Cinco

— O que você disse? — pergunto.

A lata caiu da minha mão, fazendo um barulho chato e contínuo. A fala do professor, havia me pegado de surpresa.

— Que eu não quero que você vá.

— E por...

— Tenho muito que te ensinar! — diz e caminha na minha direção. — Principalmente bons modos.

Pisco.

— Você não devia invadir a escola e ficar pichando o muro. Isso é vandalismo.

Eu estava sem palavras. Literalmente.

Ele estava na minha frente e eu não conseguia dizer uma palavra. Connor se abaixa e pega a lata do chão. Depois de destravar o carro, ele abre a porta do passageiro e joga a lata lá dentro.

— Entra.

— O que? — murmuro.

— Entra. — repete.

Ele aponta, com a mão que segurava a pasta, para o carro.

Não sei o que me deu, mas eu simplesmente entrei. Ele fechou a porta e deu a volta no carro.

Connor coloca a pasta no banco de trás e passa o cinto.

— Coloca o seu também. — diz, e começa a tirar o carro da escola.

Eu estava agindo no automático. Desde que ele tinha falado que não podia ficar longe de mim, fiquei paralisada. Sua fala teve um efeito estranho sobre mim. Eu só não conseguia entender, o porquê de ter ficado assim.

— Ei? — o olho. — Onde mora?

— Por quê?

— Para te levar em casa.

— Para que?

— Será que pode simplesmente me falar o endereço?

— Você vai falar com o meu pai? — fico nervosa. — Sobre a escola...

— Está preocupada com isso?

Assinto.

— E por que não com o diretor?

— Não gosto de decepcionar meu pai. — sou sincera.

— Não vou falar nada. Apenas quero te deixar em segurança.

Que raio de cara era aquele?

Digo mais ou menos como é a rua onde moro, devido a minha falta de conhecimento.

— Passo todo dia por essa rua para ir para casa.

— Sério?

Ele assente e sorri.

Que sorriso lindo. Ele colocava a língua entre os dentes. Deixava o sorriso dele tão... sexy.

Connor me olha e eu sou pega.

— Está me olhando?

— hmm...

Uma risada.

— Posso perguntar uma coisa?

— Depende. — ele diz.

— Como é possível você já ser professor? Tem mesmo vinte e quatro anos?

— Tenho. E bem, tudo é possível, minha linda.

Tenho certeza que minhas bochechas pegaram fogo.

— O que te trouxe a Londres?

— Problemas financeiros. — respondo. — Mas não quero falar disso com o meu professor.

— Nunca ouviu falar que fora da escola, somos pessoas normais?

O olho.

— Vamos levar um tempinho até a sua casa. — diz. — Vamos conversar.

— Por que virou professor?

Connor solta uma risadinha.

— Algum problema com o fato de eu ser um professor?

Tirando o fato de me impossibilitar a visitar todo o seu corpo com a minha boca?

— Nenhum.

Qual o meu problema?

— Eu queria ser cantor. — ele olhava para a estrada. — Mas... tive meu sonho interrompido.

— Por quê?

— Isso não é coisa que eu deva contar a você. Não agora...

Franzo o cenho.

— E quando vai?

Ele não responde.

Acho que até dirigiu mais rápido, pois em cinco minutos ele estacionou na porta de casa.

— Está entregue.

Olho para a pequena casa e torno a olhar para Connor.

— Você vai... até lá?

— Não. Mas com uma condição.

— Que é?

— Quer sair comigo?

— OI?

Ele se assusta. Imagino que meu espanto saiu mais alto que o esperado.

— O que foi?

— É que... eu... você... — me enrolo. — Você é meu professor...

— E? Já falei que fora da escola somos pessoas normais. E...

— Não sei se é uma boa ideia.

Ele suspira.

— Okay. Boa noite.

Sem a mínima coragem de falar mais alguma coisa, eu assinto e saio do carro. Observo o carro se afastar, ainda parada na calçada.

— O que eu fiz? — sussurro.

— Olívia?

Dou um salto e olho para trás. Meu pai estava na porta com seu velho pijama e uma xícara na mão.

— O que faz aí? Entre logo!

Olho novamente para a rua, que já não tinha mais sinal do carro de Connor e vou para casa.

— Tudo bem? — assinto. — Quem trouxe você? Cadê a sua prima?

Merda!

— Ér... eu... Bruce me trouxe. A... a Jasmine não acabou o trabalho... e cogitou a possibilidade de dormir no Da... Aurora. Na Aurora.

Papai me olha esquisito.

Bocejo falsamente.

— Estou super cansada. Nos falamos amanhã! Beijo!

