostado na parede.
— Ele é o Chase?
— Sim. — Daniel assente. — Bruce Chase.
— Ah. É. A gente vai ter que fazer um trabalho. Então em algum momento terei que falar com ele.
Faço careta.
O sinal toca novamente e eu pego a minha bolsa do banco.
— Tem aula de que? — Jas pergunta.
Procuro o papel e suspiro.
— hmm... inglês.
— Minha aula também. — Daniel diz.
— Eu terei história. Cuide bem dela, Dan.
— Pode deixar.
Eles se despedem e o garoto coloca o braço em volta do meu pescoço. Ergo uma sobrancelha para o chão, tentando entender o porquê de tanto contato.
— A gente pode ser amiguinho. — ele diz. — Posso te mostrar a escola depois.
— Você não está dando em cima de mim né?
Ele ri.
— Um homem não pode querer ser amigo de uma mulher?
— Pode. O meu melhor amigo é homem.
— Então pronto. Eu gosto da Jas. Não darei em cima de você.
Acabo rindo com ele e vamos para a sala. Daniel puxa uma cadeira para que eu sente do seu lado. Logo a professora de inglês entra e a aula começa.
[...]
— Não vai para a cantina? — Daniel pergunta, quando saímos da sala.
— hmm... depois. Eu tenho que ir até o teatro.
— Por quê? Vai fazer audição para a peça?
— Peça? A Jas disse que seria musical.
— É uma peça musical.
— Ah... — assinto. — Eu não vou fazer teste nenhum. Tenho que pegar o meu celular, com aquele chato do Wood.
— Ele vai te devolver? A ordem é entregar para o diretor.
— Sei lá. Ele mandou eu ir até lá. E como eu amo meu celular... tchauzinho, Daniel.
Aceno para ele e saio em busca do teatro.
Eu já sabia que ele ficava no mesmo andar que eu estava. Paro uma menina que passava e a questiono sobre o lugar. Então ela me aponta para o outro lado do pátio.
— Fica mais afastado das salas. — diz.
— Obrigada.
Ajeito a bolsa e ando até o outro lado do pátio. Tinha um escuro corredor, com algumas portas. Vou até o final do mesmo e paro diante de portas duplas. Havia uma placa ao lado, escrito theater.
Empurro uma delas com cuidado e entro. Eu estava no topo de uns vinte degraus. Lá embaixo, em cima do palco, estava Sr. Wood. Antes que eu pudesse dar sinais de que estava ali, fico completamente paralisada, assim que ele começa a cantar.
Eu não reconhecia aquela música, mas aquilo não me impediu de me sentar e admirar. Ele estava andando de um lado para o outro, cantando alto. Aquela canção falava de dor. A dor da perda. E ele usava todo o ar que tinha em seus pulmões, para cantá-la.
Quando termina, ele fita o chão e fica assim por um tempo. O meu plano de ficar quieta vai para o além quando eu acabo espirrando.
Alergia chata.
Ele olha na minha direção.
— Quem está aí?
Então ele não me enxerga? hm hm hm.
Me levanto e começo a descer as escadas. Sr. Wood andava de um lado para o outro, tentando me ver.
— Fale. — ordena.
— Já te disseram que você canta super bem?
Atinjo o lugar iluminado e posso ver que ele está aliviado.
— Campbell! Quanto tempo está aí?
— Desde que você começou a cantar. Eu gostei.
— Obrigado?
— De nada?
Acabo soltando uma risadinha.
— O que faz aqui?
— Como o que faço aqui? — questiono, confusa. — Você me mandou vir até aqui.
— Foi?
Reviro os olhos e me sento na primeira cadeira da primeira fileira.
— Não se faça de desentendido. — bufo. — Quero meu celular.
Ele se senta na ponta do palco e cruza as pernas.
— Não podemos ter tudo o que queremos.
— Acontece que o celular já é meu. Você que pegou.
— Porque é proibido usar em sala de aula.
— Eu não sabia. Minha prima esqueceu de me avisar desse detalhe.
Sr. Wood ri e balança a cabeça positivamente.
— Não costumo ser legal com todos os alunos. — ele pula do palco. — Mas algo me diz que eu posso ser com você.
— Pode sim.
Só então noto que a sua maleta estava na primeira cadeira do lado esquerdo. Enquanto ele se ocupava em pegar o meu celular, eu me levanto e ajeito a minha bolsa.
— Aliás, por que pediu para que eu viesse até aqui? — questiono.
— Porque é onde eu gosto de ficar nos intervalos. Ninguém nessa escola gosta de estar aqui. Mas eu gosto. Gosto dessa solidão.
— Eu costumava gostar da solidão. — digo.
Ele suspira e me estica o celular.
— Só mais uma coisa. — ele puxa a mão, no momento em que eu ia pegar o aparelho. — Por que não me chama de senhor? Todos me chamam assim.
— Eu chamo de senhor, um senhor. Você não é velho. No máximo tem vinte e quatro anos.