Beijo seu rosto rapidamente e corro escada acima. Bato a porta do quarto com força demais e faço careta. Tiro minha roupa com pressa, enquanto me pergunto o porquê que fiz aquilo.

ELE PEDIU PARA SAIR COMIGO!

E EU DISSE NÃO.

— Minha mãe deve ter me deixado cair no chão. Não é possível.

Bufo, enquanto visto meu pijama. Vou até o banheiro, prendo meu cabelo no alto e tiro a maquiagem. Depois de escovar os dentes, volto para o quarto e me enfio de baixo da cama.

Solto um longo suspiro, depois de ouvir meu celular apitar. Ele estava no bolso da calça, o que me faria levantar. Jogo as cobertas para cima e vou busca-lo. Quando estou na cama de novo, destravo o celular e abro a mensagem.

DesconhecidoBoa noite, minha linda.

Por que ele faz essas coisas? Invés de falar o... OH DEUS!

— Posso perguntar uma coisa?

— Depende. — ele diz.

— Como é possível você já ser professor? Tem mesmo vinte e quatro anos?

— Tenho. E bem, tudo é possível, minha linda.

Puta que pariu...

Fazia até sentido ser ele, já que esteve tempo o suficiente com o meu celular destravado.

Digito rapidamente:

Eu:

Vai me contar por que não conseguiu ser cantor?

Espero.

Esperei tanto tempo pela resposta, que acabei adormecendo.

[...]

Desperto com o barulho de algo caindo.

Levanto assustada e olho para a janela.

— Jas?

— Shiiiiu!

Ela coloca o dedo na boca e termina de entrar. Pela janela.

— Que horas são? — pergunto e pego meu celular.

Tinha uma nova mensagem.

Desconhecido: Ainda não.

— É ele.

— O que? — Jas sussurra.

Olho para ela.

— Ér... são seis e meia. Onde você estava?

— Com Daniel.

— Até agora? O que ficaram... JASMINE!

Ela joga todos os travesseiros em mim e se enfia embaixo do edredom.

— Para de gritar! — sussurra. — Vovó não pode saber!

— Que você perdeu a virgindade ou que chegou agora?

Ela cora.

— Os dois.

Solto uma risada.

— Como foi?

Jas sorri.

— Mágico. Daniel é tão... fofo. Tão carinhoso. Acordei nas nuvens.

— Espero que vocês deem certo e ele nunca te faça de idiota.

— Por quê?

— Você pode se arrepender.

A porta do quarto é aberta muito depressa.

— Bem que ouvi vozes.

Jasmine quase pulou pela janela de novo.

— Por que estão acordadas tão cedo? — nossa avó pergunta.

Olho para Jasmine, que me olha.

— O celular da Oli tocou.

Reviro os olhos.

— Aproveitando que já estão acordadas, se animem e se arrumem para a escola.

[...]

— Não quero sair do ônibus. — digo, me agarrando ao outro banco.

Estava aterrorizada com a possibilidade de ver o professor de Artes. Quando sai de casa estava tranquila, mas quando o ônibus parou na escola, eu perdi a coragem. Não era nada demais, mas mesmo assim aquilo estava me deixando nervosa.

— Qual seu problema? — Daniel pergunta.

— Não quero descer!

Ele revira os olhos e puxa Jasmine para descer.

O motorista grita para eu descer e eu faço isso a contra gosto. O sinal logo toca e eu corro pelos corredores.

— EI!

Paro e me viro. Era Bruce.

— Fiquei te esperando sair ontem! — ele sussurra. — E nada! O que o Wood fez?

— Me levou para casa.

Ele arqueia a sobrancelha.

— E falou com seus pais?

— Não. Apenas me deixou na porta e se foi.

Falar disso fez o arrependimento tomar conta de mim novamente. Que merda!

— Só?

Assinto.

Ele dá de ombros e sai andando.

Aquele garoto com certeza não batia bem das ideias.

Me dou conta de que vou ficar sem assistir aula de novo e saio correndo. Acabo batendo de frente com uma menina e caímos no chão.

— Aí! — solto uma risada e me levanto. — Desculpe.

— Tudo bem.

Ela se levanta.

— Preciso correr. Sou Lany!

E ela corre.

— SOU A OLÍVIA!

A garota apenas assente, do fim do corredor.

— Eu sei.

Engulo em seco, com a voz vinda de trás.

Viro-me devagar e o olho. Ele estava vestindo o mesmo estilo de sempre. Mas seu cabelo estava com um novo corte.

— Oi, Olívia. — sua pasta muda de mão.

— Oi, professor Wood.

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