— Você é boa com idades.
— Obrigada?
— De nada? — ele ergue uma sobrancelha e me faz rir. — Achei que... que fosse responder outra coisa.
— Que coisa?
— Não sei. Talvez que... eu tenha um corte de cabelo muito jovial, tatuagens... barba.
Ah não.
Ele sorri de lado.
A única coisa que sou capaz de fazer, é puxar o meu celular de sua mão e sair correndo do teatro.
No momento em que chego à cantina, estou ofegante e super envergonhada. E mais que isso, estou com raiva.— Oli? — olho na direção de Daniel. — O que foi? Ele não te devolveu o celular?— Devolveu.— Então...? — Jasmine balança a cabeça.Suspiro e largo a bolsa na mesa em que eles estavam.
Assim que nós entramos no ônibus, Daniel grita por nós, lá nos fundos.— TEM LUGARES PARA AS MAIS GATAS AQUI!Eu queria enfiar a minha cara no chão. Por que ele tinha de ser tão escandaloso?Jas apenas ri e agarra a minha mão. Ela me puxa para o fundo do ônibus e logo se joga do lado de Daniel.— BOM DIA! — ele grita novamente.— Posso te fazer uma pergunta? — pergunto, me sentando no banco do lado direito.— PO...— POR QUE VOCÊ NÃO PARA DE GRITAR?Todas as cabeças se viram para trás e eu me sinto envergonhada.— Você que gritou.Desisto de dar atenção para aquele garoto e pego meu celular da bolsa. Conecto os fones de ouvido e dou o play emCounting Stars.One Republic era uma das minhas bandas favoritas. Assim como The Fray.Durante o ca
— O que você disse? — pergunto.A lata caiu da minha mão, fazendo um barulho chato e contínuo. A fala do professor, havia me pegado de surpresa.— Que eu não quero que você vá.— E por...— Tenho muito que te ensinar! — diz e caminha na minha direção. — Principalmente bons modos.
— Tenho que ir para a aula.Caminho pelo corredor e passo por ele.— Você não vai entrar. — eu paro. — Está atrasada. Ninguém aqui deixa entrar depois do sinal batido.— Você me deixou entrar. Levanto sem precisar ser chamada. Jasmine ainda dormia, então aproveito e vou tomar meu banho.Eu havia sonhado com Connor. No sonho, a gente se encontrava pelo corredor da escola e ele me beijava. Na frente de todo mundo. Eu o questionava, perguntava o porquê de ele estar fazendo aquilo. E ele dizia que me amava.Solto uma risadinha e lavo o meu cabelo. Eu queria estar bonita hoje. Mais do que já sou. E era para ele. Meu cérebro feminista estava querendo explodir, por eu estar fazendo algo por um homem.Assim que termino o banho, seco-me e me enrolo na toalha. Depois que escovo os dentes, ligo o secador e seco meu cabelo. Ele estava bem liso e lindo. Quando eu estava saindo do banheiro, dei de cara com a Jas. Ela segurava suas roupas da escola.— Não acreditei quando te vi fora da cama. — diz, sonolenta. — Fez o cabelo?— Sim.— Por quê?— Eu preciso ter um mSete
Por ter saído antes do fim das aulas, precisei pegar um táxi para voltar. Mesmo com a minha indicação meia boca de onde era meu endereço, o cara conseguiu achar.Pago a corrida e desço do carro. Ando até a porta e só então, me lembro de que a chave ficava com a Jasmine.Toco a campainha e fico no aguardo. Questão de segundos, até minha avó abrir a porta.— Oli? — ela franze o cenho. — O que faz em casa cedo?Eu não queria dar muita informação.— Não estou me sentindo bem.— Oh...— Vou... deitar um pouco.Beijo o rosto dela e subo.Assim que entro no meu quarto, largo a mochila no chão e tiro os saltos. Vou até a minha escrivaninha e largo a polaroid destruída ali. Suspiro profundamente e me deito na cama, em posição fetal.Sabia que
Eu voltei pra casa com o sorriso mais idiota do mundo. Meu pai ficou pegando no meu pé, me chamando de gamadinha.Voltei a responder as mensagens de Connor e ficamos falando sobre coisas bobas. Na verdade, ele ficou parte do tempo me chamando de ciumenta e dizendo que achava aquilo fofo. Acabei por dormir com o celular na cara.O final de semana se arrastou, pois Connor teve de desmarcar a nossa saída. Mas ele havia prometido que iriamos sair na segunda sem falta.
— Sei lá! — exclamo, brincando com o seu cabelo. — Talvez você deva fazer algo... mais feliz. Sem ofensas a sua história de vida.— Não fico ofendido. Na verdade, ninguém havia lido o script. Bem... nem há um. — ele ri. — Eu apenas pensei em fazer assim. Claro que eu não irei atuar, mas...— Por que não?— Sou um professor. Os alunos é quem deve atuar.